segunda-feira, 5 de outubro de 2009

George Harrison - All Things Must Pass

John Lennon e Paul McCartney tiveram carreiras bem mais prolíficas após a separação dos Beatles. Mas grande obra-prima de um ex-integrante do quarteto de Liverpool é "All Things Must Pass", de George Harrison. O motivo, entretanto, é mais do que óbvio. Como os álbuns dos Beatles se concentravam nas composições da dupla Lennon & McCartney, o guitarrista pouco podia mostrar do seu talento individual. Enquanto esteve nos Beatles, Harrison lançou dois discos, mas ambos eram instrumentais e experimentais.
Assim, "All Things Must Pass" pode ser considerado "um álbum com as canções de Harrison que não tiveram espaço nos discos dos Beatles".
"Isn't It a Pity?", composta em 1966, por exemplo, foi uma das canções oferecidas por Harrison para entrar num dos álbuns dos Beatles, mas que acabou por ser recusada. Durante as sessões de gravação de "Get Back", em Janeiro de 1969, outras músicas de Harrison foram recusadas, como "All Things Must Pass", "Hear Me Lord" e "Let It Down". O tempo veio a mostrar que Lennon e McCartney erraram, não só pela qualidade das faixas de "All Things Must Pass", mas também pelo facto de o álbum ter alcançado a platina sêxtupla, tornando-se o álbum mais vendido de um Beatle em carreira solo.
Na verdade, George Harrison compôs belíssimas canções que foram gravadas pela sua ex-banda, como "Something" (que Frank Sinatra dizia ser a canção de amor mais bonita do mundo), "While My Guitar Gently Weeps" e "Here Comes The Sun". Mas, com as personalidades (e o talento) de John Lennon e Paul McCartney, o guitarrista acabou por se conter, e ficar em segundo plano nos Beatles.
Sem os antigos companheiros, Harrison juntou um grupo de musicos, do melhor que havia na época, para gravar "All Things Must Pass", como Eric Clapton (que não teve o seu nome creditado na capa do álbum, porque pertencia ao elenco de uma gravadora diferente), Billy Preston, e Jim Gordon. O ex-Beatle Ringo Starr também participou e, segundo Harrison, tocou de 50 a 60% do disco. Phil Collins, dos Genesis, tocou congas em "Art Of Dying".
Produzido por Phil Spector, "All Things Must Pass" começou a ser gravado no estúdio de Abbey Road, poucos meses após a separação dos Beatles. O disco foi lançado em 1970, em formato triplo, tornando-se o primeiro álbum triplo de um artista solo na história. da música. Os dois primeiros discos traziam as canções ditas "oficiais", e o terceiro, intitulado "Apple Jam", era composto exclusivamente por "jam sessions" de Harrison ao lado de amigos.
No álbum, o guitarrista pôde mostrar o seu lado mais filosófico e espiritual, através de letras como as de "My Sweet Lord", "What Is Life" e "I Dig Love". Mas apesar da tranquilidade aparente das letras, a gravação de "All Things Must Pass" não foi das mais fáceis.
Algumas das sessões eram bastante longas. A preparação do som e dos arranjos, foi bastante demorada, pois Phil Spector, cria deixara o seu "Wall of Sound", bem vincado neste trabalho, para o que chegaram a ter dois ou três percussionistas, dois bateristas, quatro ou cinco violões, dois pianos e até mesmo dois baixos em apenas uma única faixa. As canções foram repetidas várias vezes, até que os arranjos ficassem prontos e o engenheiro na sala de controle, ao lado de Spector, conseguisse captar o som. A maioria das canções estava virtualmente viva", escreveu George Harrison na capa da edição comemorativa dos 30 anos do lançamento do disco, poucos meses antes de sua morte.
O maior sucesso do álbum foi, sem dúvidas, "My Sweet Lord", que começou a ser escrita durante uma tourné de Harrison com Delaney & Bonnie, no final de 1969. Entretanto, a canção acabou por dar uma grande dor de cabeça a George Harrison, pois foi foi processado pela banda The Chiffons, que alegava que o sucesso de Harrison era plágio da sua canção "He's So Fine", lançada em 1963. Mas o juiz acabou por decidir, que houve apenas uma cópia sem intenção por parte do guitarrista.
Além do gospel-rock "My Sweet Lord", fizeram igualmente muito sucesso, a faixa-título (uma pungente balada com ecos de blues), "Beware Of Darkness" (que lembra "While My Guitar Gently Weeps" e, que, assim como sucesso do "Álbum Branco", conta com um belo solo de guitarra de Eric Clapton) e "Isn't It a Pitty", aquela que os Beatles dispensaram.
A faixa de abertura, a balada "I'd Have You Anytime", é uma parceria de George Harrison com Bob Dylan, composta em 1968. Harrison ainda homenageou o amigo (com quem, mais tarde, veio a formar o supergrupo Traveling Wilburys), com uma versão para a música "If Not For You", que o compositor tinha acabado de lançar em seu álbum "New Morning". Reza a lenda que John Lennon teria participado da gravação desta faixa.
"All Things Must Pass" ficou em primeiro lugar nas listas de discos do Reino Unido por um período de oito semanas consecutivas. Na norte-americana foram mais sete semanas. Em 2003, a Rolling Stone incluiu "All Things Must Pass" na sua lista dos 500 discos mais importantes de todos os tempos. O álbum ficou na 437ª posição. Muito pouco para esta obra-prima…

Faixas:
1) I'd Have You Anytime
2) My Sweet Lord
3) Wah-Wah
4) Isn't It a Pity
5) What Is Life
6) If Not For You
7) Behind That Locked Door
8) Let It Down
9) Run Of The Mill
10) Beware Of Darkness
11) Apple Scruffs
12) Ballad Of a Sir Frankie Crisp (Let It Roll)
13) Awaiting On You All
14) All Things Must Pass
15) I Dig Love
16) Art Of Dying
17) Isn't It a Pity (Version Two)
18) Hear Me Lord

Por: Luiz Felipe Carneiro, na Esquina da Música

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