quarta-feira, 13 de março de 2013

Good Ol’ Freda - A história da melhor amiga dos Beatles


Imaginemos, uma espécie de Moneypenny da banda mais importante da pop. Em querendo, Freda Kelly podia estar milionária há umas boas décadas. Bastava-lhe deixar escapar aqui e ali uns quantos segredos a troco de uns cobres - ou publicar umas colecções de memórias que quando em vez - e estava feito. Nada disso. Freda é, para todos os efeitos, a melhor amiga dos Beatles. Assim sendo, amigo não trama amigo, é feio e não se faz. 

A secretária do grupo nunca falou sobre o que viu e ouviu, até agora, num documentário apresentado em primeira mão no festival South by Southwest (SxSW). Se já existiam razões para querermos estar em Austin, esta é só mais uma.

“Good Ol’ Freda” é o nome do filme e a própria esteve na cidade texana no dia da estreia. Disse na apresentação: “Quando o clube de fãs dos Beatles acabou em 1972, já a banda tinha terminado, não queria mais aquela vida, queria apenas tomar conta da minha casa e da minha família. E pensei que o assunto estava arrumado.” Longe disso. Diz-nos a história feita até aqui que haverá enredos com Beatles dentro durante muito tempo. Ainda que, na verdade, Freda Kelly tenha dado em protagonista de um documentário quase por acidente.

Ryan White, o realizador de “Good Ol’Freda” (autor também de “Pelada”, o filme de 2010 que acompanhava jogos de futebol nos locais e com os jogadores menos populares mas mais prováveis, de uma prisão na Bolívia às aldeias do Irão, com equipas femininas), conheceu Freda através do tio, Bill Kinsley, músico que fez parte dos Merseybeats, de Liverpool. Mas durante muito tempo, Kelly era apenas isso, uma amiga do tio. Depois de descoberto o quase-segredo, o realizador apressou-se a convencer a antiga secretária. Ou a aproveitar-se da mudança de ideias de Freda, que quase nos 70, resolveu registar a sua sorte para o neto.
O resultado de 40 horas de entrevistas está longe de ser a história dos Beatles. Explica Ryan White, citado pelo “Los Angeles Times”: 

“ Isso já toda a gente conhece. Esta é uma história pessoal, as experiências de Freda enquanto colaboradora dos Beatles. Nunca foi contado, ninguém conhece estas memórias porque a Freda nunca as contou.”

E fazendo contas, Freda deverá ter uma boa colecção de relatos.
Começou a trabalhar para os Beatles apenas com 17 anos. Na altura, a morada do clube de fãs era a da sua própria casa, até que o pai de Freda decidiu que tamanha quantidade de papel teria que ser encaminhada para outro local - no auge da beatlemania, o clube de fãs recebia entre duas a três mil cartas por dia. Esteve dez anos com o grupo e acompanhou os quatro magníficos do palco suado do Cavern Club até às visionárias investidas em estúdio. 

Kelly trabalhou nos escritórios do manager Brian Epstein. As suas tarefas poderiam variar entre a entrega de pagamentos semanais aos músicos e a recolha de mechas de cabelo das estrelas, para enviar pelo correio para as fãs mais merecedoras de tal honra.

A dada altura, em “Good Ol’ Freda”, Ringo Starr diz algo como “ela era parte da família”. 

E recordam-se momentos inesperados, como a súplica de Lennon, ajoelhado, pedindo à sua secretária que voltasse, depois de a ter despedido (Freda tinha estado a beber uns copos com outra banda, não se faz). Esperamos ansiosamente por conhecer todas as aventuras, é quase uma obrigação.


www.goodolfreda.com

 Por Tiago Pereira, publicado em 13 Mar 2013, no I

Sem comentários: