quinta-feira, 30 de julho de 2015

A melhor banda de todos os tempos


Os Beatles foram a melhor banda de todos os tempos. Não há como contrariar esta declaração.
Eles conquistaram a cena musical como o que alguns chamariam a primeira "boys band", com melodias pop cativantes, uma irreverência sem limites, criando um estilo único e original, na forma de vestir, e de compor.

Os copycats, que os seguiram, que tentaram repetir o seu sucesso, só fizeram com que os Beatles mudassem a sua forma criativa, atingindo patamares de originalidade e de genialidade, nunca antes conseguidos, e que jamais serão superados. Não só os Beatles se tornaram a melhor banda de rock de todos os tempos, como fizeram a melhor música que já foi feita e nunca vai ser repetida no, presente ou no futuro.

Quando me sento aqui a escrever este artigo e ouvindo os Beatles, faço-o com a certeza de que não tenho nenhuma razão real para provar o seu valor a ninguém, mas vou enunciar 7 razões pelas quais os Beatles são a melhor banda na história da música do mundo.

Para começo de assunto, lembro que a NASA enviou para o espaço uma gravação dos Beatles, mais concretamente o tema “Across the Universe”. Portanto, se existe vida extraterrestre, se existem extraterrestres, esta será a primeira música terrena que eles ouvirão.

Vamos ás que me levam a afirmar que os Beatles são a melhor banda, do passado, presente e futuro.

1º - Genialidade na composição - Os Beatles tinham um jeito com as palavras, e uma originalidade sem comparação. Eles encontraram uma maneira de “tocar” as nossas almas, com o jogo de palavras mais simplista e por vezes abstracto, que havia sempre alguém que se identificou, e ainda se identifica, com as suas estórias musicadas soberbamente. A combinação Lennon / McCartney foi certamente obra dos deuses, que nos enviaram duas almas gêmeas musicais, com o dom de nos encantar e maravilhar com a sua genialidade. Por favor, não esquecer o nosso Harrison, que tinha letras e melodias incríveis, bem como o “palhaço” da corte, o sempre muito querido Ringo.

2º - Recorde de vendas - Os Beatles venderam cerca de 600 a 1000 milhões de discos no mundo. A sua fama de renome mundial foi absolutamente impressionante para a época. Sem mencionar que também tinham 17 # 1 Hits. Além disso, eles receberam sete prêmios Grammy, 15 Ivor Novello Awards, 6 Diamond Álbuns, 24 Multi-Platina Álbuns, 39 Platinum Álbuns, e 45 álbuns de ouro. E isso apenas nos Estados Unidos. Um Oscar de Melhor Canção Original Score foi dado para "Let It Be". A partir de 2014, os Beatles conseguiram 20 Nº 1 do no Billboard Top 100.


3º - Qualidade e Versatilidade - No início, abusaram das músicas pop, das baladas de amor, cativantes, passando depois para criações musicais psicodélicos, inovando na utilização de sons e métodos de gravação nunca utilizados até então. Para isso contaram com a genialidade do produtor George Martin, sem dúvida o 5º Beatle . Quando se intrometeram na indústria cinematográfica, foi também para inovar, para arrasar a concorrência.

4º - Fama Galáctica - Os Beatles foram a primeira banda que não podia andar na rua sem serem “atacados”. Provocaram a invasão britânica dos USA. No meio da Beatlemania. John Lennon conseguiu tanta fama que ele foi capaz de iniciar um movimento pela paz legítimo em torno da Guerra do Vietnã. Na verdade, John era tão famoso que influenciou toda uma geração, não tendo deixado ninguém indiferente á sua personalidade. Lennon é dos 4 Fab Four, o meu músico favorito.

5º - Genialidade Musical -  A sua capacidade inventiva, a sua genialidade inovadora, não conhecia fronteiras, quando entravam em estúdio. Todo o seu trabalho no estúdio permitiu o aparecimento de muitos outros estilos musicais, tipos e gêneros de música, que sem eles nunca veriam a cor do som. Inovadores no seu tempo, os instrumentos e equipamento disponíveis na época, eram nitidamente, insuficientes para dar, corpo e forma á sua criatividade musical.

6º - As melhores composições -  "I Wanna Hold Your Hand", "Hello, Goodbye", "We Can Work It Out", "You've Got to Hide Your Love Away", "A Hard Day's Night", "Let It Be", "Come Together", "Yesterday", "Nowhere Man", "Lucy in the Sky with Diamonds", "Here Comes the Sun", "I'll Follow the Sun", "In My Life", and "All My Life", só para citar algumas das minhas favoritas. Mas há muitas mais !!!

7º - The Beatles = Love - Aparentemente tudo o que eles fizeram, promoveu paz e amor. "All You Need is Love” tornou-se no hino do movimento de amor, contra a guerra.
Muito mais haveria para dizer sobre estes fantásticos seres humanos. Se gostaram deste artigo, divulgue-o aos mais jovens, para que eles saibam que os Beatles, foram, são e serão a melhor banda do mundo
Fiquem em Paz,




Adaptação de um texto de Black Vinston 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Love and Mercy : o rapaz da praia e as boas e más vibrações



O filme de estreia de Bill Pohlad é uma brilhante biografia do génio musical dos Beach Boys, Brian Wilson, interpretado por dois actores em duas épocas diferentes da sua vida: Paul Dano e John Cusack

Era uma vez um rapaz chamado Brian Wilson que ouvia sons dentro da cabeça, cacofonias inexplicáveis. Essa massa sonora era transformada nas irresistíveis e esfusiantes canções “praia-surf-e-garotas” dos Beach Boys. Mas o rapaz não se queria ficar por aí. Queria fazer música mais “séria”, queria ir até aos limites da melodia, da harmonia, das letras e fazer combinações nunca ouvidas entre elas. Queria tocar o estúdio de gravação como se fosse um instrumento musical, incorporar nas canções os latidos dos seus cães, os deslizes dos músicos, as conversas gravadas durante os ensaios ou nos intervalos. Tudo isto perante a perplexidade ou a oposição dos outros membros da banda. Mesmo assim, o rapaz produziu obras-primas, “sinfonias de bolso” como “Good Vibrations”, “God Only Knows”, e o álbum “Pet Sounds”.

E depois de um disco experimental que foi para a gaveta, “Smile”, o rapaz soçobrou às drogas e a uma doença mental incorrectamente diagnosticada. Largou a música, passou três anos fechado no seu quarto e ficou sob tratamento, e sob a tutela legal, de um sinistro psicólogo e psicoterapeuta, Eugene Landy, que o encharcou em medicamentos e manteve mais vigiado do que um prisioneiro político. 

Tudo parecia correr mal para o génio musical, quando foi salvo por uma ex-modelo e vendedora de automóveis, Melinda Ledbetter. Com a ajuda da família, tirou-o das garras de Landy, devolvendo-lhe a confiança e a autonomia, e casou com ele. Tiveram cinco filhos e o rapaz voltou a compor e a tocar.
A vida do líder dos Beach Boys podia ter dado um daqueles filmes biográficos de juntar por números e puxar à desgraça e à edificação, feito por um qualquer borra-botas de Hollywood. Felizmente, o autor de “A Força de um Génio” (“Love and Mercy”, no original), Bill Pohlad, um produtor (de “A Árvore da Vida”, de Terrence Malick, entre outros), que aqui se estreia a realizar, além de grande fã do lendário grupo, não é desses.  É por isso que estamos com os olhos (e os ouvidos) num dos melhores filmes de sempre baseados na vida de um músico.


Escrito por Michael Allen Lerner e Oren Moverman (co-autor de “I’m Not There”, de Todd Haynes), e com banda sonora de Atticus Ross, habitual colaborador de Trent Raznor e David Fincher, “A Força de um Génio” está isento das convenções, facilidades, piedades e simplificações do género “biografia-de-génio artístico-que-não-bate-bem-da-bola”, e assenta num conceito arriscado.
Brian Wilson é interpretado por dois actores, cada um para uma fase da sua vida. Paul Dano na fase dos Beach Boys, John Cusack na fase da doença e do isolamento. (Pohlad chegou a pensar num terceiro actor, que seria Philip Seymour Hoffman, para fazer de Wilson durante os anos de reclusão, mas acabou por desistir, e essa fase é o “ângulo morto” do filme). E resulta? Se resulta, visual, dramática e narrativamente. E apesar da pouca parecença física entre ambos, há ecos, sintonias, associações entre o Wilson de Dano e o de Cusack, que o realizador usa para mostrar que tudo aquilo por que o músico passou o transformou realmente noutra pessoa, embora tenham ficado vasos comunicantes com o outro que ele foi.

“A Força de um Génio” é um filme de uma enorme inteligência e delicadeza sonora e cinematográfica, na sugestão das visões auditivas de Brian Wilson e na subsequente e como que miraculosa tradução em música, sozinho ao piano ou em estúdio; na recriação o mais perto possível das sessões de gravação; na forma elíptica como mostra o seu deslize para as drogas e a queda no buraco negro da perturbação mental; e na recusa de encharcar em melodrama ou em sensacionalismo o encontro de Wilson com a futura mulher, e a batalha de vontades entre ela e Landry para anular o poder deste sobre ele e devolver o músico a uma vida o mais normal possível. Bill Pohlad dá-lhe uma qualidade visual que remete a espaços para as imagens de arquivo a cores da utopia estival e musical da Califórnia dos anos 60, para a textura dos “home movies”, para a pintura de David Hockney durante os anos californianos ou para uma espécie de quase impalpável “realismo onírico” que encontramos nalguns filmes de David Lynch.


Os actores são pouco menos que brilhantes. O rechonchudo Paul Dano serve como uma luva no Brian Wilson de “antes”, relutante à exposição pública e às digressões, funcionando ao som de uma música que só ele ouve, secretamente magoado com a insensibilidade de um pai chupista e a incompreensão dos outros Beach Boys. John Cusack em sofrimento com silenciador no Brian Wilson de “depois”, delicado, assustadiço, frágil como um cristal, consciente da sua situação mas incapaz de se libertar sozinho dela. Paul Giamatti excelente num Eugene Landy de capachinho ridículo, falinhas mansas e saboreando o seu poder totalitário de rosto benigno sobre Wilson. E Elizabeth Banks, sem forçar qualquer nota melodramática para captar o nosso capital de simpatia, na salvadora Melinda Ledbetter. Brian Wilson não podia imaginar como o refrão “God only knows what I’d be without you” da canção homónima viria a aplicar-se a ela. 

E graças a “A Força de um Génio”, passamos a ouvir a tão familiar música dos Beach Boys com outros ouvidos.


Eurico de Barros, no Observador de 16 Julho 2015