Ontem (11 de Outubro 2016), Brian Wilson lançou o seu livro de
memórias há muito aguardado, “Eu sou Brian Wilson “, aonde escreve sobre a
influência que os Beatles e os Rolling Stones, tiveram na sua forma de compor.
Neste trecho de suas memórias, "Eu sou Brian
Wilson," o Beach Boy olha para trás com carinho para alguns dos outros Beach
Boys seus companheiros na banda, como sendo os seus verdadeiros pares.
Descreve ainda a influência dos dois únicos, dos verdadeiros
rivais nos anos 60 dos Beach Boys: os Beatles e os Rolling Stones.
E também,
como o companheiro de banda / rival Mike Love o ajudou a terminar "Good
Vibrations".
"O disco que mais me influenciou, que realmente me “agarrou” foi Rubber Soul , dos Beatles que saiu no
final de 1965.
Rubber Soul é provavelmente o maior disco de sempre. Talvez o
disco de Phil Spector, Cristhmas, esteja lá no topo com ele, e é difícil dizer
que Tommy dos The Who não é um dos
melhores, também. Mas Rubber Soul foi lançado em dezembro de 1965 e atirou-me
directamente para o banco do piano. É um álbum inteiro de canções dos Beatles,
canções populares, onde tudo flui em conjunto e tudo funciona. Lembro-me ter
sido completamente hipnotizado com “You
Won’t See Me” , “I’m Looking Through You” e “Girl.” Não foram apenas as letras
e as melodias, mas a produção e as suas harmonias. Eles tinham essas harmonias
únicas, sabe?
Em “You Won’t See Me” Paul canta a voz baixa e George e John cantam lá
no alto. Há um órgão zangado, a debitar uma nota que é pressionada durante o
último terço da canção ou assim. Aqueles eram os sons que eles estavam experimentando,
quase música art. O que era fascinante nos Beatles é que nós podíamos ouvir as
suas ideias de forma clara em toda a sua música. Eles não copiavam como outras
bandas, e não valorizavam muito as suas canções. Tanto podiam interpretar uma
canção sobre solidão como uma sobre a raiva ou até uma canção sobre a depressão
em que por vezes mergulhavam. Eram grandes poetas que escreviam sobre coisas
simples, o que também tornou mais fácil ouvir e entender a sua música. Nunca
fizeram nada ao acaso. Eram perfeitos, a compor músicas de mão cheia.
Eu conheci Paul McCartney mais tarde, nos anos 60, num
estúdio. Eu estava quase sempre num estúdio na época. Ele veio quando estávamos
na Columbia Square trabalhando em overdubs vocais, e tivemos uma pequena conversa
sobre música. Todos sabem agora que "God Only Knows" foi não só a
música favorita de Paul, dos Beach Boys, mas uma de suas canções favoritas desse
período. Mas pensar sobre o quanto isso era importante para mim quando eu o ouvi
pela primeira vez lá em Sunset Boulevard. Eu era a pessoa que escreveu
"God Only Knows", e a outra pessoa, era a que escreveu
"Yesterday" e "And I Love Her" e tantas outras canções, e
naquele momenta estava a dizer-me que a minha composição era a sua musica
preferida, a sua musica favorita. Aquele troca de palavras, realmente explodiu a
minha mente. Ele não foi o único Beatle que se sentia dessa forma. John Lennon
ligou-me depois do lançamento de Pet Sounds a dizer-me o quanto ele gostava do
disco.
Mas Paul e eu ficamos sempre em contacto. Outra vez não
muito tempo depois Paul veio à minha casa, e falou-me sobre a nova música que
ele tinha composto.
"Há uma canção que eu quero que oiças", disse ele.
"Acho que é uma boa melodia."
Ligou o gravador e ouvi pela primeira vez a demo de “She’s
Leaving Home.”
Minha esposa, Marilyn, também estava lá, e emocionada,
começou a chorar. Ao ouvir a nova canção, de Paul McCartney, primitiu-me olhar
e ouvir as minhas próprias canções mais claramente. Era difícil para mim imaginar
o efeito que a minha música tinha sobre as outras pessoas, mas era fácil para
mim, entender as musicas de outro compositor da grandeza de Paul.
Mais de trinta anos depois, eu fui “abrir” um espectáculo de
Paul Simon, de quem eu não gostava. Foi bom estar incluído no mesmo programa
com ele, mas nós estávamos a actuar para multidões compostas por adultos já
“entradotes” na idade, e isso significava que o primeiro acto, que era eu, começou
quando o sol ainda estava bem brilhante e a multidão ainda estava a entrar. Era
difícil ter um bom relacionamento com as pessoas na platéia sob essas
condições. No Greek Theatre, em Los Angeles, comecei o espectáculo com menos de
metade da lotação do espaço. Abrimos com o “The Little Girl I Once Knew,”
seguido por "Dance, Dance, Dance", depois "In My Room", e logo
de seguida, um cover da música dos Barenaked Ladies ' "Brian Wilson."
Essa foi a canção mais estranha que interpretei. Não conhecia
a musica até quando um elemento da banda que me acompanhava, sugeriu que a
ensaiássemos. Era uma canção sobre um tipo que tenta escrever uma música e não consegue
comparando-se a mim, no período em que eu estava sob o tratamento de Dr. Landy.
Na canção, o tipo tem um sonho em que recebe cerca de 300
libras e, em seguida, começa a flutuar até que o chão fica tão longe que não consegue
mais vê-lo. Eu nunca tive esse sonho, mas sentia-me bem com a execução da
música e estava-mos todos a fazer bom trabalho. Tocámos mais alguns hits: “California
Girls,” “I Get Around,” “Wouldn’t It Be Nice.” Depois de, “Add Some Music to
Your Day,” começamos o “God Only Knows.” ". Nesse momento, abriu-se a
porta lateral do palco e Paul McCartney entrou. Todos os espectadores o viram.
O teatro irrompeu com aplausos e todos se levantaram a gritar o nome dele. Vi a
minha esposa Carnie na platéia que colocou a mão na boca, em choque. Foi um
momento de "Oh meu Deus". Acenei do piano. Mas não foi suficiente.
Nós estávamos a entrar no verso final e eu mudei a letra na hora para "Só
Deus sabe o que eu seria sem Paul."
No fim do espectáculo Pablo veio aos bastidores. E como eu chamo
o Paul. Pablo. Fiquei feliz em vê-lo. Contou-me que quando estava a passar em
frente ao Greek Theatre, na limusine, abriu a janela para puder ouvir a música.
"Eu queria ouvir os sons do Brian", disse ele.
Quis ouvir a introdução de “You Still Believe in Me.” Havia um teclado no
camarim, então eu toquei o tema para ele. Naturalmente começámos a harmonizar o
tema. Foi incrível, Paul McCartney e eu a harmonizar-mos na introdução de “You
Still Believe in Me.” Vocês acreditam nisso?
O outro Beatle com quem me identifiquei, foi George
Harrison. Era tão espiritual. Tinha um jeito de fazer as coisas simples: “Give
me life / Give me love / Give me peace on earth.” Lembro-me que durante os
primeiros anos dos Beatles, era difícil pensar nele como um compositor de tão
grande nivel. Mas depois de "Here Comes the Sun", eu comecei a
prestar mais atenção ás suas canções. Talvez todas as bandas precisassem de
alguém assim, uma presença profundamente espiritual que não fosse exactamente líder
da banda. Tivemos o meu irmão Carl Wilson. Nunca conheci George, mas muitos
anos depois fiz um espectáculo para ele. Em 2015 a sua viúva Olivia, ligou e
pediu-me para actuar no George Fest em Holly- Wood. "Claro que sim",
disse eu. Tocámos o "My Sweet Lord", mas eu teria feito qualquer uma
das canções de George. Ele escreveu belos temas.
Os Beatles podem ter sido o topo na época, mas os Rolling
Stones não ficaram muito atrás. Tinham imensos temas com grandes riffs. Fiquei
fascinado com: "Satisfaction", "Get Off of My Cloud" A minha
música favorita dos Rolling Stones foi gravada um pouco mais tarde, "My
Obsession", no LP, Between the Buttons . Fui convidado para o estúdio
quando estavam a misturar o baixo. Nunca os conheci pessoalmente.
Mas fiquei encantada com essa canção. O inicio está perto de
"Get Off of My Cloud" Charlie Watts começa com uma batida em tudo,
idêntica á de "Get Off of My Cloud”, e depois destaca-se aquela combinação
impressionante de órgão e piano na faixa esquerda. Os vocais de apoio, uma
série de babys ooh que mais tarde viriam a gravar no "Sympathy for the
Devil". É realmente uma composição sobre a obsessão pelo corpo de uma mulher.
O que se destaca em "My Obsession" é que ele não é
apenas a reprodução de mais um riff de Keith. Porque Keith Richards , o grande
inovador com esses riffs de guitarra incríveis, fez com que fosse mais
apreciado só por isso, mas pessoas têm que analisar mais fundo, mais dentro do seu
trabalho; se o fizerem, vão encontrar vários truques de produção complexos e
momentos de sofisticação e beleza. No tema “Sad Day, um tema pouco conhecido, há
um pormenor que escapou á maioria das
pessoas. Há um pequeno, grande solo de piano executado por Jack Nitzsche, que
era um produtor da escola de Phil Spector. Jack escreveu "The Lonely
Surfer", que tinha um dos primeiros exemplos do que seria o som da
guitarra usado nos westerns spaghetti. Os Stones tiveram todas essas
influências. Que usaram a seu bel prazer. A sua própria personalidade, enquanto
banda era e é ainda, muito forte.
Foi assim também que os Beach Boys funcionaram. Todas as
influências que usámos, acabaram por ser a nossa identidade, o nosso som.
Ao longo dos anos tenho escrito algumas músicas que são
homenagens aos Stones. Por exemplo “Add Some Music to Your Day.” aonde se pode
ouvir o som de guitarra, popularizada por Keith Richards, especialmente no
início, e a parte vocal, onde cantamos “add some, add some, add some music.” são
vozes tipicamente dos Stones . Resumindo, nesse tema usamos guitarras, vozes e
arranjo tipo Rolling Stones. Ouçam atentamente. Tentei reproduzir as suas
vibrações. Inclusive mencionei-os na letra, também: “There’s blues, folk, and
country, and rock like a rollin’ stone.” Mas a nossa música mais influenciada
pelos Stones foi, provavelmente,
"Marcella", que está no disco Carl and the Passions—So Tough. "Marcella" não é um tema profundo
como outras canções. Não é o "Sail On Sailor" ou o 'Til I Die."
É sobre uma garota que trabalhava num salão de massagens aonde eu costumava ir.
É uma música luxuriante, pura e simples, como "My Obsession". Pouco
antes e depois dos dois minutos, vocês podem ouvir os Stones, ou pelo menos a
minha versão deles. Eu produzi a maior parte dessa sessão, mas depois fui descansar.
Enquanto estava lá em cima, os outros, acrescentaram a parte, “hey, yeah,
Marcella”que Al Jardine canta. É a minha letra favorita, mas não é uma das minhas
músicas favoritas dos Beach Boys em geral. Carl cantou:
“One arm over my shoulder/Sandals dance at my feet/Eyes that
knock you right over/Ooo Marcella’s so sweet.”
As pessoas pensavam que o rock and roll era uma música festiva,
em primeiro lugar. Gostavam de ouvir líricas sobre as coisas simples, sobre
festas, raparigas e a vida na adolescência, e foi isso que o rock and roll lhes
mostrou. Houve sempre coisas complicadas na minha vida, mas eu mantive-as ou
coloquei-as de lado. Mas depois as coisas ao meu redor começaram a mudar.
Quando me mudei para Houston e o tempo que passei sozinho a compor, sem a banda
foi uma grande mudança na minha vida, mas não foi a única mudança. Tudo começou
a mudar. Talvez digam que foi por causa de eu fumar haxixe e usar relaxantes.
Quando eu não estava nervoso, não receava que as coisas se complicassem e não
tinha nenhum medo. Talvez tenha sido mais um tempo de aprendizagem sobre
composição e produção e de como eu poderia colocar as idéias mais musicais nas
canções que eu estava fazendo. "California Girls" foi um enorme
sucesso pop, mas tinha outra peça de música no início que não era nada como uma
canção pop. E mesmo que Summer Days (And Summer Nights !!) foi ainda mais para
o lado pop das coisas, havia uma pequena sinfonia no meio chamado “Summer Means
New Love.” Fui eu quem tocou esse trecho num piano de cauda, sendo apoiado por
uma seção de cordas. Houve momentos em que pensei que estava construindo algo sobre
as fundações existentes, e que estaria a demolir o que havia sido construído
antes. Estava a começar uma nova fundação.
O que pareceu essa nova fundação? Pareceu que efectivamente
vingara, crescera. Foi complicado, com muitas peças voando em todas as
direções, mas se olhar-mos a partir do ângulo certo, veremos que tudo ficou
intacto. E foi bonito de ver.
Comecei a construir essa base após a viagem de avião para
Houston. Comecei com o disco, “Beach Boys Today! , Que foi um passo em frente, depois
Summer Days (E Summer Nights !!) , o que foi mais um passo. Seguiram-se “Pet
Sounds” , que foi uma grande experiência, e com “SMiLE” , que foi uma má
experiência em alguns aspectos e que às vezes se tornou difícil falar sobre a
grande experiência de “Pet Sounds” . Isso não significa que eu não vou falar
sobre esse trabalho. Significa apenas que é uma situação idêntica á situação
com o meu pai. Eu preciso pensar um pouco mais cuidadosamente sobre como falar
sobre isso. O único caso em que é fácil falar sobre a nova fundação é que eu
estava a compor "Good Vibrations". Tem havido muitas versões sobre
como essa música aconteceu. As pessoas dizem que a gravadora e a banda pensavam
que eu estava indo longe demais na música na arte e que eu precisava de voltar
a compor hits pop. Isso provavelmente é verdade. Mas não foi assim que a canção
nasceu.
O tema foi composto depois de fumar uns charros, e estava sentado
ao piano, a tocar relaxado. Mike apareceu com a letra. Ouviu-me a tocar e a cantar
o refrão “Good, good, good vibrations”. Mike, ficou entusiasmadíssimo, e foi de
sala em sala espalhando a ideia de boas vibrações e o que isso significava, que
estaria ligado à paz e ao amor que estava a acontecer em São Francisco e em
outros lugares. A verdade é que quando comecei a canção, estava a pensar de
forma diferente. Estava a pensar em como as pessoas se sentem instintivamente
se algo é bom ou mau, as notícias que recebem, às vezes, quando o telefone
toca, entendem ? E eu estava a pensar em
como a minha mãe me costumava dizer, que os cães têm a precepção de uma
situação boa ou má, ou sentirem a disposição das pessoas imediatamente. Eu já
tinha algumas estrofes, algumass que eu escrevi, e outras que Tony Asher
escrevera, mas eu não estava feliz com o
que tinha. Mas assim que Mike começou a cantar o refrão, eu soube que havia
algo maior na idéia lírica. E cresceu a partir daí. Mike finalmente escreveu a
letra no caminho para o estúdio no seu carro.
O resto é história.