Chuck Berry morreu ontem à hora do almoço na sua casa em St. Louis, no Missouri americano.
Hoje os jornais impressos nada trazem de notícia e muito menos de primeira página, o que é estranho para quem publicou fotos inteiras de página dedicada aquando da morte de Bowie ou Lou Reed.
Porém, sem Chuck Berry, a música daqueles não seria a mesma coisa porque muito lhe ficaram a dever.
Quando comecei a ouvir música rock, nos finais dos anos sessenta já Chuck Berry tinha produzido tudo por que se tornou celebrizado e copiado e já outros músicos e conjuntos tinham aprendido a tocar as suas músicas, sendo os casos mais notórios os Beatles e os Rolling Stones.
Chuck Berry tinha ficado para trás, nos anos cinquenta em transição para a década seguinte em que o rock n´ rol se trasmudou em rock, muito por influência daqueles grupos britânicos e das editoras Sun ( que gravava os discos de Elvis Presley, Carls Perkins e Jerry lee Lewis) e Chess ( que gravava Chuck Berry e Muddy Waters, antes dele) e Atlantic que gravava Ray Charles e outros cantores pretos, americanos.
Chuck Berry foi provavelmente a maior influência singular na música rock que então surgiu. Maybellene, em Junho de 1955, foi uma das primeiras composições do músico.
A canção cujo nome fora escolhido num frasco de brilhantina, foi passado por Alan Freed, a pedido dos irmãos Chess, polacos emigrados que convenceram esse animador de rádio em Nova Iorque a transmitir a música e foi logo um êxito, segundo se conta. Mesmo sem o nome do artista no disco.
O Beatles ligaram logo a canção de Berry, Roll over Beethoven, a um sucesso de vendas, em finais de 1963 no Lp With the Beatles.
Os Rolling Stones já o tinham feito em meados desse ano, com a canção Come on, aliás o seu primeiro disco single. E continuaram a fazê-lo durante toda a carreira, copiando e adaptando mais de uma dúzia de canções de Berry.
Mas não foram apenas os Beatles e os Stones a tocarem músicas de Chuck Berry.
Os Beach Boys, no início de 1963 compuseram Surfin´in the USA depois de terem escutado muito bem Sweet little sixteen, daquele músico.
A melodia era tão semelhante que foi preciso dar-lhe o crédito respectivo após litígio judicial.
A história é contada por Mike Love na sua autobiografia Good Vibrations, "My life as a Beach Boy", de 2016, um magnífico livro, por sinal.
A primeira vez que ouvi Roll over Beethoven e me chamou a atenção foi em 1973 numa versão da Electric Light Orchestra do seu segundo disco (II) que tenho e guardo como magnífico, muito por causa dessa canção e respectivo tratamento sonoro)
Por causa desse fenómeno as canções originais de Chuck Berry surgiram como recriações de outros grupos e artistas fazendo esquecer muitas vezes o artista original que as criou e agora faleceu aos noventa anos.
Além da ode a Beethoven, Maybellene, Sweet Little sixteen, Johnny B. Goode, Memphis Tennessee, You never can tell e muitas outras foram entretanto ouvidas em versões originais ou adaptadas.
É por isso que a ausência de Berry dos obituários de hoje se torna estranha e revela uma incompreensível desatenção mediática a um fenómeno de cultura popular com um relevo superior a muitos outros.
Ao mesmo tempo revela bem a natureza dos critérios jornalísticos e o efeito rebanho que suscita.
Com a notícia de ontem não se gerou a onda mediática que noutros casos assumiu proporções de tsunami e neste morreu logo numa praia longínqua, da América distante.
Por outro lado, os directores de jornais não estão sensibilizados para a importância do agora desaparecido Berry. Pouco ou nada lhes diz, mediaticamente. Musicalmente será igual, provavelmente.
A melhor representação da importância de Chuck Berry na música surgiu em 1986 no primeiro filme da trilogia Regresso ao Futuro.
Numa cena antológica, o artista Michael Fox, num palco e com uma guitarra idêntica à que Berry utilizava nos anos de fama de 1958 ( uma Gibson ES 345, encarnada).
O tema é o magnífico Johnny B. Good com a introdução fantástica na guitarra, inventada por Chuck Berry.
José no Portal da Loja