quinta-feira, 30 de março de 2017

30 de Março de 1967...Foi há 50 anos.


Faz hoje exactamente 50 anos que a sessão fotográfica para a capa do Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band teve lugar. 

Criada por Peter Blake, a capa do icónico álbum, apresenta cada Beatle ostentando um farto bigode, usando quatro fatos de diferentes cores, que mais se parecem com as fardas de um qualquer funcionário de circo, e um grupo de celebridades na forma de figuras de cera e recortes de papelão. 

É um facto pouco conhecido que Sir Peter Blake tinha capas alternativas para o álbum, e que foram descartados em favor da capa final. 

Uma das capas alternativa, utilizava o mesmo cenário de colagem como o original, mas com algumas pequenas alterações, incluindo as posições de cada um dos Beatles. 

O arranjo alternativo apresentava Ringo Starr ao lado de uma tuba e Paul McCartney ajoelhado à esquerda do bombo. 

Mais significativo é a inclusão de membros da audiência que foram mais tarde retiradas do arranjo final, incluindo Albert Einstein, Mahatma Gandhi, e Bette Davis no traje da sua personagem, a Rainha Elizabeth em The Private Lives de Elizabeth e Essex.

domingo, 26 de março de 2017

Fly Me To The Moon - 1954

Deve ter acontecido com milhões de rapazes como eu: passei a infância a idolatrar os astronautas que se aventuravam a esbater a distância entre a Terra e a Lua. Armstrong, Aldrin e Collins – o trio da Apolo 11 que fez a primeira viagem ao nosso satélite natural e ali alunou na épica madrugada de 21 de Julho de 1969 (hora portuguesa) – eram os meus heróis de carne e osso, suplantando os pilotos da fórmula 1, como Jackie Stewart e François Cévert, e deixando a larga distância as figuras da banda desenhada que me acompanhavam por todo o lado: Astérix, Lucky Luke, Blake & Mortimer, Ric Hochet…

O hino da odisseia interplanetária tornou-se naturalmente Fly Me to The Moon, primeira canção ouvida na Lua graças a um leitor de cassetes portátil que Edwin Aldrin levava consigo. Com a versão definitiva deste tema musical, gravado em Junho de 1964 por Frank Sinatra e inserido na faixa inicial do seu disco It Might As Well Be Swing. Ao som da orquestra de Count Basie com os arranjos de Quincy Jones que lhe conferiram um ritmo trepidante e uma vibração inultrapassável.

Fly Me to the Moon nascera 15 anos antes da histórica missão à Lua, como balada de cabaré composta em ritmo de valsa – muito diferente da roupagem musical que viria a tornar-se familiar aos nossos ouvidos. Nasceu até com outro nome: chamava-se In Other Words quando Felicia Sanders a cantou em estreia no Blue Angel, mítico night club em Manhattan.
O autor – letra e música – foi Bart Howard (1915-2004), um pianista profissional que antes de ser mobilizado para a guerra alcançara alguma fama em meios restritos ao compor If You Leave Paris (1938) para Mabel Mercer. Mas o verdadeiro sucesso só chegaria quando In Other Words, concebida em 1954, passou a chamar-se Fly Me To the Moon, no final dessa década.



E no entanto o tema parecia fadado a passar despercebido. De tal modo que figurou apenas no lado B do disco de 45 rotações da gravação original, na voz de Kaye Ballard, com dois minutos e 14 segundos. A sorte só começou a virar em 1959, com a bela interpretação jazzística de Nancy Wilson e sobretudo em Outubro de 1960, quando Peggy Lee a cantou ao vivo no popularíssimo programa televisivo de Ed Sullivan, na CBS.
Até hoje, já conheceu mais de 500 versões. Nas vozes de Tony Bennett, Judy Garland, Brenda Lee, Doris Day, Ella Fitzgerald, Bobby Womack, Della Reese, Sarah Vaughan, Johnny Mathis, Anita O' Day, Nat King Cole, Eydie Gormé, Astrud Gilberto, Michael Bolton e Diana Krall. Algumas entre tantas.

Bart Howard, que começou a escrever canções com a ambição - jamais concretizada - de se tornar um novo Cole Porter, pareceu sempre surpreendido com a enorme popularidade de In Other Words, que só em 1963 passou a intitular-se oficialmente Fly Me To the Moon. “Demorei vinte anos a aprender a escrever uma canção em apenas vinte minutos”, confessaria mais tarde, quando vivia quase em exclusivo dos direitos deste tema, que na voz de Sinatra para sempre ficou associado à conquista do espaço. Não apenas como metáfora mas em sentido literal.
É assim que o escuto ainda hoje, ao trauteá-lo uma vez e outra nos dias em que acordo mais insuflado de optimismo e energia: como um símbolo de quem é capaz de transpor todas as fronteiras e ultrapassar todas as barreiras.
O céu é o limite e há sempre novos mundos por desbravar.

«Fly me to the moon / Let me play among the stars / Let me see what spring is like / On a-Jupiter and Mars / In other words, hold my hand / In other words, baby, kiss me.»


Pedro Correia, no Delito de Opinião

segunda-feira, 20 de março de 2017

Chuck Berry, o Senhor Rock and Roll

Chuck Berry morreu ontem à hora do almoço na sua casa em St. Louis, no Missouri americano. 
Hoje os jornais impressos nada trazem de notícia e muito menos de primeira página, o que é estranho para quem publicou fotos inteiras de página dedicada aquando da morte de Bowie ou Lou Reed.
Porém, sem Chuck Berry, a música daqueles não seria a mesma coisa porque muito lhe ficaram a dever.

Quando comecei a ouvir música rock, nos finais dos anos sessenta já Chuck Berry tinha produzido tudo por que se tornou celebrizado e copiado e já outros músicos e conjuntos tinham aprendido a tocar as suas músicas, sendo os casos mais  notórios os Beatles e os Rolling Stones.

Chuck Berry tinha ficado para trás,  nos anos cinquenta em transição para a década seguinte em que o rock n´ rol se trasmudou em rock, muito por influência daqueles grupos britânicos e das editoras Sun ( que gravava os discos de Elvis Presley, Carls Perkins e Jerry lee Lewis)  e Chess ( que gravava Chuck Berry e Muddy Waters, antes dele) e Atlantic que gravava Ray Charles e outros cantores pretos, americanos.

Chuck Berry foi provavelmente a maior influência singular na música rock que então surgiu. Maybellene, em Junho de 1955, foi uma das primeiras composições do músico. 
A canção cujo nome fora escolhido num frasco de brilhantina, foi passado por Alan Freed, a pedido dos irmãos Chess, polacos emigrados que convenceram esse  animador de rádio em Nova Iorque a transmitir a música e foi logo um êxito, segundo se conta. Mesmo sem o nome do artista no disco. 


O Beatles ligaram logo a canção de Berry, Roll over Beethoven,  a um sucesso de vendas, em finais de 1963 no Lp With the Beatles. 
Os Rolling Stones já o tinham feito em meados desse ano, com a canção Come on, aliás o seu primeiro disco single. E continuaram a fazê-lo durante toda a carreira, copiando e adaptando mais de uma dúzia de canções de Berry.

Mas não foram apenas os Beatles e os Stones a tocarem músicas de Chuck Berry. 
Os Beach Boys, no início de 1963 compuseram Surfin´in the USA depois de terem escutado muito bem Sweet little sixteen, daquele músico. 
A melodia era tão semelhante que foi preciso dar-lhe o crédito respectivo após litígio judicial. 
A história é contada por Mike Love na sua autobiografia Good Vibrations, "My life as a Beach Boy", de 2016, um magnífico livro, por sinal.

A primeira vez que ouvi Roll over Beethoven e me chamou a atenção  foi em 1973 numa versão da Electric Light Orchestra do seu segundo disco (II) que tenho e guardo como magnífico, muito por causa dessa canção e respectivo tratamento sonoro)

Por causa desse fenómeno as canções originais de Chuck Berry surgiram como recriações de outros grupos e artistas fazendo esquecer muitas vezes o artista original que as criou e agora faleceu aos noventa anos. 
Além da ode a Beethoven, Maybellene, Sweet Little sixteen, Johnny B. Goode, Memphis Tennessee, You never can tell e muitas outras foram entretanto ouvidas em versões originais ou adaptadas.


É por isso que a ausência de Berry dos obituários de hoje se torna estranha e revela uma incompreensível desatenção mediática a um fenómeno de cultura popular com um relevo superior a muitos outros.

Ao mesmo tempo revela bem a natureza dos critérios jornalísticos e o efeito rebanho que suscita.
Com a notícia de ontem não se gerou a onda mediática que noutros casos assumiu proporções de tsunami e neste morreu logo numa praia longínqua, da América distante. 
Por outro lado, os directores de jornais não estão sensibilizados para a importância do agora desaparecido Berry. Pouco ou nada lhes diz, mediaticamente. Musicalmente será igual, provavelmente.
A melhor representação da importância de Chuck Berry na música surgiu em 1986 no primeiro filme da trilogia Regresso ao Futuro.
Numa cena antológica, o artista Michael Fox, num palco e com uma guitarra idêntica à que Berry utilizava nos anos de fama de 1958 ( uma Gibson ES 345, encarnada). 
O tema é o magnífico Johnny B. Good com a introdução fantástica na guitarra, inventada por Chuck Berry.


José no Portal da Loja