domingo, 26 de março de 2017

Fly Me To The Moon - 1954

Deve ter acontecido com milhões de rapazes como eu: passei a infância a idolatrar os astronautas que se aventuravam a esbater a distância entre a Terra e a Lua. Armstrong, Aldrin e Collins – o trio da Apolo 11 que fez a primeira viagem ao nosso satélite natural e ali alunou na épica madrugada de 21 de Julho de 1969 (hora portuguesa) – eram os meus heróis de carne e osso, suplantando os pilotos da fórmula 1, como Jackie Stewart e François Cévert, e deixando a larga distância as figuras da banda desenhada que me acompanhavam por todo o lado: Astérix, Lucky Luke, Blake & Mortimer, Ric Hochet…

O hino da odisseia interplanetária tornou-se naturalmente Fly Me to The Moon, primeira canção ouvida na Lua graças a um leitor de cassetes portátil que Edwin Aldrin levava consigo. Com a versão definitiva deste tema musical, gravado em Junho de 1964 por Frank Sinatra e inserido na faixa inicial do seu disco It Might As Well Be Swing. Ao som da orquestra de Count Basie com os arranjos de Quincy Jones que lhe conferiram um ritmo trepidante e uma vibração inultrapassável.

Fly Me to the Moon nascera 15 anos antes da histórica missão à Lua, como balada de cabaré composta em ritmo de valsa – muito diferente da roupagem musical que viria a tornar-se familiar aos nossos ouvidos. Nasceu até com outro nome: chamava-se In Other Words quando Felicia Sanders a cantou em estreia no Blue Angel, mítico night club em Manhattan.
O autor – letra e música – foi Bart Howard (1915-2004), um pianista profissional que antes de ser mobilizado para a guerra alcançara alguma fama em meios restritos ao compor If You Leave Paris (1938) para Mabel Mercer. Mas o verdadeiro sucesso só chegaria quando In Other Words, concebida em 1954, passou a chamar-se Fly Me To the Moon, no final dessa década.



E no entanto o tema parecia fadado a passar despercebido. De tal modo que figurou apenas no lado B do disco de 45 rotações da gravação original, na voz de Kaye Ballard, com dois minutos e 14 segundos. A sorte só começou a virar em 1959, com a bela interpretação jazzística de Nancy Wilson e sobretudo em Outubro de 1960, quando Peggy Lee a cantou ao vivo no popularíssimo programa televisivo de Ed Sullivan, na CBS.
Até hoje, já conheceu mais de 500 versões. Nas vozes de Tony Bennett, Judy Garland, Brenda Lee, Doris Day, Ella Fitzgerald, Bobby Womack, Della Reese, Sarah Vaughan, Johnny Mathis, Anita O' Day, Nat King Cole, Eydie Gormé, Astrud Gilberto, Michael Bolton e Diana Krall. Algumas entre tantas.

Bart Howard, que começou a escrever canções com a ambição - jamais concretizada - de se tornar um novo Cole Porter, pareceu sempre surpreendido com a enorme popularidade de In Other Words, que só em 1963 passou a intitular-se oficialmente Fly Me To the Moon. “Demorei vinte anos a aprender a escrever uma canção em apenas vinte minutos”, confessaria mais tarde, quando vivia quase em exclusivo dos direitos deste tema, que na voz de Sinatra para sempre ficou associado à conquista do espaço. Não apenas como metáfora mas em sentido literal.
É assim que o escuto ainda hoje, ao trauteá-lo uma vez e outra nos dias em que acordo mais insuflado de optimismo e energia: como um símbolo de quem é capaz de transpor todas as fronteiras e ultrapassar todas as barreiras.
O céu é o limite e há sempre novos mundos por desbravar.

«Fly me to the moon / Let me play among the stars / Let me see what spring is like / On a-Jupiter and Mars / In other words, hold my hand / In other words, baby, kiss me.»


Pedro Correia, no Delito de Opinião

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