terça-feira, 23 de maio de 2017

As Grandes Bandas Inglesas dos Anos 60 - Procol Harum



Gary Brooker, Robin Trower e B.J. Wilson juntaram forças no início dos anos 1960 para formar uma banda a que chamaram The Paramounts. O seu primeiro single, lançado em 1963, foi uma cover dos Coasters, The Poasters Ivy que teve pouco sucesso. 
Após a separação dos elementos que compunham os Paramounts, o pianista / vocalista Gary Brooker formou uma nova versão do grupo, chamando o letrista Keith Reid para escrever algumas reflexões esotéricas para combinar com o novo Rock Psicodélico, que Gary compunha. Ao assumirem um novo rumo musical, precisavam de um nome a condizer. 

Gary Brooker conta: 
"Nós não escolhemos o nome. Foi o nosso agente na época que me telefonou e disse que tinha encontrado um nome."  Eu perguntei: qual é esse nome?' 
 - Procol Harum.
 - Óptimo. E soa como nós. De facto, soa com a musica que fazemos. 
E é claro que toda a gente perguntou:
   - O que é que isso significa?  
Nós não sabíamos, e então tínhamos que descobrir o real significado daquela palavra estranha e completamente desconhecida para nós. 

Depois de muitas perguntas e leituras de dicionários, chegámos á conclusão que Procol Harum, era o nome de uma raça de gatos com o pedigree, de um gato de um amigo dele. 
Mais tarde, descobrimos que realmente, eu tinha entendido mal o nome que me havia sido comunicado pelo telefone. Entendera e soletrara o nome de forma errada a palavra, que tinha origem no latim. O nome do gato era 'Procul' com um 'u "E" Harun "com um" n "no final, e significava " Além dessas coisas "em latim. Temos que admitir que o real significado de Procol Harum," Além dessas coisas ", foi uma grande coincidência, e assentava-nos “como uma luva”.






































A banda era composta por, Gary Brooker cantor e teclista, Keith Reid letrista, Matthew Fisher organista, David Knights baixista, Ray Royer guitarrista e o baterista Bobby Harrison. 
O primeiro single da banda, "A Whiter Shade Of Pale", lançado em Julho de 1967, atingiu o 1º lugar nas tabelas de vendas dos dois lados so Atlântico e definiu algo novo no género musical: "Rock Clássico". 
Rock Clássico, é a fusão da guitarra elétrica de rock, vocais poderosos e bateria poderosa, com letras pensadas envoltas na complexidades artística dos arranjos melódicos da melodia clássica. 
O tema foi executado e gravada nos Estúdios Olímpicos em Londres, Inglaterra, usando o baterista, de estúdio, Bill Eyden. Poucos dias depois, a música foi regravada com o baterista da banda Bobby Harrison, mas essa versão foi descartada tendo uma das gravações mono originais sido escolhida para o lançamento em 45 Rpm. 

No auge da popularidade da música, o grupo já estava fracturado por mudanças de alguns elementos originais desta formação. Foram admitidos dois ex Paramount. 
Os singles subsequentes tendo como termo de comparação o sucesso inicial dos Procol Harum , eram fracos e as esperanças de vendas de mais milhões de singles, ficaram muito aquém das expectativas, tendo levado os componentes da banda e os seus fãs,  à frustração total. 

"A Whiter Shade of Pale" foi o grande sucesso de 1967 e transformou a banda numa lenda que dificilmente poderia sobreviver àquele nível. O single que se seguiu, "Homburg" alcançou o 6º lugar no Reino Unido, mas ficou em 34º lugar nos USA. 
Na época, a ideia da banda produtora de álbuns, estava a tornar-se uma realidade. Mas as gravadoras ainda estavam obcecadas com o hit single. 
Na passagem dos anos 60 para os 70, a banda passou cinco anos sem sucessos, mas mesmo assim, gravaram álbuns consistentemente, gratificantes de muita qualidade musical, mas sem qualquer sucesso comercial.


"A Salty Dog", o seu terceiro LP, acabou por ser um dos trabalhos mais relevantes tendo sido um best-sellers do grupo. Após o lançamento do álbum, o organista-produtor-escritor-cantor Matthew Fisher auto excluiu-se. Saiu do grupo. Não tinha tido muitas oportunidades de cantar (um solo em uma ou duas músicas na melhor das hipóteses) pois a maioria das músicas eram de Brooker e Reid. Não havia sequer um crédito de Brooker / Reid / Fisher  no legendário tema  "A Whiter Shade of Pale", apesar do trabalho de órgão de Matthew, que, contrariamente à crença popular, não foi copiado de qualquer tema em particular de Bach, mas foi inspirado sim, em algumas trechos do trabalho do Johann Sebastian Bach. 

No inicio dos anos 70, Chris Copping entrou para substituir Fisher no órgão e David Knights no baixo. Estas mudanças transformaram profundamente os Procol Harum em The Paramounts novamente. 
Chris tinha sido um membro original do grupo antigo, mas saiu em 1962 antes da banda começar a gravar (com Diz Derrick, seu substituto no baixo). Readmitir os antigos companheiros de banda, parecia sinalizar um retorno ao R&B. 

Embora parecesse que a banda era sólida como uma rocha, os readmitidos velhos amigos não tinham essa opinião. Anos mais tarde, Robin Trower diria que estava simplesmente enjoado de "aquele som de órgão e piano". Os seus esforços para adicionar mais guitarras nem sempre foram recebidos com entusiasmo. 
Não só os elementos da banda estavam descontentes com o rumo musical dos Procol Harum, como também os críticos expressavam a mesma opinião, fazendo grande oposição á direcção musical que Gary Brooks imprimia.


Musicalmente, Procol Harum esteve sempre dividido entre Hard Rock e Rock Clássico. Embora o grupo muitas vezes combinasse os dois estilos numa fusão brilhante, os álbuns, tinham sempre um rumo bem direccionado inclinado para um lado ou para o outro. Após a saída de Trower, Procol Harum voltou-se completamente para o lado clássico com "Live at Edmonton", um exercício sinfônico lançado no Inverno de 1972. Pela primeira vez em cinco anos, a banda alcançou o Top 20 americano com a sua nova versão de " Conquistador ", que alcançou a 16ª posição nas tabelas de vendas. A canção, ironicamente, estava no primeiro álbum de 1967. Com uma orquestra audaciosa, a Edmonton Symphony Orchestra, a musica era outra e ajudou a transformar o tema original num deslumbrante disco de ouro.

O reaparecimento do grupo em alta, permitiu que eles se juntassem à Warner Brothers / Chrysalis com um orçamento maior para explorar sua identidade de Rock Clássico. O resultado foi "Grand Hotel", uma requintada mistura de classicismo elegante misturado com o excitante Rock. Obteve aclamação instantânea e esteve no Top 100 da Billboard durante cinco meses. O entusiasmo de Gary Brooker para recriar a fusão o Rock Clássico devolveu a fama á banda. Houve alguns álbuns medíocres que foram logo esquecidos, especialmente pela Warner Brothers / Chrysalis, que não mostraram muito interesse em promovê-los. A banda voltou a separar-se em 1977 depois de ver "Something Magic" ficar numa desprestigiante 147ª posição na Billboard 200. 

Reuniram-se para um único espectáculo cinco meses depois, quando "A Whiter Shade of Pale" foi nomeado vencedor (juntamente com o tema "Bohemian Rhapsody" dos Queen) para o  Best British Pop Single 1952 1977 nos BRIT Awards, englobado no II Jubileu de Prata da Rainha Elizabeth. 
Brooker e Fisher dedicaram-se a uma  carreira a solo, mas foram condicionados, a fazer algumas colaborações em discos de outros artistas, produzindo algum cantor semidesconhecido, ou actuar em segundo plano nos concertos de outras bandas.


Em 25 de Setembro de 1991, Gary Brooker e Matthew Fisher começaram novamente a actuar como Procol Harum. Robin Trower tinha recusado  juntar-se a eles, e os músicos que participaram no último álbum solo de Brooker eram agora membros dos Procol Harum. Havia uma nota sinistra no livreto do novo álbum declarando que este era "dedicado a Barrie James (B.J.) Wilson, que estará sempre connosco". 

A maioria dos fãs da banda, não sabia que ele tinha estado em coma durante algum tempo, tinha falecido, em 8 de Outubro de 1990.

quinta-feira, 18 de maio de 2017

129 Anos do Disco de Emile Berliner



Perfaz hoje exactamente 129 anos sobre a invenção do disco, um tosco protótipo apresentado pelo inventor alemão naturalizado norte-americano Emile Berliner. 

Este suporte de gravação sonora, ainda hoje em aperfeiçoamento e preferido pelos mais criteriosos audiófilos, nasceu a 18 de Maio de 1888 para concorrer com o cilindro de cera. Apesar de possuírem mais capacidade de armazenamento (dois lados) e serem mais fáceis de guardar, os discos não se impuseram logo no mercado devido à sua extrema fragilidade. Só a partir de 1910, com a aplicação de goma-laca que facilitava a sua prensagem a partir de uma matriz, as suas vendas ultrapassaram os célebres cilindros de Thomas Edison. 

Foi já tarde e diante de uma falência iminência que Thomas Edison converteu a sua produção para este formato, que perdurou até ao início dos anos 1950, quando surgiram os Long Playing de 33 rpm (rotações por minuto) e os Singles de 45 rpm, gravados em vinil. Inicialmente apenas com um dos lados gravados, os primeiros discos, pesados e rígidos, feitos para rodar entre 75 e 78 rpm, tocavam, como os cilindros, gravações de 3 a 4 minutos realizadas por métodos integralmente mecânicos e acústicos, de sensibilidade a frequências extremamente limitada: as muito baixas (sons graves) e as muito altas (sons agudos) não eram registadas. 

Os metais e a percussão eram, por isso, os instrumentos musicais mais adequados a acompanhar cançonetas, marchas e polcas ou até curtas árias de Ópera devidamente adaptadas. Estas limitações só foram ultrapassadas pela gravação eléctrica com microfones e amplificadores, o que se generalizou a partir do final da década de 1920. Era só nas casas burguesas mais abastadas ou em bailaricos de paróquia que os discos eram tocados em gramofones mais ou menos sofisticados, cuja potência sonora dependia do formato e tamanho da campânula que projectava o som. Estes aparelhos funcionavam com fabulosos motores de corda, cuja precisão e força chegava a garantir a audição afinada de três discos sem novo impulso de manivela. 

Outra curiosidade era o consumo frequente de pontiagudas agulhas de metal (as marcas fonográficas aconselhavam a sua troca a cada audição!) e que eram vendidas às centenas em coloridas caixinhas de folha-de-flandres que hoje fazem as delícias dos coleccionadores. Foi também a partir dos anos 1920 que se popularizaram as grafonolas, máquinas portáteis em forma de mala, contendo uma pequena campânula escondida no interior. Estas eram bem menos elegantes e potentes que os gramofones, mas muito mais económicas, o que potenciou a sua popularização e a consequente expansão da indústria fonográfica. 

É nos anos 1940 que surge na revista norte-americana Bilboard a primeira lista dos discos mais vendidos. O mundo jamais foi o mesmo. A democratização do consumo da música teve definitivamente origem no disco de Berliner, que trouxe consigo, entre tantas virtualidades, um dos mais marcantes fenómenos do século XX: a música Pop. 


Texto adpatado de "Liberdade 232" publicado no jornal i

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Escape Livre - Nova Lisboa, 1970


O inicio da década de 70, ali pelo planalto central de Angola, na bela cidade de Nova Lisboa, actualmente Huambo, foi época de incorporação dos mancebos, o cortar das fartas cabeleiras, e o fim de muitos conjuntos musicais que ainda não tinham acabado e acordar do sonho lindo vivido nos anos 60.

Os Beatles tinham ficado para trás, e começávamos a ouvir, Santana, Blood Sweat And Tears, Chicago em doses maciças. 
A musica passou a ser outra, e as Hofner, as Yahamaha, tinham sido substituídas pelas Mauser, G3, e outras “machines” que cuspiam fogo e chumbo. O som não era nada bonito. Mas teve que ser.

Para trás ficaram os Rebeldes, Los Pacificos, os Planetas da Cáala, os Lover´s, os Gemini e muitas outras bandas que durante muitas noites alegraram as populações de Cabinda ao Cunene.

Mas ainda tínhamos uma munição para usar. Na altura, eu o Rui Carlos e o Zé Maria Coelho, vivíamos juntos em Nova Lisboa, num apartamento, ali por cima da Saratoga. O verdadeiro selo de povoamento. Até comprámos um Volkswagen a “treias”. Cada um entrou com 10 mil angolares. Uma fortuna. E, embora fosse o único com carta de condução, o bólide, era sempre conduzido pelo Zé Grande, que nem o código sabia. Mas o tamanho dele chegava para ser eleito o condutor de serviço.
E aí, surge o convite do muito querido e saudoso velho Óscar, que tinha entre mãos o equipamento de uma banda, Os Sombras, que acabar de se desmembrar. Dos músicos tinha ficado só o filho, o Rui Óscar e o seu órgão branco…

Vai dai, juntámo-nos lá em casa, e decidimos a formação. 
Vicky na voz e guitarra, o Zé Maria Coelho, no baixo e na trompete, o Rui Carlos Estevão, na batera, o Rui Óscar, nas teclas e o Relvas no trombone. A ideia desta formação, era “atacarmos” a soul music do Otis Redding, e os temas dos Blood Sweat and Tears, Chicago e similares. 

Mas, faltava um solista. Foi então que vindo, não sei de onde nem pela mão de quem, nos aparece, o Pepe, o Ezequiel, que estava a cumprir o seu serviço militar nas transmissões ali num quartel qualquer….Maravilha das maravilhas. Grande musico, companheiro incrível das risadas e fantochadas, mas sobretudo, com um reportório renovado, já que havia chegado havia pouco tempo, do “puto”, da metrópole. Olha, era um “pula”, á maneira. E fez história entre nós. Ainda hoje, volvidos quase 50 anos, somos amigos.

Faltava o nome para a banda. 
Uma noite, ao despedir-me do Relvas á porta da garagem aonde ensaiávamos, reparei que a máquina voadora do mwadié, uma Tohatsu azul, fazia um cagaçal imenso, pois andava sempre sem escape …Literalmente andava de “Escape Livre”… ganda nome, pensei. Voltei para dentro e com o resto da malta, decidimos adoptar esse nome. E ficou.

No dia a seguir, fomos todos á Saratoga, tiraras medidas, e segundo ideia minha, encomendámos as fatiotas. Calça prêta de risca branca, camisa amarela sem colarinho, mas com umas “presilhas”, por onde passava um lenço azul com bolinhas brancas (ainda tenho esse lenço), e um casaco cinza claro com uns vivos, aba comprida, mas sem mangas…vejam a foto. Lindos, os meninos. E é claro, bota á Beatle…compradas na sapataria um pouco mais abaixo, em frente ao Hotel Bimbe.

O Rui Carlos, que sempre foi um vaidoso de primeira, aliás acho mesmo que ele era e ainda é um vaitreze, com bom gosto, achou que as botas que tínhamos comprado na sapataria eram vulgares, sem estilo, e vai dai, voltou á Saratoga e comprou umas made in england, beatles genuínas, parece que até falavam inglês. Custaram-lhe os olhos da cara. Se não me engano, entregou as economias todas desse mês. Uma fortuna…750 Angolares…
As ditas, tiveram um fim trágico. Passo a contar.
Uma das primeiras aparições publicas do Escape Livre, foi num festival YéYé, no pavilhão do Atletico.  Vieram bandas dos quatro cantos de Angola, que eram obrigadas a tocar três temas. Nós optámos pelo Hey Jude, versão do Wilson Picket, Oh Darling, dos Beatles, e o tema obrigatório.


Quem mandava no Atlético, era o velho Taborda, sempre em cima de tudo, não deixando a malta pôr o pé em ramo verde.

Sem grandes alaridos, arranjámos lá um sócio que se pôs de plantão á entrada do ringue, junto da cancela por onde entravam as equipes, que tinha a missão de “escancarar” a dita cancela, porque, sem dizer-mos nada a ninguém, tínhamos combinado fazer um entrada á Escape Livre. 
Com as nossas motos. 
Sem escape. 

Assim foram constituídas as equipes. Moto da frente, Zé Maria Coelho, e Pepe na pendura. Segunda moto, Relvas e Rui Óscar, e a fechar a comitiva o moi, com o Rui Carlos na garupa, a estilar as suas botinhas importadas…bom, será escusado dizer que a nossa entrada foi de gritos. Literalmente pusemos o pavilhão todo a gritar, á excepção do velho Taborda, que desconhecendo este aparato, corria louco atrás de nós, aos gritos….
 - Parem, parem, parem, rua, rua, rua….gargalhada geral. 

Geral não. O rui Carlos atrás de mim, chorava. Á séria. 
È que ao fazermos a nossa entrada no ringue, a sua linda botinha do pé direito, tinha sido “apanhada”, mais propriamente o elástico do cano, pelo ferrolho da cancela, e desgraça das desgraças, tragédia das tragédias, abrira-se toda…estava todinha rasgada…o Rui, aos gritos repetia o que o velho Taborda gritava…para, para, para, Vicky. E eu acelerava ainda mais, pois eramos a dupla que estava quase a ser agarrada pelo velho Taborda… 

Ao fim da segunda volta ao ringue, lá estacionámos os bólides com o publico ao rubro. 
Ocupámos as nossas posições em palco, mas o Rui Carlos inconsolável, chorava baba e ranho, e enquanto cantava o Oh Darling. soluçava de comoção a tal ponto que teve direito a uma ovação de pé. 
O pessoal acreditou que o feeling, o desespero da interpretação dele se devia á sua pura emoção de homem apaixonado…puro engano. 
Sim apaixonado estava pela bota destruída, o que o levou ás lágrimas e ao desespero…
Foi um verdadeiro espectáculo …

Infelizmente esta formação, desfez-se tragicamente passados poucos dias. Depois de um ensaio, á noite, o Relvas a caminho de casa, de noite e sem luz na Tohatsu, foi colhido mortalmente por uma camionete…nunca soubemos como e que realmente tudo se passou, mas ficámos destruídos, pela pera de um irmão muito querido.


A seguir, o Pepe, regressou á metrópole, e foi substituído pelo Rui Almeida, o calcinha de Luanda, que preencheu na perfeição a ausência do Ezequiel. 
Durou pouco tempo esta formação, porque a “tropa” chamou pelo Zé Maria, que teve guia de marcha para os Dragões de Silva Porto. O Rui Carlos, foi para o leste com a companhia 1250, se não me falha a memória, e o Rui Óscar para Luanda, com o Rui Almeida. 

Fiquei eu, sozinho, com uma série de contratos para cumprir. Não me atrapalhei, e numa semana, refiz a banda.
Entraram: para as teclas, o Jorge Sena, para a baixo o Victor Mascarenhas, para o solo o Nélito, e para a batera o Brandão.
Depois de ensaiados, lá fomos nós de malas aviadas para Moçamedes para mais um festival YéYé, aonde aconteceu um outro episódio engraçadíssimo. 

Para já, chegámos de madrugada ao centro da cidade, aonde fomos recebidos por um pinguim que tinha dado á costa…o bicho estava mesmo desorientado. Lá o devolvemos ao mar e fomos descansar. Tínhamos ficado horas numa fila imensa, no alto da serra, já que nesse dia foi aberta ao trânsito essa via rodoviária que serpenteava pela linda serra da Leba.

Á noite o espectáculo. Escape Livre, Os Palancas banda lá da terra, do Lobito vieram os Lovers, com o Rui Chaves e o Ministro, os Camuflados, banda da companhia militar que estava estacionada por lá, e não me lembro de quem mais. A Riquita, era a madrinha do festival.

Um dos temas que nós tocávamos e que fazia imenso sucesso, era o Something dos Beatles, no qual o Nélito brilhava forte com o solo que fazia, e que originalmente teria dois minutos. 
Só que naquele dia, consequência da “seruma”, do “boi” que circulava pelos camarins, oferta da gerência, o solo nunca mais acabava…aquilo era uma sinfonia sem fim …bonito empolgante, mas ele tinha que terminar o solo. 
Lá me fui chegando a ele e com ligeiros toques e alguns truques, lá consegui que o Nelito acabasse a sua intervenção. A caminho dos camarins, perguntei.

- Porra Nélito, o que é que te deu ? 
Ele com aqueles olhinhos, enevoados pelos fuminhos, foi dizendo, enquanto batia com a mão no peito….
 - Era o Jimmy brother, era o Jimmy, não era eu…
Espantado parei e perguntei
 - Qual Jimmy ?...
 - O Hendrix, brother, o Hendrix….
Grande musico, este Nelito.



De volta a Nova Lisboa, lá fizemos mais uns bailaricos, até que outros valores se levantaram, e com a separação inevitável devido ao facto de uns terem sido chamados a cumprir o serviço militar noutras paragens, o Escape Livre acabou….

Foi um tempo de magia, de crescimento enquanto músicos, e de solidificação de amizades que se mantêem. Para não esquecer. Nunca !