domingo, 9 de agosto de 2009

Rock And Roll Is Here To Stay - The Million Dollar Quartet

Musicalmente falando, quem primeiro definiu o estilo do Rock and Roll, foi Bill Haley, que vindo da área do country, criou (???) um beat diferente acentuado no segundo e quarto tempos de uma marcação de 4x4.
A data apontada, como sendo a do nascimento, do rock and roll é a do lançamento da música "(We’re Gonna) Rock Around The Clock", de Bill Haley and The Comets,em 12 de Abril de 1954, e a qual eu ouviria pela primeira vez, numa sessão de cinema, absolutamente inesquecivel. O tema, fazia parte da banda sonora do filme "Blackboard Jungle" de 1955, baseado no livro com o mesmo nome, e autoria de Evan Hunter.
Embora dezenas de gravações anteriores já apresentassem um ou outro factor do que viria a cristalizar-se, como sendo, puro Rock and Roll, este é sem dúvida, o marco que delimita a fronteira, entre a música do sistema dominador, e a da juventude, que começava a marcar o seu território, e a fzer as suas exigências de liberdade de expressão, de criação,ou seja, a liberdade de viver.
O próprio Bill Haley tinha gravado nesse mesmo ano,uns meses antes, o tema, "Shake Rattle and Roll",de autoria de Jesse Stone, aliás Charles E. Calhoun, o qual já tinha sido gravado, por Big Joe Turner, sendo portanto, a versão de Bill Haley, uma cover com a lirica substancialmente alterada, para que não escandaliza-se a população branca, com a gíria, com o calão, cheio de referências ao relacionamento sexual, e mesmo, machista, entre os casais negros.
Mas Halley, não tinha sex appeal, e nunca descalçou as suas botas de country boy, ou seja de saloio.
O sonho de encontrar um caucasiano, capaz de cantar como um negro, e arrebatar os corações "branquelas" americanos, foi realizado por Sam Phillips, proprietário de um pequeno estúdio, a Sun Records. Ao gravar um jovem camionista de boa presença física e com uma voz a condizer, Sam Philips, descobriu a galinha dos ovos de ouro. O branco capaz de fazer frente á horda de negros que se preparavam para conquistar as listas de vendas de discos e contaminar os usos e costumes, da inocente juventude americana, nesse inicio da década de 50, foi Elvis Presley.
Com os singles de "Thats All Right" e "Blue Moon of Kentucky", logo seguido por "Good Rockin’ Tonight" e "I Don’t Care If The Sun Dont Shine", poucos poderiam acreditar que a voz, que ouviam na rádio era a de um branco. Obviamente parecia mais saudável à sociedade conservadora e racista aceitar aquele tipo de música vindo de um rapaz da sua raça, e catalogado de bom rapaz. Essa imagem, porém, era desmentida pela maneira agressiva e sensual de dançar do que viria a ser a imagem de marca, no principio, do King do Rock And Roll.
Elvis "The Pelvis" Presley, vinha para ficar, e arrasar.
Embora, tendo "nascido" um ano antes, o Rock and Roll, só viria a explodir definitivamente em 1955, em grande parte influenciado pela inclusão do tema, na banda sonora do filme "Blackboard Jungle" ("Sementes da Violência", aqui em Portugal), e como já atrás referi,versava sobre as relações tumultuosas entre alunos e professores, numa qualquer escola multiracial americana.
Numa analogia a algo muito mais amplo, o filme/livro, descrevia o relacionamento entre o stablishment, e a ânsia por mudanças, de uma juventude que cada dia mais delinquente, se lançara na procura de herois, que nada tivessem a ver com os estereótipos do passado. Rápidamente adoptou,para desespero dos sectores mais conservadores da sociedade, puritana e racista da época, a rebeldia, mesmo que sem causa, o exemplo a ser seguido, e por arrasto, a música do filme, como catalisador dessa rebeldia. Obviamente o novo tipo de música passou rapidamente a ser associado à degeneração da juventude, o que tornava ainda maior seu fascínio, num ciclo vicioso irresistível.
E quando todos pensavam que nada pior poderia influenciar em tão grande escala a juventude americana eis que um negro, Chuck Berry, se destaca, com uma versão de um hit country, "Ida Red", renomeado para "Maybelline", e com a autoria atribuida, a Allan Freed, embora este não tenha sido, tido nem achado, na composição do tema. Começava o ataque do sistema, acusando Freed de receber "luvas", para passar estes discos nos seus programas, o que viria a ser conhecido como o esquema "Payola", e que viria a destruir Alan Freed.
Embora nunca tenha conseguido para si o título que lhe poderia e devia ser atribuido, de Rei do Rock, usurpado pelo branco Elvis, a sua importância nunca foi discutida.
Ainda mais assustadora para os conservadores porém seria a aparição de um segundo negro, Little Richard, este ainda por cima afemeninado, maquilhado e com um penteado no mínimo exótico, cantando em seu primeiro verso o que viria a ser para sempre o grito de guerra mais conhecido do Rock and Roll, tão indecifrável quanto contagiante...
"waa ba bluba, baram bam bum,tutti frutti, oh meruri,tutti frutti, oh meruri",desculpem a fonética.
A prova definitiva de que o Rock and Roll seria a mais lucrativa música de consumo dos próximos anos viria com o pagamento de inéditos 45.000 dólares pela "transferência" de Elvis Presley, que chegara a ser aconselhado a voltar á estrada, para o volante do seu camião, menos de dois anos antes, para a RCA Victor.
Em 1956 enquanto Elvis Presley consolidava o seu sucesso com novos hits como "Heartbreak Hotel", "Blue Suede Shoes", - que deveria ter sido lançada pelo seu autor, Carl Perkins, se este não tivesse sofrido um grave acidente de carro que o deixou paralisado numa cama do hospital durante um ano,- e covers de músicas já consagradas como "Tutti Frutti","Shake Rattle and Roll", tornava-se urgente para outras gravadoras encontrar artistas que pudessem rivalizar com Elvis.
A Sun tentando livrar-se do estigma que a perseguiria de ser apenas a gravadora que descobriu Elvis e o vendeu por uma ninharia, lançava Roy Orbison com "Ooby Dooby".Sem grande suceso, de inicio. Mas ali, já havia muito talento a ser preparado para enfrentar a fama e o sucesso que estava ali ao virar da esquina.
Além de contar já, nas suas fileiras com Johnny Cash, Sam Phillips, começara a gravar um pianista completamente louco. The Killer, Mr Jerry Lee Lewis.
Portanto, antes da saída de Elvis, a Sun possuía o que viria a se cognominado de "The Million Dollar Quartet" - Elvis Presley, Johnny Cash, Jerry Lee Lewis & Carl Perkins .
A Capitol Records responderia a Elvis com Gene Vincent and The Blue Caps, e o seu "Be Bop A Lula", marcado pelo estilo do vocalista, front man, que balançava as ancas,apoiado na sua perna parada. Na verdade e no caso de Gene Vincent, paralisada, em virtude de um acidente de moto.
Com uma sonoridade um pouco diferente, mais marcada pela música negra de origem, principalmente gospel, começava a despontar o talento de James Brown com o seu quase soul "Please Please Me".
Já sobre o comando do empresário Tom Parker o talento de Elvis era aproveitado também no cinema no filme "The Reno Brothers", logo renomeado para "Love Me Tender"em virtude do grande sucesso da canção tema.
Não tardam a aparecer outros filmes com participações de estrelas do rock, como "Rock Around The Clock" e "Don’t Knock The Rock",com a participação de Bill Haley e Allan Freed, "The Girl Can’t Help It", estrelado po Little Richard, Gene Vincent, Eddie Cochran, entre outros.
Entretanto, em Inglaterra, e no resto da Europa, com algum atraso, o filme "Blackboard Jungle" dava a conhecer o Rock And Roll.
Com o alistamento obrigatório de Elvis Presley nas forças armadas em 1957 o fim do rock and roll foi anunciado pela primeira vez.
Afinal o que haveria neste ritmo que o poderia eternizar, em contraste com tantos outros como o cha-cha-cha, a rumba, o calipso, ou o mambo?
Contrariando todas as previsões novos hit makers surgem de onde menos se espera.
Se tomar-mos como exemplo Buddy Holly, e os Crickets, de Nashville, podemos constatar, que com hits açucarados tipo, "That Will Be The Day" e "Peggy Sue", que o rock poderia ser domado e usado, associado a um rapaz bem comportado, cuja imagem enquadrava perfeitamente naquilo que os conservadores queriam, e as letras românticas, sem segundas intenções.
As esperanças de menos rebeldia e dias mais calmos na radio não se concretizariam, obviamente. Seja pelos lançamentos de "School Days" de Chuck Berry, uma ode ao fim das aulas, ou pela explosão tardia de Jerry Lee Lewis com "Crazy Arms", "Whole Lotta Shakin’ Going On", e é claro, o imortal "Great Balls Of Fire".
Com o ingresso de Elvis nas forças armadas, a despeito de este ter deixado gravado material para dezenas de lançamentos e um filme gravado, "King Creole", Jerry Lee Lewis era o candidato natural para ocupar o posto, deixado pelo King Elvis, rebelde, carismático... e branco.
O seu apelo ao público era proporcional ao seu ego, e "Great Balls Of Fire", tornou-se rapidamente no sucesso do ano de 1958. A sua carreira viria, no entanto ruir de uma forma tão meteórica quanto surgira, em virtude de ter vindo a público o seu casamento com a sua prima de 13 anos, Myra Gale Brown, menor, sem Jerry ter tido o cuidado de desfazer um de seus casamentos anteriores, sendo portanto um bígamo, o que era demais para a sociedade da época.
1958 vê ainda Chuck Berry lançar dois dos maiores clássicos do rock de todos os tempos, "Sweet Little Sixteen" - sim, um hino ás adolescentes, e "Johnny B. Goode", quase auto biográfico.
O Rock lamechas, romântico, pimba... por sua vez, contra ataca com "All I Have To Do Is Dream", dos Everly Brothers.
Por cá, mas só em 1960, despontam os Conchas, (Oh Carol), um pouco á semelhança dos manos Everly, e o Daniel Bacelar, ("Fui Louco Por Ti"), na peúgada do Ricky Nelson, (Poor Little Fool), do Johnny Tillotson, ("Poetry in Motion"), Bobby Vee, ("Take Good Care of My Baby" ), e outros.
Por lá, James Brow lança seu primeiro grande hit, Try Me.
O ano negro de 1959 começou marcado , pelo acidente de avião que em Janeiro, em Clear Lake, Iowa, que vitimou, Buddy Holly, Big Booper e o recém descoberto chicano Ritchie Valens (La Bamba). Após uma apresentação conjunta durante uma mal-sucedida tourné de inverno, chamada Winter Dance Party , o avião que transportava o grupo de uma cidade para outra, no meio de uma tempestade de neve e com um piloto inexperiente, caiu pouco após a decolagem, não deixando sobreviventes.
A década termina com Chuck Berry, na cadeia, por cruzar uma fronteira estadual com uma prostituta,que teoricamente havia sido contratada para trabalhar no seu clube Saint Louis. O seu grande crime, obviamente, era ser negro numa sociedade racista e o facto de ter alcançado tanto sucesso. Berry foi julgado e condenado a dois anos de cadeia.
Os factos citados,eram emblemáticos e fáceis de localizar, mas os problemas do Rock and Roll, não se reduziam a estes. O estilo estava gasto em virtude da
super exposição e mesmo os grandes nomes como Carl Perkins e Jerry Lee Lewis estavam a derivar para o caminho mais lucrativo do country.
Elvis Presley, de volta do seu serviço nas forças armadas, passaria de elemento rebelde a entertainer familiar, gravando praticamente apenas baladas.
A juventude finalmente notara que Bill Haley e Allan Freed afinal já não tinham idade para serem ídolos jovens.
Talvez o rock finalmente tivesse morrido.
Ou talvez precisasse de algumas mudanças.
Ou teria o sistema conservador vencido????

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