sábado, 14 de maio de 2011

Os 125 anos da Coca-Cola

Garrafas de Coca-Cola
“O que este país tem de bom é que a América estabeleceu uma tradição, segundo a qual os consumidores mais afortunados compram essencialmente as mesmas coisas que os pobres. Quando se está vendo televisão, bebe-se Coca-Cola; sabe-se que o presidente bebe Coca, Liz Taylor bebe Coca-Cola. Então a pessoa pensa consigo mesma: também posso beber Coca. Nem todo o dinheiro do mundo poderia comprar uma Coca-Cola melhor do que a que o mendigo está bebendo ali na esquina”

Andy Warhol

Farmácia do Jacob, 1886

Faz calor no centro de Atlanta, USA, e tudo o que se deseja nesse momento é uma bebida leve, saborosa e refrescante como a versão não-alcoólica de Pemberton’s French Wine Coca por meros "5 cents a glass".

Hoje a farmácia do doutor Jacob vai vendê-la pela primeira vez, e ninguém sabe ainda no que é que isso vai dar. Atravessa-se aquela rua em pleno dia 8 de Maio de 1886 pensando que esse é apenas mais um dia, mas quando se chega ao balcão e se experimenta um gole daquela água carbonada, mal se pode imaginar que estavam a fazer história.

A partir de agora, tudo aquilo que o mundo mais deseja, passa a ter um nome: Coca-Cola.

Beatles Coca Cola

Criada por John Styth Pemberton há exactos 125 anos, há muito tempo a Coca-Cola deixou de ser simplesmente uma bebida para se tornar num dos maiores fenómenos culturais do nosso tempo.

Enraizada no pensamento da juventude através de hipnotizantes peças publicitárias (pin-ups atraentes, camiões radiantes, adoráveis ursos polares e o mais perfeito retrato do Natal através daquele sorridente Pai Natal, que agora aparecia com as suas vestes vermelhas pela primeira vez, já que até aí o Pai Natal trajava de verde), ou ainda por slogans marcantes como Emoção Á Séria e Sempre Coca-Cola, o famoso refrigerante saiu das prateleiras e foi se colocar em cada uma das pequenas frestas do cotidiano, infiltrando-se também na produção intelectual através de citações em canções como Come Together, dos Beatles ou nas vinhetas feitas pelos The Who para o álbum Sell Out (que só vieram à tona nas versões expandidas do disco).

No Brasil isso foi ainda mais além, aparecendo com força em hinos dos anos 1980, entre eles Revoluções por Minuto, do RPM, e Geração Coca-Cola, da Legião Urbana, além de canções como Teddy Boy, Rock e Brilhantina, do Raul Seixas, Crônica, dos Engenheiros do Hawaii, e Alegria, Alegria, do Caetano Veloso. O ícone também aparece no poema do concertista Décio Pignatari, "Beba Coca-Cola".

Che Coca Cola Capitalismo Comunismo

A presença no imaginário cultural, porém, não se deve apenas à popularidade ou à promessa de felicidade que a bebida sempre fez questão de transmitir, mas também por se tratar de um dos grandes símbolos do imperialismo norte-americano, amplamente condenado por movimentos de esquerda.

A contradição, no entanto, foi logo entendida por Andy Warhol, fundador do movimento artístico conhecido como pop art (e responsável por reforçar o mito retratando a garrafa da Coca Cola num de seus quadros).

Ao mesmo tempo em que pode representar as enormes garras dos Estados Unidos pressionando o mundo inteiro, também indica uma forma de igualdade quando proporciona a cidadãos de diferentes classes sociais o prazer de alguns goles desse intrigante líquido negro:

“Pois nem todo o dinheiro do mundo compraria uma Coca-Cola melhor que a do mendigo da esquina”.

John_Pemberton

Tanto tempo e a Coca-Cola ainda é um mistério. Surgida no final do século 19, a bebida encontrou espaço durante a onda de puritanismo religioso que fechou todos os estabelecimentos onde eram vendidas bebidas alcoólicas. Após meses fechado na cave da sua casa adicionando ingredientes à água carbonada na tentativa de produzir um novo xarope, Pemperton, chegou à fórmula da Coca Cola.

O nome foi dado posteriormente pelo sócio Frank Robinson, que utilizou a própria caligrafia para fazer o logo da marca usada ainda hoje.

Apesar de promissora, no primeiro ano a bebida revelou-se um fracasso, já que só vendeu 25 galões e rendeu apenas US$ 50 aos inventores. Dois anos depois, Pemberton vende a fórmula por míseros 1.750 dólares e dá inicio a um dos grandes mistérios do século, já que até hoje, essa fórmula nunca foi revelada.

No início de 2011, surgiu na internet a suposta fórmula mágica: açúcar, cafeína, ácido cítrico, caramelo, baunilha, limão, laranja,

John Lennon cheirando Coca

Verdadeira ou não, a receita revela os ingredientes mas não soluciona os milhares de enigmas que permeiam a história do refrigerante. Entre eles a possibilidade de utilização de folhas de coca na produção da bebida. Polêmica reacesa por Evo Morales em 2005, quando afirmou que a Coca-Cola comprava toneladas do produto na Bolívia.

Inicialmente anunciada como uma “bebida intelectual, vigorante do cérebro e tónica para os nervos”, a Coca-Cola passou a ser alvo de críticas em relação a possíveis danos à saúde, relacionados ao seu nível de acidez e à suposta contribuição para a osteoporose.

Apesar do seu caráter “viciante”, a bebida não chega a ser unânime. Sucesso absoluto no Brasil, a Coca-Cola perde para sua grande rival, a Pepsi na Argentina, corre atrás do refrigerante local Irn Bru na Escócia e fica longe da versão islâmica Mecca-Cola no Oriente Médio.

Mas não pense que esse lado obscuro da Coca-Cola a prejudica. Pelo contrário: certezas e gentilezas não fazem um mito, mas sim a sua força perante qualquer tipo de obstáculo ou escândalo. Foi isso, aliado à melhor estratégica de marketing e publicidade de que já se ouviu falar, que fez com que a Coca se tornasse o mito que é. Ela está presente na sua mesa de jantar, no seu lanche na escola ou no escritório, no cinema, no parque, na cama ou aonde quer que estejamos.

Sinônimo de sede, sabor, imperialismo, felicidade, exploração, igualdade, desigualdade ou satisfação, não importa: lá no fundo nós sabemos. A Coca-Cola é a dose de utopia líquida que usamos e abusamos.

Coca-Cola por Latuff, 2003

Em Por Deus, Pela Pátria, Pela Coca-Cola, o autor Mark Pendergrast constrói uma espécie de biografia não-autorizada da Coca-Cola. Publicado no Brasil pela Ediouro em 1993, o livro "desapareceu" das livrarias do país, mas possui versão para download aqui.

Por Marina de Campos

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