sábado, 22 de setembro de 2018

Quando o Rock quis ser Jazz


Era un LP raro, comercialmente falando: vinha assinado por Al Kooper, Mike Bloomfield e Steven Stills, três músicos, naquele momento, sem grupo (provenientes, respectivamente, do Blood, Sweat & Tears, The Electric Flag e Buffalo Springfield).

A idéia veio de Al Kooper, teclista e cantor que tinha sido contratado pela Columbia como solista. 
Kooper propôs estrear-se com um disco simples e económico, uma colaboração com Mike Bloomfield, eloquente guitarrista com quem tinha já agendado a gravação do Highway 61 revisited dylanianoO conceito seria o estilo do selo Blue Note, juntarem-se para tocar, confiando nas afinidades, alternando temas alheios, com composições próprias.
Como faziam os jazzmen desde sempre, os músicos de rock começavam a desenvolver jam sessions; geralmente partiam do blues como língua franca. Até esse momento, as reuniões tinham um valor essencialmente social e terapêutico. Os resultados não se consideravam vendáveis e não foram publicados; ainda não tinha saído, por exemplo, o Electric Ladyland, de Jimi Hendrix. 
Kooper contratou então uma secção de ritmo e reservou dois dias de estúdio em Los Angeles. Imediatamente, surgiu a magia. Fortes temas de blues e soul mais uma ousadia: His Holy Modal Majesty, uma homenagem a John Coltrane, que havia falecido no ano anterior, com Kooper tocando um ondioline, teclado de toque exótico, e Bloomfield explorando escalas de raga com sua prodigiosa fluidez.
Capa de 'Super Session'
Capa de 'Super Session'


Tudo se complicou no dia seguinte. Bloomfield desapareceu, alegando problemas de insónia (na verdade, um vício em heroína que, a longo prazo, seria fatal). À beira do pânico, Kooper chamou Jerry Garcia e outros guitarristas que, imaginava, podiam lançar-se para a piscina. Finalmente, apareceu Steven Stills.
Para os que lembrem Stills pelas primorosas firulas vocais de Crosby, Stills & Nash, será uma revelação de sua vontade, no contexto de uma jam: dominava o folk-rock, como mostra na versão de It Takes a Lot to Laugh, It Takes a Train to Cry", de bob Dylan, mas brilha ainda mais nessa cronica de paranóia que é Season of the Witch, de Donovan, aqui sustentada por sua guitarra com pedal wha wha. E fica ainda mais ácido (ou seja, hendrixiano) no tópico seguinte, You Don't Love Me.
O disco resultante é habilmente repartido em dois : Kooper com Bloomfield na capa do primeiro; com Stills no segundo. Tinha truque, devo avisar. Como produtor, Kooper acrescentou estratégicos arranjos de metal que disimulaban deficiências e, caramba, funcionavam perfeitamente. A sua única derrapagem foi ousar com Man's Temptation", de Curtis Mayfield (frases longas e, além disso, não se encaixa com o resto).
Editada em 22 de julho de 1968, Super Session consiguio grandes vendas e foi libertador para os músicos de rock. Kooper tentou prolongar fazendo com Bloomfield, vários concertos que geraram discos ao vivo. Mas o guitarrista continuou lutando com seus demônios particulares e não prosperou. Na realidade, o mito de instrumentistas era perigosa como a moda dos supergrupos. Uma miragem baseada na aritmética simples de somar supostos génios de egos imensos.
Diego A Manrique no El Pais

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