terça-feira, 5 de dezembro de 2023

Square Set - That's What I Want


The Square Set foi uma banda de rock dos anos 1960 da Cidade do Cabo, África do Sul, conhecida por suas canções Silence is Golden (sucesso número 1 da SA (1967)) "Carol Corina" (sucesso número 10 da SA (1968)) e "Isso é o que eu quero " (número internacional 1 atingido no Brasil, Argentina e Portugal (1971-1972)).

A banda foi formada em março de 1966 e se chamava Neville Whitmill and the Humans. Os membros fundadores Nol, Neville, Derek e Keith ensaiaram diariamente durante 6 meses compondo novas músicas e covers antes de contratarem seu primeiro show profissional no Clifton Hotel.

Nol Klinkhamer nasceu no Conservatório de Música da Holanda e formou-se em Jazz, tocava piano, órgão e vibrafone. Neville Whitmill, um cantor de soul da Cidade do Cabo, teve influências de Buddy Holly, Ray Charles, Ottis Redding e Marvin Gaye. Derek Marks, da Cidade do Cabo, gostava de tocar baixo rock com influências de bandas como The Beatles, Small Faces, Dave Clark 5 e Keith Moffat, da Cidade do Cabo, também gostam de tocar rock. Durante a fase de ensaio, eles conseguiram um show no "Stables nite Club" em Church Street Cape Town, que lhes proporcionou um local para aprimorar e aperfeiçoar seu ofício. O local geralmente estava lotado para ouvir a banda. Nessa época a banda decidiu gravar suas músicas e em agosto de 1966 conheceu Ian Martin (engenheiro de gravação) e Lindsay du Plessis (proprietária) dos estúdios AVS Bree Street CT. Foi nessa época que uma mudança de nome foi muito necessária. Durante uma pausa no estúdio os quatro se reuniram para discutir nomes e foi Nol Klinhamer quem sugeriu "The Square Set".

A banda combinou vocais soul e órgão de jazz (com o órgão Hammond crescendo em popularidade na época) com baixo rock e bateria. O som Hammond pode ser ouvido na maioria das músicas do The Square Set.


O inédito 'Silence Is Golden' teve uma reformulação com Graham Beggs no comando e foi lançado pelo selo Gallos Continental por volta de março de 1967. Alcançou o número 1 nas paradas de rádio Springbok por volta de julho de 1967. Isso levou ao lançamento do primeiro álbum completo da banda, 'Silence Is Golden'.By Wikipedia

'That's What I Want', uma música gravada pela primeira vez pelo grupo britânico The Marauders em 1963, também foi gravada por The Ronnie Singer Sound, uma banda da Cidade do Cabo com a qual Marks já havia trabalhado. A última versão foi entregue ao The Square Set para gravação. A música foi alterada para acomodar a programação e adicionada ao álbum 'Silence Is Golden'. Esta canção foi posteriormente lançada na América do Sul pelo selo Decca e alcançou o primeiro lugar no Brasil, Argentina em 1971 e o primeiro lugar em Portugal em 1972.

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

Now And Them, a Última Canção dos Beatles "


Em 5 Outubro de 1962, lançaram a sua primeira canção original, "Love Me do"." Em 2 de Novembro 2023, vão lançar a sua última composição, "Now And Them."
Antes de revelar os detalhes sobre a recém-concluída  gravação com todos os “Fab Four” funcionais no espaço estratóesférico virtual— graças á tecnologia marvel, quase 45 anos em desenvolvimento, a chamada IA (Inteligência Artificial) — permitirão, que compartilhe convosco um episódio que revela o abalo profundo que o assassinato de John Lennon provocou a Paul MacCartney.

É Fevereiro de 1981. Paul estava ocupado a gravar nos estudios de George Martin, na ilha Caribenha de Montserrat. O trabalho ajudou a atenuar a inimaginável dor da perda de John Lennn assassinado dois meses antes, e a presença do amigo, mentor e produtor, foi sem dúvida um conforto significativo. 
Como as sessões a decorrerem, McCartney convidou Carl Perkins para se juntar a ele. O autor de "Blue Suede Shoes" foi um dos primeiros heróis dos Beatles, e McCartney, deu-lhe tratamento VIP durante a sua estadia. Grato pela hospitalidade, Perkins canalizou os seus sentimentos compondo uma música dedicada aos amigos Paul e John. 
"Pensei que poderia ficar sem palavras, mas consegui dizer a Paul quanto gostei o facto de ele me ter convidado, então, escrevi algumas palavras e compus uma música para as cantar. Chamado de"My Old Friend" Carl tocou o tema para McCartney e Linda como um presente de despedida. 
A balada foi composta com estas linhas: 

My old friend, 
May this goodbye never mean the end 
And if we never meet again this side of life 
In a little while, over yonder, 
Where it’s peace and quiet 
My old friend, 
Won’t you think about me every now and then 

De acordo com Perkins, Paul emocionou-se ao ouvir a última estrofe e entre lágrimas, agradeceu a Perkins que por sua vez, confessou a Linda o quanto tinha ficado triste, por ter perturbado o seu marido. 
Linda, igualmente emocionada explicou, que na canção, Perkins, tinha estranhamente repetido as palavras que John Lennon, dissera na despedida da sua última visita. 
"Linda revelou que essas foram as últimas palavras que John Lennon disse a Paul no corredor do prédio Dakota [do apartamento de John na cidade de Nova York]”, disse Perkins ao Goldmine em 1996. 
“John deu um palmadinha no ombro dele e disse: 
'Pense em mim de vez em quando, velho amigo."

Para Linda, era necessária uma catarse deste tipo para o seu marido. 
"Paul está a chorar, mas ele precisava, porque não foi ainda  capaz de superar a sua dor desde do que aconteceu a John. Mas como 'e que você sabia? Há apenas duas pessoas no mundo que sabe o que John disse a Paul. Eu e Paul somos os dois únicos que sabem isso..." Perkins não teve resposta. Parecia que estava na fronteira com o sobrenatural. 
"McCartney  sente realmente que Lennon me enviou essa música," Perkins diria. McCartney nunca comentou a génese do tema "My Old Friend," ou estas palavras de despedida que ele supostamente, ouvira da boca da sua alma gémea. 
Mas a história é verdadeira. Pode-se apenas imaginar a sua reacção quando, anos mais tarde, em 1994, Yoko Ono, lhe entregou um par de cassetes, demos gravadas pelo seu falecido marido no final dos anos 70, destinadas a McCartney para ele completar os temas. 
Rabiscado num dos rótulos de uma das fitas,numa caligrafia bem familiar, estavam as palavras “Now and Then.” Certamente, Paul, teve um flash, uma nota mental que lhe trouxe á memória a despedida de John Lennon, na ultima vez em que tinham estado juntos. 
A cassete demo de "Now and Then," com o rótulo manuscrito por Lennon. 
 Apple Corps Ltd. 

A entrega da cassete foi parte, das demos entregues aos Beatles sobreviventes, para a gravação do "The Beatles Anthology", para trabalhar em três musicas inacabadas de Lennon. 
Escondidos no estudio Hogg Hill Mill de Paul McCartney Jeff Lynne, ("maestro" da Electric Light Orchestra e companheiro de Harrison na banda Traveling Wilburys) durante algumas semanas, no início de 1994 e 1995, os chamados "Threetles" conseguiram completar duas faixas, "Free As A Bird" e "True Love." 

Mas o terceiro tema, "Now And Then" foi rapidamente abandonada. 
Num comunicado á imprensa, Olivia Harrison, afirmou que eles abandonaram o tema depois de trabalharem nele "vários dias". 
Jeff Lynne disse que passou "um dia, uma tarde, realmente, a brincar com ela." 
E Ringo Starr disse que no início desse ano, tinham trabalhado o tema por 10 minutos." 
Os problemas foram técnicos, ao invés de musicais. 

Lennon tinha gravado o piano através de uma boombox no seu apartamento no Dakota, e o seu desempenho foi prejudicado pelo ruído de fundo, que era a banda sonora do seu dia a dia citadino : o tráfego na Central Park West, as vibrações da televisão e o som de centenas de pedestres que passavam na frente do seu prédio. Apesar de ser um documento doméstico fascinante não tinha um padrão suficientemente profissional. 
Lynne e Co. não conseguiram eliminar o ruído de fundo e um teimoso e persistente zumbido inutilizava por completo a gravação. "Now And Then" foi considerado "lixo"inutilizável (ou, mais precisamente, f---ing lixo por Harrison) e arquivado. 
A cassete con o tema andou por ali, durante décadas, embora McCartney nunca o tenha esquecido. Ao longo dos anos, "Now And Then" foi referenciado várias vezes em entrevistas. "Paira por ai ao redor", disse Paul numa entrevista em 2012 num documentário sobre Lynne. " Um dia destes eu e o Jeff vamos resolver esse problema e gravar o tema." 
Mas a tecnologia, ainda em desenvolvimento, e a morte de Harrison, em 2001, tornou essa possibilidade ainda mais remota. 
Um passo crucial foi dado durante a produção do video clip, filmado no topo do prédio da Apple, que seria a ultima actuação dos Fab Four, documentada por Peter Jackson em 2021.


A equipe de áudio da Wingnut Films, de Jackson  tinha desenvolvido um som de última geração, com técnicas de separação, que removia sons estranhos á musica tais como feed backs, notas erradas  e outros ruídos de fundo que prejudicavam muito a música original. 
Jackson, obviamente um enorme fã dos Beatles, permitiu que o seu software, Machine Audio Learning (ou MAL, nomeado em homenagem a Mal Evans o famoso e dedicado roadie dos Beatles) pudesse ser usado extensivamente pela organização da banda — especificamente em 2022 no  "de-mix" original das fitas mestre de quatro pistas de 1966, do LP Revólver para isolar vozes e instrumentos específicos. 
Esta invenção sónica foi a solução perfeita para os problemas que a composição arruinada de Lennon "Now And Then, apresentava. 
Assim como fez em "Come Back" o MAL, a tecnologia de áudio, lavou a "lama" e revelou a clareza da execução de John pela primeira vez. 
"Lá estava ele, John, a voz, clara como cristal," McCartney diz num comunicado á imprensa. "É muito emocional." Ringo Starr foi igualmente tocado.
"Foi o mais próximo que tivemos da personalidade e voz de John. Foi muito emocionante para todos nós. Era como se John estivesse lá, no estudio." 
Mais de 40 anos após o início, a música pode, finalmente, ser acabada. O resultado vai ser lançado mundialmente ás10 a.m. nesta quinta-feira, 2 de Nov. de 2023 através de serviços de streaming, e no dia seguinte em formatos físicos — ambos de 7 polegadas e 12 polegadas de vinil (com a arte da capa do lendário artista Ed Ruscha) e uma edição limitada em cassete. 

Em consonância com o "Now And Then," o single duplo, terá a última música dos Beatles com a primeira, "Love Me do"." 
Um vídeo da música "Now And Then", dirigido por Peter Jackson, também estreia na sexta-feira, 3 de Nov. 2023, precedido por um documentário de 12 minutos de com imagens exclusivas e comentários de McCartney, Starr,  george Harrison, Jackson e Sean Ono Lennon definida para estrear no canal do YouTube dos Beatles às 3:30 EST na quarta-feira, 1 de Nov. 



O que se acredita ser a primeira foto de todos os quatro Beatles juntos, tirada durante uma sessão no Cavern Club, em 22 de Agosto. de 1962.  
Apple Corps Ltd. 

O maior desafio para Martin na época, era fazer uma gravação coerente de fitas gravadas através de três décadas, com ambientes extremamente diferentes, utilizando diferentes tecnologias. Para disfarçar, esconder as imprefeições da época, George baseou-se na habilidade que  tinha aperfeiçoado durante a montagem do album "Love" de 2006. 
"Adicionei alguns vocais de apoio de outros Beatles, faixas para criar alguma coerência e certifiquei me de que soava mesmo, como os Beatles." 
Qualquer fã mais orelhudo, irá detectar harmonias retiradas de "Because", "Here Ther And Everywhere" e "Eleanor Rigby." O efeito é arrasador, apesar de inicialmente ter deixado McCartney nervoso. 
"Quando expliquei a Paul sobre o projecto, ele ficou desconfortável, alegando que isso era reconstruir. Mas havia uma missão. George e John não estão aqui. Eu não poderia gravar o clássico de três partes de harmonia — George, Paul e John cantando juntos. Mas há um som para isso. Então você vai em frente, 'Bem, eles provavelmente teriam que colocar oohs e ahhs aqui...Vamos encontrar isso no mesmo tom e usá-los.'" (Os temas também são "engrossados" com nova backing vocal gravada por Paul McCartney e Ringo Starr em 2022.) 


Os Beatles, durante uma de suas sessões de foto em 9 de abril de 1969, no bairro londrino de Twickenham. A Apple Corps Ltd. 

Além deste reaproveitamento, todos os outros sons foram gravados especialmente para a música — e por seres humanos, nada menos. 
George Martin foi rápido a repetir o que declararam McCartney e Starr, em que estes afirmaram que a musica dos Beatles, não seria artificial, o que implica que "Now And Then" foi concluído com pistas criadas pela inteligência artificial. 
"Não há AI aqui. Há um vocal de extracção. Tudo o resto é completamente tocada ao vivo." 

Nem a usual prática de gravar a bateria usando um computador, para ajustar a bateria de Ringo  Starr.
"Temos mantido a forma como eles teria tocado", explica Martin. "Aqui está a coisa sobre os Beatles — eles tinham uma pulsação própria e unica deles. Havia quatro corações que batiam como um só, em ritmos diferentes, e é muito importante manter isso. Há uma fragilidade para este registo, que precisa estar lá. 
A fragilidade é a parte humana. Se tentar mos resolver tudo, acaba mos com uma experiência muito agradável. A chave para esta produção foi de não adicionar qualquer coisa que tira a humanidade do que ele “Now and Then” encerrará uma versão recém-remixada e expandida do 50º aniversário do conjunto de maiores sucessos dos Beatles, 1962-1966 e 1967-1970, com lançamento previsto para 10 de Novembro. respectivamente.) 

As duas capas se espelham notoriamente, enquanto a banda inclina-se sobre o corrimão da sede de sua gravadora em Londres e sorriem para o fotógrafo, com seis anos (e várias vidas) de diferença. A primeira foto foi tirada para o LP de estreia de 1963; o segundo destinado ao que viria a ser Let It Be, último álbum que lançaram como banda activa. É uma representação visual de “agora e então”, capturada uma década antes de Lennon escrever a música que agora fecha a colecção. 



As capas gémeas da compilação dos maiores sucessos dos Beatles de 1973, comummente conhecida como "The Red Album" e "The Blue Album". 
Apple Corps Ltd. 

Os Beatles sempre foram hábeis em finais, embora muitas vezes isso fosse acidental. 
Embora não tenha sido planeado como tal, o último álbum que gravaram, Abbey Road, de 1969, termina com “The End” – uma faixa amplamente instrumental que apresenta solos de cada membro antes de desaparecer com uma máxima de amor. 
É a chamada ao palco musical perfeita. 
E todo dia 22 de Agosto, o Twitter dos Beatles lembra nos que as primeiras e últimas fotos dos Fab Four juntos, foram tiradas naquele mesmo dia, com sete anos de diferença, em 1962 e 1969. 
São coisas que não poderiam ter sido planeadas. 
E a tendência continua em 2023. Através de uma série de circunstâncias extremamente improváveis, “Now and Then”, uma fusão literal e figurativa do passado e do presente, é The Last Beatles Song. 
Marca o fim de uma jornada que muitos fãs começaram quando crianças; colados a uma TV em preto e branco há quase 60 anos, fixado no rádio do carro dos pais, passando o tempo cantando em no autocarro escolar ou qualquer uma das milhares de maneiras pelas quais a música dos Beatles entra pela primeira vez na vida de alguém. 
Estamos mais velhos agora. Eles também. 
Uma retrospectiva das pessoas e coisas que aconteceram antes, algumas mortas e outras vivas, parece uma conclusão apropriada. 
Muitos teorizaram que Lennon estava pensando em alguma forma de reencontro com McCartney antes de seu assassinato em 8 de Dezembro de 1980. Ninguém jamais saberá ao certo, mas o pensamento certamente torna as palavras de “Now And Then” ainda mais comoventes. 

Now And Then, 
Se temos de começar de novo 
Vamos saber com certeza o 
Que eu amo você 

Martin é incapaz de confirmar que a lírica do tema é significativa para McCartney, mas ele tem as suas suspeitas. 

"Eu me sinto como se "Now And Then" seja uma carta de amor a Paul escrito por John. Quero dizer, eu realmente nunca perguntei a Paul sobre isso, e eu não tenho certeza se o que Paul me responderia " Ah, pois. è isso definitivamente," porque ele não gostaria de uma segunda opinião de John. Mas isso é o que eu penso. E eu tenho a sensação, que é por isso que Paul estava tão determinado a acabar esta gravação. 


Os Beatles em 1965 sessão de fotos. 
A Apple Corps Ltd. 

E no final, o que é que os Beatles fizeram, significa? 
"A amizade" que é tão verdadeira como outra resposta qualquer. 
"Get Back, que no fundo se destinava a retratar as desavenças dos Beatles, podemos, mesmo assim, ver o amor que eles têm uns pelos outros, e a necessidade que eles têm de estar uns com os outros", Martin continua. 
"A ruptura necessária pode acontecer por vários motivos, mas você têm a noção do quão doloroso que tinha que ser. Eu não acho que qualquer um já olhou para o outro John Lennon ou Paul McCartney. Eles sabiam que não havia um. E portanto, esta não parece uma carta de amor a Paul para mim."

Parece que esta é a  última música dos Beatles. 
Parece que é a musica que os Beatles fariam hoje, se fossem todos vivos. 
Eu acho que torna tudo mais real. 
Espero que toque as pessoas.

terça-feira, 3 de outubro de 2023

Os Beatles em Hamburg


Em 17 de Agosto de 1960, os Beatles iniciaram a sua aventura alemã, num bairro decadente de Hamburgo. Tinham sido contratados para tocar no clube Indra, no famoso bairro da prostituição da Reeperbahn, em Hamburgo. 

Pouco mais de três meses depois, foram deportados de volta para o Reino Unido, principalmente graças a um incidente envolvendo, um preservativo em chamas. 

A formação era constituida por: John Lennon, George Harrison, Pete Best, Paul McCartney, Stuart Sutcliffe.

"Na primeira noite que lá chegamos, não havia nada de acordo com o que nos tinha sido prometido. O dono do clube, Bruno Koschmider, levou-nos até casa dele e acabamos por ficar todos na mesma cama. O Bruno não estava conosco, felizmente. Deixou-nos ficar a primeira noite no apartamento dele e foi para outro lugar. Por fim, lá nos colocou na arrecadação de um pequeno cinema, o Bambi Kino, no fim de uma rua Grosse Freiheit.

Bruno não era um jovem empresário do rock'n'roll, era um tipo velho que ficou aleijado na guerra. Mancava e não parecia saber muito sobre música. Nós só o víamos uma vez por semana, quando tentávamos entrar no seu escritório para receber o nosso salário." Delarações de George Harrison em Anthology


Allan Williams, o seu empresário na época, tinha negociado a contratação dos Quarry Men, logo rebaptizados de The Silver Beatles, com Bruno Koschmider, para actuarem no Indra. O salário era 2,50 £ cada um, por noite, cerca de 40 £ no valor de hoje, mas o trabalho era árduo. O empresário, recebia 10£  por semana. Tocavam durante horas todas as noites, sete noites por semana. As músicas duravam 20 minutos ou mais, repetindo o solo várias vezes.

Após o encerramento do Indra por reclamações de uma vizinha que habitava o andar por cima do clube, os Silver Beatles passaram a actuar no Kaiserkeller, a partir de 4 de Outubro de 1960.  O palco do Kaiserkeller era feito de tábuas de madeira equilibradas no topo de grades de cerveja.

Horst Fascher era o segurança de Bruno Koschmider, e tinha sido campeão de boxe, peso pena, da Alemanha Ocidental em 1959, tendo se tornado amigo dos Silver Beatles, protegendo-os de clientes bêbados. Lennon ocasionalmente urinava pela janela de seu apartamento na rua anexa ao clube e muitas vezes iniciava discussões com o público, de modo que eventualmente um membro do público pulasse no palco para acertá-lo, mas era trabalho de Fascher proteger Lennon e o grupo. Em algumas ocasiões, garrafas de cerveja foram atiradas contra eles. Fascher lembrou-se de Lennon muitas vezes cumprimentando o público com um "Heil Hitler" a saudação nazi: "John punha um pente preto por baixo do nariz  a imitar um bigode... as pessoas riam."

Uma noite, John ausentou-se do palco durante a actuação, e Fascher, foi logo á procura dele, tendo o encontrado na casa de banho enrolado com uma "amiga". Não foi nada meigo e interrompeu o tête-à-tête atirando um balde de água fria para cima dos dois e ordenando a John que subisse para o palco. Lennon ficou furioso e reclamou que não poderia subir ao palco todo molhado. Fascher retrucou: “Isso a mim não me diz nada. Vais já subir no palco e não me importo se fores nu”. Pouco tempo depois, o público ficou num alvoroço, rindo e batendo palmas. Fascher correu para ver o que era aquela comoção e viu Lennon já em palco a tocar, mas apenas de cuecas e com um assento da sanita pendurado no pescoço. (Epstein mais tarde pediu ao jornalista de Liverpool, Bill Harry, que não publicasse fotos mostrando Lennon andando pela Reeperbahn de cueca).


A 1 de Abril, atraídas pela promessa de melhores acomodações e melhores salários, a banda aceitou um contrato noutro local da Reeperbahn, o Top Ten Club. Isso enfureceu Koschmider, que alegou quebra de contrato. Em retaliação, ele denunciou Harrison, que na época tinha 17 anos, por trabalhar como menor de idade e deixou-os fora do quarto que lhes havia fornecido, com todos os seus pertences pessoais ali retidos.

Harrison foi deportado logo depois por trabalhar como menor de idade e não ter autorização de trabalho válida. Quando McCartney e Best voltaram ao Bamby Kino para recuperar os seus pertences, encontraram os seus "aposentos" sem eletricidade. A necessidade aguçou o engenho e eles, improvisaram uma fonte de alimentação, pegando fogo a um presrvativo pendurado na parede, como uma lâmpada improvisada. Quando Koschmider descobriu isso, apresentou uma queixa criminal adicional por tentativa de incêndio criminoso.

O resto do grupo permaneceu em Hamburgo para cumprir os termos do contrato por mais algumas apresentações, até que também foram deportados. Harrison ficou acordado com John na noite anterior à sua partida para lhe ensinar todas as partes principais de suas músicas. Harrison voltou sozinho para a Inglaterra, gastando todo o dinheiro restante nos biletes de combóio, gorjetas e  táxi. A viagem durou 24 horas.

"Astrid e Stuart deixaram-me na estação de Hamburgo. Foi uma longa viagem sozinha no comboio até Hook of Holland. Pareceu levar séculos. Tinha um amplificador que comprei em Hamburgo uma mala de fraca qualidade e coisas em caixas, e sacos de papel com as minhas roupas e uma guitarra. Cheguei em casa sem um tostão."  George Harrison, Antologia

Conseguiu outro emprego, assim como Paul, a trabalhar nos correios e numa empresa de entregas.

Imediatamente após seu aniversário de 18 anos, George conseguiu a papelada adequada e os Beatles voltaram para Hamburgo. A 13 de Abril de 1962, os Beatles foram contratados como banda de abertura para o lançamento de um novo clube. O Star-Club, inaugurado por Manfred Weissleder, tinha capacidade para duas mil pessoas, além de assentos estilo cinema. Quando os Beatles foram contratados para tocar lá, Neil Aspinall deixou seu emprego para se tornar o road manager permanente dos Beatles, já que ganhava mais dinheiro como assistente da banda do que como contabilista. Os Beatles retornaram a Hamburgo de avião para tocar de 13 de abril a 31 de maio de 1962. Após a sua chegada, foram informados da morte de Sutcliffe.


Na época da sua segunda visita ao Star-Club, de 1 a 14 de novembro de 1962, Ringo Starr já era o baterista do grupo. Hospedaram-se no Hotel Germania (Detlev-Bremer-Strasse 8), tendo pela primeira vez o luxo de quartos individuais, e depois passaram para o Hotel Pacific (Neuer Pferdemarkt 30) para outra época de 18 a 31 de dezembro de 1962. George Harrison declarou: "Voltamos para tocar no Star-Club, um lugar grande e fantástico porque tinha um óptimo sistema de som e ficáva-mos num um hotel em quartos individuais. Lembro-me que era uma longa caminhada desde o clube, no topo da Reeperbahn voltando para a cidade."

Partes de suas apresentações finais foram gravadas com um gravador portátil por um associado de Ted "King Size" Taylor e os Dominoes, outro grupo que tocava no clube. As fitas foram lançadas pelo selo Bellaphon da Alemanha Ocidental em 1977 como The Beatles: Live! no Star-Club em Hamburgo, Alemanha; 1962, e posteriormente relançado em vários formatos e títulos.

Ao todo, o tempo dos Beatles em Hamburgo foi dividido da seguinte forma: 17 de Agosto a 3 de Outubro de 1960 (Indra Club); 4 de Outubro a 30 de Novembro de 1960 (The Kaiserkeller); 1º de Abril a 1º de Julho de 1961 (Top Ten Club); 13 de Abril a 31 de Maio de 1962 (Star-Club).


sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Blood Sweat and Tears


David Clayton-Thomas (quinto a contar da esquerda) com os Blood Swet and Tears (ca. 1971); (inset) David Clayton-Thomas
Nascido David Thomsett em 13 de Setembro de 1941, foi o vocalista principal dos singles de sucesso da banda de jazz rock "You Made Me So Very Happy", "And When I Die", "Spinning Wheel", e muitos outros.
Nativo de Kingston upon Thames na Grande Londres, Inglaterra, Clayton-Thomas começou a sua carreira musical no início dos anos 60, trabalhando em clubes de Toronto, na Yonge Street, Canadá, onde descobriu o seu amor por tocar e cantar blues. Depois de se mudar para Nova Iorque, o verdadeiro sucesso de David veio no final dos anos 60 quando ele se juntou à BS&T.
O seu primeiro álbum com a banda — o auto-intitulado "Blood, Sweat & Tears" — foi na verdade o segundo projeto da banda, e vendeu 10 milhões de cópias em todo o mundo após o seu lançamento em 1968. Só nos EUA, o disco foi certificado 4 x platina, no topo da parada de álbuns da Billboard por sete semanas e permanecendo na parada por um total impressionante de 109 semanas.
O álbum ganhou cinco Grammy Awards sem precedentes, incluindo "Álbum do Ano" e "Melhor Vocalista Masculino" para Clayton-Thomas. O álbum contou com três singles certificados de ouro, e uma versão poderosa de "God Bless The Child" de Billie Holiday que se tornou a canção assinatura de David.
BS&T continuou com uma série de álbuns de sucesso incluindo "Blood, Sweat & Tears 3," com uma composição de Carole King "Hi-De-Ho" e a música de David que ele escreveu, "Lucretia MacEvil. " A seguir foi "BS&T 4", que rendeu outro sucesso de Clayton-Thomas, "Go Down Gamblin'. " Depois de sair da banda em 1972, "Blood, Sweat & Tears' Greatest Hits" foi lançado e vendeu mais de sete milhões de cópias até à data, em todo o mundo.
A aclamação comercial e da crítica da BS&T depois dos seus dois primeiros álbuns muito bem-sucedidos ajudou a banda a receber um convite para tocar no Festival de Woodstock de 1969 como co-headliner. Mas enquanto subiram ao palco de um dos maiores eventos musicais ao ar livre da história, a equipa de filmagem que narra o festival para o documentário recebeu ordens para desligar as suas câmaras.
A equipe de filmagem, foi forçado a deixar o palco pelo empresário da BS&T pois a banda não tinha concordado nem tinha sido paga para ser filmada. Apenas o seu número de abertura, "More and More", foi gravado em vídeo, mas a música não foi incluída na produção final do filme "Woodstock" (o vídeo das 3:00 ainda existe no YouTube. )
David Clayton-Thomas lançou um total de 18 álbuns solo sob o seu próprio nome. Em 2004, deixou Nova Iorque e voltou a Toronto para lançar uma nova banda de 10 estrelas. Na sua autobiografia intitulada “Suor de Sangue e Lágrimas” (Pinguim, 2010), Clayton-Thomas faz um relato em primeira mão da sua jornada da vida de rua ao estrelato.

Os Blood Sweat and Tears, tiveram várias formações, mas destacaram-se os originais /fundadores:
David Clayton Thomas, Al Kooper: keyboards, vocals (1967–1968) Randy Brecker: trumpet, flugelhorn (1967–1968) Jerry Weiss: trumpet, flugelhorn, backing vocals (1967–1968) Fred Lipsius: alto sax, keyboards (1967–1972) Dick Halligan: keyboards, trombone, horns, flute, backing vocals (1967–1972) † Steve Katz: guitar, harmonica, flute, mandolin, vocals (1967–73, and as a special guest at some shows 2008–10) Jim Fielder: bass, guitar, backing vocals (1967–1974, special guest March 2022) Bobby Colomby: drums, percussion, backing vocals (1967–1977)

Three Dog Night

 


Three Dog Night (ca. 1970) - (fila de trás, da esquerda para a direita) Joe Schermie, Cory Wells, Chuck Negron, Danny Hutton; (primeira fila, da esquerda para a direita) Jimmy Greenspoon, Floyd Sneed, Michael Allsup; (detalhe) Hutton em 2019.

No final da década de 1960, Danny Hutton teve a ideia de formar um grupo de rock com três vocalistas. Juntou-se a Cory Wells, e os dois abordaram o seu amigo, Chuck Negron, para participar na nova banda, a que chamariam, Redwood.

O trio de vocalistas fez algumas gravações tendo Brian Wilson dos Beach Boys como produtor, que os ensaiou no sentido de aperfeiçoarem o seu som, baseado numa vocalização a três vozes. 

Danny, Cory (que morreu em 2015) e Chuck contrataram um grupo de talentosos músicos de apoio para gravar e actuarem ao vivo - o guitarrista Michael Allsup ( substituiu Ron Morgan, que deixou a banda antes de gravar o primeiro álbum), o baterista Floyd Sneed (falecido em 2023), o baixista Joe Schermie (falecido em 2002) e o teclista Jimmy Greenspoon (falecido em 2015).

Das primeiras mudanças que fizeram, foi trocar o nome Redwood, por  Three Dog Night, tornando-se uma das bandas de maior sucesso do final dos anos 60 e início dos anos 70. 

A TDN ajudou a apresentar ao grande público o trabalho de muitos jovens compositores desconhecidos, incluindo Paul Williams, Hoyt Axton, Laura Nyro, Randy Newman e Leo Sayer.

A banda ganhou 12 álbuns de ouro e teve 21 sucessos consecutivos no Top 40 da Billboard, com sete desses singles certificados com ouro (com vendas de mais de 500.000 cada um). 

O primeiro disco de ouro de Three Dog Night, "One", foi escrito pelo cantor e compositor Harry Nilsson. . O grupo de rock teve três músicas no primeiro lugar, cada uma com um vocalista diferente - "Mama Told Me Not to Come" (Cory na liderança), "Joy to the World" (com o Chuck) e "Black and White" (Danny como vocalista principal).

Natural de Buncrana, County Donegal, na Irlanda, Hutton também cantou no hit top 10 do TDN, "Liar", e nos 20 singles top "Celebrate" (no verso 1) e "The Family of Man" (apenas no verso 1) . Three Dog Night vendeu 100 milhões de discos em todo o mundo.

Danny Hutton continua com o TDN como líder, junto com outro membro original da banda, Michael Allsup, e seus novos companheiros de banda, e ainda faz turnês continuamente pelos EUA e Canadá.

Chuck Halley

domingo, 10 de setembro de 2023

Conjuntos Académicos de Coimbra nos anos 60

O Zé Niza começou a acompanhar fado de Coimbra à viola, arte que trazia de Santarém. Mas cedo resolveu experimentar a guitarra eléctrica, tendo sido fundador da Orquestra Ligeira do Orfeon Académico de Coimbra, no rodar da década de 50 para a de 60, com António Portela (no acordeão) e outros. À data em que os conheci, por volta de 1964, o conjunto estava no auge. Tinha, então, para além do Zé Niza na guitarra eléctrica, o Rui Ressurreição (pianista, xilofonista e acordeonista de mão-cheia, admirador do Sivuca), o Joaquim Caixeiro na bateria, na viola-baixo o Daniel Proença de Carvalho (que me lembro de ver num Sarau da Queima a cantar música mexicana no Trio Los Dos, assim chamado por haver sempre um que faltava aos espectáculos) e, como vocalista, o Zé Cid, que cantava igualmente naquele trio. Era um quinteto com o instrumental e o repertório típico da transição da década de 50 para a de 60. Interpretavam música brasileira, italiana, francesa, americana… Eram exímios nos arranjos vocais e muito bons no jazz e na bossa-nova. 


Foto tirada nos estúdios da RTP, numa fase em que António Portela ainda fazia parte do grupo e em que José Niza tinha interrompido os estudos, sendo Proença de Carvalho o guitarra. São eles, a partir da esquerda: António Portela, Joaquim Caixeiro, Rui Ressurreição, José Cid e Daniel Proença de Carvalho. Mais tarde, os quatro instrumentistas da Ligeira do Orfeão formaram o Quarteto de Jazz do Orfeon. Mário Castrim, o verrinoso crítico televisivo do Diário de Lisboa, tentou deitá-los abaixo por não conceber um quarteto de jazz sem metais e com guitarra eléctrica, o que muito enfureceu o Zé Niza, que lhe remeteu de presente uma lista de consagrados quartetos de jazz com idêntica formação.

Quanto ao Zé Cid, o único que viria a enveredar pelo profissionalismo e que deixou Coimbra mais cedo para frequentar o INEF (Instituto Nacional de Educação Física), em Lisboa, fora já pianista, acordeonista e vocalista dos Babies, conjunto que viveu entre 1958 e 1960, e que poderá ter sido a primeira banda rock portuguesa. Os Babies contavam ainda com António Portela (acordeão e piano), António Igrejas Bastos (bateria, voz e contrabaixo), Rui Nazareth (guitarra eléctrica), aparecendo, também, Luiz Cabeleira na bateria.



Na foto, a partir da esquerda, António Portela, Luiz Cabeleira, José Cid, Igrejas Bastos e Rui Nazareth.

De 1960 a 1962 foi a era dos Tigres. 

Com Abílio Soares no contrabaixo e Zé Carlos Nascimento Costa na bateria, tinham como pianista Amândio Cruz, como acordeonista António Oliveira Santos e, na guitarra eléctrica, o Frias, que tocava o Guitar Boogie como ninguém mais em Coimbra. Curiosamente, o Frias, que conheci agarrado à guitarra eléctrica, viria depois a abraçar a guitarra de Coimbra, ficando mais conhecido por Frias Gonçalves.



Na foto, os Tigres no Café Nicola em 4/2/1961. A partir da esquerda: Abílio Soares, Aroso (técnico de som), António Oliveira Santos, Amândio Cruz, Frias e Nascimento Costa.


Mantendo o mesmo tipo de instrumental mas sem contrabaixo (que já nos Babies nem sempre era utilizado), surge, no início do ano lectivo de 1962/63, pela mão do pianista Nelson Martins, mais um grupo académico, Nelson Martins e seu Conjunto, o qual tem como acordeonista uma rapariga – Marinela , hoje Marinela St Aubyn – facto inédito em Coimbra, onde o meio académico-musical era essencialmente masculino. O conjunto contou com inúmeras actuações, dentro e fora de Coimbra, dado que, por essa altura, a procura começava a crescer. Do conjunto faziam ainda parte o Frias (ex-Tigres) na guitarra eléctrica e o Humberto Cordeiro como vocalista; na bateria sentava-se o Braga da Cruz, que deixou, mais tarde, o lugar ao Zé Pereira.



Nelson Martins e seu Conjunto nas Patelas. A partir da esquerda, no plano superior da foto, Braga da Cruz e Marinheiro (amigo do grupo); no plano inferior, Nelson Martins, Marinela e Frias.


Também por esta altura, 1962/63, apareceram os Beatniks, conjunto que não terá durado mais do que um ano. Nele tocaram o Rui Ferraz ao piano, o Abílio Soares (ex-Tigres) no contrabaixo, o Maia de Carvalho na bateria e, na viola, nada mais nada menos do que o Rui Pato , mais conhecido por ter acompanhado Zeca Afonso durante largos anos mas que não deixou de fazer, também ele, uma perninha nos conjuntos de baile.

Lembro-me ainda dos Alybaba e do Conjunto Braga da Cruz, que tinham como líder o Armando Braga da Cruz (ex-Nelson Martins) e a que pertenceram o Ivo, o Aragão, o Marinheiro e o Victor Ferreira.

Mas poucas referências tenho do conjunto onde tocava o Cabeleira e seu irmão mais novo (um putozito), conjunto que me parece ter tocado no baile de estreia dos Álamos no salão da FNAT, à Estação Nova.

E não gostaria que ficasse esquecido o papel precursor da Orquestra Ligeira da Tuna (anos 50), e também o da Orquestra Ligeira do Orfeon Misto (início dos anos 60), onde a Marinela tocou acordeão e o Chico Brito tocou piano e foi vocalista.  


Fechando o ciclo dos conjuntos com a formação "clássica" – piano, acordeão, guitarra eléctrica, contrabaixo, bateria e vocalista – é hora de falar dos Scoubidous. 

Começaram muito novos, ainda no liceu, estávamos no início de 1961, e manter-se-iam por 6 anos. Na época do twist, rock e slow-rock, ritmos que eles interpretavam na maravilha, nos seus smokings reluzentes, cheios de estilo, tinham um repertório muito alegre e variado. O maior êxito que lhes recordo é o Sabeline. O grande maestro era o Tozé Albuquerque, o pianista. Tinham o Zé Tó à bateria, um tipo com ar malandreco que usava uns óculos escuros estreitinhos, que viriam décadas mais tarde a ser copiados pelo Pedro Abrunhosa (se é que ambos os não foram copiar ao baterista do Conjunto Académico do Porto, Toni Hernandes). No contrabaixo, acordeão eléctrico e vibrafone estava o meu colega de curso (em Coimbra e no Porto) António Santos Andrade, enquanto na guitarra eléctrica (de caixa semiacústica, à Elvis Presley) tocava o seu irmão Zé, que um belo dia foi proibido pelo clínico de fazer coros, abrindo-se ao Alberto Velho Nogueira – "Alberty Pente" – a oportunidade de entrar para o grupo e fazer depois uma perninha de saxofone. 

Deixei para o fim o vocalista (e, quando necessário, contrabaixista) Júlio Maia, também conhecido por "Júlio Scoubidou", brilhante a interpretar em qualquer língua. Talvez por ser aluno de Letras, tirava minuciosamente as letras das canções ao gira-discos, com uma trabalheira danada, sendo, porventura, o único vocalista daquela época que as não aldrabava. Era o início dos anos 60 e só muito mais tarde os discos começaram a trazer consigo as letras.


Na foto, ainda antes dos smokings reluzentes, numa indumentária muito jovial: a partir da esquerda, Tózé Albuquerque, José Santos Andrade, Júlio Maia, Zé Tó (José Augusto) Gouveia e António Santos Andrade.


Estávamos em 1962, às voltas ainda com Bill Haley & His Comets, Paul Anka, Marino Marini e Françoise Hardy, quando nos chegam de Inglaterra os ecos de Cliff Richard and the Shadows a tocar The Young Ones e, de França, o som dos Les Chats Sauvages com Est-ce que tu le sais e Twist à Saint-Tropez. Foi a revolução! O piano tinha ido às malvas! O contrabaixo, atirado para o lixo, dava definitivamente lugar à guitarra-baixo. Toda a força estava agora em três guitarras eléctricas sem caixa de ressonância – os "bacalhaus" –, ora "rockeiras" ora roçando uma maviosidade piegas, secundadas por uma bateria e um vocalista. 

Quase em simultâneo, chegavam-nos os Beatles, com o mesmo instrumental mas onde a função do vocalista era desempenhada pelos três guitarras, que berravam desalmadamente: yeah, yeah, yeah! Entrávamos, assim, no reino dos conjuntos yé-yé!

Coimbra não perde a oportunidade… e surgem Os Álamos, conjunto composto apenas por universitários, com prevalência das Engenharias, que viria a ser o conjunto de Coimbra mais disputado para tudo o que fosse baile por esse país fora, das passagens de ano aos Carnavais e à Queima, dos finalistas de liceu aos bailes das Faculdades, de Chaves a Faro, do Casino do Estoril ao Hotel Savoy na Madeira. 

Os Álamos formaram-se no primeiro trimestre de 1962/63, estrearam-se no início de 63 e duraram quase até ao final de 68/69. Com forte componente vocal nos seus arranjos musicais, eram especialmente dotados na música Beatle, mas tocavam tudo o que estivesse a dar (desde que não fosse nacional-cançonetismo), do slow para constituir família ao rock mais assanhado.



Foto tirada em 63/64 no varandim do Bar das Medicinas. A partir da esquerda, de pé: Zé Veloso e Chico Faria; abaixados: Luís Colaço, Nuno Figueiredo e Duarte Brás.

Apesar de serem um dos melhores conjuntos de baile nacionais, pedindo meças aos grupos profissionais com que alternavam, o primeiro disco saiu mauzinho. Sendo obrigados pela editora a incluir um tema em português, gravaram O Comboio, música oferecida pelo Zé Cid, que o conjunto nunca mais tocou mas que é a única que vai passando na rádio. Razão tinha a editora...

Capa do EP da Rapsódia EPF 5.305. A partir da esquerda, em cima: Chico Faria, Zé Pereira e Zé Veloso; em baixo: Duarte Brás e Luís Colaço. 

A estrela do cartaz foi, até ser apanhado pela tropa, o Chico Faria, mais conhecido por "Chico dos Álamos" ou "Chico dos 1000-y-onários”, que, conforme dizia o Sô Chico, porteiro da Associação Académica, era «o que tocava microfone»; a forma como interpretava o I can’t stop loving you ainda hoje estará na memória de quantos iniciaram os seus namoros dançando – e declarando-se – ao som daquela música. No primeiro ano, o Chico deixava para um segundo vocalista, o Zé Gouveia, algumas das músicas em francês e italiano. 

Na bateria começou o Nuno Figueiredo, que abandonou o conjunto mais cedo por ter ido para o Técnico, entrando para o seu lugar o Zé Pereira (ex-Nelson Martins), que com o Chico fazia a dupla dos mais brincalhões, armando histórias e barracadas por onde o conjunto passava. Nos três "bacalhaus" que, quando necessário, gingavam em palco à maneira dos Shadows, alinharam, por via de regra: como guitarra-solo, o Luís Filipe Colaço (Phil), que viria a acompanhar Zeca Afonso em dois dos seus LP's e que ainda hoje se diverte a solar como o Hank Marvin; como guitarra-ritmo, o Duarte Brás, açoriano dos Corsários das Ilhas, que assumiu o lugar de vocalista quando o Chico foi apanhado pela tropa e que viria a formar o duo de música popular Duarte & Ciríaco; e eu próprio, Zé Veloso, que, por ter sido o último guitarra a chegar ao conjunto, fui obrigado a aprender o ofício de guitarra-baixo e ainda tinha que "fazer as séries" (o alinhamento do espectáculo, como se diria hoje). Mas bem me vinguei deles ao assumir o difícil cargo de tesoureiro, uma espécie de ministro das finanças a quem cabia cortar nos vales de caixa e demais mordomias, já que a compra dos instrumentos e aparelhagens nos obrigou a vários e penosos anos de austeridade, sem troika ou "paitrocínio" que nos resgatasse.


Naturalmente, os Álamos não foram os únicos a aderir à moda das três guitarras, tendo aparecido outros, dos quais destaco, por ordem de entrada em cena:


Foto dos Lordes no Escadote (Quinta das Lágrimas). A partir da esquerda, de pé: Luís Monteiro e Nelo Brito; sentados: Zé Eduardo Costa  e Luís Requixa.
Os Lordes, onde o solista era o Nelo Brito, o viola-ritmo e segundo vocalista era o Luís Requixa (que tantas vezes me emprestou o seu casaco de cabedal para as minhas performances nos Álamos...), o baixista era o Zé Eduardo Costa,  e o baterista e vocalista principal era o Luis Monteiro. Foram o segundo conjunto de três guitarras a aparecer em Coimbra, quase um ano depois de terem surgido os Álamos. Composto por malta bastante nova, o conjunto estreou-se no Natal de 1963 e dissolveu-se em 1966;



Os Protões, grupo composto por malta do Bairro Marechal Carmona (hoje, Norton de Matos): Nóbrega Pontes na guitarra-solo, António Carlos Couceiro na guitarra-ritmo, Fernando Dias (Nando) no baixo,  Jorge Carvalho (Jó) como vocalista e, na bateria, Zézé (José Eugénio) Eliseu, neto do maestro José Eliseu, compositor da música da Balada de Coimbra; 


Os Protões. A partir da esquerda: de pé, Nóbrega Pontes, Zézé Eliseu e Jó; no primeiro plano, Nando e Couceiro.


Os Cocktails,  "conjunto-cometa" formado para concorrer ao Concurso Yé-Yé do Teatro Avenida em 66, concurso a que não concorreram os conjuntos já "consagrados" (Álamos, Lordes e Boys) e que os Cocktails acabariam por ganhar. Terminado o festival, não foram longe;


Os Pops, que juntaram malta dos Lordes, Protões e Cocktails, onde solava o Luís Romão, era viola-ritmo o Joca Colaço (que chegou a integrar os Álamos numa temporada de Verão na Madeira), era baixista o Nando, baterista o Luís Monteiro e organista (uma novidade!) o Kali (João Carlos Mota). Congregando a nata dos músicos yé-yé da geração mais jovem, tocavam de forma agressiva, bem ritmados, virados para um público-alvo teenager. Porém, tendo-se formado em 1967, o pouco tempo de vida (2 anos) não deu para deixar grande rasto fora de Coimbra;

Na foto, a partir da esquerda, Fernando Dias (Nando), Luís Romão, Luís Monteiro, Joca Colaço (irmão do Luís Filipe Colaço dos Álamos) e Kali (João Carlos Mota).


Os In loco, posteriores à desagregação dos Protões, compostos pelo Frederico Aguiar (guitarra-solo), pelo Jorge Gomes (guitarra de 12 cordas), pelo Tójó – António Jorge Simões – (guitarra-baixo), pelo Zézé Eliseu (bateria) e pelo Rui Mesquita (vocalista).


Porém, acima de todos estes últimos, estavam os Boys, formados em 1964, conjunto que, em determinada altura, se assumiu como challenger dos Álamos e com o qual mantínhamos uma saudável rivalidade. Os Boys – cujo nome não tinha qualquer conotação pejorativa, já que à data nem partidos políticos existiam – tinham como ponto forte uma boa parte do repertório dos Shadows, graças ao virtuosismo do guitarra-solo Carlos Correia, mais conhecido por Boris, que acompanhou mais tarde Zeca Afonso em dois LP's. De início, o vocalista era o Victor Ferreira; e também o meu cunhado António Dias Figueiredo tocava harmónica em algumas músicas. Lá estavam também o Xana Rebocho Vaz na guitarra-baixo, o Manecas (Luís Manuel Matos) na guitarra-ritmo e o Tonã Vieira Lima na bateria.

Na foto, a partir da esquerda: Carlos Correia, Tonã Vieira Lima, Alexandre Reboxo Vaz, Victor Ferreira e Luís Manuel Matos (Manecas). 


Concorreram ao Concurso Yé-Yé do Teatro Monumental, em Lisboa, tendo ganho a 11.ª eliminatória em Nov/65. Um dos temas que mais gostava de os ouvir interpretar era o She's not there dos Zombies.

A malta dos Boys vivia na Cumeada, tal como eu. Ainda no liceu, sonhávamos com a possibilidade de vir a tocar em público. Numa bela noite, pelas fogueiras do S. João, ainda não havia Álamos nem Boys nem o mais que fosse, dei comigo a tocar meia dúzia de músicas com o Manecas, o Tonã e o Victor Ferreira num assim chamado "baile de sopeiras", no campo de basket dos Olivais, de onde só não fomos corridos porque, no meio da refrega corpo-a-corpo, a música era o que menos interessava a quem se espremia na pista (e as falhas de ritmo até deviam dar jeito). 

Tocámos então com os instrumentos do conjunto de serviço – Ilídio Martins – que era o melhor conjunto futrica de Coimbra. Foi a primeira vez que agarrei numa guitarra eléctrica e que o Tonã se sentou numa bateria, pois que, até então, eu só tocara na minha velha viola de cravelhas de madeira e ele só batera baquetas num caixote de tabuinhas.

Voltando aos Boys, de 66 para 67 o grupo apareceu transfigurado em Hi-Fi, a tocar de forma muito "profissional", com novo baterista – Tó Freitas – e a novidade de ter como vocalista uma rapariga – Ana Maria Delgado – coisa nunca vista no meio dos conjuntos yé-yé. Gravaram, então, um 45 rotações com 4 faixas – todas em inglês, como não podia deixar de ser – disco que teve a colaboração do Rui Ressurreição (órgão, piano e arranjos) e que ficou muito bom. Entretanto, saiu a Ana Maria, e o Luís Monteiro tomou o lugar do Tó Freitas, passando o Boris e o Luís Monteiro a assumir as principais despesas do naipe de vozes. Antes de se dissolverem, ainda gravaram um segundo EP.



Capa do primeiro EP, Parlaphone LMEP 1271 -1967 com "I call your name", "Back from the shore", "Three days of my lyfe" e "Words of a mad". A partir da esquerda, Boris (Carlos Correia), Ana Maria Delgado, Manecas (Luís Manuel Matos), Tó Freitas e Xana Reboxo Vaz.


E os conjuntos académicos dos anos 60 foram-se dissolvendo um após outro, à medida que os músicos iam acabando os seus cursos – ou eram chamados para a tropa – e a dança se transferia dos salões de baile, do Bar das Medicinas e dos ginásios de liceu para as boîtes e discotecas.


Os Álamos foram os mais tenazes, conseguindo viver 7 anos, tantos quantos eram necessários para terminar um curso de engenharia (6) com direito a mais 1 para os descontos. Nos últimos anos, o conjunto tinha elementos a estudar em Coimbra, Porto e Lisboa. Só dois se mantiveram desde a fundação até ao final (Luís Colaço e Zé Veloso). As baixas dos que saíam eram colmatadas com os melhores elementos dos grupos em extinção: entraram o Rui Ressurreição da Ligeira do Orfeão / Clube de Jazz, o Tózé Albuquerque dos Scoubidous, o Luizinho Monteiro, que tinha passado pelos Lordes, Pops e Hi-Fi, e o Boris dos Boys / Hi-Fi – um filho pródigo, pois se tinha iniciado nos Álamos em 63/64 – que veio cumprir o duplo papel de solista na guitarra e na voz. Foi nessa altura que gravaram dois singles, num total de quatro faixas.Com as novas entradas, o conjunto ganhou melhores músicos e passou a integrar também teclas (órgão em palco, órgão e piano em disco). Aumentou-se a complexidade dos arranjos. Subiram a qualidade musical e o cachê. Mas o grupo manteve-se sempre ligado à vida académica, sendo que, já no passado, tinha acompanhado em várias digressões o Coro Misto e o Orfeon Académico. E sempre terminava as actuações com I saw her standing there, tal como o Orfeon as terminava com o Amen, até ao dia em que tocámos pela última vez, talvez em Abril de 1969, num baile que não ficou na memória de ninguém. 

Era suposto que o conjunto terminasse em beleza na Queima das Fitas mas nesse ano não houve Queima e foi cada um à sua vida sem qualquer despedida, que os exames vinham a caminho e a profissão de músico não estava nos nossos horizontes.


No meio de tanta gente aqui citada, alguns deles músicos de primeira água, muito poucos foram os que se profissionalizaram. 

Que eu saiba, apenas António Portela, José Cid, Nelson Martins, Luís Romão e Luís Monteiro. É certo que, na altura, não era fácil viver da música. Mas, claramente, os objectivos pessoais não passavam por aí... e por alguma razão estes grupos se denominavam «conjuntos académicos».  


Zé Veloso in Penedo d@ Saudade

N.B. “Extracto do post CONJUNTOS ACADÉMICOS DA COIMBRA ANOS 60, in Penedo d@ Saudade https://penedosaudade.blogspot.com/2011/10/conjuntos-academicos-da-coimbra-anos-60.html



quarta-feira, 26 de julho de 2023

Steppenwolf, Born To Be Wild


John Kay é um cantor nascido na Alemanha que tocava violão e harmónica, no Half Beat de Yorkville e vivia por cima do Night Owl, um apartamento pertencente a Vicky Taylor, ex-colega de quarto de Joni Mitchell que viria a ser mais tarde, a menager dos Guns and Roses.
John Kay nasceu Joaquim Krauledat em 12 de Abril de 1944 e  viveu a vida de uma estrela rebelde do Rock 'n' Roll. Aos 13 anos de idade, decidiu fazer da música a sua profissão, aprendeu inglês, ouvindo djs e músicas dos artistas da época. 
Uma noite em 1965, durante uma jam session, alguns elementos da banda Canadiana Sparrows apareceram, ouviram Kay e  juntaram-se a ele em palco. Os Sparrows, gostaram tanto de John Kay que o convidaram, para vocalista da banda.  
O grupo tinha vinda de Toronto para Nova York e, posteriormente, rumaram a São Francisco, integrando a cena musical da Área da Baía, até se separarem, em 1967, depois de várias tentativas fracassadas de gravação para a Columbia Records. 

Um par de meses mais tarde, John formou uma nova banda que chamou de Steppenwolf, com dois velhos companheiros dos Sparrow. O baterista Jerry Edmonton e o teclista Goldy McJohn. Recrutou um prodígio de 17 anos de seu nome, Michael Monarca para a guitarra solo e o baixista Rushton Moreve para completar o line-up. A banda cujo nome incomum, foi sugerido a John Kay pelo produtor Gabriel Mekler que se tinha inspirado num romance de culto de Herman Hesse.
O grupo, de imediato lançou, "A Girl I Knew" e "Sookie Sookie", que não tiveram nenhum sucesso. A sua terceira tentativa foi lançada e viria a tornar-se num clássico do Rock 'n' Roll. 
"Born To be Wild" "rebentou" nas listas de vendas Americanas no Verão de 1968, e a frase, "Heavy Metal thunder", em referência ao som das motos, deu origem ao novo estilo de música com este nome. O tema alcanço u #2 na Billboard Hot 100, vendendo mais de um milhão de cópias e alcançou um disco de Ouro. A canção foi imortalizado na trilha sonora do filme de Dennis Hopper no filme clássico Easy Rider, que também contou com , "The Pusher" outro tema incluído no álbum Steppenwolf.
O single, "Magic Carpet Ride", do álbum "The Second", foi uma fusão de Rock e Pop Psicodélico e passou a ser o segundo tema dos Steppenwolf a vendedor milhões, alcançando a posição #3 no Outono de 1968. Nessa época, Rushton Moreve o baixista, abandonou o grupo. Tinha se convencido de que o Los Angeles ia ser destruída por um terremoto e afundar-se-ia no mar. Rob Black integrou o grupo até o ex-Sparrow, Nick St. Nicholas voltar a juntar~se aos seus amigos nos últimos meses de 1968. Michael Monarca o guitarrista, acabou também por sair do grupo, em Agosto de 1969, dado o seu péssimo relacionamento com John Kay.

Steppenwolf continuou a fazer tournês e a gravar, alcançando algum sucesso no Top 100 com canções como "Move Over" (#31 em 1969), "Monster" (#39 em 1970), "Hey Lawdy Mama" (#35 em 1970) , "Screaming Night Hog" (# 91 em 1970), "Who Needs Ya" (# 76 em 1970), "Snowblind Friend" (# 89 em 1971), "Ride With Me" (# 90 em 1971) e "For Ladies Only" (# 88 em 1971). 

Nick St. Nicholas foi dispensado em meados de 1970, com George Biondo a substitui lo. Em Novembro de 1971, a banda lançou o álbum "For Ladies Only", com a formação composta por John Kay, Kent Henry, George Biondo, Goldy McJohn e Jerry Edmonton. O LP foi notável por vários motivos, principalmente a polémica arte da capa interna que mostrava um carro em forma de pénis, o conteúdo lírico romântico, político e social e o facto de apresentar vários membros do grupo nos vocais principais.


John Kay no Dia dos Namorados, 1972, embarcou numa carreira a solo, com "I'm Movin' On" do seu primeiro album a solo "Forgotten Songs and Unsung Heroes", que não passou da posição #85 nas listas de vendas.

Os Steppenwolf voltaram a reunir-se, em 1974, com o seu núcleo central liderado por John Kay, Jerry Edmonton e Goldy McJohn, a quem se junto o antigo baixista George Biondo e o recém-chegado Bobby Cochran, sobrinho de Eddie Cochran, na guitarra. 
A banda assinou um contrato com a Mums Records depois que Kay deixar a Dunhill pelo que deixou de ter o apoio para os seus álbuns solo. O LP "Slow Flux" se tornou seu primeiro esforço para Mums e incluiu seu último hit do Top 40 da Billboard, "Straight Shootin 'Woman", que alcançou a 29ª posição em Outubro de 1974. Em Fevereiro de 1975, McJohn foi demitido em consequência do declínio na qualidade das suas performances, bem como comportamento errático. Foi substituído por Andy Chapin em "Hour Of The Wolf" em 1975. Depois que o álbum atingiu o decepcionante #155, Kay começou a dissolver a banda novamente, mas Mums Record, agora tendo sido absorvido pela Epic, exigiu mais um álbum para satisfazer o seu contrato. 
O álbum seguinte de 1976, "Skullduggery", que incluía Wayne Cook nos teclados, não foi apoiado por uma turnê e no início do outono de 1976, Steppenwolf se separou pela segunda vez. Kay fez uma aparição em um segmento do programa de TV musical The Midnight Special para anunciar o fim de Steppenwolf e também tocou uma versão solo da música "Hey I'm Alright". Essa música apareceu no terceiro álbum solo de Kay, "All In Good Time", lançado pela Mercury Records em 1978.
No final dos anos 70, John Kay apercebeu-se que vários grupos, estavam a usar o nome de Steppenwolf, andavam em tournée e destruindo a reputação da banda que ele tinha criado. Em 1980, ele decidiu agir, e a John Kay Band, rapidamente se tornou na John Kay and Steppenwolf. Vários anos de intensas tournées seguidas e resultou na reconstrução do seu legado. 


Infelizmente, Rushton Moreve, Steppenwolf do baixista, que co-escreveu "Magic Carpet Ride" com John Kay, morreu num acidente de carro no dia 1º de Julho, 1981, aos 32 anos
Jerry Edmonton, baterista da banda durante o periodo de maior sucesso, morreu igualmente num acidente de carro não muito longe de sua casa em Santa Barbara, Califórnia, no dia 28 de Novembro, de 1993, com 47 anos de idade. 
Depois de restabelecer o nome, John Kay and Steppenwolf lançou cinco álbuns e excursionou anualmente em todo o mundo. Em 1994, voltou triunfante para fazer alguns concertos na antiga Alemanha Oriental, onde ele se reuniu com amigos e parentes que não tinha visto desde os seus 4 anos de idade.

Com as vendas em excesso de vinte milhões de unidades no mundo todo (e aumentando ano a ano) e músicas licenciadas para uso em trinta e sete imagens em movimento e trinta e seis programas de televisão, o grupo continuou focado no futuro. Lançou "John Kay e Steppenwolf, ao Vivo, aos 25", um CD duplo, em Fevereiro de 1995. O álbum continha vinte e três faixas, incluindo muitos dos hits dos anos 60, 70 e 80, junto com duas novas canções. "Feed The Fire", o primeiro single e vídeo do álbum de mesmo nome, foi lançado em Agosto de 1996.

No dia 20 de Março de 2001, John Kay editou um álbum solo chamado "Hereges & Corsários", no Cannonball Registros. O CD contou com doze Blues com sabor de canções cujas letras ofereciam uma corajosa visão da vida contemporânea. No Verão de 2005, Steppenwolf tinha a agenda cheia de datas da turnê reservada nos Estados Unidos, mas a banda apresentou-se no que chamou o seu concerto de despedida no dia 6 de Outubro, 2007 no Ripken Stadium, em Aberdeen, Maryland, com John Kay, o teclista Michael Wilk, o baterista Ron Hurst e o guitarrista Danny Johnson. Uma vez que o grupo oficial da aposentadoria, eles continuaram a executar um pequeno número de shows a cada ano.

Para 2012, Steppenwolf tocou apenas um par de shows durante a Primavera e o Verão, mas permaneceu praticamente inactivo. Seu site oficial, mostrou apenas um punhado de datas reservadas para 2017. Os Steppenwolf foram nomeados para o Rock and Roll Hall of Fame desse ano, mas não foram admitidos. 

Em 1 de Agosto, 2017, o teclista original, Goldy McJohn sofreu um ataque fatal do coração. 

Em 14 de abril do mesmo ano, "Born To Be Wild" foi o primeiro single  a ser homenageado no Hall Da Fama Singles  em Cleveland Rock And Roll Hall Of Fame.

No dia 22 de Novembro de 2019, John Kay, anunciou que a banda faria a sua ultima apresentação a  14 de Outubro de 2018.