domingo, 10 de setembro de 2023

Conjuntos Académicos de Coimbra nos anos 60

O Zé Niza começou a acompanhar fado de Coimbra à viola, arte que trazia de Santarém. Mas cedo resolveu experimentar a guitarra eléctrica, tendo sido fundador da Orquestra Ligeira do Orfeon Académico de Coimbra, no rodar da década de 50 para a de 60, com António Portela (no acordeão) e outros. À data em que os conheci, por volta de 1964, o conjunto estava no auge. Tinha, então, para além do Zé Niza na guitarra eléctrica, o Rui Ressurreição (pianista, xilofonista e acordeonista de mão-cheia, admirador do Sivuca), o Joaquim Caixeiro na bateria, na viola-baixo o Daniel Proença de Carvalho (que me lembro de ver num Sarau da Queima a cantar música mexicana no Trio Los Dos, assim chamado por haver sempre um que faltava aos espectáculos) e, como vocalista, o Zé Cid, que cantava igualmente naquele trio. Era um quinteto com o instrumental e o repertório típico da transição da década de 50 para a de 60. Interpretavam música brasileira, italiana, francesa, americana… Eram exímios nos arranjos vocais e muito bons no jazz e na bossa-nova. 


Foto tirada nos estúdios da RTP, numa fase em que António Portela ainda fazia parte do grupo e em que José Niza tinha interrompido os estudos, sendo Proença de Carvalho o guitarra. São eles, a partir da esquerda: António Portela, Joaquim Caixeiro, Rui Ressurreição, José Cid e Daniel Proença de Carvalho. Mais tarde, os quatro instrumentistas da Ligeira do Orfeão formaram o Quarteto de Jazz do Orfeon. Mário Castrim, o verrinoso crítico televisivo do Diário de Lisboa, tentou deitá-los abaixo por não conceber um quarteto de jazz sem metais e com guitarra eléctrica, o que muito enfureceu o Zé Niza, que lhe remeteu de presente uma lista de consagrados quartetos de jazz com idêntica formação.

Quanto ao Zé Cid, o único que viria a enveredar pelo profissionalismo e que deixou Coimbra mais cedo para frequentar o INEF (Instituto Nacional de Educação Física), em Lisboa, fora já pianista, acordeonista e vocalista dos Babies, conjunto que viveu entre 1958 e 1960, e que poderá ter sido a primeira banda rock portuguesa. Os Babies contavam ainda com António Portela (acordeão e piano), António Igrejas Bastos (bateria, voz e contrabaixo), Rui Nazareth (guitarra eléctrica), aparecendo, também, Luiz Cabeleira na bateria.



Na foto, a partir da esquerda, António Portela, Luiz Cabeleira, José Cid, Igrejas Bastos e Rui Nazareth.

De 1960 a 1962 foi a era dos Tigres. 

Com Abílio Soares no contrabaixo e Zé Carlos Nascimento Costa na bateria, tinham como pianista Amândio Cruz, como acordeonista António Oliveira Santos e, na guitarra eléctrica, o Frias, que tocava o Guitar Boogie como ninguém mais em Coimbra. Curiosamente, o Frias, que conheci agarrado à guitarra eléctrica, viria depois a abraçar a guitarra de Coimbra, ficando mais conhecido por Frias Gonçalves.



Na foto, os Tigres no Café Nicola em 4/2/1961. A partir da esquerda: Abílio Soares, Aroso (técnico de som), António Oliveira Santos, Amândio Cruz, Frias e Nascimento Costa.


Mantendo o mesmo tipo de instrumental mas sem contrabaixo (que já nos Babies nem sempre era utilizado), surge, no início do ano lectivo de 1962/63, pela mão do pianista Nelson Martins, mais um grupo académico, Nelson Martins e seu Conjunto, o qual tem como acordeonista uma rapariga – Marinela , hoje Marinela St Aubyn – facto inédito em Coimbra, onde o meio académico-musical era essencialmente masculino. O conjunto contou com inúmeras actuações, dentro e fora de Coimbra, dado que, por essa altura, a procura começava a crescer. Do conjunto faziam ainda parte o Frias (ex-Tigres) na guitarra eléctrica e o Humberto Cordeiro como vocalista; na bateria sentava-se o Braga da Cruz, que deixou, mais tarde, o lugar ao Zé Pereira.



Nelson Martins e seu Conjunto nas Patelas. A partir da esquerda, no plano superior da foto, Braga da Cruz e Marinheiro (amigo do grupo); no plano inferior, Nelson Martins, Marinela e Frias.


Também por esta altura, 1962/63, apareceram os Beatniks, conjunto que não terá durado mais do que um ano. Nele tocaram o Rui Ferraz ao piano, o Abílio Soares (ex-Tigres) no contrabaixo, o Maia de Carvalho na bateria e, na viola, nada mais nada menos do que o Rui Pato , mais conhecido por ter acompanhado Zeca Afonso durante largos anos mas que não deixou de fazer, também ele, uma perninha nos conjuntos de baile.

Lembro-me ainda dos Alybaba e do Conjunto Braga da Cruz, que tinham como líder o Armando Braga da Cruz (ex-Nelson Martins) e a que pertenceram o Ivo, o Aragão, o Marinheiro e o Victor Ferreira.

Mas poucas referências tenho do conjunto onde tocava o Cabeleira e seu irmão mais novo (um putozito), conjunto que me parece ter tocado no baile de estreia dos Álamos no salão da FNAT, à Estação Nova.

E não gostaria que ficasse esquecido o papel precursor da Orquestra Ligeira da Tuna (anos 50), e também o da Orquestra Ligeira do Orfeon Misto (início dos anos 60), onde a Marinela tocou acordeão e o Chico Brito tocou piano e foi vocalista.  


Fechando o ciclo dos conjuntos com a formação "clássica" – piano, acordeão, guitarra eléctrica, contrabaixo, bateria e vocalista – é hora de falar dos Scoubidous. 

Começaram muito novos, ainda no liceu, estávamos no início de 1961, e manter-se-iam por 6 anos. Na época do twist, rock e slow-rock, ritmos que eles interpretavam na maravilha, nos seus smokings reluzentes, cheios de estilo, tinham um repertório muito alegre e variado. O maior êxito que lhes recordo é o Sabeline. O grande maestro era o Tozé Albuquerque, o pianista. Tinham o Zé Tó à bateria, um tipo com ar malandreco que usava uns óculos escuros estreitinhos, que viriam décadas mais tarde a ser copiados pelo Pedro Abrunhosa (se é que ambos os não foram copiar ao baterista do Conjunto Académico do Porto, Toni Hernandes). No contrabaixo, acordeão eléctrico e vibrafone estava o meu colega de curso (em Coimbra e no Porto) António Santos Andrade, enquanto na guitarra eléctrica (de caixa semiacústica, à Elvis Presley) tocava o seu irmão Zé, que um belo dia foi proibido pelo clínico de fazer coros, abrindo-se ao Alberto Velho Nogueira – "Alberty Pente" – a oportunidade de entrar para o grupo e fazer depois uma perninha de saxofone. 

Deixei para o fim o vocalista (e, quando necessário, contrabaixista) Júlio Maia, também conhecido por "Júlio Scoubidou", brilhante a interpretar em qualquer língua. Talvez por ser aluno de Letras, tirava minuciosamente as letras das canções ao gira-discos, com uma trabalheira danada, sendo, porventura, o único vocalista daquela época que as não aldrabava. Era o início dos anos 60 e só muito mais tarde os discos começaram a trazer consigo as letras.


Na foto, ainda antes dos smokings reluzentes, numa indumentária muito jovial: a partir da esquerda, Tózé Albuquerque, José Santos Andrade, Júlio Maia, Zé Tó (José Augusto) Gouveia e António Santos Andrade.


Estávamos em 1962, às voltas ainda com Bill Haley & His Comets, Paul Anka, Marino Marini e Françoise Hardy, quando nos chegam de Inglaterra os ecos de Cliff Richard and the Shadows a tocar The Young Ones e, de França, o som dos Les Chats Sauvages com Est-ce que tu le sais e Twist à Saint-Tropez. Foi a revolução! O piano tinha ido às malvas! O contrabaixo, atirado para o lixo, dava definitivamente lugar à guitarra-baixo. Toda a força estava agora em três guitarras eléctricas sem caixa de ressonância – os "bacalhaus" –, ora "rockeiras" ora roçando uma maviosidade piegas, secundadas por uma bateria e um vocalista. 

Quase em simultâneo, chegavam-nos os Beatles, com o mesmo instrumental mas onde a função do vocalista era desempenhada pelos três guitarras, que berravam desalmadamente: yeah, yeah, yeah! Entrávamos, assim, no reino dos conjuntos yé-yé!

Coimbra não perde a oportunidade… e surgem Os Álamos, conjunto composto apenas por universitários, com prevalência das Engenharias, que viria a ser o conjunto de Coimbra mais disputado para tudo o que fosse baile por esse país fora, das passagens de ano aos Carnavais e à Queima, dos finalistas de liceu aos bailes das Faculdades, de Chaves a Faro, do Casino do Estoril ao Hotel Savoy na Madeira. 

Os Álamos formaram-se no primeiro trimestre de 1962/63, estrearam-se no início de 63 e duraram quase até ao final de 68/69. Com forte componente vocal nos seus arranjos musicais, eram especialmente dotados na música Beatle, mas tocavam tudo o que estivesse a dar (desde que não fosse nacional-cançonetismo), do slow para constituir família ao rock mais assanhado.



Foto tirada em 63/64 no varandim do Bar das Medicinas. A partir da esquerda, de pé: Zé Veloso e Chico Faria; abaixados: Luís Colaço, Nuno Figueiredo e Duarte Brás.

Apesar de serem um dos melhores conjuntos de baile nacionais, pedindo meças aos grupos profissionais com que alternavam, o primeiro disco saiu mauzinho. Sendo obrigados pela editora a incluir um tema em português, gravaram O Comboio, música oferecida pelo Zé Cid, que o conjunto nunca mais tocou mas que é a única que vai passando na rádio. Razão tinha a editora...

Capa do EP da Rapsódia EPF 5.305. A partir da esquerda, em cima: Chico Faria, Zé Pereira e Zé Veloso; em baixo: Duarte Brás e Luís Colaço. 

A estrela do cartaz foi, até ser apanhado pela tropa, o Chico Faria, mais conhecido por "Chico dos Álamos" ou "Chico dos 1000-y-onários”, que, conforme dizia o Sô Chico, porteiro da Associação Académica, era «o que tocava microfone»; a forma como interpretava o I can’t stop loving you ainda hoje estará na memória de quantos iniciaram os seus namoros dançando – e declarando-se – ao som daquela música. No primeiro ano, o Chico deixava para um segundo vocalista, o Zé Gouveia, algumas das músicas em francês e italiano. 

Na bateria começou o Nuno Figueiredo, que abandonou o conjunto mais cedo por ter ido para o Técnico, entrando para o seu lugar o Zé Pereira (ex-Nelson Martins), que com o Chico fazia a dupla dos mais brincalhões, armando histórias e barracadas por onde o conjunto passava. Nos três "bacalhaus" que, quando necessário, gingavam em palco à maneira dos Shadows, alinharam, por via de regra: como guitarra-solo, o Luís Filipe Colaço (Phil), que viria a acompanhar Zeca Afonso em dois dos seus LP's e que ainda hoje se diverte a solar como o Hank Marvin; como guitarra-ritmo, o Duarte Brás, açoriano dos Corsários das Ilhas, que assumiu o lugar de vocalista quando o Chico foi apanhado pela tropa e que viria a formar o duo de música popular Duarte & Ciríaco; e eu próprio, Zé Veloso, que, por ter sido o último guitarra a chegar ao conjunto, fui obrigado a aprender o ofício de guitarra-baixo e ainda tinha que "fazer as séries" (o alinhamento do espectáculo, como se diria hoje). Mas bem me vinguei deles ao assumir o difícil cargo de tesoureiro, uma espécie de ministro das finanças a quem cabia cortar nos vales de caixa e demais mordomias, já que a compra dos instrumentos e aparelhagens nos obrigou a vários e penosos anos de austeridade, sem troika ou "paitrocínio" que nos resgatasse.


Naturalmente, os Álamos não foram os únicos a aderir à moda das três guitarras, tendo aparecido outros, dos quais destaco, por ordem de entrada em cena:


Foto dos Lordes no Escadote (Quinta das Lágrimas). A partir da esquerda, de pé: Luís Monteiro e Nelo Brito; sentados: Zé Eduardo Costa  e Luís Requixa.
Os Lordes, onde o solista era o Nelo Brito, o viola-ritmo e segundo vocalista era o Luís Requixa (que tantas vezes me emprestou o seu casaco de cabedal para as minhas performances nos Álamos...), o baixista era o Zé Eduardo Costa,  e o baterista e vocalista principal era o Luis Monteiro. Foram o segundo conjunto de três guitarras a aparecer em Coimbra, quase um ano depois de terem surgido os Álamos. Composto por malta bastante nova, o conjunto estreou-se no Natal de 1963 e dissolveu-se em 1966;



Os Protões, grupo composto por malta do Bairro Marechal Carmona (hoje, Norton de Matos): Nóbrega Pontes na guitarra-solo, António Carlos Couceiro na guitarra-ritmo, Fernando Dias (Nando) no baixo,  Jorge Carvalho (Jó) como vocalista e, na bateria, Zézé (José Eugénio) Eliseu, neto do maestro José Eliseu, compositor da música da Balada de Coimbra; 


Os Protões. A partir da esquerda: de pé, Nóbrega Pontes, Zézé Eliseu e Jó; no primeiro plano, Nando e Couceiro.


Os Cocktails,  "conjunto-cometa" formado para concorrer ao Concurso Yé-Yé do Teatro Avenida em 66, concurso a que não concorreram os conjuntos já "consagrados" (Álamos, Lordes e Boys) e que os Cocktails acabariam por ganhar. Terminado o festival, não foram longe;


Os Pops, que juntaram malta dos Lordes, Protões e Cocktails, onde solava o Luís Romão, era viola-ritmo o Joca Colaço (que chegou a integrar os Álamos numa temporada de Verão na Madeira), era baixista o Nando, baterista o Luís Monteiro e organista (uma novidade!) o Kali (João Carlos Mota). Congregando a nata dos músicos yé-yé da geração mais jovem, tocavam de forma agressiva, bem ritmados, virados para um público-alvo teenager. Porém, tendo-se formado em 1967, o pouco tempo de vida (2 anos) não deu para deixar grande rasto fora de Coimbra;

Na foto, a partir da esquerda, Fernando Dias (Nando), Luís Romão, Luís Monteiro, Joca Colaço (irmão do Luís Filipe Colaço dos Álamos) e Kali (João Carlos Mota).


Os In loco, posteriores à desagregação dos Protões, compostos pelo Frederico Aguiar (guitarra-solo), pelo Jorge Gomes (guitarra de 12 cordas), pelo Tójó – António Jorge Simões – (guitarra-baixo), pelo Zézé Eliseu (bateria) e pelo Rui Mesquita (vocalista).


Porém, acima de todos estes últimos, estavam os Boys, formados em 1964, conjunto que, em determinada altura, se assumiu como challenger dos Álamos e com o qual mantínhamos uma saudável rivalidade. Os Boys – cujo nome não tinha qualquer conotação pejorativa, já que à data nem partidos políticos existiam – tinham como ponto forte uma boa parte do repertório dos Shadows, graças ao virtuosismo do guitarra-solo Carlos Correia, mais conhecido por Boris, que acompanhou mais tarde Zeca Afonso em dois LP's. De início, o vocalista era o Victor Ferreira; e também o meu cunhado António Dias Figueiredo tocava harmónica em algumas músicas. Lá estavam também o Xana Rebocho Vaz na guitarra-baixo, o Manecas (Luís Manuel Matos) na guitarra-ritmo e o Tonã Vieira Lima na bateria.

Na foto, a partir da esquerda: Carlos Correia, Tonã Vieira Lima, Alexandre Reboxo Vaz, Victor Ferreira e Luís Manuel Matos (Manecas). 


Concorreram ao Concurso Yé-Yé do Teatro Monumental, em Lisboa, tendo ganho a 11.ª eliminatória em Nov/65. Um dos temas que mais gostava de os ouvir interpretar era o She's not there dos Zombies.

A malta dos Boys vivia na Cumeada, tal como eu. Ainda no liceu, sonhávamos com a possibilidade de vir a tocar em público. Numa bela noite, pelas fogueiras do S. João, ainda não havia Álamos nem Boys nem o mais que fosse, dei comigo a tocar meia dúzia de músicas com o Manecas, o Tonã e o Victor Ferreira num assim chamado "baile de sopeiras", no campo de basket dos Olivais, de onde só não fomos corridos porque, no meio da refrega corpo-a-corpo, a música era o que menos interessava a quem se espremia na pista (e as falhas de ritmo até deviam dar jeito). 

Tocámos então com os instrumentos do conjunto de serviço – Ilídio Martins – que era o melhor conjunto futrica de Coimbra. Foi a primeira vez que agarrei numa guitarra eléctrica e que o Tonã se sentou numa bateria, pois que, até então, eu só tocara na minha velha viola de cravelhas de madeira e ele só batera baquetas num caixote de tabuinhas.

Voltando aos Boys, de 66 para 67 o grupo apareceu transfigurado em Hi-Fi, a tocar de forma muito "profissional", com novo baterista – Tó Freitas – e a novidade de ter como vocalista uma rapariga – Ana Maria Delgado – coisa nunca vista no meio dos conjuntos yé-yé. Gravaram, então, um 45 rotações com 4 faixas – todas em inglês, como não podia deixar de ser – disco que teve a colaboração do Rui Ressurreição (órgão, piano e arranjos) e que ficou muito bom. Entretanto, saiu a Ana Maria, e o Luís Monteiro tomou o lugar do Tó Freitas, passando o Boris e o Luís Monteiro a assumir as principais despesas do naipe de vozes. Antes de se dissolverem, ainda gravaram um segundo EP.



Capa do primeiro EP, Parlaphone LMEP 1271 -1967 com "I call your name", "Back from the shore", "Three days of my lyfe" e "Words of a mad". A partir da esquerda, Boris (Carlos Correia), Ana Maria Delgado, Manecas (Luís Manuel Matos), Tó Freitas e Xana Reboxo Vaz.


E os conjuntos académicos dos anos 60 foram-se dissolvendo um após outro, à medida que os músicos iam acabando os seus cursos – ou eram chamados para a tropa – e a dança se transferia dos salões de baile, do Bar das Medicinas e dos ginásios de liceu para as boîtes e discotecas.


Os Álamos foram os mais tenazes, conseguindo viver 7 anos, tantos quantos eram necessários para terminar um curso de engenharia (6) com direito a mais 1 para os descontos. Nos últimos anos, o conjunto tinha elementos a estudar em Coimbra, Porto e Lisboa. Só dois se mantiveram desde a fundação até ao final (Luís Colaço e Zé Veloso). As baixas dos que saíam eram colmatadas com os melhores elementos dos grupos em extinção: entraram o Rui Ressurreição da Ligeira do Orfeão / Clube de Jazz, o Tózé Albuquerque dos Scoubidous, o Luizinho Monteiro, que tinha passado pelos Lordes, Pops e Hi-Fi, e o Boris dos Boys / Hi-Fi – um filho pródigo, pois se tinha iniciado nos Álamos em 63/64 – que veio cumprir o duplo papel de solista na guitarra e na voz. Foi nessa altura que gravaram dois singles, num total de quatro faixas.Com as novas entradas, o conjunto ganhou melhores músicos e passou a integrar também teclas (órgão em palco, órgão e piano em disco). Aumentou-se a complexidade dos arranjos. Subiram a qualidade musical e o cachê. Mas o grupo manteve-se sempre ligado à vida académica, sendo que, já no passado, tinha acompanhado em várias digressões o Coro Misto e o Orfeon Académico. E sempre terminava as actuações com I saw her standing there, tal como o Orfeon as terminava com o Amen, até ao dia em que tocámos pela última vez, talvez em Abril de 1969, num baile que não ficou na memória de ninguém. 

Era suposto que o conjunto terminasse em beleza na Queima das Fitas mas nesse ano não houve Queima e foi cada um à sua vida sem qualquer despedida, que os exames vinham a caminho e a profissão de músico não estava nos nossos horizontes.


No meio de tanta gente aqui citada, alguns deles músicos de primeira água, muito poucos foram os que se profissionalizaram. 

Que eu saiba, apenas António Portela, José Cid, Nelson Martins, Luís Romão e Luís Monteiro. É certo que, na altura, não era fácil viver da música. Mas, claramente, os objectivos pessoais não passavam por aí... e por alguma razão estes grupos se denominavam «conjuntos académicos».  


Zé Veloso in Penedo d@ Saudade

N.B. “Extracto do post CONJUNTOS ACADÉMICOS DA COIMBRA ANOS 60, in Penedo d@ Saudade https://penedosaudade.blogspot.com/2011/10/conjuntos-academicos-da-coimbra-anos-60.html



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