sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Michel Polnareff, o exilado.


Michel Polnareff, nasceu em 3 de Julho de 1944 em Nérac de Lot et Garonne (França).
O seu pai, Leib Polnareff,músico e compositor, teve várias composições suas, interpretados por Edith Piaf, Mouloudji, e os Compagnons de la Chanson, sob o seu pseudónimo artistico, Léo Pollna, na década de 50. Sua mãe Simone Lane, era bailarina.

Portanto, Polnareff,vivia rodeado de música, desde tenra idade, com o seu pai a iniciá-lo na música clássica, fazendo-o ouvir, e interpretar ao piano, os compositores clássicos da época, enquanto a sua mãe, Simone,lhe dava a conhecer temas de Gershwin e Cole Porter.
Naturalmente o pequeno Michel, assumia assim o papel de jovem prodígio, aprendendo a tocar piano aos 5 anos, e aos 11, em 1955, ganhou o seu primeiro prémio em teoria musical, um dos mais prestigiados prémios do Conservatório de Paris.

Criativo, o jovem compositor Michel, tinha como uma das suas maiores paixões, escrever as suas próprias orquestrações de Jazz, para peças clássicas famosas.

Chega então o serviço militar, e Polnareff,com 19 anos, assenta praça em Montluçon, aonde passa sete meses, a cumprir o serviço militar, tocando bombo, na banda do regimento. Quando foi desmobilizado, passou por vários empregos. Primeiro tentou uma agência de seguros, e depois uma agência bancária. Mas o mundo financeiro não era de modo nenhum, a sua praia.

É então que decide, tirar a viola do saco, e passa os dias em Montmarte, vagueando pelas ruas e pelo metro, tocando para os transeuntes, fazendo o que os ingleses chamam de "busking", ou seja, musico de rua. E enquanto ganhava o seu sustento, fazia o que mais gostava. Toca e cantava as suas composições, para um publico aleatório, que parava e se deixava prender pelo seu olhar andrógeno, pelas sua melodias, e o seu cabelo loiro comprido e encaracolado, que servia igualmente de ninho para a sua mascote...Um hamester branco, que passeava pelos ombros de Michel, enquanto este deambulava, pelo seu mundo mágico, de melodias enfeitadas com poemas românticamente desesperados.

Em 1965, Polnareff, participa num concurso, que teve lugar no "Locomotive Club", á época o clube mais "in" da noite Parisiense, e para sua surpresa, ganhou o primeiro prémio, sendo contemplado com o "Disco Revue", e um contrato para gravação de um 45 Rpm, pela Barclay. Mas Michel, que sempre controlou a sua carreira, recusou o contrato com a gravadora, por achar que não estava ainda preparado para assumir as responsabilidades inerentes a essa situação.

Felizmente, o seu grande amigo, desde os tempos de escola, Gerard Woog, apresentou-o a Lucien Morrisse, que viria a ser o seu empresário, e que era o director da famosa estação de rádio Europe 1, que lá convenceu Michel a gravar as suas composições, na AZ Records. Como era um espírito criativo, inovador, sempre atento ao que o rodeava, Michel, optou por gravar o seu primeiro single, "La poupée qui fait non", em Londres, aonde os estúdios eram mais bem equipados, com melhores produtores e engenheiros de som, algo que em França, ainda se encontrava em desenvolvimento.

Em Londres, Michel, sentiu-se como peixe na água, tendo trabalhado com vários vários "tubarões" ingleses, nomeadamente, Jimmy Page, ainda a trabalhar como músico de estúdio, enquanto preparava os Led Zeppelin, que em breve iniciariam o seu voo.

"La poupée qui fait non", lançado a 26 de Maio de 1966, foi um sucesso estrondoso, catapultando Michel, para o estrelato mundial, quase de imediato.

A ingenuidade transparente das suas melodias, colocou Polnareff, muito á frente dos seus colegas franceses, que apenas se limitavam a copiar o estilo Ié Ié, dos britânicos, sem grande sucesso, levando a colocar o "enfant terrible" dos Gauleses, na linha dos grupos e cantores hippies Americanos.

Essa diferença, de qualidade e estilo, seria definitivamente assumida com o hit seguinte de Michel. "Love Me Please Love Me", lançado em 1966,com a famosa introdução de piano, e com um poema suplicantemente romântico, era Polnareff puro.

Poucos meses após ter despontado no firmamento da pop musica mundial, Michel é agraciado com o prestigiado "Prix critique de la Rose d'Or d'Antibes".

E seguiram-se os sucessos, "Sous quelle étoile suis-je né?" e "L'oiseau de nuit" (1966), "Le rois des fourmis" e "Ame câline" (1967), "Le Bal des lazes" (composto por Pierre Delanoë, em 1968).

Estes sucessos, não foram só em França, atingiram igualmente toda a Europa, com especial referência, na Grã Bertanha, aonde, contra todas as expectativas,os temas de Michel, foram de um modo geral bem recebidos,tendo a imprensa Britânica, famosa pelo seu chauvinismo, classificado Polnareff como sendo um dos mais promissores novos valores na industria musical.

Paralelamente, houve edições de todos os seus discos, em Inglês,Espanhol, e Italiano, o que contribuiu, para aumentar o mito Polnareff, que teve inclusive,no Outono de 1967, um prémio na Alemanha, ao ser votado como o mais popular artista estrangeiro, desse ano,no país da cerveja e das salsichas.

Mas em Setembro de 1967, quando se preparava para a sua primeira actuação no mundialmente prestigiado Olympia de Paris, Michel, cancelou o espectáculo, alegando não ter experiência suficiente, para tamanho desafio. Foi o ponto departida para a imprensa francesa, se focar no fenómeno Polnareff, e nem sempre por causa do seu talento. A maior parte das noticias sobre Michel,tinham a vêr com o seu constante mudar de penteado, ou a sua forma desinibida de vestir.

A sociedade Francesa dos anos 60, era incrivelmente conservadora, e o estilo "avant-garde", das actuações do musico, aliado á sua forma de viver, não encaixavam em nenhum dos pré formatados grupos da sociedade Francesa, levando a que os jornalistas, o transformassem no alvo preferido das suas criticas, e fizessem dele o bode expiatório, das incapacidades,e frustrações da sociedade Gaulesa. Por sua vez, Michel, pura e simplesmente ignorava esse criticismo, e continuava a fazer aquilo que lhe dava mais prazer. Numa atitude de rebeldia e provocação, grava o "L'amour avec toi", com a lírica mais explicita possível. O resultado imediato.

O tema fosse banido em todas as estações de rádio Francesas, podendo esta ser apenas reproduzida após as 22 Hrs...Mesmo assim a popularidade de Polnareff não parava de crescer. Charles Trenet, ícone da época, não se associou ás criticas dos jornalistas franceses, e elogiava o trabalho de Michel, sendo nisso, secundado por Jean-Louis Barrault,famoso director teatral, que publicamente enaltecia o talento de Polnareff, e em 1968, convida-o a musicar a sua produção "Rabelais", deixando o compositor mais feliz do que nunca, já que esse convite lhe dava a oportunidade de se dedicar á sua actividade preferida, a composição. Na verdade o seu maior sonho, era compor uma peça tipo "West Side Story".

Em 1968, finalmente Polnareff sente-se com a confiança necessária para enfrentar o publico no Oympia de Paris, aonde alcança o merecido aplauso geral, avalizando o seu projecto seguinte. Uma série de gravações dos seus maiores sucessos entre 1969 e 1989. Grava entre outros "Tous les bateaux", o famoso "Dans la maison vide", que havia escrito em parceria com Jean-Loup Dabadie.

Em 1969, compõe a sua primeira banda sonora, para o filme "L'Indiscret" de François Reichenbach. Volta ao OLympia em 1970, nos dias 14, e 15 de Janeiro.

É por esta altura, que muda drásticamente o seu visual, aparecendo em palco com os seus caracóis louros a caírem sobre um par de óculos escuros, com uma gritante armação branca. O uso desses óculos, dão origem a uma série de rumores e suspeições, havendo quem afirmasse que Michel, estava a perder a vista, correndo o sério risco de cegar. Mas nada diso era verdade, e não passava de mais uma campanha da imprensa francesa, que não aceitava a sua aparência extravagante, e o seu modo de vida.

Em resposta, Polnareff edita "Je suis un homme", gritando o seu direito a viver como bem lhe aprouvesse, e esperando que a canção acabasse com as especulações acerca da sua sexualidade. Porém o efeito foi o oposto. Cresceram os ataques por parte das revistas cor de rosa, tendo Michel sido atacado em palco, por um espectador mais violento, durante um espectáculo em Périgueux, em Maio desse ano. Todos estes acontecimentos, a que se juntou o suicídio do seu empresário e amigo Lucien Morisse, provocou em Michel uma profunda depressão, que o atirou para a cama de um hospital nos arredores de Paris, aonde foi submetido a uma longa terapia, através do sono induzido. Em consequência, o espectáculo agendado para o Palais des Sports, aonde Polnareff actuaria acompanhado por uma orquestra sinfónica, foi cancelado.

Seria internado uma segunda vez, em Janeiro de 1972, de onde sairia em Maio, para realizar uma grande tournée, acompanhado apenas por quatro músicos Escandinavos. A tournée terminaria em Setembro, e no mês seguinte, Polnareff actuava, por fim, no Palais des Sports,mas apenas como pianista convidado de Johnny Hallyday. Este retribuiria, a cortesia, juntando-se a Polanreff,no palco do Olympia no ano seguinte para interpretar em duo, um medley de clássicos do Rock And Roll.

Nos finais de 1971,concentrou toda a sua energia na composição de mais duas bandas sonoras para os filmes,"Ca n'arrive qu'aux autres", de Nadine Trintignant, e "La Folie des grandeurs", comédia de Gérard Oury, estrelado por Yves Montand e Louis de Funès.

Com a depressão controlada, fazendo exercício físico, Michel conseguiu equilibrar a sua saúde mental, e compõem em 1972, os brilhantes,"Holidays", "La mouche"e "On ira tous au paradis", sendo esta mais uma parceria com Jean-Loup Dabadie. Mas,depois desta bonança, viria mais uma tremenda tempestade.

No Outono de 1972, Michel, deu inicio a uma enorme campanha publicitária que visava o lançamento do seu novo super-show,"Polnarévolution" que teria lugar no Olympia, de 6 a 22 de Outubro de 1972. A campanha publicitária, tinha o seu ponto forte,na colagem de 6.000 posters, por toda a França, nos quais, Michel aparecia de costas, de chapéu óculos brancos e uma camisa, mostrando as suas nádegas, numa nudez provocatória. Como era de esperar rebentou um novo escândalo Polnarefrr, com este a ser conduzido ao tribunal de Paris em 8 de Dezembro de 1972, acusado por prática de "indecente nudez", a ser considerado culpado, a pagar a multa de 10 Francos por cada póster.

É claro que o póster, tornou-se num "must" para os coleccionadores, e a publicidade, resultou em pleno. Ao entrar no palco do Olympia de Paris, naquele Outubro de 72, acompanhado pelos Dynastie Crisis, Michel Polnareff, foi recebido por uma estrondosa ovação pelo publico que esgotara a sala mais carismática do mundo. Et Vive Polnareff Libre, poderia ter dito o General Degaulle...

Seguiram-se mais duas fantásticas tournées com este "Polnarévolution", uma ao Japão, e outra começada na Polynesia, e terminada na América do Norte, via Oceano Índico.Foi a consagração mundial.

Se Michel controlava toda a sua carreira no que dizia respeito ao lado artístico, o mesmo não se pode dizer em relação ás suas finanças, que ele entregara a Bernard Seneau, homem sem escrúpulos, que com Michel ausente nas tournés, "limpou-lhe" as contas e desapareceu, deixando para traz um rol imenso de dividas principalmente ás finanças francesas, a quem deixou de pagar mais de um milhão de francos. Sob a alçada do fisco, Michel não podia voltar á sua pátria, pois assim que desembarcasse, era logo preso. Então, drásticamente, em 1973, muda-se de armas e bagagens, para Los Angeles, USA, após uma estadia de três meses em Nova York. Ainda por lá se mantém, sem intenções de regressar a França, que tão mal o tratou.

Após um período de descanso e alguns momentos de depressão, devido á morte de sua mãe, Michel assina um contrato coma a Atlantic, em 1974 e edita o seu primeiro álbum no exílio. "Tibilli", sem grande sucesso. Em 1975,edita o single "Jesus for Tonight" retirado do álbum "USA", quase todo cantado em inglês,e entra nas listas dos 45 Rpm, mais vendidos da Bilboard, aonde alcança uma significativa 35ª posição. Seguiu-se uma nova tournée pelo Japão, e em 26 de Outubro, é marcado um mega concerto, a ter lugar na Bélgica, na Forest-National en Bruxelas, organizado pela RTL, já que espectáculos em França, estavam fora de questão, pois Michel era procurado pelas finanças, e seria logo preso ao aterrar em solo francês.

A RTL, pôs á disposição de todos os Franceses que quisessem assistir ao espectáculo, numerosos autocarros e comboios que transportaram os milhares de fãs Franceses, que ao chegarem ao local do espectáculo, se depararam com o palco sem a respectiva sonorização,já que os camiões que transportavam todo o sistema de som e luzes, estavam atrasados. Não foi isso que impediu Michel de subir ao palco, aonde improvisou, com o que tinha á mão, um espectáculo acústico, terminado em apoteose, com os milhares de fãs franceses a aplaudirem freneticamente,o seu exilado ídolo.

De volta aos States, compõe mais a banda sonora para o filme "Lipstick", que tinha como actriz principal, Margaux Hemingway, dirigida por Lamont Johnson. O filme foi um flop, mas o tema principal, Lipstick, encaixou-se na onda Disco, que era a grande moda,nos anos 70, e foi um grande sucesso, nas disco nights, em todo o mundo.

Em 1977, com as saudades da sua pátria, aonde não poderia ainda retornar, a fazerem estragos no seu intimo, Michel compõem a nostálgica "Lettre à France", que seria pronominatória, já que no ano seguinte, Michel, voltaria a França. Haviam decorridos cinco anos.Conseguiu um acordo judicial, aonde embora o seu contabilista,Bernard Seneau, tivesse sido considerado culpado pela fraude fiscal, Michel teve que pagar a avultado multa, de mais deum um milhão de Francos Franceses, ás finanças.
Aproveitando a sua estadia em França, Michel promove o seu novo álbum, "Coucou me revoilou" - Olá, estou de volta, tradução livre - que apesar dos sucessos de,"Lettre à France" e "Une simple Mélodie", singles retirados do álbum, este, não originou, nada de maior relevância.

Em 1979, faz a sua quarta, e última tournée ao Japão, aonde mais uma vez tem enorme sucesso junto dos seus fãs Japoneses.

Dois anos depois, 1981, edita o seu álbum,"Bulles", que vendeu mais de um milhão de cópias. Com um som muito eighties, utilizando pela primeira vez, caixas de ritmo, e com uma enorme preponderância de sintetizadores, originou uma série de singles tais como "Tam Tam" e o famoso "Radio".

Apesar do seu exílio forçado, o publico Francês, manteve-se sempre fiel á musica de Polnareff, e as vendas de "Bulles", foram extraordinárias, o que o levou a gravar um concerto especial, para a televisão Francesa, durante o qual, Michel tocou temas do seu novo álbum ,"Telé 82".

Em 1984, Polnareff compõem mais uma banda sonora para a comédia, "La vengeance du serpent à plumes", de Gérard Oury, estrelada pelo grande comediante Francês, Coluche.

Em 1985, é lançado o álbum "Incognito". São retirados dois singles, "Dans la rue" e "Viens te faire chahuter", mas as vendas são modestas, nada comparáveis ao anterior "Bulles". Talvez por isso mesmo, em Junho de 1989, é editado o single, "Goodbye Marylou". A partir daí Michel desaparece da sena musical,de Los Angeles, e a imprensa da especialidade, especula, e lança boatos, noticiando que Michel Polnareff está gravemente doente, ou então que se terá retirado para um local secreto.

 Na verdade, Michel estava em França, hospedado no luxuoso Hotel Royal Monceau, aonde se instalou numa enorme suite, a numero 128, que transformou em estúdio, e aonde ao mesmo tempo que promove festas com os seus amigos de longa data e que com quem não convivia, havia muito tempo, grava o seu novo álbum,"Kama Sutra", com o produtor Inglês Ben Rogan, e tendo Mike Oldfield, - o mesmo do "Tubular Bells" - nas guitarras. "Kama Sutra", é lançado em 18 de Julho de 1990, e nele é incluído o hit single " Goodbye Marylou" - editado anteriormente - e que contribui para que o álbum seja um enorme sucesso de vendas, já que o tema passa a ser o de maior sucesso em toda a sua carreira. São ainda lançados os singles "LNAHO", "Toi et moi", bem com a faixa que dá o nome ao álbum, "Kama Sutra".

Em Outubro de 1994, três meses antes de completar 50 anos, Polnareff é operado ás cataratas, já que este problema se agravara de tal forma, que quase cegava.

Volta aos USA, em 1995, fixa-se em L.A., e dedica-se a produzir o seu próximo concerto, que acaba por acontecer a 27 Setembro de 1995, no famoso Roxy, em Sunset Boulevard. Acompanhado por, Alex Acuna dos Weather Report, na percussão, Sam Sims no baixo, e Dick Smith na guitarra, Polnareff percorre toda a sua carreira musical, com novos arranjos dos seus sucessos do passado ao presente.

"Polnareff par Polnareff", foi o nome escolhido para a sua autobiografia, escrita com a colaboração do jornalista, Philippe Manœuvre, e posta a venda em Novembro de 2004, sendo logo á partida um best seller, indicando que o fascínio do publico Francês por Michel, se mantinha inabalável.
Em 12 de Março de 2006, Michel Polnareff, aparece no noticiário das 8 das estações televisiveis, da rede nacional, anunciando o seu tão esperado concerto em França.

Será de 2 a 14 de Março de 2007, no Bercy stadium, em Paris. As linhas telefónicas, e a Internet, "crasharam" sob a avalanche de pedidos de bilhetes para o evento. Foram vendidos 100.000 bilhetes, esgotando no espaço de poucos dias, a lotaçaõ para todos os dias do concerto.Foi considerado o Evento Musical do Ano, em França.

Em 17 de Março de 2007, Michel Polnareff é agraciado com a "Victoire d'honneur", pelo governo Francês, homenageando assim a carreira musical do seu filho pródigo, agora acolhido ternamente nos braços da arrependida Mãe Pátria.

Et Vive La France.

Sem comentários: