terça-feira, 30 de agosto de 2011

Traffic - John Barleycorn Must Die, reeditado, 41 anos depois.

Apesar de ser muitas vezes apenas citada como uma banda que teve como membro o cantor, compositor e multi instrumentista Steve Winwood, os Traffic tinham um som muito original, que teve características únicas e sucesso no final dos anos 60 e início dos 70.

No seu início, no ano de 1967, tinha forte estilo psicodélico influenciado pelos Beatles e principalmente pelo guitarrista Dave Mason, outro peso criativo do grupo, ao lado de Winwood. O grupo chamou atenção tanto de público quanto da crítica pelo som que enfatizava o órgão, em vez do predomino da guitarra, e também os instrumentos de sopro interpretados por Chris Wood, especialmente flauta, nunca antes destacada no pop rock.

Ao longo do tempo, o grupo passou a compor canções mais longas e seguir uma linha de improviso, mas com uma estética derivada do jazz, o que o afastava do chamado progressivo, que se baseava mais na música erudita. As constantes mudanças, as fortes personalidades dos músicos e a fama fizeram, com que os elementos do grupo se distanciassem, sem nunca terem anunciado uma separação efectiva, mas tiveram sempre, umfuturo incerto.

Prodígio desde o meio dos anos 60, quando fizera parte dos Spencer Davis Group, Steve Winwood, com apenas 22 anos, via-se no início de 1970 pressionado a efectivar o compromisso contratual de fazer o seu primeiro disco solo, para o qual tinha a intenção de gravar todos os instrumentos sozinho.

As gravações começaram com a produção do experiente Guy Stevens e uma primeira faixa chegou a ficar pronta, “Stranger to Himself", mas Winwood resolveu chamar seu parceiro dos Traffic, Jim Capaldi, para um melhor resultado. Os dois completaram uma segunda faixa, "Every Mother's Son"; o dono da gravadora Island, Chris Blackwell, que sempre foi muito influente nos seus contratados começou a participar da produção do disco e resolveu chamar um terceiro membro do Traffic, Chris Wood.

Desta forma, o que parecia estar morto e enterrado, há mais de um ano, renascia. E o álbum solo de Winwood seria na verdade a volta do velho grupo.

Esta nova roupagem do grupo estava próxima do que talvez, a banda deveria ter sido desde o seu início: um veículo para a "virtuoso" musical e a envolvente e estranha voz de Winwood somado ao criativo trabalho de sopros de Chris Wood e a percussão original de Jim Capaldi, e que eventualmente complementava os vocais de forma precisa.

Contudo, apesar do bom começo dos Traffic nos anos 60, muitos criticaram que as suas músicas foram formatadas como singles, coisa esquecida neste renascimento, sendo que a maioria das músicas ultrapassava seis minutos, um suicídio radiofónico, mas quem estava preocupado com rádio naquela época? Era o florescer da era do vinil como objecto do culto e desejo, uma peça valiosa na casa dos jovens descolados.

Assim, “John Barleycorn Must Die” viraria um “cult”, um folk-jazz-psicodélico, um som inovador e original, que não precisava de passar nas rádios, mas sim nos circuitos privados, nas festas dos fanáticos admiradores de Steve Winwood. O resultado foi o sucesso comercial, transformando-se no primeiro disco de ouro da banda e que levou o grupo a actuar pelo mundo com uma brilhante e ovacionada tourné.

Agora, 41 anos depois, numa época em que a relação com rádios e discos é outra, vale a pena para os conhecedores terem contacto com o disco extra que traz versões alternativas do disco original (que ficaram bem interessantes), as gravações originais remasterizadas e para muitos descobrirem as viagens sonoras dos anos 70.

Por Roberto Maia

domingo, 28 de agosto de 2011

Bob Dylan com The Band, na gloriosa década de 70

No fim 1973, Bob Dylan, não estava satisfeito com a sua gravadora por achar que a Columbia o menosprezava. O empresário David Geffen tentava convencer Bob para que ele trocasse de gravadora, já que o seu contrato estava prestes a acabar.

Geffen havia fundado a Asylum em 1970, facturado "uma nota preta" com Joni Mitchell e os Eagles, vendido a gravadora em 1972 e reassumido o controle em 1973, quando aconteceu a fusão do seu antigo selo com a Elektra. Sabendo que Dylan confiava em Robbie Robertson, o empresário aproximou-se do guitarrista dos The Band, para se tornar amigo de Bob. Foi quando propôs um "revival" da parceria entre Dylan e os The Band, com um álbum de estúdio, uma tournê e um disco ao vivo.

Afastado dos palcos há 7 anos, Bob havia desenvolvido uma espécie de fobia ás apresentações ao vivo. Tinha feito raras aparições nos últimos anos, como no programa de televisão de Johnny Cash e no Concerto para Bangladesh, entre outras. Era uma figura ausente desde a explosiva tournê do álbum Blonde on Blonde, de 1966 — registada no incrível disco ao vivo, The Bootleg Series Vol. 4 – Live 1966: The ‘Royal Albert Hall’ Concert, e no documentário de Martin Scorsese, No Direction Home — com os seus furiosos confrontos com a platéia e as performances incediárias que, dizem, teriam criado o Rock com letra maiúscula, lembrando que na época os Beatles e os Rolling Stones ainda investiam em baladas melosas como, Here, There and Everywhere e Lady Jane.

Na sequência, gravou as Basement Tapes — que continuavam arquivadas — e uma série de álbuns de country rock. Apesar de terem rendido grandes momentos em estúdio — com clássicos como John Wesley Harding e Nashville Skyline —, faziam alguns anos que Bob andava sendo abandonado pelos fãs e queimado pela crítica. Lançou dois álbuns em 1970 — Self Portrait e New Morning —, uma colectânea de hits e, apenas em 1973, apareceu com a trilha sonora de Pat Garrett and Billy The Kid, filme de Sam Peckinpah em que o músico também actua, ainda num papel menor.

O facto é que aquele não parecia um bom momento para Bob, e a gravadora realmente tinha perdido o interesse no compositor.Tudo isso pesou na hora em que Dylan teve que tomar uma decisão: ele não romperia com a Columbia, mas gravaria sim para a Asylum os discos propostos por Geffen.

De maneira bastante inteligente, criou a Ram’s Horn Music, e assinou um contrato bastante vantajoso, em que era o único dono das suas músicas.

No mesmo mês em que entrou em estúdio com os The Band para gravar um ábum inédito pela Asylum, a Columbia lançou uma colectânea com composuções inéditas de Bob. Com o título, Dylan, o álbum trazia dois outtakes de Self Portrait e sete de New Morning. Montado à pressa, sem o consentimento do artista, foi reconhecido como uma espécie de vingança da antiga gravadora, no intuito de desviar as atenções do trabalho seguinte do músico pelo novo selo, além de facturar mais algum com o nome do cantor.

Dylan, recebeu péssimas críticas e ficou conhecido como o pior álbum na discografia de Bob. Na verdade, é uma afirmação um tanto pesada. Não se trata de uma colecção de canções tão detestável quanto sugerem. São apenas nove faixas: duas canções tradicionais, seis covers e uma única de autoria do próprio Dylan.

O disco abre bem com Lily of the West, e segue com Can’t Help Falling in Love, um sucesso na voz de Elvis Presley. Sarah Jane foi composta por Bob e talvez seja o ponto alto do álbum. Há ainda Big Yellow Taxi de Joni Mitchell, Mr. Bojangles de Jerry Jeff Walkers, A Fool Such As I, The Ballad of Ira Hayes, entre outras. Spanish Is the Loving Tongue já havia sido lançada em 1971 como lado B do compacto Watching the River Flow. Mas a versão de Dylan, é um take alternativo, diferente do single.

Por ser a primeira colecção oficial de sobras do artista, em certo sentido pode afirmar-se que Dylan, é o marco zero das Bootleg Series. Um prato cheio para aqueles que apreciam Self Portrait e New Morning.

As sessões de Planet Waves foram breves. O disco inteiro foi gravado em apenas cinco dias no estúdio A do Village Recorder, em Los Angeles. A voz suave que havia marcado a fase country do Dylan foi abandonada. Bob voltou a cantar com o tom de verdade absoluta que marcou sua interpretação e suas letras nos da primeira metade da década de 1960.

Três músicas tinham sido compostas em Junho de 1973, e ensaiadas na casa de Robbie Robertson no mês de Setembro: Forever Young, Nobody ‘Cept You e Never Say Goodbye. A banda tocou os três temas, em 2 de Novembro, uma sexta-feira, o primeiro dia das gravações. O baterista Levon Helm recentemente chegado da Costa Leste, ainda não tinha chegado a Los Angeles.Na segunda-feira, 5 de Novembro, tentaram um novo take de Nobody ‘Cept You. Ainda realizaram a gravações definitiva de You Angel You e Going, Going, Gone. Fizeram uma nova tentativa com Forever Young, que não agradou a Bob.

Na terça-feira, 6, gravaram Hazel, Something There Is About You e Tough Mama. Dylan e The Band voltaram ao estúdio na quinta-feira, dia 8, quando fizeram três takes de Going, Going, Gone e gravaram a animada On A Night Like This. Houve uma nova tentativa com Forever Young,que já se revelava a canção mais difícil do disco. Após várias tentativas em falso, uma versão completa foi gravada. Apesar de ter agradado a todos os músicos e ao produtor Rob Fraboni, Dylan recebeu a visita de um amigo no estúdio. Estava acompanhado da namorada, que fez comentários depreciativos sobre a composição, deixando o artista inseguro, apesar da insistência de Fraboni.

Dylan pretendia terminar o disco na sexta-feira, dia 9. Quis fazer uma nova tentativa de Forever Young e ficou na dúvida sobre qual das versões era a melhor. Chegou a comentar com o produtor que já tinha aquela canção em mente, havia cinco anos, e continuava sem saber como a gravar.

Foi composta por Bob para um de seus filhos e soa realmente como as palavras de um pai. A expressão Forever Young não é uma invenção de Dylan, mas como lembra o biógrafo Howard Sounes, um de seus maiores méritos como compositor é justamente sacar termos do seu lugar comum e enriquecê-los de significado. O poeta John Keats já havia usado “for ever young”,em Ode a uma Urna Grega.

Nesse mesmo dia, gravaram uma música nova, Wedding Song. A canção parece ser sobre a vida pessoal de Dylan, sobre o seu casamento com Sara, mãe dos seus filhos.

A intenção inicial era encerrar o disco com Nobody ‘Cept You, mas como não conseguiram um take satisfatório da canção, acabaram excluindo a faixa do álbum e colocaram, Wedding Song no seu lugar. Nobody ‘Cept You chegou a ser tocada nos primeiros shows da tournê. Para muitos fãs, esta música é o primeiro sinal de que o casamento de Bob e Sara estava a chegar ao fim.

Já existiam temas suficientes para o disco, mas Dylan quis realizar mais uma sessão no dia 14 de Novembro. Uma nova versão de Forever Young foi tentada, com arranjo diferente. No fim, duas versões diferentes dessa música acabaram por entrar no álbum: uma mais lenta, no final do lado A, e outra mais enérgica, abrindo o lado B.

É o título mais lembrado de Planet Waves. Nessa sessão final, também gravaram Dirge, que na fita master ganhou o título de Dirge for Martha. É uma canção sobre um amor do qual se sente vergonha, com o seu marcante início que diz “I hate myself for lovin’ you”. Bob tocou acordes dramáticos no piano e cantou com intensidade, enquanto Robbie tocou violão. O segundo take é o que entrou no álbum. Existe conhecimento de pelo menos seis outtakes de Planet Waves: Adalita,Crosswind Jamboree, House of the Rising Sun, Nobody ‘Cept You, Short Jam, e uma instrumental sem título.

O primeiro take de Nobody ‘Cept You, gravado no dia 2 de Novembro sem o baterista Levon Helm, acabou por ser lançada no Volume 2, da coleção The Bootleg Series. A segunda versão de House of the Rising Sun, chegou a circular entre colecionadores em alguns raros, títulos piratas. As demais, até ao momento, permanecem completamente inéditas.

Inicialmente, o disco iria chamar-se, Ceremonies Of The Horsemen, em referência a letra de Love Minus Zero/No Limit, do álbum Bringing It All Back Home (1965). O álbum estava previsto para chegar às lojas no dia da estreia da turnê de 1974. Mas na última hora Dylan resolveu mudar o título, atrasando em duas semanas o lançamento de Planet Waves.Ele mesmo pintou a capa, que é superior á de Self Portrait(1970) ou mesmo Music from The Big Pink(1968), dos The Band, que também foram criadas por ele.

No canto direito,lê-se “Cast-iron songs,and torch ballads”. No lado esquerdo, a palavra ‘Moonglow” foi interpretada como um subtítulo.Ainda que não seja um marco na discografia de Dylan — e nem o retorno artístico que muitos esperavam —,Planet Waves, é um disco ótimo. Lançado no dia 17 de Janeiro de 1974,tornou-se no primeiro e único álbum de Bob a alcançar o primeiro lugar nas listas de vendas.

Foi bem recebido pela crítica e contém várias canções acima da média. Com uma certa rusticidade caseira e sendo bastante confessional, é um disco com várias faixas sobre a temática do amor, ainda que esse sentimento seja expresso em diversos tons, incluindo alguns um tanto sombrios, como suspeita, ciúmes, pretextos, recordações e raiva.

No mês de Janeiro, iniciou aquela que foi anunciada como "Tour ’74" de Bob Dylan and The Band, apresentando-os como astros de primeira linha. Foi a primeira turnê por grandes estádios da era do rock, com quarenta shows nos maiores lugares dos Estados Unidos, numa excursão que durou mais de seis semanas.

Pela primeira vez, os artistas tomaram decisões importantes sobre o formato musical dos shows, montagem do palco e duração da digressão. Também — e esse foi um diferençal importante para David Geffen atrair Dylan — os musicos ficaram com a maior parte dos lucros.

Bill Graham — proprietário dos Fillmore East and West e um dos maiores promotores de shows daquela era — foi contratado para se encarregar da logística. A banda viajava numa jato particular, o Starship 1. A publicidade foi exagerada, com Geffen anunciando aquele como sendo “o maior evento da história do show business”.

As entradas custavam 8 dólares, o que era um valor alto para o padrão da época. Mas era a primeira turnê de Dylan desde Blonde on Blonde (1966) e o público estava sedento! Também foi a primeira tourné em que as pessoas podiam comprar as entradas por telefone. Resultado: 7% da população dos Estados Unidos teria procurado por bilhetes e todos os 658 mil "tickets" foram vendidos, gerando mais de 5 milhões de dólares.

Os shows eram apoteóticos. Como de costume, Dylan não era um intérprete que oferecia versões pasteurizadas das canções, de maneira idêntica as gravadas nos discos. De um show para o outro, uma mesma canção podia ganhar um arranjo totalmente inédito, exclusivo (e as vezes até versos novos), nascido da pura inspiração desse artista fenomenal (facto que torna os discos piratas ao vivo do artista muito procurados e valorizados pelos fãs).

The Band, como o grupo lendário que era, acompanhava os improvisos de Bob sem pestanejar.Os shows eram longos, com sets acústicos e elétricos, com o set list, sendo composto tanto por composições de Dylan quanto dos The Band. Tornando tudo ainda mais único, não era raro eles interpretarem alguma cover, canção tradicional ou música inédita que nunca entrou nos álbuns. Esse é um expediente que Bob utilizou em praticamente toda carreira (e outro facto que torna seus discos piratas apreciados).

Um exemplo clássico dessa turnê foi a execução de Nobody ‘Cept You, um outtake de Planet Waves. Em alguns shows ela entrou no repertório.Todas as músicas ganhavam roupagens novas, mais fortes, vigorosas, agressivas, firmes. Robbie Robertson comentou:

“Quando a gente tocava ao vivo, a música ficava muito dinâmica, violenta e explosiva. (…) Mesmo na nossa primeira turnê em 1966, foi a mesma coisa: quando a gente começava a tocar, elas todas saíam com esta atitude agressiva e bombástica. Quando a gente se reuniu para fazer a Tour ’74 aconteceu de novo. A gente apenas retornou automaticamente a uma certa postura em relação às canções.”

Entretanto, nos shows de 1966, Dylan and The Hawks (o primeiro nome dos The Band) eram vaiados por reformularem as canções. Quando repetiram a dose nesse retorno bombástico em 1974 foram aclamados como heróis. Mesmo músicas mais lentas, como Lay Lady Lay, eram cantadas aos berros. Muitas composições tinham performances que se aproximaram do hard rock.

E as capacidades poéticas de Dylan mostravam-se mesmo ilimitadas. Letras antigas, transformavam-se em temas atemporais e ganhavam novos significados, como It’s Alright, Ma (I’m Only Bleeding), que com o recente escândalo de Watergate, levava o público ao delírio nos versos que diziam que “até o presidente tinha que ficar nu”.

Foi nessa série de shows que, pela primeira vez, o público passou a acender fósforos e isqueiros durante as canções. O fotógrafo Barry Feinstein comentou que :

“Todos sabiam que estavam na presença da grandeza”. Seu registro das centenas de pequenas chamas no escuro acabou por se tornar na capa de Before the Flood, o álbum ao vivo duplo que registrou a Tour ’74. Mais do que isso, foi o primeiro disco ao vivo de Bob Dylan.Os shows foram tão monumentais que existem incontáveis registros piratas deles circulando no mercado negro. Inclusive um deles, em CD duplo intitulado Paint The Daytime Black, é apontado como um dos melhores álbuns não oficiais de Dylan.

O áudio dessa tournê é um dos mais aguardados pelos fãs para uma nova edição da coleção The Bootleg Series.

A influência dessa fase na carreira de Bob é imensa. Foi uma revitalização artística incrível. Bob Dylan, estava de novo, no topo, brilhando com todo o destaque que merecia. Além de ter facturado muitos dólares, o público estava novamente, interessado em tudo que Dylan fazia.

Não foi à toa que ele abriu a Tour ’74, a 3 de Janeiro, em Chicago) com uma versão nova de Hero Blues, gritando ao microfone que tinha “um pé na estrada e outro no túmulo”. Desde então, Dylan segue naquela que ficou conhecida como a Never Ending Tour, permanecendo constantemente na estrada. Ao que tudo indica, deve continuar subindo ao palco enquanto estiver vivo.

A parceria com David Geffen surtiu resultados.Planet Waves,tornou-se no único álbum de Dylan a chegar ao primeiro lugar dos tops. E todos os shows da tour tiveram as entradas esgotadas. Mas mesmo assim, o artista não permaneceu na Asylum. Em Agosto de 1974 a Columbia ofereceu um contrato muito vantajoso para Dylan, que retornou á sua antiga gravadora. Mais do que isso, ele permaneceu com os direitos de, Planet Waves, e Before the Flood, ficando no seu catálogo.

O caminho estava aberto e na sequência iria lançar os dois títulos mais marcantes de sua discografia na década de 1970: Blood on the Tracks(1975) e Desire(1976).

Também, com todo o interesse despertado pela sua parceria com os The Band (e para estancar a fuga de dólares, que estava a entrar no bolso dos piratas), oficializou as sessões de 1967 num álbum duplo: The Basement Tapes(1975), que não deixa de ser outro protótipo do The Bootleg Series.

Em seguida, em 1975, saiu com outra tournê espetacular, colossal: Rolling Thunder Revue. Esses shows iriam render o documementário colossal, Renaldo and Clara (1978) — com quatro horas de duração —, o segundo disco ao vivo de Dylan, Hard Rain (1976) e o quinto volume da The Bootleg Series: Live 1975(2002).

Em retrospecto, Planet Waves é outro daqueles discos que simbolizam uma viragem na carreira de Dylan. Já o ao vivo, o duplo Before the Flood, é ainda mais aclamado. Vários críticos e publicações de respeito, inclusive em resenhas recentes (revisitando a tradição do rock), apontam este álbum como sério candidato a “melhor disco ao vivo de todos os tempos”. Ou seja, obrigatório!

Por Rodrigo de Andrade (Garras), no Armênios

sábado, 27 de agosto de 2011

Ana Moura, actuou no Back2Black, no Rio de Janeiro

A fadista abriu o festival Back2Black com Gilberto Gil ontem sexta-feira, 26 de Agosto, no Rio de Janeiro. Fã de música brasileira, Ana já cantou com Prince e com os Rolling Stones.

O primeiro contacto de Ana Moura com o fado deu-se ainda na infância. Anos mais tarde, a curiosidade levou-a na direcção do pop, do rock e da soul music. Foi a cantora da banda "Sexto Sentido", chegando inclusive a gravar um disco, mas um convite reaproximou-a das suas origens musicais.

"Fui chamada para cantar numa casa tradicional de fado em Lisboa. Aí tudo mudou”, conta Ana, que se apresentou pela primeira vez no Brasil, ontem á noite sexta-feira, abrindo o festival Back2Black, na Estação Leopoldina, no Rio de Janeiro.

Acompanhada por José Manuel Neto (guitarra portuguesa), José Elmiro (viola) e Filipe Larsen (viola baixo), a cantora interpretou as canções do seu quarto e mais recente álbum, "Leva-me aos fados", e mostrou que o fado, pode ser mais contemporâneo, sem perder a essência.

“Acho que o fado tem que ter uma roupagem um pouco diferente, ser mais actual. Uma nova geração de músicos está introduzir influências um pouco diferentes, o que já ajuda a dar uma sonoridade mais actual. E faz com que as gerações mais novas também se identifiquem. Se ouvir um fado com uma letra que fala sobre as dificuldades de uma geração que não é minha, eu não o escolho para cantar. Porque não me identifico”, explica a cantora.

Fã de música brasileira, Ana Moura contou com a participação especial de Gilberto Gil em grande parte da sua actuação.

“Gil marcou o meu crescimento musical. Vamos cantar um fado e algumas músicas dele. Será uma mistura de sonoridades”, destacou a fadista, ainda antes de entrar em palco. Citou ainda, Nana Caymmi, Elis Regina, Chico Buarque, Caetano Veloso e Dorival Caymmi como alguns dos seus artistas brasileiros favoritos.

O encontro com o cantor baiano foi mais um para a galeria de ilustres duetos que a cantora acumula na carreira. Em 2007, Ana Moura foi convidada por Mick Jagger para cantar “No expectations” com os Rolling Stones durante um show da banda no Estádio de Alvalade, na capital portuguesa. Na época, Ana tinha participado do "The Rolling Stones project", em que artistas faziam versões para hits da banda, sempre com a colaboração de um dos Stones em estúdio.

“Cantámos 'No expectations'. Foi um momento espectacular. Estava supernervosa, porque o Mick cantamos em tons muito diferentes. Então tive que inventar uma nova melodia em cima da hora e que coubesse naquela estrutura musical. Isso deixou-me muito ansiosa. Mas, quando subi no palco, Keith Richards começou logo a brincar comigo. Acho que fizeram isso para me deixar mais à vontade", contou Ana Moura, que também dividiu os microfones com o cantor Prince na música "Walk in sand", durante um festival, no início deste ano.

Antes de enfrentar o publico carioca, pela primeira vez, Ana, disse estar com muitas expectativas e muita ansiedade.

"Estou muito entusiasmada. Já me disseram que o público carioca é muito carinhoso com os artistas. Aliás, as pessoas no Brasil são naturalmente comunicativas e muito simpáticas", elogiou a cantora.

Além dos shows de Ana Moura e Gilberto Gil, o festival Back2Black, que acontece no Rio entre os dias 26 e 28 de Agosto, vai contar com as apresentações das cantoras Macy Gray e Chaka Khan, do cantor Aloe Blacc, do grupo africano Tinariwen e de artistas brasileiros como Seu Jorge (acompanhado do grupo Almaz), a banda Tono e do cantor Moreno Veloso.


sexta-feira, 26 de agosto de 2011

George Harrison: Living in the Material World - O filme.

Foi divulgado o trailer de George Harrison: Living in the Material World (em baixo). O filme tem a direcção de Martin Scorsese e é um documentário sobre a vida do guitarrista dos Beatles.

As informações sobre a data de estreia é que são contraditórias. Diferentes sites apontam Setembro e Outubro para exibição pela HBO nos Estados Unidos. Na Inglaterra, deve acontecer uma transmissão pela BBC em Novembro.

A expectativa é de que o filme tenha mais de 3 horas de duração (a exibição na TV deverá ser dividida em duas partes). O cartaz (e possível capa da versão em DVD e Blu-Ray) divulgado é o da foto aqui publicada.

Living in the Material World trará entrevistas inéditas com Paul McCartney, Ringo Starr, Eric Clapton, Yoko Ono e Phil Spector, entre outros. O documentário contou com apoio total da viúva Olivia Harrison, que seleccionou uma grande quantidade de fotos, anotações e gravações inéditas para o projecto.

Scorsese é um dos grandes documentaristas do rock. Desde The Last Waltz, com The Band, o cineasta foi o responsável por No Direction Home, sobre Bob Dylan, e Shine a Light, com os Rolling Stones, além da vigorosa série Blues.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Quem foi Jerry Leiber ?

No passado dia 22, faleceu Jerry Leiber. Tinha 78 anos e morreu de causas desconhecidas.

Compositor lendário na história do rock, em parceria com Mike Stoller criou hits como Hound Dog, Stand by Me, Jailhouse Rock, Kansas City e Poison Ivy. A dupla é aclamada como uma das mais importantes dos primórdios do rock.

Leiber era o responsável pelas letras das canções. Grande amante de blues e R&B, dizia que tinha a alma negra. Muitas vezes com mensagens subliminares (ou mesmo tão explícitas ao ponto de não se acreditar que eram sobre o que pareciam), as suas palavras tratavam de temas polémicos (como Poison Ivy, que fala sobre a gonorréia) e alcançavam o topo das listas de vendas numa época em que a sociedade era extremamente conservadora e atrasada.

Vale lembrar que, quando o rock surgiu, os artistas eram apenas intérpretes. O trabalho de composição era feito por outros profissionais da indústria. Apenas com nomes como Chuck Berry, Bob Dylan e os Beatles é que essa realidade foi alterada.

As músicas de Jerry Leiber e Mike Stoller foram gravadas por artistas e bandas como Elvis Presley, Beatles, Rolling Stones, Drifters, Coasters, Johnny Cash, Screamin’ Jay Hawkins, Jeff Buckley, Frank Zappa, Joe Cocker, Searchers, David Bowie, Easybeats, Grateful Dead, Alice Cooper, Jerry Lee Lewis, ZZ Top, T-Bone Walker, Édith Piaf, Ringo Starr, Tielman Brothers, Animals, Buck Owens, Ike Turner, Link Wray, P.J.Proby, Cliff Richard, Taj Mahal, Nazareth, Mummies, Tom Petty & The Heartbreakers, Manfred Mann, Canned Heat, Bill Haley & His Comets, The Sensational Alex Harvey Band, Ritchie Valens, Frank Sinatra, Jeff Beck, Jimmy Carl Black, Pat Boone, Johnny Burnette, Everly Brothers, John Entwistle, Carl Perkins, Status Quo, Stray Cats, Surfaris, Gene Vincent And His Blue Caps, Spencer Davis Group, Wanda Jackson, Alexis Korner’s Blues Incorporated, Little Richard, Roberto Carlos, White Stripes, Dave Clark 5, Françoise Hardy, The Brian Setzer Orchestra, Neil Young, Eric Burdon, Rita Lee, Kingsmen, Beach Boys, Johnny Winter, Young Rascals, The Band, Paul Revere & The Raiders, Gram Parsons, Lovin’ Spoonful, Buddy Holly, T.Rex, The Jam, Jimi Hendrix, John Lennon, Otis Redding,Sonny & Cher, Sam The Sham, The Ventures, Marvin Gaye, Ry Cooder, The 5.6.7.8’s, Bad Company e até as Shaggs.

Por: Jude Quinn

domingo, 7 de agosto de 2011

Shuggie Otis. Filho de peixe, sabe nadar



Filho de peixe, sabe nadar. Johnny Alexander Veliotes herdou do pai não apenas o nome, mas sobretudo o talento musical.

Filho de Johnny Otis (cujo nome de batismo é John Alexander Veliotes), um dos pioneiros do rock norte-americano, Shuggie Otis nasceu em Los Angeles em 30 de Novembro de 1953, e aos doze anos já tocava em clubes nocturnos acompanhando o pai. Para disfarçar a tenra idade, escondia-se atrás de enormes óculos escuros e camadas de maquilhagem, já que, pela lei americana, não poderia apresentar-se profissionalmente sendo ainda um mero adolescente
Desde cedo revelou ser um prodígio. Além da guitarra, seu instrumento preferido, tocava com perfeição também piano, órgão, bateria e baixo. O seu talento precoce impressionava a todos que o conheciam, e chamou a atenção de Al Kooper, que o convidou para substituir Stephen Stills no seu projecto Super Sessions, que já tinha rendido um elogiadíssimo álbum lançado em Julho de 1968.
Ao lado de Kooper, Shuggie, então com apenas 15 anos, gravou o disco Kooper Sessions: Super Session Vol II, gravado em 1969 e lançado em 1970. No álbum, além de Kooper, Shuggie contracenou com o baixista Stu Woods, com o baterista Wells Kelly, com o pianista Mark Klingman e com os backing vocals da The Hilda Harris-Albertine Robinson Singers.
O disco era dividido em dois lados distintos: o primeiro, baptizado como The Songs, era voltado para o gospel e para o rhythm & blues, enquanto o segundo, chamado The Blues, trazia o banda improvisando sobre bases de blues. A performance de Shuggie Otis chamou muita atenção, com o jovem recebendo rasgados elogios da crítica e dos próprios músicos, além de render o convite para a gravação de um álbum solo pela Epic.
Um facto importante que deve ser mencionado é que Shuggie cresceu tendo contacto directo e convivência quase diária com músicos talentosíssimos como Sly Stone e Arthur Lee, dos aclamados Love, além dos instrumentistas que acompanhavam o seu pai.
Outra passagem interessante é a participação de Shuggie no álbum Hot Rats, lançado por Frank Zappa em 1969. Nesse disco, Shuggie Otis toca baixo na faixa que abre o LP, a clássica Peaches en Regalia. O músico também participou de sessões de gravação ao lado de nomes como Etta James, Cal Tjader e Eddie Vinson.
Em 1970 chegou às lojas o primeiro trabalho solo de Shuggie Otis. Com o título de Here Comes Shuggie Otis, o álbum é um primor, mesclando com enormes doses de talento elementos do rock, blues, funk, soul e jazz. O resultado final é um dos melhores discos lançados nos anos setenta, infelizmente pouco conhecido do público em geral, mas presença garantida na prateleira dos mais entendidosdos. Entre as faixas, pérolas como Oxford Gray, Shuggie´s Boogie, Hurricane, Gospel Groove e The Hawks.
Em seguida, Shuggie voltou para o estúdio e gravou o seu segundo album, Freedom Flight, lançado em 1971. Mais uma vez explorando a mistura dos géneros musicais negros com o rock, nosso herói gravou outro óptimo álbum, apontando para uma carreira promissora. Entre as faixas, destaque para Ice Cold Daydream, Sweet Thang, Me and My Woman e sensacional faixa-título, uma jóia free jazz com mais de doze minutos.
Após estes dois primeiros discos, Shuggie, retirou-se do cenário musical e trabalhou obsessivamente durante três anos no seu próximo álbum. Finalmente, em 1974 chegou às lojas o aguardado Inspiration Information. O disco foi instantaneamente aclamado pela crítica como uma obra-prima. Shuggie toca todos os instrumentos do álbum, num trabalho de arquitectura sonora semelhante ao de um artesão. O que se ouve no disco mostra quanto o jovem músico estava bem à frente do seu tempo. A inserção de beats electrónicos nas composições deixou muita gente de queixo caído, e influenciou definitivamente a música negra pós-Inspiration Information, notoriamente génios comerciais como Michael Jackson e Prince.
Talvez a principal influência de Shuggie no LP tenha sido outro ícone da música negra, Curtis Mayfield. A delicadeza das canções e as melodias doces que saltam dos sulcos ficam de imediato, nos nossos ouvidos e sentidos, soando como um bálsamo reconfortante.
Aclamado por Inspiration Information, um universo repleto de possibilidades apontava para o futuro de Shuggie Otis. O guitarrista foi convidado para ingressar nos Rolling Stones no lugar de Mick Taylor, mas recusou a oferta pela chance de trabalhar com Quincy Jones no seu quarto álbum – que, infelizmente, nunca viu a luz dia.
Uma série de incidentes com outros músicos e problemas durante os espectáculos, aos poucos deram fama de pessoa difícil, deixando Shuggie, sózinho, entregue ao seu "mau feitio". O músico, já naturalmente introspectivo e com propensão à reclusão, afastou-se definitivamente dos palcos, produzindo apenas trabalhos como músico de estúdio contratado.
No final dos anos setenta algumas músicas suas foram regravadas por outros artistas, direciconando os holofotes sobre Otis. Aliado a isso, faixas gravadas por Shuggie começaram a ser incluídas com frequência em colectâneas, despertando nos ouvintes o interesse e a curiosidade sobre o legado do músico. Este processo alcançou seu ápice nos anos 2000, e culminou com o relançamento de seu principal trabalho, a obra-prima Inspiration Information, pela gravadora Luaka Bop, do pesquisador e líder dos Talking Heads, David Byrne. Essa reedição de Inspiration Information chegou às lojas em 03 de Abril de 2001 com uma nova capa e com a inclusão quatro faixas bónus, todas retiradas do álbum Freedom Flight, de 1971 – Strawberry Letter 23, Sweet Thang, Ice Cold Daydream e Freedom Flight.
Nos últimos anos, Shuggie Otis tem feito algumas gravações esporádicas, como o registo das faixas Violet in Blue e Novemberin´, esta última presente na compilação de mesmo nome, lançada em 2008. Além disso, colaborou com Mos Def e com Beyonce.
Pessoalmente, apesar de considerar Inspiration Information uma obra-prima inquestionável, recomendo como porta de entrada para o universo multicolorido de Shuggie Otis a sua estreia, Here Comes Shuggie Otis, de 1970, um álbum perfeito e coeso na medida certa.
Pra fechar, uma "dica": se forem até Sebastopol, pequena cidade californiana com quase oito mil habitantes distante cerca de 80 kilômetros de San Francisco, são bem capazes de se cruzarem com Shuggie Otis pelas ruas e praças do lugar, já que Shuggie reside nesse lugarejo, há vários anos. Se isso acontecer, não perca a "chance de bater um papo" com um dos músicos mais influentes das últimas décadas.
Por: Ricardo Siling

sábado, 6 de agosto de 2011

A Whiter Shade Of Pale, é imortal, e um caso de tribunal

Matthew Fisher,organista de formação clássica, é o responsável pelo solo de abertura no "A Whiter Shade Of Pale", dos Procol Harum.

Matthew ganhou em 2006, a sua luta em tribunal, na qual reclamava uma parte dos royalties, por autoria do que seria o tema assinatura dos Procol Harum, e um sucesso imortal, e global.

Matthew Fisher, agora um programador de computadores, tinha reivindicado metade dos direitos de autor do tema lançado em 12 de Maio de 1967, alegando que o som absolutamente distinto do seu órgão Hammond, era responsável por 50% do mega sucesso.

Na acção, Matthew pedia que Gary Brooker, este sim o autor do tema em parceria com o letrista, Keith Reid, lhe pagasse royalties, estimando o valor,em cerca de 1 milhão de Libras.

Na decisão, o juiz atribuiu a participação de 40% de Fisher nos direitos autorais, dizendo que a sua contribuição para a música foi "substancial", mas não tão grande quanto a de Gary Brooker. A sentença ditou ainda que Matthew não deveria receber royalties futuros de covers ou outras reproduções da gravação original.

Gary Brooker, que ainda faz espectáculos com os Procol Harum, terá agora que pagar cerca de 500,000 Libras, a Matthew.

Ao tomarem conhecimento da decisão Gary e Keith Reid, emitiram um comunicado discordando da decisão do tribunal e dizendo:

"Isto vai originar que qualquer músico que tenha tocado em qualquer gravação nos últimos 40 anos, o tema, têm o direito potencial de co-autoria", disse o comunicado.

A Whiter Shade Of Pale, foi um enorme sucesso em todo o mundo, e já vendeu mais de 10 milhões de cópias. Em 2004, a revista Rollig Stone, colocáva-o no número 57, numa lista das 500 melhores canções de sempre.

A melodia foi criada por Brooker, baseado numa passagem de "Air on a G String and Sleepers Awake", de Johann Sebastian Bach .

Matthew Fisher que tocou Hammond na banda de 1967-1969, sempre afirmou que o que estava em causa, não era o dinheiro, mas sim o reconhecimento da sua participação na autoria do tema. Acrescentando:

"Rejeito a sugestão de que tenha sido Gary Brooker, o mentor da melodia. Eu, antes de entrar nos Procol Harum, estudei, ouvi e executei Bach durante oito anos. Era um especialista quando se tratava de Bach" afirmou Matthew em tribunal.

Por sua vez, o advogado de Brooker, argumentou que a canção fora composta muito antes de Matthew entrar para o grupo, na época em que eles ainda se chamavam The Paramounts, e eram liderados por Gary Brooker e Robin Trower, fazendo ainda parte da banda, Chris Copping e B.J. Wilson.

Matthew Fisher revelou ainda a sua angústia, e desapontamento, por nunca ter sido mencionado como co-autor da música, dizendo que se pudesse "voltar numa máquina do tempo" para 1967, nunca integraria a banda.

O caso arrastou-se pelos tribunais até 2009, e ainda causa grande desconforto a Gary Brooks, segundo ele.

Tricas á parte, A Whiter Shade Of Pale, é imortal. Thanks guys.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Eric Clapton’s Rainbow Concert

No ano de 1971, Eric Clapton era aclamado mundialmente como o melhor guitarrista vivo do mundo, levando-se em conta que Jimi Hendrix partira desta para melhor no ano anterior, porém a sua vida pessoal estava pior que nunca.

Clapton estava apaixonado pela esposa de George Harrison, o seu melhor amigo — com quem viria a casar-se em 1979 — e estava a afundar-se no vício, de heroína, e no alcoolismo. A sua banda, a fenomenal Derek and the Dominos, desmembrara-se em Abril, logo após o lançamento de um dos álbuns mais incríveis de toda a carreira de Clapton, o fabuloso Layla and Other Assorted Love Songs.

Em Agosto, apresentou-se ao lado de George Harrison e outros musicos,no Madison Square Garden, em Nova York, no famoso Concert for Bangladesh, e depois desapareceu do mapa, refugiando-se, como um ermitão, na sua casa, para um longo período de inactividade e isolamento. Eric não atendia o telefone ou a campainha da porta, salvo para os seus traficantes ou outro amigo mais próximo. Dormia o dia todo após passar noites em claro tocando guitarra, injectando heroína, e esperando que a morte o viesse buscar.

George Harrison, aparecia de vez em quando e ambos tocavam guitarra durante horas, porém Clapton sentia-se desconfortável pois desejava roubar a mulher do seu melhor amigo, justamente a pessoa de quem ele mais gostava, como se fosse um irmão.

Outro dos poucos amigos que apareciam regularmente era Pete Townshend, guitarrista dos Who, sob o pretexto de o ajudar a finalizar algumas faixas inacabadas dos Derek and the Dominos. Eric agradeceu a Pete pela ajuda, mas havia perdido o interesse pelo projecto e entregara-se a uma sonolência, a uma inércia total.

Townshend então, resolveu "partir a loiça", e confrontou Clapton, dizendo que todos sabiam que ele estava com sérios problemas com a heroína e que já havia inclusive conversado a esse respeito com George Harrison e Steve Winwood, para encontrarem uma forma de ajudar o amigo e salva-lo da morte certa.

Clapton ficou chocado e horrorizado. Não imaginava que os seus amigos soubessem do seu estado. Sentiu-se constrangido, confuso e embaraçado pelo facto das pessoas estarem preocupadas com ele, mas não ofereceu resistência. “Se vocês acham que me podem ajudar, vamos em frente.” A conversa teve o condão de reacender um pouco, o brio, a auto estima de Eric, pois nesse momento era um prisioneiro do vício, um escravo inerte.

Nos últimos meses de 1972, Pete Townshend foi convidado para tocar num concerto como parte da “Fanfare for Europe”, uma grande celebração para comemorar a entrada da Grã-Bretanha no Mercado Comum Europeu. Pete arguiu que os Who não iriam actuar, mas comprometeu-se a formar outra banda para o evento. Townshend viu que seria uma oportunidade perfeita para trazer Clapton de volta aos palcos, ao lado de amigos, e incentiva-lo a retomar a sua carreira, e romper com os maus hábitos.

O concerto foi marcado para o dia 13 de Janeiro de 1973 no Rainbow Theathe, no Finsbury Park, ao norte de Londres.

O Rainbow, um teatro pequeno e decadente, era conhecido como Astoria Theatre nos anos sessenta e em meados da década os Beatles, tinham actuado no local. No início dos anos setenta, bandas iniciantes como os Led Zeppelin, Jethro Tull e Yes tocaram por lá, mas o local era geograficamente de difícil acesso aos fãs de rock, numa zona desprovida de atractivos, e o outrora glorioso interior do teatro lembrava um velho cinema a necessitar de uma reforma total.

Pete Townshend não se poupou a esforços para ajudar o amigo e, com o auxílio de George Harrison e Steve Winwood, montou a banda de "brothers" que iria acompanhar Clapton no Rainbow.

Nas guitarras, além do próprio Pete e obviamente Eric, chamou o guitarrista dos Faces, Ronnie Wood.

Steve Winwood, líder dos Traffic, que tinha tocado com Clapton nos Blind Faith, assumiu os teclados e chamou seus colegas dos Traffic, Rick Grech (também ex-Blind Faith) para o baixo, Jim Capaldi para a bateria e Rebop para as demais percussões. O baterista Jimmy Karstein foi convocado para a segunda bateria. A banda foi baptizada com o nome The Palpitations. Os ensaios foram marcados para Dezembro na casa de Ronnie Wood em Richmond.

Durante o tempo em que permanecera recluso, Eric ouviu muita música e tocou guitarra diariamente, mas para desenvolver a sua habilidade com plenitude, era preciso interagir com outras pessoas, e desde o concerto para Bangladesh, ele não tocara com outros músicos. No primeiro ensaio na casa do futuro Rolling Stone, Clapton tentou tocar e participar, mesmo a um nível limitado, mas intimidou-se ao constatar a sua deficiência em tocar, constatando que os seus dedos não obedeciam ao que seu cérebro mandava. Steve Winwood encorajou-o e transmitiu-lhe confiança, e aos poucos os ensaios evoluíram consideravelmente.

Na noite do espectáculo, Clapton chegou ao Rainbow atrasado e completamente entropecido, sob o efeito de drogas e álcool, deixando Pete Townshend de cabelos em pé. Na plateia, além dos fãs, uma constelação de "rock stars" estava presente para testemunhar o retorno de Clapton aos palcos. Logo na primeira fila, estavam George Harrison e Ringo Starr, sentados ao lado de Keith Moon, Joe Cocker, Elton John e Jimmy Page, que naquela altura era o mais celebrado astro do rock da actualidade, com a sua banda atingindo níveis estratosféricos de popularidade.

O show abriu com Layla. A banda estava tão entrosada, que tudo soou perfeitamente, embora Clapton tenha declarado, posteriormente que ainda estava “quilômetros fora da rota”.

A segunda canção da noite foi Badge, uma parceria de Clapton e Harrison composta para o último álbum do Cream. Eric, Pete e Ronnie fizeram sinal para que George subisse ao palco, mas este preferiu continuar assistindo o espectáculo na sua cadeira, na primeira fila.

Em sequência, tocaram Blues Power e Roll It Over e a cover para a balada Little Wing, de Jimi Hendrix, que Clapton gravou magistralmente no álbum do Derek and the Dominos, dando uma nova carga de emoção à canção originalmente lançada no disco Axis: Bold As Love dos Jimi Hendrix Experience.

A incrível recepção da plateia foi comovente para Eric.

Todos os presentes sabiam que estavam a testemunhar um momento único, um grande show de uma banda absurdamente boa.

O espectáculo prosseguiu com canções do excelente primeiro disco solo de Clapton (Bottle of Red Wine, After Midnight), músicas do álbum dos Dominos (Bell Botton Blues, Tell the Truth) e Presence of the Lord, dos Blind Faith, já que três quartos do Blind Faith estava no palco.

Steve Winwood então, assumiu os vocais no tema Pearly Queen, do segundo álbum dos Traffic, já que quase todos os membros da banda estavam presentes na empreitada.

Clapton, tocou então o clássico Key to the Highway, já há tempos incorporada no seu repertório, e encerrou a primeira parte do concerto com uma versão sublime de Let It Rain. No bis, a banda tocou uma endiabrada versão de Crossroads de Robert Johnson, que Clapton já havia gravado com os Cream. Foi um final apoteótico para um dos mais memoráveis concertos já realizados.

Logo após o concerto no Rainbow, Clapton voltou a esconder-se e a “afundar-se em novas profundezas”, consumindo quantidades imensas de heroína e bebendo duas garrafas de vodca por dia. O guitarrista sentia-se muito grato aos amigos, principalmente a Pete, por se terem preocupado e ajudado a colocá-lo de novo na cena musical, mas simplesmente sentia que ainda não estava pronto. Somente, mais de um ano depois, é que Clapton formou uma nova banda e retornou a sua actividade com o álbum 461 Ocean Boulevard.

Ainda em 1973 foi lançado o álbum ao vivo do concerto, intitulado Eric Clapton’s Rainbow Concert, contendo apenas seis canções. O lado um trazia as faixas Badge, Roll It Over e Presence of the Lord. O lado dois apresentava as músicas Pearly Queen, After Midnight e Little Wing.

Músicos:
Eric Clapton - guitarra base e vocais
Pete Townshend - guitarra e vocais
Ronnie Wood - guitara e vocais
Ric Grech - baixo
Steve Winwood - teclado e vocais
Jim Capaldi - bateria
Jimmy Karstein - bateria
Rebop Kwaku Baah - percussão

Faixas:
1. Layla (Clapton, Gordon) – 6:25
2. Badge (Clapton, Harrison) – 3:18
3. Blues Power (Clapton, Russell) – 6:03
4. Roll It Over (Clapton, Whitlock) – 4:38
5. Little Wing (Hendrix) – 4:36
6. Bottle of Red Wine (Bramlett, Clapton) – 3:5
7. After Midnight (Cale) – 4:25
8. Bell Bottom Blues (Clapton) – 6:25
9. Presence of the Lord (Clapton) – 5:18
10. Tell the Truth (Clapton, Whitlock) – 6:04
11. Pearly Queen (Capaldi, Winwood) – 4:55
12. Key to the Highway (Broonzy, Segar) – 5:4
13. Let It Rain (Bramlett, Clapton) – 7:46
14. Crossroads (Johnson) – 4:19

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Música gravada por Tony Bennett e Amy Winehouse será lançada em single

Tony Bennett confirmou, em entrevista ao programa de TV norte-americano Today Show nesta quarta, 3 de Agosto, que a música que gravou com Amy Winehouse, será lançada como single beneficente.

"Body and Soul" foi gravada no primeiro semestre deste ano é a última gravação da cantora, e irá aparecer também no disco Tony Bennett: Duets II, com lançamento previsto para 20 de Setembro.

"Todos nós estava-mos apreensivos", disse Bennett sobre a parceria, em entrevista à Rolling Stone. "Mas ela foi a melhor de todos os jovens artistas que eu conheci nessa cena nos últimos 10 ou 15 anos. Ela cantava jazz verdadeiro. É muito trágico. Eu queria conversar com ela, dizer que se ela não parasse, ia morrer. Queria falar para ela sair das drogas, mas infelizmente nunca tive essa chance."

Durante o Today Show, que marcou o aniversário dos seus 85 anos, Tony Bennett, afirmou:

"O que vai acontecer é que vamos lançar ["Body and Soul"] antes do disco. E os royalties vão para uma fundação que o pai dela criou para ensinar os jovens a não usar drogas".

Mitch Winehouse afirmou, pouco depois da morte de Amy, que iria criar uma instituição beneficente em homenagem à filha, a fim de ajudar jovens, dependentes de químicos.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Winton Marsalis e Eric Clapton - Play the Blues

Eric Clapton, tem nova parceria, e novo CD, á venda. Há quatro meses, o músico realizou um sonho de infância: tocar num concerto de jazz. A apresentação teve parceria e direcção de Wynton Marsalis num espectáculo, no baile de gala anual da Jazz Lincoln Center Orchestra, em Nova York. Além deste primeiro encontro, Marsalis e Clepton, voltaram a reunir-se com os membros do JLCO para mais dois concertos públicos.

Clapton e Marsalis teoricamente caminham em terrenos diferentes, porém há uma via que faz o cruzamento directo, tanto com o rock quanto com o jazz: o blues.

Oportunamente, a primeiro apresentação de Clapton e Marsalis foi registrada em áudio e vídeo para um futuro lançamento. É por isso que em breve, chegará às lojas (em 13 de Setembro) o CD e DVD Wynton Marsalis & Eric Clapton Play the Blues – Live From Jazz at Lincoln Center.

Marsalis é o diretor artístico do Jazz at Lincoln Center e trabalhou com a orquestra para organizar o repertório associado ao estilo do convidado ilustre, que pode sugerir grande parte dos temas. A única música fora da escolha do guitarrista foi Layla, um dos clássicos do álbum Layla and Assorted Love Songs, tema que foi incluído a pedido do baixista Carlos Henriquez.

Confiram o alinhamento do CD:

1 Ice Cream
2 Quarenta e Quatro
3 Joe Turner Blues
4 The Last Time
5 Careless Love
6 Kidman Blues
7 Layla
8 Joliet Bound
9 Just a Closer Walk With Thee –com Taj Mahal
10 Corrine, Corrina – com Taj Majal

Bonus Track apenas no DVD: “Stagger Lee” por Taj Majal.

Segue uma amostra do que veremos em breve, um pouco de “Layla” em versão dixie. Um espetáculo!


terça-feira, 2 de agosto de 2011

Rainha morta, rainha posta ? Será Adele a substituta de Amy Winehouse ?

Adele está na moda! Domina as listas de vendas em todo o planeta, e bate recordes de permanência no primeiro lugar. Ela é simplesmente a maior estrela da actualidade. Como é bom ver, que a música de qualidade está de volta ao mercado comercial, global!

A cantora/compositora em questão, é uma inglesa de apenas 23 anos que canta e compõe como uma veterana. Com claras influencias de Etta James, Robert Flack, Nina Simone e uma pitada de Janis Joplin, Adele é dona de um timbre de voz espetacular, excelente alcance e aquele apurado senso de divisão rítmica que só as grandes cantoras de blues e jazz possuem.

Após ser descoberta pela XL Recordings – através da sua demo no MySpace – lançou o seu primeiro álbum, 19, em 2008.

O disco é um verdadeiro deleite para os ouvidos. Sem pressa, muito bem produzido e executado, tem como principal destaque a madura e afinadíssima voz de Adele.

Temos muitos momentos brilhantes, como na abertura com “Daydreamer” – apenas violão e voz numa interpretação arrebatadora –, “Best for Last” – com claras influências de sua conterrânea Amy Winehouse –, o hit “Chasing Pavements” e a bela versão para “Make You Feel My Love”, do mestre Bob Dylan.

Mas o que realmente chama a atenção é a segurança que Adele demonstrou na sua estreia. Totalmente à vontade, demonstra uma classe impressionante, tanto em sons absolutamente pops – “Cold Shoulder” - como em temas que exigem o máximo de uma cantora – “Melt My Heart to Stone”.

Com o caminho aberto pela igualmente talentosa Amy Winehouse, foi apenas lançar o álbum e esperar pelos frutos.

19, teve vendas inesperadas, e trouxe o nome Adele para o centro das atenções, pavimentando assim o caminho para o mega estrelato com 21, lançado no início de 2011.

Se 19 foi óptimo, 21 conseguiu a proeza de ser ainda melhor.

O hit - que já se tornou clássico – “Rolling in the Deep” abre o álbum com o seu incrível swing, fazendo com que qualquer um de nós sinta vontade de dançar. A temperatura sobe com “Rumour Has It”, que conta com aquela adorável sonoridade de bateria "vintage" e refrão irresistível. A ponte só com piano e cordas é sensacional.

As baladas são o ponto alto, como na dramática “Turning Tables”, na quase country “Don't You Remember” e naquela que faria Janis Joplin dar um largo sorriso de satisfação, “One and Only”.

É um prazer ouvir alguém cantado assim em 2011. O mais interessante é que Adele não precisa gritar nem abusar de fraseados cheios de maneirismos desnecessários e chatos. Ela apenas se entrega de alma às canções – que na maioria são compostas por ela – e deixa o seu talento natural agarrar o ouvinte.

O álbum ficou em primeiro lugar nos EUA e em Inglaterra por diversas semanas, tendo 8 milhões de cópias vendidas no mundo até agora.

Adele acertou em cheio na mouche, com estes seus dois trabalhos. Mistura com maestria pop, blues, jazz e R&B e tem talento de sobra para crescer ainda mais. Além disso, parece ter a cabeça no lugar e não vai cair na mesma armadilha que a Amy Winhouse caiu, e que a levou á sua destruição .

Acredito que este seja apenas o começo da trajectória de uma estrela de primeira grandeza. Está no topo agora e parece ter argumentos para continuar lá.

Por Fabiano Negri, in Collector's Room

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Chuck Berry, tem estátua em St. Louis

Na última sexta-feira 29 de Julho , uma estátua em homenagem a Chuck Berry, de 84 anos de idade, foi inaugurada em St. Louis, nos EUA, a sua cidade natal.

Considerado um dos pais do rock, o guitarrista agradeceu ao público durante o evento com poucas palavras, afirmando não ser muito bom nos discursos.

"Eu não sei o que dizer. Eu posso cantar um pouco. Obrigado, amo a todos vocês", disse aos fãs. Na sequência, um grupo local entoou "Johnny B Good", um clássico do homenageado.

Em entrevista à "Rolling Stone", Berry disse estar honrado, mas que não merecia a homenagem.

Elsie Glickert, ex-integrante do conselho da universidade local, concorda. Esta cidadã, conseguiu um abaixo-assinado contra o projecto, alegando que o músico era "um criminoso e inimigo das mulheres" e ainda criticou o governo por fazer mau uso dos recursos públicos.

Apesar da reclamação de Glickert e das dezenas de pessoas que assinaram a petição, Berry foi recebido calorosamente no evento, aonde também foi exibido um vídeo com saudações de músicos como Little Richard, Michael McDonald e Elvis Costello.

Costello, um dos mais entusiasmados, apoiante do musico, sugeriu que estátuas de Chuck Berry fossem espalhadas em todas as cidades que o guitarrista cita em suas canções.