sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Eric Clapton’s Rainbow Concert

No ano de 1971, Eric Clapton era aclamado mundialmente como o melhor guitarrista vivo do mundo, levando-se em conta que Jimi Hendrix partira desta para melhor no ano anterior, porém a sua vida pessoal estava pior que nunca.

Clapton estava apaixonado pela esposa de George Harrison, o seu melhor amigo — com quem viria a casar-se em 1979 — e estava a afundar-se no vício, de heroína, e no alcoolismo. A sua banda, a fenomenal Derek and the Dominos, desmembrara-se em Abril, logo após o lançamento de um dos álbuns mais incríveis de toda a carreira de Clapton, o fabuloso Layla and Other Assorted Love Songs.

Em Agosto, apresentou-se ao lado de George Harrison e outros musicos,no Madison Square Garden, em Nova York, no famoso Concert for Bangladesh, e depois desapareceu do mapa, refugiando-se, como um ermitão, na sua casa, para um longo período de inactividade e isolamento. Eric não atendia o telefone ou a campainha da porta, salvo para os seus traficantes ou outro amigo mais próximo. Dormia o dia todo após passar noites em claro tocando guitarra, injectando heroína, e esperando que a morte o viesse buscar.

George Harrison, aparecia de vez em quando e ambos tocavam guitarra durante horas, porém Clapton sentia-se desconfortável pois desejava roubar a mulher do seu melhor amigo, justamente a pessoa de quem ele mais gostava, como se fosse um irmão.

Outro dos poucos amigos que apareciam regularmente era Pete Townshend, guitarrista dos Who, sob o pretexto de o ajudar a finalizar algumas faixas inacabadas dos Derek and the Dominos. Eric agradeceu a Pete pela ajuda, mas havia perdido o interesse pelo projecto e entregara-se a uma sonolência, a uma inércia total.

Townshend então, resolveu "partir a loiça", e confrontou Clapton, dizendo que todos sabiam que ele estava com sérios problemas com a heroína e que já havia inclusive conversado a esse respeito com George Harrison e Steve Winwood, para encontrarem uma forma de ajudar o amigo e salva-lo da morte certa.

Clapton ficou chocado e horrorizado. Não imaginava que os seus amigos soubessem do seu estado. Sentiu-se constrangido, confuso e embaraçado pelo facto das pessoas estarem preocupadas com ele, mas não ofereceu resistência. “Se vocês acham que me podem ajudar, vamos em frente.” A conversa teve o condão de reacender um pouco, o brio, a auto estima de Eric, pois nesse momento era um prisioneiro do vício, um escravo inerte.

Nos últimos meses de 1972, Pete Townshend foi convidado para tocar num concerto como parte da “Fanfare for Europe”, uma grande celebração para comemorar a entrada da Grã-Bretanha no Mercado Comum Europeu. Pete arguiu que os Who não iriam actuar, mas comprometeu-se a formar outra banda para o evento. Townshend viu que seria uma oportunidade perfeita para trazer Clapton de volta aos palcos, ao lado de amigos, e incentiva-lo a retomar a sua carreira, e romper com os maus hábitos.

O concerto foi marcado para o dia 13 de Janeiro de 1973 no Rainbow Theathe, no Finsbury Park, ao norte de Londres.

O Rainbow, um teatro pequeno e decadente, era conhecido como Astoria Theatre nos anos sessenta e em meados da década os Beatles, tinham actuado no local. No início dos anos setenta, bandas iniciantes como os Led Zeppelin, Jethro Tull e Yes tocaram por lá, mas o local era geograficamente de difícil acesso aos fãs de rock, numa zona desprovida de atractivos, e o outrora glorioso interior do teatro lembrava um velho cinema a necessitar de uma reforma total.

Pete Townshend não se poupou a esforços para ajudar o amigo e, com o auxílio de George Harrison e Steve Winwood, montou a banda de "brothers" que iria acompanhar Clapton no Rainbow.

Nas guitarras, além do próprio Pete e obviamente Eric, chamou o guitarrista dos Faces, Ronnie Wood.

Steve Winwood, líder dos Traffic, que tinha tocado com Clapton nos Blind Faith, assumiu os teclados e chamou seus colegas dos Traffic, Rick Grech (também ex-Blind Faith) para o baixo, Jim Capaldi para a bateria e Rebop para as demais percussões. O baterista Jimmy Karstein foi convocado para a segunda bateria. A banda foi baptizada com o nome The Palpitations. Os ensaios foram marcados para Dezembro na casa de Ronnie Wood em Richmond.

Durante o tempo em que permanecera recluso, Eric ouviu muita música e tocou guitarra diariamente, mas para desenvolver a sua habilidade com plenitude, era preciso interagir com outras pessoas, e desde o concerto para Bangladesh, ele não tocara com outros músicos. No primeiro ensaio na casa do futuro Rolling Stone, Clapton tentou tocar e participar, mesmo a um nível limitado, mas intimidou-se ao constatar a sua deficiência em tocar, constatando que os seus dedos não obedeciam ao que seu cérebro mandava. Steve Winwood encorajou-o e transmitiu-lhe confiança, e aos poucos os ensaios evoluíram consideravelmente.

Na noite do espectáculo, Clapton chegou ao Rainbow atrasado e completamente entropecido, sob o efeito de drogas e álcool, deixando Pete Townshend de cabelos em pé. Na plateia, além dos fãs, uma constelação de "rock stars" estava presente para testemunhar o retorno de Clapton aos palcos. Logo na primeira fila, estavam George Harrison e Ringo Starr, sentados ao lado de Keith Moon, Joe Cocker, Elton John e Jimmy Page, que naquela altura era o mais celebrado astro do rock da actualidade, com a sua banda atingindo níveis estratosféricos de popularidade.

O show abriu com Layla. A banda estava tão entrosada, que tudo soou perfeitamente, embora Clapton tenha declarado, posteriormente que ainda estava “quilômetros fora da rota”.

A segunda canção da noite foi Badge, uma parceria de Clapton e Harrison composta para o último álbum do Cream. Eric, Pete e Ronnie fizeram sinal para que George subisse ao palco, mas este preferiu continuar assistindo o espectáculo na sua cadeira, na primeira fila.

Em sequência, tocaram Blues Power e Roll It Over e a cover para a balada Little Wing, de Jimi Hendrix, que Clapton gravou magistralmente no álbum do Derek and the Dominos, dando uma nova carga de emoção à canção originalmente lançada no disco Axis: Bold As Love dos Jimi Hendrix Experience.

A incrível recepção da plateia foi comovente para Eric.

Todos os presentes sabiam que estavam a testemunhar um momento único, um grande show de uma banda absurdamente boa.

O espectáculo prosseguiu com canções do excelente primeiro disco solo de Clapton (Bottle of Red Wine, After Midnight), músicas do álbum dos Dominos (Bell Botton Blues, Tell the Truth) e Presence of the Lord, dos Blind Faith, já que três quartos do Blind Faith estava no palco.

Steve Winwood então, assumiu os vocais no tema Pearly Queen, do segundo álbum dos Traffic, já que quase todos os membros da banda estavam presentes na empreitada.

Clapton, tocou então o clássico Key to the Highway, já há tempos incorporada no seu repertório, e encerrou a primeira parte do concerto com uma versão sublime de Let It Rain. No bis, a banda tocou uma endiabrada versão de Crossroads de Robert Johnson, que Clapton já havia gravado com os Cream. Foi um final apoteótico para um dos mais memoráveis concertos já realizados.

Logo após o concerto no Rainbow, Clapton voltou a esconder-se e a “afundar-se em novas profundezas”, consumindo quantidades imensas de heroína e bebendo duas garrafas de vodca por dia. O guitarrista sentia-se muito grato aos amigos, principalmente a Pete, por se terem preocupado e ajudado a colocá-lo de novo na cena musical, mas simplesmente sentia que ainda não estava pronto. Somente, mais de um ano depois, é que Clapton formou uma nova banda e retornou a sua actividade com o álbum 461 Ocean Boulevard.

Ainda em 1973 foi lançado o álbum ao vivo do concerto, intitulado Eric Clapton’s Rainbow Concert, contendo apenas seis canções. O lado um trazia as faixas Badge, Roll It Over e Presence of the Lord. O lado dois apresentava as músicas Pearly Queen, After Midnight e Little Wing.

Músicos:
Eric Clapton - guitarra base e vocais
Pete Townshend - guitarra e vocais
Ronnie Wood - guitara e vocais
Ric Grech - baixo
Steve Winwood - teclado e vocais
Jim Capaldi - bateria
Jimmy Karstein - bateria
Rebop Kwaku Baah - percussão

Faixas:
1. Layla (Clapton, Gordon) – 6:25
2. Badge (Clapton, Harrison) – 3:18
3. Blues Power (Clapton, Russell) – 6:03
4. Roll It Over (Clapton, Whitlock) – 4:38
5. Little Wing (Hendrix) – 4:36
6. Bottle of Red Wine (Bramlett, Clapton) – 3:5
7. After Midnight (Cale) – 4:25
8. Bell Bottom Blues (Clapton) – 6:25
9. Presence of the Lord (Clapton) – 5:18
10. Tell the Truth (Clapton, Whitlock) – 6:04
11. Pearly Queen (Capaldi, Winwood) – 4:55
12. Key to the Highway (Broonzy, Segar) – 5:4
13. Let It Rain (Bramlett, Clapton) – 7:46
14. Crossroads (Johnson) – 4:19

Sem comentários: