quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Portugal, o meu paraíso gastronómico...

Há uns bons anos que deixei de ir a restaurantes estrelados, desses que depois de duas horas de congestionamento de trânsito, paga-se uma nota pelo estacionamento, espera-se uma hora, ou mais em pé, por um lugar numa mesa apertada para comer porções mínimas de uma comida estranha que aparenta ser um monumento ao movimento expressionista e cujas porções são tão pequenas, suficientes somente para alimentar um canário belga.

Muitas das vezes saí desses lugares sentindo-me depenado do meu rico dinheirinho, com uma vontade enorme de parar numa tasca ou numa roulote de beira de estrada , para matar realmente a fome. Alguns mais deslumbrados com a cultura da haute cuisine, seja lá o que isso signifique, dirão que, antes de mais nada, esse é o preço (elevado, diga-se) a pagar por uma "experiência gastronómica". Pois bem, que fiquem com ela.

A verdade é que hoje em dia come-se mal. E paga-se muito. Esquecem os senhores restauranteurs que o que interessa, ao fim e ao cabo, é a satisfação do seu cliente e não atender à sua vaidade pessoal ou ao ego inflamado dos "chefs", que é como se chamam hoje os cozinheiros de antigamente. Descontado o trivial do dia a dia, comer, antes de mais nada, requer atração pela aventura, requer entrega total. Cozinheiros existem em qualquer lugar, variam somente o gosto e a matéria prima.

Pois é. E o que dirão os de estômagos mais sensíveis ao saber que no Japão, por exemplo, se come sashimi feito com o peixe ainda vivo ? Ou no Laos que se serve baratas (não batatas) fritas ? Na Argélia servem-se gafanhotos na brasa, um must ao cair da tarde. No Alasca, território americano, remember..., os nativos lambem os beiços com intestinos crus, de foca. Na Noruega, línguas e caras de bacalhau são o prato do dia. No México, fritada de grilos. Sem falar no Vietname, aonde se come qualquer coisa que ande, nade, voe ou rasteje. E a coisa por aí vai...


 
Portugal, é um manancial de surpresas quando o assunto é "boa mesa". Dispensem as "obviedades" à base de bacalhau ou as sardinhas assadas na brasa, bacalhau com batatas a murro, o domingueiro cozido á Portuguesa, verdadeiro enfarta brutos, e quejandos. Deliciem-se com os menos triviais,  jaquinzinhos e pitingas (esses pequenos peixes fritos que se comem inteiros, com cabeça e tudo, às bateladas), os pipis - nada mais do que fígados e moelas de frango, com um molho pra lá de especial - as bifanas, ou as entremeadas, logo a seguir a uma suculenta sopa de pedra, tudo comido em pé, altas horas da noite, ali na roulote da Marginal . E o que dizer, das tripas á moda do Porto, das cataplanas Algarvias, ou de uma deliciosa sopa Alentejana...huummm, isto está-me a abrir o apetite!
Segundo o jornalista e escritor brasileiro, Ruy Castro - meu consultor gastronómico ao escrever este post no seu artigo "Viagens ao redor do estômago" - há "algo de transcendental no porco português que não se consegue explicar".

E segue sugerindo pezinhos de porco à coentrada (pé de porco cozido num caldo de coentros, incluindo as unhas do bicho, saliente-se), sandes de coirato .Ou os túbaros de porco (testículos do animal guisados e servidos em pires, cortados aos cubos). Ainda segundo Ruy Castro, há outras opções além do porco nas tascas portuguesas. Uma seria as caracoletas grelhadas, ou os mais pequeninos e mais saborosos caracóis, que tanta repulsa provocam aos estranjeiros que nos visitam,

Mas, o interessante, é que o autor recomenda cuidado ao pedir um prato em Portugal. Bobó de camarão. É um perigo, dado o significado da palavra bobó em terras lusas. E moqueca pode ser confundido com queca, isto é, "dar uma rapidinha". Portanto, todo cuidado é pouco devido às dificuldades naturais da língua ( se me permitem o trocadlho infame...).

Hoje em dia prefiro a simplicidade de restaurantes comuns feitos para gente comum, como eu e vocês. Nada de lugares da moda, onde vão para ver e serem vistos. Assim, quando quero massas vou a uma trattoria, pizza a uma pizzaria, carne somente em grills ou churrascarias, peixes e crustáceos em cervejarias . Claro, existem os "temáticos", mas desses passo longe. Só não me dou bem com restaurantes japoneses. Lugar aonde a comida vem crua e o guardanapo cozido, não é para o meu bico....

Bon apéttit...!

Fonte: Adaptação a partir de um texto de Mestre Joca

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