quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Wanda Jackson, a rainha do rockabilly, renasce aos 73 anos, nas mãos de Jack White!

Wanda Jackson nasceu em Oklahoma, em 20 de Outubro de 1937; desde cedo, sempre teve o incentivo musical de seu pai, Tom, que era cantor de country music. Ele comprou a primeira guitarra de Wanda, logo na sua adolescência e começou a dar-lhe lições de música, além de incentivá-la a tocar piano; costumava também levá-la para ver artistas como Tex Williams, Cooley Spade e Bob Wills. Em 1952, ela ganhou um concurso de talentos locais e com isso, ganhou um show diário na rádio, de 15 minutos que, pelo seu carisma, logo foram ampliados para 30 minutos; este programa durou vários anos solidificando o talento e a capacidade de Wanda em lidar com seu público e conseguiu gravar vários sucessos.

Em 1954, recebeu um convite irresistível do cantor Hank Thompson, para que integrasse a sua banda. Nessa época, ela já era um nome consagrado no mundo do country e do rockabilly, mas quis acabar o liceu antes de começar a actuar pelos Estados Unidos. Além de seu estilo musical diferenciado e característico, Wanda inovou nos figurinos muito elaborados com ajuda da mãe tornou-se na primeira cantora do gênero a usar glamour extra no palco; o seu diferencial eram os super saltos altos, os seus brincos enormes e vestidos com franjas. Quando saiu em tourné, em 1955 e 1956, fez shows ao lado de Elvis Presley que a adorava e ela, por sua vez, dizia que cantava rockabilly por causa do pai e de Elvis.

Em 1956, Jackson finalmente assinou com a Capitol Records; uma relação que durou até o início dos anos 70. A carreira musical dela sempre misturou o country e o rockabilly; ela fez isso muitas vezes, colocando uma música de cada estilo em cada lado de seus compactos. Em 1958, explodiu com o rockabilly "Fujiyama Mama", que se tornou um grande sucesso no Japão, transformando-a num mito por lá.

A sua versão de "Let's Have a Party", que Elvis tinha gravado antes, foi outro hit histórico em 1960. Um ano depois, ela estava de volta ao topo das listas de vendas country music com "Right or Wrong" e "In the Middle of a Heartache". Em 1965, ela chegou ao topo das vendas alemãs com o "Santa Domingo", cantada em alemão. Em 1966, teve mais dois hits memoráveis que foram "The Box It Came In" e "Tears Will Be the Chaser for Your Wine", continuando com enorme sucesso até o final dos anos 60.

Jackson, até os anos 70, nunca deixou de fazer as suas turnês regularmente; foi duas vezes nomeada para o prêmio Grammy e foi uma grande atração em Las Vegas. Casou-se com o programador da IBM Wendell Goodman, em 1961, e em vez de desistir de cantar - como fazia a maioria das cantoras da época – foi seu marido, Goodman, que largou o emprego para gerir a carreira da esposa. Em 1971, Jackson e o seu marido abraçaram o cristianismo, o que, segundo, ela salvou seu casamento. Lançou um álbum gospel , em 1972, "Praise the Lord" e até quase o fim dos anos 70, lançou mais cinco discos no mesmo estilo.

No início dos anos 80, Jackson foi convidada para vir até á Europa tocar o seu velho estilo rockabilly e country e acabou por participar em vários festivais e gravações. Recentemente, artistas da country americano como Pam Tillis, Jann Browne e Rosie Flores reconheceram Wanda Jackson como tendo sido a sua grande influência. Em 1995, Flores lançou um álbum de rockabilly, “Rockabilly Filly”, e convidou Jackson, a sua heroína de longa data, para cantar em dois duetos com ela e ainda embarcaram juntas numa turnê pelos EUA. Foi a sua primeira grande turnê americana desde os anos 70, sem dizer que foi a primeira vez que entrava para um circuito mais “cult” e “undergound”.

Tudo isso resultou no convite do competente músico Jack White, para que Wanda Jackson voltasse em 2010 a começar a trabalhar num novo álbum. Surge então, com o sintomático título “The Party Ain’t Over”. Pode ouvir-se o disco, achando que se trata de uma novíssima cantora adolescente refazendo clássicos de maneira e sonoridade contemporânea.

Mas quando se sabe que, na verdade, esta diva, que completou 73 anos em Outubro do ano passado, está apenas revelando pelas mãos do fã e actual amigo Jack White, para uma geração que talvez nunca fosse ouvir “fonte orgânica”, por estar empanturrada do “pastiche transgênico cheio de agrotóxico”, a surpresa é inevitável!

Jack reune os eus habituias colaboradores, como My Morning Jacket, Raconteurs e Dead Weather e dá um toque sensacional à coleção de covers antigos e contemporâneos, mostrando que Wanda é um furacão que há mais de cinquenta e cinco anos mistura country, rockabilly, gospel e rock and roll de forma tão natural que soa inesperadamente vanguardista. Com uma voz que não combina com uma senhora, da sua idade, o disco abre uma versão sensacional da clássica "Shakin 'All Over", traz gritos e sussurros "roqueiros" em "Rip It Up" e "Nervous Breakdown, reverencia o brega americano das Andrew Sisters com "Rum and Coca Cola", une country e big band na versão "Teach Me Tonight", clássico das De Castro Sisters , já gravada por Amy Winehouse no seu disco “Frank”. E por falar em Amy, Wanda mostra que entende os gostos da inglesa e manda a sua boa versão para " You Know That I’m No Good ", e se ainda tudo isso não bastasse, o próprio Bob Dylan recomendou que ela fizesse uma versão para “Thunder On The Mountain”.

Nada soa muito elaborado, nada soa previsível, tudo soa certinho; cada nota distorcida, cada efeito, cada conservadorismo e cada modernismo, mostra como o mundo moderno deve tratar o conhecimento passado. Produção perfeita e desde já um dos melhores discos do ano e ponto de partida e reflexão para a próxima década.

Wanda Jackson -The Party Ain’t Over




Sem comentários: