sábado, 31 de janeiro de 2009

Coachela Festival USA, 2009

O festival de Coachella, realizado anualmente no deserto da Califórnia,USA, divulgou esta sexta-feira a lista completa de bandas que vão se apresentar durante os três dias da décima edição do evento. Serão 73 artistas subindo ao palco do festival entre os dias 17 e 19 de Abril.
Sir Paul McCartney (17), The Killers (18) e The Cure (19).
Os nomes dos participantes no festival são muitos e variados,com apresentações das bandas mais importantes do rock de hoje: revelações de 2008 (Fleet Foxes, Girl Talk), veteranos (Leonard Cohen, X, Paul Weller), e também aquelas bandas que vão fazer tournées em 2009 após um bom período em estúdio, como Franz Ferdinand e Yeah Yeah Yeahs. Confiram a lista completa de atracções no site do festival.

Afinal,sempre se realizou o Roof Show

Como publiquei aqui, ontem assinalou-se os 40 anos do ultimo espectáculo dos Beatles.O famoso "Roof Show".Estava tudo preparado para festejar a data, pelo pessoal da Apple, lá no roof da Saville road, mas os "Blue Meanies", e seus descendentes, não autorizaram a realização dos show, com os Bootleg Beatles. Isso em Londres, no UK, porque em Londres, no Canadá, houve show.
Liderado pelo músico Yuri Pool, uma banda canadiana "cover" dos Beatles recriou o último show dos Fab Four, tocando no telhado de um prédio na cidade de Londres - em Ontário, no Canadá. YESSSSS.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Humor Tropical

Ashford e Simpson,The Real Thing

Ashford and Simpson,o legendário duo,marido e mulher,acabam de lançar o seu último trabalho, The Real Thing.
O formato,é duplo,CD e DVD,aonde podemos encontrar todos os seus hits,desde,"You're All I Need To Get By", "Ain't No Mountain High Enough",e o "Reach Out and Touch (Somebody's Hand)".
O CD,The Real Thing,contém 16,Greatest Hits,em 65 minutos, de actuação ao vivo,bem como um link,dando hipóteses de se baixar da net,ringtones,audio e video streams, links para comprar Cds e toda a memorabilia do duo.
The Real Thing,DVD e Blu Ray,contém,mais de 90 minutos,de actuações ao vivo de 18 temas do reportório do duo,filmado em HD,com sarround e digital,sound. Parece-me bem.

Bob "Forever Young" Dylan

Vamos supor, que cá no burgo, os dirigentes desportivos, que se queixam com a fraca assistência nos campos de futebol, resolvessem, fazer um concerto, antes de cada jogo de futebol, por exemplo, com o António Camioneta, ou com o Chico Fininho. O que é que acontecia???
Eram capazes de ter lotação esgotada. Pois é. Nos states, que não se brinca,quando se trata de sacar os dólares do bolso do people,não foram de meias medidas e vai daí, agendaram para o próximo domingo, para o famoso "Super Bowl Sunday", o Boss, Bruce Springstin, himself, e Jennifer Hudson, vencedora de uma série do American Idol, e além disso, gravaram um jingle comercial, que será transmitido pela primeira vez,nesse mesmo espectáculo, e será intrepertado por outra dupla de pêso:
Bob Dylan,e o Will.i.m, front man dos Black Eyed Peas.Tal e qual.O Dylan, vai sacar três milhões de dólares,por minuto,pagos pela Pepsi,já que de um jingle publicitário se tarata.
A Pepsi, anunciou mesmo que vai por o jingle á venda no iTunes. A surpresa,advém só do side-kick man, o Wil.i.m, pois esperava-se que fosse,o Jay-Z ou Kanye West. Mas pronto, tendo Dylan, já será vendavel.O tema, gravdo foi o 'Forever Young' do album, 'Planet Wave'de 1974.
Partecipando neste comercial da Pepsi, Dylan entra na galeria dos Super Bowl Sunday, "Famous Advert Personalyties", juntando-se a nomes como:Michael Jackson, Britney Spears, Justin Timberlake, Willie Nelson, e outros.
Aquilo deve estar mal, lá na conta bancária do Bob, pois, pela primeira vez, o cota, autorizou o uso do seu,“Blowin’ in the Wind”,num spot publicitário, no Reino Unido, para um anuncio da Co-operative Group, e agora vai numa de patrocinar a tal de Pepsi.
Super Bowl é o nome conhecido como o jogo final da liga de Futebol Americano (NFL) nos Estados Unidos. Disputada desde 1967, a partir da junção das duas principais ligas do desporto no país (NFL e AFL), é o maior evento desportivo e a maior audiência televisiva do país, assistido anualmente por milhões de pessoas nos Estados Unidos e em todo o mundo.

MusiCares 2009

Neil Diamond,vai ter tratamento especial, no próximo dia 6 de Fevereiro, em Los Angeles, quando a MusiCares, uma das duas fundações dos Grammy, o galardoar como "Person of the Year" (Personalidade do Ano).Será o 19º ano em que este prémio é atribuído,e terá lugar dois dias antes do 51º "Annual GRAMMY Awards."
A lotação está esgotada.Já não há mais bilhetes, para o espectáculo, que terá lugar, no Convention Center, West Hall 1201,na S. Figueroa St, e aonde actuarão diversos artistas, incluindo Neil Diamond, e que de seguida, ouvirá, alguns dos seus pares interpertarem alguns dos seus hits, talvez o "Sweet Caroline" ou até o "America", ficando eu sem saber se o ex-Monkee, Micky Dolenz, irá aparecer e cantar o "I'm A Believer".
Anunciados estão: multi nomeada Adele,quatro vezes vencedores e sete vezes nomeados, Coldply, seis vezes vencedores dos Grammy,FooFighters,o nomeado Josh Groban,o vencedor de um Grammy Raul Malo, três vezes vencedor Tim McGraw, e muitos outros.
Haverá também um leilão "on line", aonde serão leiloados alguns objectos doados por artistas que já foram nomeados, ou que ganharam o Grammy. Entre esses objectos,está uma guitarra de Eric Clapton assinada por este, uma harmónica de boca assinada e que já foi soprada diversas vezes pelos lábios de Bob Dylan, uma fotografia assinada, da Janis Joplin e outros objectos.
Se estiver curioso, clique aqui e leia mais sobre esta matéria..

Os Lennon, juntos ?!..Talvez não.

Os filhos de John Lennon, Julian Lennon,(45) e Sean Lennon, (33) actuariam juntos,na sede das Nações Unidas, em Nova York, a 26 de Fevereiro, num evento chamado UN-Millenium Goal Awards. (UN-MDG Awards), o que não deixaria de ser, no mínimo estranho, pelos antecedentes. Isto se a noticia, posta a circular pela Fox, fosse veridica. Mas, num post colocado hoje por Julian, no seu site do MySpace, este veio dizer que essa noticia é falsa, perguntando mesmo:
"Quando é que a Fox e Roger Friedman,(fontes da noticia) falam verdade ?"

O "frisson" causado pela noticia da Fox, e a irritação de Julian,deve-se sobretudo ao passado, ao facto de que as relações entre os Lennon, filhos e mãezinhas, não tem sido das mais pacificas. Ora vejamos.
Após o assassinato de John Lennon, em 1980, os Lennon, zangaram-se, e têem vivido um pouco de costas voltadas. Tudo, porque a mamã de Sean, Yoko Ono, não deu á mamã de Julian, Cynthia Powell, o que ela achava ter direito, do espólio de John. Feio, mas acontece nas melhores famílias.
É claro que Julian,contratou os melhores advogados, na tentativa de conseguir nos tribunais, aquilo que não conseguia através do diálogo,com Yoko, que havia sido declarada, legalmente a herdeira e administradora da fortuna do falecido esposo. Inclusivé, Julian foi para as televisões, clamar apoio, declarando numa entrevista a Howard Stern, em 2007,que ainda não recebera um tostão de Yoko Ono. Inacreditável. Ao longo dos anos, tem havido muita animosidade, entre os descendentes de Lennon, e a querida Yoko,tem alimentado essas guerras,não dando ouvidos ao Julian e a sua mãe Cynthia. Em 2001, no espectáculo, de tributo a John Lennon, que se realizou no Radio City Music Hall, em Nova York, Yoko estava em lágrimas, mas não fez nenhuma referência á primeira esposa e filho de John. Quando o "Love" do Cirque du Soleil, estreou em Las Vegas, há já alguns anos,a austera Yoko Ono, manteve a distância, da cordial Cynthia, e de Julian. Sean nem apareceu.
Recentemente, os dois manos, têem procurado quebrar o gêlo entre eles tendo mesmo Julian, surpreendido o irmão Sean em Praga, juntando-se a ele em palco, durante o espectáculo deste.
Ironicamente, não podem ser mais parecidos. Gentis, amistosos, e com algum talento, digo eu. Julian, conseguiu alguns hits, quando tinha os seus vinte anos, com "Valotte" e "Too Late For Goodbyes", entre 1984-85.
Sean, lançou um par de álbums Indie (Independentes), e um outro pela Capitol, a editora de seu pai John.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Como cantar, 36 Musicas, só com 4 acordes

4 acordes, comuns a 36 músicas.É só uma questão de melodia.
No essencial, está muito bem observado. Oiçam.

O Cócas está de volta

Um dos programas de TV mais queridos de todos os tempos, os Muppets, voltará em Banda Desenhada
O BOOM! Studios contratou Roger Langridge (Fred the Clown, Fing Fang Four) para escrever e desenhar uma nova revista mensal trazendo novas aventuras do Cócas, Gonzo, Miss Piggy e companhia.
"Fui chamado para escrever uma história dos Muppets para a extinta revista Disney Adventures”, conta Langridge.
“Fiz umas 15 páginas com o meu humor meio vaudeville meio Monty Python, mas só usaram uma até a revista ser cancelada. Achei que o assunto tivesse morrido aí, mas alguns meses depois o pessoal da Disney e do BOOM!, viu o meu trabalho e as coisas recomeçaram a acontecer.”
Como todo fã, o novo autor tem os seus preferidos na trupe.
“Meu Muppet favorito na criação de roteiros é o Gonzo, embora eu esteja a escrever uma divertidíssima edição com a Piggy em destaque”, explica Langridge. “Mas os personagens têm várias camadas, como uma cebola. A ansiedade do Fozzie diverte-me bastante – eu gosto de todos eles!O meu favorito quando estou desenhando é o Fozzie. Statler e Waldorf são muito divertidos também. A Piggy é a mais complicada, porque ela precisa ser desenhada certinho ou a semelhança se perde. Muitos dos outros permitem um pouco de flexibilidade.”
Questionado sobre uma das marcas registadas do lendário programa de TV, Langridge diz:
“Claro que eu adoraria ter astros convidados – talvez personalidades históricas, para evitar problemas com direitos de imagem. Nas primeiras quatro edições, entretanto, o foco estará todo nos Muppets.”
“Uma coisa é que eles são retro e modernos ao mesmo tempo. Eles têm muitos elementos de ‘família com problemas’ que precedem até os Simpsons, e uma química indefinível entre os personagens; por outro lado, eles estão muito ligados às raízes do showbiz – eles moram num teatro de vaudeville! Grande parte da graça do programa e vê-los lidando com esses problemas para o bem do show. Mas claro que trabalhar com personagens tão famosos tem seus problemas".
“Uma coisa complicada é deixar os roteiros de um jeito que a Disney e eu gostemos. Tenho muitas piadas – aquelas sobre comediantes suicidas, por exemplo – que não se encaixam no mundo dos Muppets, e ainda tenho que resistir à pressão da Disney para incluir muitas cenas com abraços grupais”, brinca o artista.
A nova versão em quadrinhos do Muppet Show chega às bancas e comic shops americanas em Março. O preço de capa é US$ 2,99.

Cream - A História - Parte II

Durante seus últimos dias nos Bluesbreakers de John Mayall, Eric Clapton, não conseguia tirar da cabeça a ideia de uma super banda de três elementos, um power trio. Era uma formação que já havia sido meio esquecido havia algum tempo no ramo do rock – retornar às raízes instrumentais, a formação básica de guitarra / baixo / bateria num line up preciso e criativo. Algo que já não acontecia desde os bons e velhos grupos, de Buddy Holy & the Crickets a algumas incríveis surf bands americanas. Exigia destreza e imaginação extra de seus integrantes. Para Clapton, era tudo o que bastava naqueles dias. O seu instinto desafiador apontava para isto. Ele mesmo confessaria, meses depois, à revista Beat Instrumental: “Eu já estava a pensar num grupo com Jack e Ginger havia meses, mas eu não achava que seria possível. Para começar, na minha opinião Ginger era bom demais para tocar comigo; ele era bastante jazzy (improvisador). Então, um belo dia, ele procurou-me, e pude a partir de então ver quem ele era, realmente, um tremendo baterista de rock, por instinto. Realmente, sempre foi um bluesman.”
John Mayall havia acordado com o seu empresário uma série de shows em Oxford, lá pelo início de 1966. Era Abril quando Baker perguntou, na noite de uma das primeiras apresentações, se ele poderia acompanhar a banda. Para Mayall, um eterno cabeça fresca entusiasta do espírito experimentalista e incestuoso do blues, com os seus grupos invariáveis e eternas trocas de componentes," no problem".
E assim, Baker e Clapton foram se aproximando á medida que estudavam o jeito de tocar um com o outro – e quanto mais conviviam, mais gostavam do que viam (ou ouviam). Conforme Clapton conta na entrevista dada à Beat Instrumental, realmente foi Baker que o abordou com a ideia de saírem dali já com uma banda, partindo juntos para o seu próprio sucesso. Clapton, no entanto, companheiro musical de Jack Bruce fascinado pela habilidade do amigo com o contrabaixo desde aquelas sessões de estúdio para a colectânea What’s Shakin’, impôs uma condição: só formaria o grupo caso fosse um power trio, e o melhor, com Jack Bruce no baixo. Dá para imaginar a cara com que Baker ficou na hora em que Clapton mencionou esse nome, já há algum tempo esquecido. Enquanto o seu rosto mudava de uma tonalidade de cor para outra, sem saber o que responder, Baker provavelmente imaginava: “Não posso acreditar. De todos os baixistas nesse mundo... esse tipo, de novo...”. Clapton, por sua vez, sorria timidamente, esperando a decisão do baterista e mal imaginando o que o passado já havia feito na vida daqueles dois musicos.
Finalmente, numa cinzenta tarde do mesmo mês de Abril daquele ano, Baker, depois de muitos drinks para esfriar a cabeça e armado da cara mais amável e da maior humildade deste mundo, resolveu vencer o seu orgulho e ir à casa de Bruce.
Janet, a esposa de Bruce, atendeu à porta, e lá estava aquele esquálido e alto cara ruivo de olhos esbugalhados, querendo falar com Jack. A figura era por demais engraçada, quase um espantalho de feições irlandesas! Na hora em que viu Baker, Bruce não pôde acreditar, e a reação de grande surpresa inicial logo foi substituída por suposições cheias de enigmas sobre o que deveria qurer aqule sujeito, que praticamente o expulsara da banda de Graham Bond.
Durante os quase quarenta minutos em que colocaram a sua conversa em dia, Baker e Bruce foram, aos poucos, concordando em guardar os velhos fantasmas dentro do armário, e Baker foi o mais humilde, sincero e simpático individuo que poderia ser. Mais de uma vez pediu desculpas pelas implicâncias do passado e tentou resumir, em poucas palavras, o quão bom poderia ser acompanhar Clapton e partilhar com ele as suas idéias musicas, pois o "kid" era muito bom também e tinha grandes planos para os três. É bom lembrar, afinal, que estar junto com Clapton naqueles dias, como ainda hoje, não era algo para se considerar pouco – afinal, estar com Clapton era estar com Deus!
No fim da conversa, devidamente acompanhada pelo tradicional "five o'clock tea", Bruce marcou um lugar para os três se encontrarem e resolverem tudo, e mais: com os seus instrumentos, para verem se realmente a química rolava. Não é preciso nem dizer que a jam inicial, ocorrida dois dias depois, foi a confirmação de que os três precisavam para saber se eram capazes de dominar o mundo.
Um dos locais preferidos para os ensaios, nesta época, era o pavilhão de basquete de uma velha escola em Willesden, a poucos quilómetros de Londres – a boa acústica do lugar, um antigo prédio praticamente abandonado, ajudava a dar vazão às suas ideias revolucionárias. Bruce trabalhava já em algumas poesias que poderiam servir de letras às composições do grupo, enquanto Clapton exercitava uns riffs no melhor estilo de Buddy Guy, como frontman não declarado da banda. Ele tinha deixado os ensaios dos Bluesbreakers , poucos dias antes, e apesar de uma de suas últimas participações efectivas no grupo ter sido um single em que cantava pela primeira vez, a clássica “Rambling On My Mind”, ele preferiu deixar os vocais da nova banda a cargo de Bruce, mais experiente no assunto. Baker, por sua vez, esmurrava sem dó o seu instrumento, denunciando já ali uma tendência de mostrar serviço e segurar, da melhor forma que pudesse, um som que para todos eles era algo incrivelmente novo de se fazer. Ele mesmo dizia: “A formação de trio requer muito dos músicos que dela participam. Como um baterista desde tipo de banda, eu precisava fazer o máximo que pudesse para preencher todas as lacunas de som, mantendo o ritmo todo o tempo, e traduzir, da melhor forma e com coesão, as ideias que tínhamos.” Foi dele e de Clapton, aliás, a preocupação inicial sobre a idéia de um nome para o grupo. Após a visita de um repórter da Melody Maker, Chris Welch, convidado por Baker para ver o que os três estavam a preparar, Welch avisou a Baker: “Arranjem um bom nome para o grupo e mantenham-me informado. No mês que vem, queremos publicar sobre vocês com exclusividade.” Uma matéria de uma página da Melody Maker de 11 de Junho de 1966 anunciava, com alarde, e sob o título “ERIC, JACK E GINGER JUNTAM-SE!” o que Welch havia visto (e apreciado bastante): “Um sensacional ‘grupo de grupos’(referindo-se ao facto de todos já terem vindo de bandas famosas), estrelando Eric Clapton, Jack Bruce e Ginger Baker, está sendo formado”. O artigo, que vinha com o propósito de matar a absurda curiosidade que acometia os fãs de Clapton sobre o que o ídolo vinha fazendo na época, ainda dizia que a formação realmente deveria ser a de um trio e que Bruce seria o possível vocalista. A matéria da Melody Maker provocou alarde na Swingin’ London – todos estavam loucos para saber que tipo de som estaria vindo de três super músicos como aqueles. A felicidade só não atingiu os ex-grupos de Clapton e Bruce, que não haviam anunciado formalmente a tais conjuntos que eles estavam debandando. Desnecessário dizer que John Mayall (apesar do seu conhecido liberalismo) e Manfred Mann ficaram bastante desapontados – Mayall, especialmente, por haverem lançado recentemente o LP Blues Breakers: John Mayall with Eric Clapton. O nome do disco dava aos fãs a impressão errônea de que Clapton, dividindo as honras da casa com o líder, ainda estava com o grupo.

Após algumas sugestões e trocas de idéias, os três acolhem, com unanimidade, aquela burilada por Clapton e Baker: Cream, significando, nada mais, nada menos, e sem nenhuma modéstia, o que pretendiam ser: o creme do rock e da música pop do momento. Para empresariá-los, escolhem Robert Stigwood, dono do selo londrino Reaction, de acesso livre no show business inglês. E em 25 de Julho, a Melody Maker estampa em sua capa: “ESTEJAM PRONTOS PARA O ‘CREAM’!”. Numa bela matéria de duas páginas, os integrantes do grupo falam de suas perspectivas para a banda, o tipo de som a que se propõem fazer (“é blues antigo e moderno, ao mesmo tempo”, diz Clapton, enquanto Bruce prefere um “doce e saboroso rock and roll”), e colectam impressões sobre as suas raízes (“estamos pesquisando até sons de 1927 para o nosso repertório!”) e as expectativas alheias (“muitas pessoas devem estar achando que seremos três solistas duelando entre si. No entanto, estamos mais interessados em tocar como uma banda coesa”, diz Clapton – ingenuamente, não prevendo o futuro!).
O final de julho de 1966 é a época que presencia o nascimento da banda em um de seus mais memoráveis habitats: nos palcos. Uma pequena apresentação de “aquecimento”, feita no clube Twisted Wheel de Manchester, desavisadamente, para poucas testemunhas, no dia 29, prepara o grupo para a sua grande estréia, oficial, que se dá dois dias depois, no grande Festival de Blues e Jazz Nacionais de Balloon Meadow – o popular Festival de Windsor. O grupo apareceu no último dos três dias de shows, e foi ruidosamente ovacionado por uma plateia afoita por ouvi-los. Durante a hora e meia em que se apresentaram, renderam versões matadoras de “Outside Woman Blues” e “Steppin’ Out”, bem como de vários outros clássicos do blues e standards. Na palavra de todos, uma apresentação irrepreensível e emocionante, repleta de peso e energia, que gerou a impressão colectiva de que realmente se estava diante de algo novo: a cozinha perfeitamente sintonizada e tonitruante, hard e jazzística ao mesmo tempo como nunca se ouvira, casando jazz e blues elétrico amplificado com singular esmero, tendo à frente um guitarrista que se consolidava como verdadeiramente o melhor do Reino Unido, alçando voos repletos de feeling e destreza com os seus solos endiabrados, directamente da fonte de Robert Johnson e Muddy Waters.
Era hard rock puro e descontrolado, como a equipe do jornal Record Mirror se orgulhava de dizer. Na mesma publicação, no entanto, Clapton dava mostras de um certo descontentamento, revelando os planos do grupo para coisas ainda melhores:
“Estávamos um pouco nervosos em Windsor. Ainda vai levar uns dois meses para a gente ficar ‘okay’ mesmo. Já estamos treinando uns bons quatro números, próprios, e alguns clássicos...”.
Os primeiros tempos mostram uma certa confusão no rumo do grupo na sua tentativa de acertar o passo com o seu estilo – inicialmente, não bem resolvido comercialmente.
Primeiro, Clapton tentou direccioná-los para uma linha de rock dadaísta, que estava começando a aparecer na Inglaterra de 1966, com os grupos aderindo a ideias psicodélicas ainda nascentes e ingénuas, como os famosos happenings em shows ao vivo: apresentações pop inusitadas, com a pretensão de mostrar ao público alguma mensagem ou filosofia do grupo, por mais doida que fosse. Iam desde shows dentro de zoológicos até o grupo praticando o famoso “ritual de destruição” dos seus instrumentos ao final do show, um encerramento caótico iniciado por Pete Townshend do The Who, e seguido por bandas durante praticamente todos os anos seguintes da história do rock – vide o Nirvana, em plena aurora grunge.
Poderia haver, ainda, a leitura de poesias e coisas estranhas acontecendo no palco enquanto a banda tocava, como grupos teatrais fazendo mímica – um pouco do clima non sense destes hypes (as tais apresentações pop exóticas) daqueles dias estranhos pode ser visto na seqüência que figura uma apresentação da ex-banda de Clapton, os Yardbirds, agora já com Jeff Beck e Jimmy Page, num clube londrino, no filme clássico de Michelangelo Antonioni, Blow Up , e que hoje se tornou uma referência obrigatória bem mais por este trecho, que retrata com incrível singularidade o espírito louco daqueles tempos, do que por qualquer outra mensagem hermética que tenha a passar.
Pois bem: influenciado pelos novos conceitos da arte pop que despontavam, e que já lhe haviam sido apresentados na Escola de Arte na qual estudara, Clapton pôs na cabeça que as apresentações do Cream deveriam conter elementos inusitados, como perus pintados de rosa soltos no palco enquanto eles tocavam, múltiplas luzes estroboscópicas girando, e até bonecos de plástico e de borracha espalhados pelos cantos – como um insuspeito gorila com a enorme inscrição “Molly” na barriga.
“Tenho que confessar que era algo bem ridículo, mas fazia parte dos conceitos que estávamos experimentando”, disse Clapton posteriormente ao Los Angeles Times, na primeira tournée deles pelos EUA. Gradativamente, as idéias dadaístas e de arte pop foram sendo abandonadas, à medida que o grupo notou que estava se preocupando muito menos com tais badulaques e parafernália do que com a equalização, a qualidade de som e a organização dos seus imensos altifalantes,colunas,Marshall no palco (adquiridas após um contrato de Stigwood com os fabricantes, garantindo publicidade). Somente um grupo de Cambridge, os Pink Floyd, levaria adiante pelos anos seguintes, com sucesso, a conjugação entre música e tais idéias psicodélicas.
O segundo passo em falso (ou incerto) dos Cream foi a sua estreia discográfica.
Como compositores, a equipe já estava bem engendrada: um amigo de Bruce, o poeta Pete Brown, foi trazido para o grupo, para os ajudar a compor material para a banda. O interessante é que Brown era velho conhecido também de Baker, que já o havia acompanhado, anos antes, em recitais de poesia musicados com jazz. Então, Baker e Brown experimentaram compor juntos inicialmente, mas como todas as tentativas de escrever uma música foram infrutíferas, pelo facto de juntos eles invariavelmente caírem na risada lembrando de alguma piada ou fato engraçado, Janet, a esposa de Bruce, dispôs-se a compor com Baker. Este, mais inibido então, começou a trabalhar a sério com ela, e desta parceria saiu “Sweet Wine”, uma dos grandes êxitos do primeiro LP do Cream, "Fresh Cream" lançado em Dezembro de 1966.
O problema é que, lançado em Outubro de 1966, o tão esperado primeiro single dos Cream, “Wrapping Paper” (com a instrumental “Cat’s Squirrel” no lado B) desapontou os fãs.
Aquela música, um típico tema vaudeville conduzido com leveza ao piano que dava a todos a impressão de que os Cream estavam mais para cabaret band do que grupo de rock, deixou meia Inglaterra com um ponto de interrogação na cabeça. Pouco ou nada tinha do hard rock intenso apresentado em Windsor. Foi Bruce que saiu em defesa do grupo, em declaração concedida na Melody Maker:
“Devo admitir que na verdade queríamos chocar as pessoas, havia um desejo neste sentido”. O choque, entretanto, passou despercebido das tabelas de sucesso: apesar de seu som bluesy extremamente agradável e original, “Wrapping Paper” atingiu a posição 34 nos charts britânicos. Ainda um mês depois, numa aparição do grupo na Rádio BBC, para a apresentação em primeira mão de algumas das músicas que iriam compor o seu álbum de estreia, Clapton foi questionado pelo apresentador do programa, Brian Mathew, acerca do som apresentado no primeiro single. O guitarrista respondeu:
“Eu tenho que admitir que queríamos surpreender os fãs um pouquinho, pois não queríamos que eles nos aceitassem simplesmente como uma blues band. Pretendemos algo mais que isso.” Dadas as palavras divinas, era a hora de apresentar a música – e o Cream emendou com uma versão arrebatadora de “Sweet Wine”, que deixou quem estava ouvindo o programa daquela noite aliviado. O corinho cheio de harmonia pop fresca e contagiante como introdução, a bateria tribal selvagem de Baker, o baixo forte e compressor de Bruce e seus vocais poderosos, o solo hipnótico de Clapton: aquele era o Cream que todos queriam ouvir, e que estaria presente no primeiro álbum.

Na verdade, “Wrapping Paper” representou não só uma dor de cabeça inicial para a banda no seu relacionamento com os fãs e imprensa, como também nos seus relacionamento internos – abalados já antes e no início de sua história devido à notória animosidade entre Bruce e Baker, conflito este que novamente veio à baila pelo facto de “Wrapping Paper” ter sido creditada a “Bruce /Brown”, quando Baker insiste, até hoje, que na verdade esta canção foi escrita por todo o grupo, como uma contribuição conjunta, num ensaio no estúdio. A alegação de Baker e a relutância de Bruce em aceitá-la constituiriam mais um ponto na longa trajectória de discórdias entre ambos, a ter continuidade num futuro bem próximo.O que muitos não compreendem, até hoje, é o carácter bastante comercial que foi dado aos Cream pelos seus próprios membros desde o início do grupo – eram uma banda que, apesar de sua imensa criatividade e brilho, era notavelmente projectada para dar certo, no melhor estilo das pop bands inglesas da época, como Herman’s Hermits ou os Yardbirds após a saída de Clapton. Com todo um mercado pop alavancado com esmero por Beatles, Rolling Stones e, um pouco mais tarde, The Who, todos queriam a sua fatia de sucesso no meio. Especialmente musicos talentosos como Clapton, Bruce e Baker, já cansados do binómio “grande popularidade -pouco dinheiro” previamente alcançado nos circuitos blueseiros. O Rover descapotável de Baker adquirido por ele com o dinheiro ganho por ter contribuído com uma simples música para o lado B do single “Substitute”, dos The Who, fomentava tais expectativas. A simples declaração, bastante sincera, por sinal, de Clapton ao jornal musical Disc & Music Echo, de novembro de 1966, era uma prova gritante disto:
“Nós (o Cream) queremos fazer dinheiro. Tenho trabalhado já há muito tempo por muito pouco e achei que já era hora de fazer algo a respeito para mudar isso”.
Sem dúvida, estavam fazendo. Planeado para dar totalmente certo, o álbum Fresh Cream lançado em 9 de Dezembro de 1966,tornou-se,ao longo dos dias seguintes,num sucesso estrondoso. Resultado de dias inteiros da banda trancada no estúdio, ensaiando, tirando novas ideias e testando novas sonoridades, resultantes das arrojadas inovações técnicas trazidas pela produção de Robert Stigwood (apelidado pelo grupo de “Old Stigbot”), o LP trazia 11 faixas, que davam ao público do rock inglês o que eles queriam: um Cream pesado e dinâmico, psicodélico e bluesy ao mesmo tempo, competentes o suficiente para fazer frente a medalhões da época como a tríade santa do som pop britânico: Beatles, Rolling Stones e The Who.

O maior êxito do álbum, por sua vez, o single que puxaria as suas vendas, “I Feel Free”, permanece até os dias actuais como um dos mais perfeitos e concisos exemplos do hard rock sessentista e precursor dos Cream: são três minutos e pouco de um som que começa inspirado no melhor blues & soul, com uma vocalização contagiante perpetrada pelos três, mais o estalar de dedos anunciando a tempestade de som que se aproxima. A seguir, a entrada de uma condução imponente e atropeladora de Baker que se faz acompanhar por guitarra e baixo cheios de swingue, enquanto as vocalizações prosseguem: “Feel, when I dance with you... we move like the sea...”. Um intermezzo súbito pára a música, deixando espaço para um agressivo comentário de Bruce, exaltando os sentimentos de liberdade. O seu baixo acompanha, liberta tudo do seu vocal, e novamente a banda entra no ritmo hipnótico de antes, um rythim n’ blues rápido, elétrico e acachapante, enquanto Clapton enche os nossos ouvidos com um solo incrível, épico e sinuoso, repleto de feedback e evocativo de toda a geração sixties. “NSU” e a já citada “Sweet Wine” também não deixavam a bola cair, sendo que a primeira relembrava acordes tipicamente surf music para depois emendar numa porrada sonora monumental. Do lado dos covers de blues, tínhamos “Rollin’ and Tumblin’”, de Elmore James, transformado num expresso locomotivo aflitivo e envolvente, mas o destaque que ficava mesmo, era o “I’m So Glad”, de Skip James: a exemplo do que o grupo faria futuramente com “Crossroads”, de Robert Johnson, esta era uma releitura inteiramente nova de um standard, injectando hard rock e sensualidade na dose certa, dando ainda espaço para um dos melhores momentos já registados pela guitarra de Clapton em vinil até então. Havia também “Spoonful”, de Willie Dixon, metamorfoseada para um mastodôntico blues pesado, capitaneado pelo som furtivo da harmónica de Jack Bruce e os riffs viajantes de Clapton, ao passo que Baker explorava a batera e suas possibilidades rítmicas em suas miríades.
Fresh Cream foi um sucesso: atingiu a sexta posição nas paradas britânicas, fazendo todos esquecerem o fracasso do primeiro single da banda, e conseguiu chegar ao número 39 nos EUA sem qualquer grande divulgação em território americano, mais na base do “de boca em boca” – nada mal para uma estréia, o que indicava já um proeminente sucesso além do Atlântico.
De Fevereiro a Março de 1967, durante a apoteótica tournée feita pela Europa (datas na Alemanha, Irlanda, Suécia e Dinamarca já contavam com lotações esgotados), os fãs do grupo presenciaram o aperfeiçoamento de uma das suas mais sagradas instituições: as grandes improvisações ao vivo, feitas no palco como uma forma de dar mais espaço aos músicos para as suas habilidades individuais, bem como para compensar a falta de prática ou de interesse em tocar algumas músicas do álbum que não haviam sido bem treinadas para a execução pública. Na verdade, isto já tinha começado logo após o Festival de Windsor, nas primeiras apresentações do grupo, quando descobriram que não detinham repertório grande o suficiente para animar a plateia durante uma hora e meia, ou duas – desta forma, apelaram para os seus vastos conhecimentos musicais, e começaram a emendar as poucas músicas que haviam treinado com longas codas e intermezzos instrumentais variados, tornando uma prática comum em seus shows o casamento da liberdade jazzística com o peso do hard rock. Estavam criando, sem qualquer pretensão ou plano pré-estabelecido, uma espécie de celebração que seria feita por milhares de grupos de rock dali em diante, sempre se espelhando neles. Os admiradores iam à loucura com tamanho ataque sensorial – algumas “viagens” em cima de músicas como “NSU” e “Spoonful” duravam até vinte minutos, dependendo da inspiração que rolasse no momento, formando paredes de som intensas construídas por insistentes camadas de baixo, guitarra e bateria sobrepondo-se, umas às outras!
De volta à Inglaterra, os Cream tinha mais algumas apresentações pela frente, mas os numeros atingidos com as vendas de discos fez com que a Polydor, a sua gravadora, se interessasse sobremaneira em fazê-los embarcare no grande lance da Invasão Britânica, e mexeu os cordelinhos junto a Robert Stigwood para que uma sólida tournée aos EUA fosse planeada.Em poucas semanas, através de contactos com o DJ norte-americano Murray Kaufman, o célebre “Murray the K”, foi organizado um grande evento pop em solo americano, chamado “Música em Quinta Dimensão”, que tinha de tudo para atrair as grandes massas jovens do país, loucas por ácido e som, aos seus concertos, no RKO Theatre, em Nova Iorque. E o melhor: tendo o Cream como carro-chefe, ao lado de outros nomes célebres como os Lovin’ Spoonful e The Who. Começava a era dos grandes festivais, e o Music in Fifth Dimension era mais uma dessas oportunidades de várias bandas facturarem conjuntamente, tocando um set de duas ou três músicas cada uma, e dando ao público a oportunidade de experimentar concertos ecléticos e variados, com diversos artistas. Para os Cream, no entanto, a experiência foi desanimadora, pois a má organização do evento deixou más impressões nos rapazes acerca de sua chegada ao Tio Sam: “Passamos a considerar estes tipos de show uma piada. Primeiro, pelo set apertado, não houve tempo para que Ginger tocasse o seu solo, e quase fomos expulsos do palco pelos organizadores. Depois, disseram-nos que o nosso equipamento não poderia ser trazido, e tivemos que usar o do The Who para fazer o show”, relembra Clapton.

A bem da verdade, a primeira visita do Cream aos EUA serviu mais por três coisas, fundamentais: a mudança de visual, a descoberta de novos equipamentos e sonoridades, e o LP Disraeli Gears.
Haight-Ashbury e o movimento hippie estavam em plena efervescência quando os Cream aterraram em solo americano. A psicodelia, com as suas cores esfuziantes e cabelos longos, havia atingido o seu estágio mais avançado em todo o mundo, mas guardava diferenças geográficas – na Inglaterra, por exemplo, os jovens ligavam-se mais nos fatos tweed e em inspirações vindas dos mods e dândies londrinos, com os seus coletes, camisas de tecidos finos e casacos de veludo - uma tendência que virou febre após Brian Jones, dos Rolling Stones, um dos maiores dândies que o rock já teve, deixar clara a sua preferência por este tipo de roupa. Basta ver o guarda-roupa de gente como Mick Jagger, Roger Daltrey ou de grupos como Status Quo e The Herd naquele ano para verificar o que estava sendo o visual teenager dos britânicos nesta época. As cores e roupas de inspiração indiana, inclusive as batas, ainda demorariam quase um ano para virar sensação. Neste contexto, o hippie americano era bastante diferente: inspirada pelos paraísos artificiais induzidos pelo LSD tomado à luz de muito sol das praias californianas, – que estavam a anos-luz das foggy streets de Londres – a juventude passava a vestir-se de roupas bem mais alegres e vivas, de um colorido psicodélico contagiante e bem a la vonté. Camisas esvoaçantes, lenços à exaustão, tecidos vindos da Índia: a nova moda era introduzida por bandas quentes como Love, Beach Boys e os The Mamas and the Papas. Contagiado pelo que viu (e ouviu), e por todo aquele visual ousado, o pessoal do Cream resolveu embarcar naquela: as cabeleiras de Clapton e Baker, já ficando vastas, deram oportunidade a loucos penteados afro que eles urdiram com a ajuda de cabeleireiros fashion de Nova Iorque e suas permanentes. Bruce, renegando o seu lado “negão”, não quis fazer o mesmo com o seu cabelo, mas tratou de trocar o seu figurino para o que havia de mais moderno e arrojado para a época, no que foi prontamente acompanhado pelos outros. Quando regressou a Londres para a realização de mais algumas datas antes da gravação do novo LP, os Cream já eram a banda com o visual psicodélico clássico que os consagraria – lá se iam as primeiras fotos promocionais do grupo, vestidos com tímidos uniformezinhos de prisioneiros, ou de couro, como pilotos da força aérea britânica.
É Clapton quem conta, em entrevista concedida a um jornalista americano, nos anos 80, o resultado de suas peregrinações pelos estúdios e lojas de equipamentos musicais de Nova Iorque naqueles dias: “O pedal wah-wah utilizado em todas as sessões de gravação de Disraeli Gears comprei-o em Nova Iorque, numa excelente loja de instrumentos musicais que eu achei por lá, a Manny’s. Tinha um som incrível, que dava um efeito impressionante, que eu usei largamente em “Tales of Brave Ulysses”. As inovações técnicas advindas com a estadia do grupo nos EUA fizeram-se refletir, também, no modo de gravar.
Os estúdios da Atlantic, em Nova Iorque, foram escolhidos como novo reduto musical do grupo, e ali foram gravadas as duas primeiras faixas que figurariam no próximo trabalho da banda: “Lawdy Mama” e a emblematicamente psicodélica “Strange Brew”, cantada por Clapton. Quando retornaram à Inglaterra, em 12 de Abril, levaram as fitas daqueles novos sons que fariam gerações delirarem por anos e anos adiante. Para Clapton, então, em nova entrevista à Disc & Echo Music, a experiência de gravar em solo americano tinha se revelado inigualável:
“Os engenheiros de som por lá são inacreditavelmente sábios musicalmente, tanto que até parece que são um outro membro da banda. Eles são magos musicais, e não apenas engenheiros de som.”
Após cumprirem algumas datas em alguns clubes ingleses ansiosos por verem o seu espectáculo de peso e blues, os Cream voltariam aos EUA, eleito o seu novo lar inspirador, onde gravariam as outras faixas de seu histórico segundo álbum, Disraeli Gears, que ainda demoraria uns bons meses para ser lançado – em muito, devido a problemas burocráticos com executivos da gravadora que não estavam achando muito “potencial criativo” nas novas faixas.

O futuro trataria de provar quão erradas estavam aquelas pobres almas. As novas músicas, repletas de influências psicodélicas e cheias de um som cheio e vibrante proporcionado pelos estúdios da Atlantic, que dava maior dimensão à música heavy do grupo, iam sendo geradas, uma a uma, numa explosão de criatividade. Eram dias mágicos nos estúdios aqueles, e agora, junto à “gang” do Cream, estava um novo e precioso elemento: o baixista de ascendência grega Felix Pappalardi, grande amigo da banda desde os seus primeiros shows e uma espécie de roadie que os acompanhava aonde quer que fossem, agora dando também um suporte musical: “Strange Brew”, o novo single programado para lançamento no mês de junho, havia sido composto por ele, sua esposa, Gail Collins, e Eric Clapton.
“Strange Brew” era um blues lisérgico e visceral embalado pela dança envolvente entre a guitarra de Clapton, alçando riffs fenomenais um após o outro, e o baixo de Bruce, conduzidos ritmicamente pela percussão precisa de Baker. Os vocais agudos de Clapton faziam a cama para adiante ele solar à vontade, com grande criatividade, enquanto a cozinha massacrava ao fundo. Um grande sucesso. Mas não menor, talvez, do que o lado B do compacto: a épica “Tales of Brave Ulysses”, até hoje considerada uma das melhores canções do Cream. Era uma balada heavy em tom majestoso, cantada com imponência por Jack Bruce sobre a jornada do célebre personagem da literatura grega, e que dava margem a um dos melhores usos da guitarra wah-wah em uma canção de rock até hoje, emoldurando todo o som da música e conferindo-lhe uma atmosfera toda mágica. Clapton, aliás, preferia esta canção ao lado A do single. Ambas fariam parte do álbum Strange Brew.
Por falar em Clapton, este deu um verdadeiro arroubo de arrogância no regresso dos Cream a Inglaterra em Junho daquele ano, mas não sem razão: na verdade, a sua polémica declaração, que irritou profundamente alguns ingleses mais bairristas, era um murro indirecto no olho da imprensa oportunista:
“É uma grande chatice viver em Inglaterra neste momento. Toda gente, anda obcecado por Jimi Hendrix, e se alguém ousa tocar uma frase diferente ou a mais, na guitarra é logo acusado de estar a copiá-lo!”, declarou um revoltado Clapton à Disc & Music Echo. Clapton respondia a uma crítica feita por Lulu. Comentando o novo single dos Cream, “Strange Brew”, na mesma revista, ela dizia: “Clapton Cabeludo realmente ficou todo Hendrix, não é ?Ele é espectacular, mas tudo o que eu ouço dele, soa-me a Hendrix.”
Bom, era uma visão totalmente distorcida da verdade: qualquer crítico com um mínimo de sensibilidade musical distinguiria muito bem os estilos de tocar guitarra de Clapton e de Hendrix.
O lendário guitarrista Jimi Hendrix havia aportado em Londres no final de 1966, levado pelo ex-baixista dos Animals, Chas Chandler, agora convertido em empresário musical, e estava a fazer o maior sucesso acompanhado da banda que Chandler arranjara para ele, o Experience. Por sinal, eram um trio, o que levantou rumores, posteriormente, sobre a intenção de Chandler de formar um grupo justamente como os Cream, que já eram bastante populares, quando o Jimi Hendrix Experience começou os seus primeiros ensaios. Os dois grupos acabariam formando a linha de frente do então nascente rock pesado: ambos eram atordoantes nas suas apresentações e gravações, apresentavam guitarristas apaixonantes e absurdamente inspirados, e sugeriam um visual “alienígena” e um clima psicodélico que agradava às platéias da época.
A obsessão inglesa pelo Jimi Hendrix Experience, entretanto, acabaria rendendo uma rivalidade saudável entre eles e os Cream que, ao modo dos Beatles e Rolling Stones, acabaram até por ficar muito amigos, cruzando-se em aeroportos e em casas nocturnas célebres da época – como no Whisky A Go Go, de Los Angeles, EUA, assiduamente frequentado por Clapton e Hendrix, que volta e meio trocavam telefonemas por lá e riam das comparações feitas pela imprensa entre ambos.
Durante o período de Junho a Novembro de 1967, os Cream realizam algumas das suas mais quentes apresentações, antecedendo o lançamento de seu fervorosamente aguardado novo disco, e tocando faixas dele durante elas, que levam as plateias ao delírio. Tocam na sétima edição do Festival de Windsor, num concerto de agradecimento pelo sucesso anterior por lá, assim como em San Francisco, EUA, lotando o Fillmore Auditorium e deixando extasiados os críticos musicais norte-americanos, que elevam os Cream à condição de culto, maravilhados com o brilhantismo, o domínio musical e os improvisos do grupo no palco. Tocam no Whisky A Go Go, em Los Angeles; em Boston, Massachusetts; no Café Au Go Go, em Nova Iorque. Para finalizar, enchem de gente o Grande Ballroom, de Michigan, dando um show irrepreensível. Do Los Angeles Free Press ao Melody Maker, a imprensa não se cansa de elogiar a banda e o seu virtuosismo musical. Finalmente, na edição de 18 de Outubro de 1967, a prestigiada Time declara nas suas mundialmente lidas páginas:
“A turnê dso Cream pelos EUA é a maior e mais bem sucedida aventura musical ocorrida desde os Beatles e Rolling Stones.”
Clapton, vingado perante a imprensa musical inglesa, diz simplesmente:
“Acho que somos mais bem conhecidos e admirados aqui do que imaginávamos...”
Novembro de 1967 testemunha o lançamento de Disraeli Gears, que, confirmando todas as expectativas, chega ao topo das vendas tanto norte-americana quanto britânica, terminando por conceder ao grupo o status de lendas vivas do rock.
Além do sensacional trabalho de arte de Martin Sharpe, fazendo da capa do LP um verdadeiro delírio ácido de cores e imagens, chamam a atenção faixas como a atemporal “World of Pain”, a ultra-psicodélica “SWLABR” (originalmente intitulada “She Was Like a Bearded Rainbow”), de letra surrealista e ritmo inebriante, e a dramática balada “We’re Going Wrong” que são até hoje consideradas clássicos absolutos do rock, e são uma visão bem mais profunda e contemplativa das possibilidades criativas do hard rock lisérgico. Talvez, no entanto, não mais do que o maior êxito do álbum: uma das músicas pelas quais o Cream será eternamente lembrado, “Sunshine of Your Love”, capitaneada por uma das frases de guitarra mais inspiradas e copiadas da história do rock. Este blues pesado e sincopado, cantado com grande garra por Bruce e Clapton, além de apresentar um solo sensualíssimo de Clapton e um dos mais perfeitos casamentos de baixo e bateria de todos os tempos, figurando alguns dos melhores momentos sonoros do grupo.
O sucesso e a ovação geral, bem como a energia criativa, haviam chegado ao seu nível mais alto. Agora, era curtir cada vez mais e ir além... ou descer vertiginosamente, em declínio. Ou, possivelmente, os dois.

A continuar, em próximos posts.

Fontes:Denio Alves
A História do Rock (Edições Som Três, 1982)
Eric Clapton – Por Ele Mesmo (Ed. Martin Claret, 1992)
John Platt, Disraeli Gears (Schirmer Books, 1998)
Chris Welch, Strange Brew (Castle Communications, 1994)
Brian Hogg & Robert Whitaker, In Gear (UFO Books, 1992)

Cream - A História - Parte I

A Londres de 1964 era, definitivamente, um lugar especial para se viver. Nunca, desde a Era Vitoriana, os ingleses, e em especial a sua capital, haviam vivido um período tão fértil e promissor como o daqueles anos – e talvez nunca mais viveriam. O que se havia tornado na fortuna do Império Britânico naquela longínqua época de bens de consumo exuberantes advindos da Revolução Industrial e as especiarias importadas das colónias , entretanto, não era o que fazia o êxito do Reino Unido agora, na abóbada celeste dos coloridos anos 60. Pois é impossível não se falar neles, já que foi com eles que tudo começou: os Beatles.

“Nós éramos motivo para vender de tudo , de discos a veludo cotelê” ,comentaria George Harrison anos depois, naquela série documental sobre a banda, “Anthology”. E era verdade. A chamada Invasão Britânica, que assolou os Estados Unidos e, por conseguinte, todos os outros países do continente americano como uma praga desde que Lennon & MacCartney e a sua entourage real, puseram os pés no aeroporto de New York pela primeira vez ,mudou o mundo, pintou de histeria as paradas pop e tingiu de sons diferentes e diversificados toda a produção fonográfica mundial .

E assim como os "escravelhos" de Liverpool eram uma tremenda novidade naqueles anos de caras sisudas e pôpas pseudo-rebeldes a la Elvis e James Dean, enquanto toda a sociedade organizada ainda se resguardava de todos os ataques de uma sociedade jovem ainda silenciosa, mas reivindicante de mudanças modernistas radicais e ideologias novas a serem introduzidas (e que estavam sendo operadas há anos, nos EUA, pelos beatniks, e seus jovens seguidores, os cantores folk, como Bob Dylan), a sede por coisas novas, variedades, era intensa – daí o grande fomento da indústria musical através de novidades, visto que novos filões estavam abertos ao consumo público. O avanço da tecnologia e dos novos métodos de gravação, também, eram causadores disso – as fracas experiências realizados para os filmes de Walt Disney, na década de 50, para quase 50% das cópias de discos produzidas no início dos anos 60 nos EUA, as gravações stéreo, inovação tecnológica introduzida no mercado fonográfico, representavam uma maior fidelidade de som presente na sala de reprodução do ouvinte que deixava maravilhados os cultores das novas técnicas de gravação. A partir daí, passou a falar-se em canais, mixagens e equalização, com bem mais propriedade, visto que o sistema stéreo, em que a reprodução do som se torna mais ampla no ambiente através da divisão do som em duas vias de reprodução simultâneas (canal esquerdo e direito) dava mais sensação ao ouvinte de proximidade com a música real.

Obviamente, todo este período de euforia na História da Música Popular mundial foi a porta para que várias modas e tendências musicais fossem introduzidas. E em Inglaterra, terra dos Beatles, dos seus sucessores Rolling Stones e de uma nova e sensacional banda chamada The Animals, em 1964, o negócio era o blues.

Claro. Logo ficou evidente aos jovens britânicos que toda aquela explosão de criatividade dos grupos emergentes tinha a sua razão de ser numa só raiz – pois todos, com ou sem influências de country & western, doo-woop, motown ou até mesmo rythim n’ blues, acabavam sempre bebendo daquela água original, de preferência barrenta das margens do Mississipi (Muddy Waters). Dessa forma, então, é que nasceu, na capital absoluta das novidades, Londres, o movimento dos jovens puristas de blues.
Na verdade, esta tendência já existia há muito tempo – desde os anos 50, quando jovens britânicos descontentes com a mediocridade do mundo inglês frio e hostil em que viviam, como Cyril Davies, Alexis Korner e John Mayall, (foto ao lado) resolveram dedicar-se full time à música que ouviam nos discos de blues americano importados por marinheiros do Mersey. O próprio Eric Burdon, vocalista dos Animals, um dos grandes entusiastas do movimento purista de blues inglês, é quem lembraria essa sensação, numa entrevista concedida mais tarde, nos anos 70: “A gente ouvia todos aqueles nomes esquisitos, canções estranhas cantadas por Big Maybellene e Wynonie Harris, e aquilo era fascinante e tão diferente! Senti no acto que um dia eu teria que cantar daquela maneira...”.

Pois é, foi exactamente assim que a febre do blues pegou no público jovem britânico. Haviam as cisões, é claro: ou eram as "groupies" ensandecidas dos Beatles na área de Liverpool, Blackpool e Manchester, ou ainda os mods e "rockers" da região de Glasgow, Manchester e também em Londres (os primeiros curtiam motown e sons de grupos negros americanos, mais influenciados pelo soul e doo-woop, e tinham uma filosofia de vida bem "dandy", antenados mais com a moda e os prazeres materiais da vida do que tudo, e os segundos gostavam de rockabilly selvagem e motos cheias de adornos, eram típicos Hell’s Angels, e dariam luz, quase uma década depois, ao movimento punk britânico).

O blues, no entanto, já estava bem disseminado nas ilhas de Vossa Majestade em 1964, e foi justamente naquele ano que duas bandas estavam disputando paso a passo, o título de “melhor banda de blues inglês” entre os seus admiradores, jovens ingleses existencialistas, grande parte deles universitários ou profissionais autónomos emergentes da Era das Sensações (como o fotografo dandy do clássico filme Blow Up , de Antonioni, de 1966), com um bom cachimbo (bem ao estilo Sherlock Holmes) e roupas e penteados exóticos – eram eles, basicamente, a plateia que enchia os enfumaçados pubs de blues daquela época, em Londres. As tais duas bandas eram o John Mayall & his Bluesbreakers e a Graham Bond Organization – desnecessário dizer que, pelo prestígio que ambas tinham no cenário britânico de blues, um sem-número de futuras estrelas do rock britânico passaram pelas suas assistências, absorvendo aquela experiência que lhes seria tão preciosa: Mick Jagger, Charlie Watts, Brian Jones (Rolling Stones), Peter Green (Fleetwood Mac), Paul Jones (Manfred Mann) etc. etc. blá-blá-blá... e, afinal, os heróis de nossa história: Eric Clapton, Ginger Baker e Jack Bruce.

Ginger Baker, nascido Peter Edward Baker em 19/08/1939, na pequena cidade de Lewisham, desde cedo se interessará por ciclismo, participando em várias competições juvenis ainda muito jovem . Entretanto, foi a música que preencheu a sua atenção, e lá estava ele, enfronhado nas audições dos velhos discos de jazz do seu pai, vindo a tornar-se grande fã de Dizzy Gillespie. Inicialmente, teve aulas de trumpete, mas já aos 15 anos, adoptava a bateria como instrumento definitivo, vindo a tocar com várias bandas num curto espaço de tempo e profissionalizando-se no ofício com uma velocidade impressionante. Como membro da Storyville Jazz Men, Baker chamou a atenção de vários críticos para aquele novato, que havia aprimorado seu estilo ouvindo discos nos quais tocava Baby Dodds, célebre baterista de grupos de New Orleans – foi esta lenda do jazz e do blues americanos que práticamente criou o conceito de um só baterista de jazz na banda tradicional, que antes contava com pelo menos dois ou três percussionistas para a secção rítmica. Dodds arrumava todo o kit de percussão de forma que tivesse total controle para tocar de tudo um pouco. E foi ouvindo Baby Dodds com afinco que Baker se tornou naquilo que conhecemos: um exímio, inventivo e eclético baterista, capaz de proezas rítmicas impensáveis para aquele tempo de bateristas firmemente aferrados a uma forma fria, quase matemática e impessoal, de tocar o jazz.

Por trás de todo o grande gênio, entretanto, há sempre uma personalidade estranha ou conturbada. Devido a já precoces problemas devido ao seu temperamento explosivo, aliado ainda a um gosto pela heroína desenvolvido desde as suas primeiras noite de jam session com os seus primeiros grupos, Baker arranjava "guerras" onde quer que estivesse e era invariavelmente “convidado” a retirar-se das bandas em que tocava, chegando mesmo a pensar em abandonar a carreira musical poucos dias após a sua expulsão da Storyville Jazz Men, com quem tocara até 1959. Porém, encorajado por amigos do meio musical que reconheciam nele um talento singular, Baker continuou tocando o barco, quer dizer, o bombo e todo o resto, até 1961, quando numa temporada em Londres com um sem-número de grupos que estava acompanhando (sempre como convidado especial), conseguiu arranjar um lugar fixo no lendário Blues Incorporated, do pioneiro do blues Alexis Korner, substituindo ninguém menos que Charlie Watts – que partira para se aventurar vocês já bem sabem aonde...

O engraçado é que todos estes "combos" de blues eram sempre muito cheios de swingue – não me refiro ao swing de batida, ritmo quente, mas sim ao troca-troca mesmo de componentes, um eterno vai-e-vem que parecia não terminar nunca. Só de Junho a Agosto de 1962, o Alexis Korner & the Blues Incorporated trocou de vocalista não menos que três vezes: Paul Jones (do futuro Manfred Mann), Ronnie Jones e até Mick Jagger (que surpreendia todo mundo com seus trejeitos efeminados, muito antes disso se tornar moda). Pois eis que em novembro de 1962, o Blues Incorporated ganha um novo membro fixo, o saxofonista Graham Bond, e três meses depois o que acontece? Bingo! Graham Bond deixa o Blues Incorporated, mas não sem fazer um estrago. Ele leva consigo, para formar sua própria banda, Ginger Baker e o baixista Jack Bruce, outra fera que vinha acompanhando Alexis Korner.

Jack Bruce, nascido John Simon Asher Bruce, em 14/05/1943, em Bishopbriggs, Escócia, possuía estrita formação musical desde cedo, tendo já estudado cello e piano, além de ter participado em corais de igreja durante vários anos – o que explica a sua excelente e eficaz postura vocal. “Desde a escola, no entanto”- conta ele – “a minha grande ambição era ser um baixista, porém eu era ainda muito miúdo para conseguir segurar o monstro”(refere-se ele aos enormes baixos acústicos, visto que na época os modelos elétricos ainda não eram tão populares). “Finalmente, aos 15 anos, já tendo crescido o bastante, consegui realizar o meu desejo”. Assim como Baker, Bruce tocara em vários grupos de jazz e blues, mas ao contrário do parceiro, tinha uma experiência formal e clássica mais avantajada – já tinha viajado para tocar em Itália, em famosos festivais de jazz e até aos 17 anos, tinha estudado sériamente música clássica na Academia Real Escocesa de Música, em Glasgow, só saindo de lá por demonstrar o seu já inegável e crescente interesse pelo jazz e blues.
The Graham Bond Organization, em 1965:
Baker e Bruce são os primeiros da esquerda para a direita

O período entre 1963 e a metade de 1965 foi um dos mais prolíficos na mítica trajectória da Graham Bond Organization como desbravadores do território do blues inglês. Com Graham Bond, Ginger Baker, Jack Bruce, mais o lendário guitarrista John McLoughlin e o saxofonista Dick Heckstall-Smith, eles lançaram dois álbuns clássicos (The Sound of '65 e There's a Bond Between Us), que consolidaram a sua presença de palco entre o público londrino de blues, e os levaram a diversos shows de rádio e programas de TV que divulgavam bandas do gênero.

Entretanto, logo ficou claro que as coisas não andavam tão bem assim dentro do grupo: o eterno génio exterminador de Baker fez-se mostrar. Se nos palcos a coisa funcionava excelentemente bem, é porque nos ensaios a "guerra" havia sido fratricida para chegarem a um consenso: Bruce e Baker brigavam constantemente, discutindo sobre tudo, desde o volume com que Bruce amplificava o seu baixo eléctrico até a força com que Baker atacava os pratos. Tudo era motivo para uma boa guerra de gritos. No inicio a reacção dos outros membros da banda foi normal – aquilo era até um bom medidor do nível de perfeccionismo do grupo em busca de um grau evolutivo mais elevado. Entretanto, logo a coisa começou a ficar mais séria.

Num gig do qual hoje em dia ninguém mais se recorda bem aonde foi exactamente, mas apenas de que foi realizado em Julho de 1965, membros da audiência assistiram, complacentes, a uma ruidosa discussão entre Baker e Bruce que por pouco não descamba para a violência física – já que a verbal, estava ardendo em chamas a partir do momento em que Bruce, fazendo uma "malha" cheia de virtuuosismo,no seu baixo, como ele adorava fazer, saiu um pouquinho dos acordes planeados numa das canções, ao passo que Baker parou imediatamente, no meio da música, berrando um grosseiro “eu disse-te que não era pra ser assim, seu fuckin’ idiota!”
A partir daí, o show acabou, e o ingresso daquela noite ficou valendo pela curiosidade de se ver Bond e Heckstall-Smith tentando apaziguar os ânimos de seus colegas de banda, num desconcertante “deixem-se disso”.

Logo ficaram evidentes os "complôts" que Baker, um conspirador no melhor dos estilos, estava a arquitectar para tirar Jack Bruce do Graham Bond Organization – e foi exactamente o que aconteceu, em Agosto de 1965, após mais uma discussão entre Bruce e os outros membros da banda, de que seria melhor que saísse para que, inclusive, permanecesse vivo. “Nada pessoal, Jack”- Bond – “mas o Ginger já andou até guardando um canivete na cintura dizendo que, caso apareças novamente num dos shows ou ensaios, ele não responde por si.” Só depois de muitos anos esta incrível história seria revelada pelos biógrafos do Cream, mas é verdade: talvez, por algum descuido, e devido ao seu irrascível temperamento por vezes alterado pela heroína e bebida, Ginger Baker pudesse um dia ter esfaqueado Jack Bruce, ainda que actualmente ninguém queira mais tocar neste assunto.

Bruce, convenceu-se de que era melhor ser um baixista sem banda, e vivo, do que um baixista na banda, mas morto pelo próprio companheiro de grupo, resolveu finalmente sair, e por volta de Outubro de 1965, preparava a sua nova investida, de forma a impressionar todos os seus amigos !


John Mayall and the Bluesbreakers.Eric Clapton,treceiro da esqª.

Entretanto,o grupo de John Mayall, The Bluesbreakers, estava a disfrutar de um extraordinário sucesso desde que um dos mais prestigiados guitarristas de todos os tempos, o jovem Eric “Slowhand” Clapton, havia deixado os Yardbirds, banda que, na sua primeira fase, servia de modelo e inspiração para todo e qualquer bluesista inglês.

Eric Clapton, nascido Eric Patrick Clapton, 30/031945, na pequena Ripley, algumas milhas ao norte de Londres, é uma lenda viva do blues e do rock que, como todos sabem, passou por diversas bandas de blues , até chegar aos Yardbirds como um talento promissor considerável, especialmente após a lendária temporada da banda no célebre Crawdaddy Club, em que eles substituíram os Rolling Stones – o que ninguém esperava, entretanto, é que numa bela noite de 1963 um monstro sagrado do blues americano, o harmonicista e cantor Sonny Boy Williamson, fosse aparecer por lá, para um show surpresa. Precisando de um grupo relâmpago na hora, ele recrutou os Yardbirds. Os pobres rapazes, agarrados,apanhados com as calças na mão, pouco sabiam da fama de mandão e excêntrico daquele negão do blues, mas a atitude deles de reverência e humildade diante dele, dando o sangue e o suor em tudo o que sabiam de blues naquela noite acompanhando-o, assombrou tanto o próprio Sonny Boy quanto os privilegiados da plateia que presenciavam aquele momento histórico. Nada mal para o até então esparso currículo do jovem Clapton, que caprichou naquelas apresentações e saiu de lá ovacionado. Os Yardbirds, por sua vez, saíram de lá com um contrato de gravação praticamente assinado, graças a Giorgio Gomelski, gerente do Crawdaddy e empresário da banda.

O problema, como muitos já sabem, é que, em 1965, a direcção musical dos Yardbirds estava a ser sensivelmente alterada pelo seu empresário e pelos próprios membros do grupo, que haviam decidido firmemente “fazer dinheiro”, no rastro das bandas de sucesso que não ficavam só presas ao esquema limitado de blues, pubs e discos com um restrito público formado apenas por apreciadores do género. A partir do hit “For Your Love”, lançado no início daquele ano, os Yardbirds diziam adeus aos puristas dos blues, que os consagraram, mas que passaram a torcer o nariz para eles com aquela mudança tão radical na sua carreira: a nova canção, para alguns, era uma viagenzinha poppish no melhor estilo Beatles. Foi esta canção a carta de demissão de Clapton, que era um típico purista de blues, dos Yardbirds.

Convocado a prestar os seus serviços "guitarrísticos" ao grupo de John Mayall, Clapton lá chegou com toda a pompa underground prestada pelos admiradores britânicos de blues da época. Na manhã posterior à sua primeira noite de apresentação com os Bluesbreakers, Clapton foi, simplesmente, surpreendido com vários muros da cidade de Londres, repletos com o grafitti “Clapton is God” (Clapton é Deus), o que solidificou a aura e a imagem mítica do guitarrista para todo o sempre. Até hoje, no entanto, há ainda os que afirmem que a “canonização” de Clapton, na verdade, não passou de um mirabolante golpe de marketing, bem ao estilo dos primórdios das campanhas publicitárias de impacto que fervilhavam em Londres naqueles dias esfuziantes, e quem haveria pintado nos muros teriam sido o próprio Clapton e alguns amigos bluesistas dos Bluesbreakers, numa silenciosa conspiração em resposta ao sucesso dos Yardbirds nos charts britânicos com “For Your Love”.

Pois bem, foi no final de 1965 que Jack Bruce chegou aos Bluesbreakers de John Mayall, que já tinham lançado alguns estupendos registos sonoros em compacto e LP com Clapton (incluindo o histórico “John Mayall and the Bluesbreakers with Eric Clapton”, onde figuram as imortais “Telephone Blues” e “All Your Love”). Bruce encontra, ao lado de Clapton, um ambiente totalmente diferente daquele vivido ao lado de Ginger Baker na Graham Bond Organization: o novo colega de banda reverencia-o como um grande músico, e fica especialmente interessado nas suas habilidades jazzísticas no baixo. É nessa época que Clapton comenta com Bruce o desejo de, um dia, formar uma banda bastante diferente, com capacidade de fazer um som que ligue tudo que havia de interessante até então, sempre tendo como raiz os blues, evidentemente, mas jazzística e disposta a alçar voos bem mais altos e diversificados. Estaria o purista de blues Clapton traindo a causa, afinal?

A verdade é que, tanto Bruce quanto Clapton, como qualquer ser humano normal deste mundo, também estavam começando a perceber que tinham o desejo de, além de serem criativa e musicalmente satisfeitos, terem carreiras profissionais bem sucedidas dentro daquilo que faziam, ou seja, o mundo da música. O circuito de blues é limitado – o foi, é, e sempre vai ser. É uma espécie de sacerdócio manter-se num só estilo musical como este, além de ser um tanto quanto limitador, musicalmente falando – daí, o desejo nascente em Bruce e Clapton de formarem algo diferente. Além disso, algo pouco comentado na época era a inveja que ambos tinham do belo modelo Rover conversível que Ginger Baker havia comprado há pouco tempo. Ou seja: é óbvio que, além de dar vazão a todo o seu potencial criativo, Clapton e Bruce burilavam, intimamente, transformar o seu projeto numa “máquina de fazer dinheiro”.

Indícios desta nova banda, que Clapton e Bruce formariam foram dados, aos fãs ingleses, num obscuro lançamento fonográfico do início de 1966: Jack Bruce já havia migrado dos Bluesbreakers (onde tomara parte apenas em algumas sessões de gravação e em alguns shows) para o Manfred Mann, uma das bandas pop de maior sucesso na Swingin’ London (aquela de hits como “Do Wah Diddy Diddy” e “Pretty Flamingo”) – talvez até mesmo pelo desejo de ganhar algum dinheiro. E então, com alguns membros do Manfred Mann mais a luminosa participação de Eric Clapton (já abandonando os Bluesbreakers também), foram gravadas algumas faixas de blues tradicional, com uma nova roupagem, no entanto. A química de peso vertiginoso que se formava no entrelaçamento do baixo de Bruce com a guitarra de Clapton era impressionante, e fazia-se sentir nas três faixas gravadas para aquela compilação de blues da Elektra Records inglesa, chamada “What’s Shaking”, na qual a tal banda, um projecto de uma noite no estúdio, aparecia sob o nome de Eric Clapton & the Powerhouse.
Sem saber, haviam eles criado o embrião do Cream.(A continuar em próximos posts)

Fontes:
Denio Alves
A História do Rock (Edições Som Três, 1982)
Eric Clapton – Por Ele Mesmo (Ed. Martin Claret, 1992)
John Platt, Disraeli Gears (Schirmer Books, 1998)
Chris Welch, Strange Brew (Castle Communications, 1994)
Brian Hogg & Robert Whitaker, In Gear (UFO Books, 1992)

Parabéns a Jonny Lang (1981)

Parabéns a este "Guitar Hero",que completa hoje,28 Anos,e é já uma lenda do Blues

Um erro colossal.

Durante 80 anos, foi considerado uma das obras primas de Francisco Goya. Mas ontem, foi revelado que "O Colosso", não foi pintado pelo grande mestre espanhol, mas sim por um dos seus assistentes.
Após sete meses de investigação, especialistas do museu do Prado, em Madrid,chegaram á relutante conclusão, de que a obra prima,é provavelmente, um quadro de Asensio Juliá, um dos assistentes de Goya.Afirmaram que o quadro, que esteve pendurado por 78 anos no Prado, é Goyesco, mas não um Goya.
Houve sempre dúvidas acerca da autoria do quadro, dizendo os especialistas na técnica de pintura de Goya, que este nunca teria pintado aquele que foi durante anos, considerado o seu "masterpiece".
As duvidas aumentaram, ou desapareceram, quando o curador do museu e "expert", na arte do século 19, José Luis Díez, descobriu, no canto da tela, as iniciais A.J. Voilá!
Juliá, colaborou com Goya, nos frescos de Santo António da Igreja Florida em Madrid, e normalmente, assinava os trabalhos, com estas iniciais.Os assistentes de Goya, copiavam frequentemente as obras do mestre.
Pioneiro nas técnicas do século 19,Goya é considerado como sendo o primeiro "artista moderno", com um penetrante e incisivo ponto de vista da humanidade. O Colosso,figura de um gigante que rompe através das nuvens, com as pessoas aterrorizadas em baixo,foi pintado durante a Guerra Peninsular, que envolveu, França, Inglaterra, Portugal e Espanha, entre 1808, e 1814.
Há um inventário das obras de Goya, e feito em 1812,que refere um quadro chamado,O Gigante.
Outros, especialistas, dizem que as pessoas horrorizadas que aparecem no quadro,representam a loucura da guerra.
Fonte:The Times,Graham Keely,em Barcelona

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

The Shadows, a sombra de Hank Marvin

Parece que muita gente, e gente de muito talento, gastou a sua infância e a mais tenra juventude na companhia e na sombra dos Sombras (The Shadows).
Reza a lenda que Jeff Beck, Jimmy Page, Pete Townshend, Blackmore, Clapton e muitos mais passaram as tardes trancados nos seus quartos imitando os solos de Hank Marvin.
Copiavam nota a nota, numa verdadeira escola prática de guitarra. Também,com aquele fog Londrino, não dava mesmo jeito nenhum, andar a passear por Picadilly Circus, ou visitar a Ecrã inteiro
St. Stephen's Tower no Palace of Westminster. Então aproveitavam o tempo em algo bem mais produtivo.
Em 1958 Cliff Richard era uma espécie de Elvis inglês, o rei do rock pop, e fazia sucesso atrás de sucesso, acompanhado pelos The Drifters, que pra não serem confundidos com o grupo de R&B americano com esse mesmo nome,mudaram o seu para The Shadows, numa piada explícita á sua condição de sombras do Cliff.
Em 1960 resolveram aventurar-se numa carreira instrumental e colocaram um tema delicioso chamado "Apache" em primeiríssimo lugar nos hit parades mundiais e, que se viria a tornar no tema mítico dos solos de guitarra.
Formado pelas guitarras de Hank Marvin (solo) e Bruce Welch (ritmo) mais Terry "Jet" Harris no baixo e Tony Meham na bateria, The Shadows era uma aula de simplicidade com riffs estridentes e inovadores, e os solos estupendamente cristalinos de Hank Marvin. Era água de cascata, pai e mãe da surf music e de tudo que veio depois.Não tem distorção, não tem escalas estratosféricas, só um "uila ula" deslizante, onde os arpejos e solinhos deliciosos de Marvin fazem pensar que até é fácil tocar aquilo.
Em 1997 comprei um disco que tinha sido lançado recentemente chamado "Twang! A tribute to Hank Marvin & The Shadows", onde inúmeros fãs (e que fãs) prestavam, cada um com o seu estilo, as suas sinceras homenagens à influencia do mestre.
Vejam só o cartaz:
Ritchie Blackmore - "Apache"
Brian May - "FBI"
Tony Iommi - "Wonderful Land"
Steve Stevens - "The Savage"
Hank Marvin - "The Rise and Fall of Flingel Bunt"
Peter Green - "Midnight"
Neil Young & Randy Bachman - "Spring is Nearly Here"
Mark Knopfler - "Atlantis"
Peter Framptom - "The Frightened City"
Keith Urban & Stewart Copeland - "Dance On"
Andy Summers - "Stingray"
Bella Fleck & Fleck Tones - "The Strangler"

Pela amostra acima dá pra ver a qualidade dos influenciados. O interessante é que cada um trouxe o seu estilo próprio para os temas já imortalizados pelos Shadows.
Tem desde trovão e tempestade (Tony Iommi), sol mediterrânico (Steve Stevens), uns ventos atravessados (Neil Young) e até um solzinho morno de outono (Knopfler), mas a pegada de Hank Marvin é inconfundível e quando entra sua faixa, "The Rise and Fall of Flingel Bunt" parece que chegou o dono da "chincha", e berrou :
"Com licença, quem joga sou eu!".
Assim como a de Chet Atkins, Scotty Moore, Cliff Gallup e de tantos outros, a guitarra de Marvin foi e ainda é uma bússola para muitos "guitar heroes "e a homenagem é muitas vezes comovente. Faltou o Brian Setzer que é um fã assumido, mas ao ouvir o solo do renascido das cinzas, Peter Green, o coração enche-se de alegria.Twang!A não perder.


Michael Jackson,soma e segue

John Landis, director e co-roteirista do vídeo ‘Thriller’ (1983), processou Michael Jackson e a produtora Optimus Prods.,por falta de pagamento de seus direitos nos últimos quatro anos.As informações são da “Variety”.Depois de uma espectacular estreia, o vídeo de‘Thriller’ tornou-se um sucesso mundial e um fenómeno da cultura pop, que continuou a dar lucros para Michael Jackson e para á Optimus Prods., que se recusaram a pagar ou prestar contas sobre esses lucros ao reclamante”, afirma o processo, que está num tribunal de Los Angeles.
A ação acusa Jackson de “conduta fraudulenta,maliciosa e opressora” e traz, em anexo, o acordo fechado em 1983, entre Landis e o cantor, que incluiria pagamento não apenas pelo vídeo, mas também por um documentário dirigido por ele.