sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

David Bowie - Space Oddity


O ano é 1969. Muito do que era feito em termos de rock estava baseado na cultura flower power, que exactamente naquele ano chegaria ao auge com o Festival de Woodstock. Chocando de frente contra a guerra do Vietnã, pregando o amor livre e a paz, essa geração via no lema "faça amor, não faça guerra" uma espécie de revolução mundial, a condenar, o que acontecia no lado oriental do planeta entre vietnamitas e norte-americanos.

Porém, um inglês com um defeito no olho causado por uma briga na adolescência, preocupava-se com outros assuntos, menos mediáticos.

David Bowie, - nascido David Robert Jones, mas que decidiu usar o nome Bowie por causa da marca da faca que lhe causou o ferimento no olho, - era apenas um jovem, que acabara de lançar o seu primeiro disco, ainda centrado na cultura beat de Jack Kerouac, e com uma sonoridade muito arreigada aos cânones da década de sessenta.

David começara a despertar os seus sentidos, os seus ouvidos para as canções de Bob Dylan, dando-se conta de que a música, além de ser uma obra de arte, era também uma poderosa ferramenta lírica.

Com a ajuda de Tony Visconti e Rick Wakeman, Bowie começou a compôr o seu segundo álbum, que foi lançado em 1969 com o nome de "Space Oddity" - ou Man of Words / Man of Music, ou ainda apenas David Bowie nas primeiras edições.

Tendo várias canções de protesto, tais como. "Cygnet Comitee", "Memory of a Free Festival", "Letter to Hermione","Unwashed and Somewhat Slightly Dazed", o maior destaque ficou para a faixa-título.

"Space Oddity" é uma sátira em que foca a guerra espacial entre URSS e EUA. Nela David Bowie demonstra a sua indignação contra a exploração do espaço, aonde se gastava bilhões de dólares para algo, que na sua maioria resultava em frustações e perdas de vidas humanas, como o acidente ocorrido na plataforma russa em 24 de Outubro de 1960, no trágico incẽndio da Apollo 1 - que vitimou Virgil Iavn Grissom, Edward Higgins White II e Roger Bruce Chaffee -, o acidente com o cosmonauta Vladimir Komarov em Abril de 1967 ou ainda, mais recentemente, em 2003, a explosão do shutlle espacial Columbia, em que morreram todos os seus tripulantes.

A canção narra a história de Major Tom, que vai para o espaço na sua nave em busca de novidades para a Terra. Mantendo sempre contacto com a base , - Ground Control, - Major Tom recebe licença para vasculhar o espaço e, mas devido a uma deficiência a bordo da sua nave, acaba por se perder na imensidão do cosmos, mas deixando uma gravação de despedida, recado para a sua esposa, dizendo que a amava muito, mas sabia que não poderia voltar à Terra.

Com o mellotron de Rick Wakeman e o violão de Bowie, esta canção possui uma sonoridade que a levou ao topo das listas de vendas britânicas, ao quinto lugar. Já os americanos entenderam a mensagem contra a guerra espacial e não gostaram da faixa, que alcançou a modesta posição #124.

Uma versão anterior aparece no filme "Love You Till Tuesday", aonde o astronauta acaba por se perder no espaço com duas maravilhosas "estrelas" que encontra fora da nave. Algo hilário e ao mesmo tempo demonstrando alguma ligeireza e ironia em relação ao facto.

Ironia maior foi quando “Space Oddity”, um manifesto contra a "conquista" do espaço, se tornou na banda sonora, que ilustrou musicalmente, a chegada da Apollo 11 á lua, durante a transmissão da BBC, em 11 de Julho de 1969.

David Bowie conquistaria a América e o mundo anos depois com The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders From Mars (1972), Young Americans (1975) e Let's Dance (1983), mas o primeiro passo para o sucesso foi exactamente este, que é um dos maiores clássicos da década de 1960.


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