domingo, 6 de março de 2011

Dylan o "pai" das músicas perdidas


Vocês sabem o que é que o disco póstumo do Michael Jackson e o Pai Natal têm em comum? Não? Então sentem-se que eu conto:

Era uma vez, em 1967, um músico que se retirou do showbiz para criar os filhos numa casa de campo aonde passava o seu tempo de lazer, pintando, pescando e tocando com os amigos.
Acontece que os amigos eram, The Band e esse músico Bob Dylan.

Portanto, as fitas com tudo o que eles gravaram despretensiosamente na cave (porão) de uma casa em Woodstock correram o mundo de mão em mão. Quem ouvia as tais "fitas do porão" afirmava que era a melhor coisa que o Dylan já produzira e, assim, criou-se um mito, o mito das Basement Tapes, pois o público desconhecia as fitas gravadas, que convenceram Eric Clapton a deixar os Cream.

Só dez anos depois aquelas músicas foram compiladas num disco. O sucesso do álbum, "The Basement Tapes", fez os executivos da indústria discográfica perceberem que "canções perdidas", gravações descartadas e discos inacabados fascinavam o público. Então, transformando o acaso em regra só para ganhar mais dinheiro, esses sujeitos engravatados começaram a "encontrar" material inédito de tudo quanto é artista morto. Jimi Hendrix já lançou mais discos morto do que vivo. Como é que é possível?!

Hoje parece ser mais fácil encontrar uma "nova" música do Elvis Presley do que o seu próprio guarda-chuva no departamento de perdidos e achados do metro de Memphis.

É para desconfiar - e eu desconfio.

Michael Jackson passou os últimos oito anos da sua vida sem lançar coisa nenhuma e eis se não quando, só 17 meses após a sua morte, lançam um disco inédito dele?

Esquisito. Tão esquisito que há um vídeo na internet com a La Toya Jackson afirmando que a voz no primeiro single, "Breaking News", não soa como a do seu irmão. Suspeito. E, dizendo mais, não faltam motivos para forjarem um disco do Michael. Nem tecnologia.
Basta contratar um imitador para completar os rascunhos musicais deixados pelo cantor. E ainda dá para ir buscar ás músicas antigas uns "ais" e uns "uis" originais. Impossível?

Por que é que profissionais mal intencionados não forjariam um disco do Michael se amantes bem intencionados já forjaram uma música inédita dos Beatles?

Acedam ao YouTube e digitem "Beatles Now and Then". Ouvirão uma demo do John Lennon finalizada por fãs argentinos. E o pior é que não soa muito diferente de "Free as a Bird", a outra demo do ex-Beatle, mas finalizada por Paul, George e Ringo para o projecto Anthology.

É isso mesmo, o Pai Natal e o novo disco do Michael Jackson têm em comum o facto de simplesmente não existirem. Mas vocês podem argumentar que ouviram a música e viram o disco. E então?
A Bulgária continua no mapa e, no entanto, há quase meio século o escritor Campos de Carvalho provou magistralmente a sua absoluta inexistência com O Púcaro Búlgaro.

Fonte: Rolling Stone/Miguel Sokol

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