terça-feira, 1 de março de 2011

As Grandes Bandas de Liverpool dos anos 60 - The Big Three

Ouvir os Big Three na Cavern foi com toda a certeza uma experiência incrível.
Segundo relatos da época, as paredes tremiam, a tinta era literalmente descascada do tecto e a energia contagiante da banda criou uma experiência que todos nós, espectadores jamais esqueceremos. A adrernalina emanada do palco, por Johnny Hutchinson, Johnny Gustafson e Brian Griffiths, era tal, que depois das suas actuações na Caverne, os Big Three, passaram a ser conhecidos como os "animais" da Cavern. Nos anos 60, o "Merseybeat" nome pelo qual ficou conhecido o som produzido pelas bandas de Liverpool, cidade atravessada pelo rio Mersey, não tinha nada a vêr com níveis de som, equalizações, ou outro qualquer tipo de uniformização do som que os elementos das bandas, debitavam com os seus instrumentos. Tratava-se de levar o som à beira da distorção e não se preocuparem com o que era captado pelos ouvidos dos espectadores. O baixo estava sempre mais alto do que deveria estar, a bateria era rimbombante, com um ximfrim imenso produzido pelo "bashing" dos pratos, e as guitarras desconheciam o significado de ritmo suave, de som "à la Shadows".
Foi esta combinação primária e animalesca que separou o Liverpool Beat de qualquer outro som no planeta.
Quando o comando do som está entregue ao chamado, sound engenier, é ele quem controla o que deve ou não sair do palco para os espectadores, pois o som da banda, está nos seus ouvidos e não nos executantes, nos musicos que estão em palco. E o resultado é muito fácil de ouvir. Em qualquer concerto moderno ou gig ... as bandas teêm todas o mesmo som ... porque as bandas são o som que o técnico que opera a mesa de mistura, quer. Os Big Three não soavam como qualquer outra banda e foi realmente uma das grandes bandas de Liverpool dos anos 60. Incrível pensar que tanto som poderia emanar de apenas três músicos em palco. Mas não foi só pelo volume da banda que se destacaram, todos eles eram músicos muito talentosos, que não deixavam os seus créditos por mãos alheias, e imprimiam um cunho, um toque muito peassoal em todos os temas que interpretavam. Juntamente com os Beatles, os Big Three estavam regularmente no topo da lista de popularidade da "Mersey Beat" revista semanal muito popular no Mersey side, e dirigida por Bill Harry, sendo, na época, considerada a Bíblia para a cena de entretenimento na área de Liverpool.  
O grupo teve como primeiro guitarrista, Adrian Barber que foi uma das grandes personagens da época, sendo responsável pela concepção do "caixão", um amplificador enorme com um alto-falante dentro de uma caixa, e que certamente foi o precursor dos fantásticos amplificadores de Jim Marshall. Barber era tão extrovertido que não passava despercebido aonde estivesse, e de quem se contam imensos episódios hilariantes, que juntos, só por si, davam um retrato hilário deste musico. Há inclusivé quem diga que havia permanentemente uma competição entre ele e John Lennon para ver quem poderia ser o mais louco. As raízes da banda estão em 1959 quando o guitarrista Brian Casser se reuniu com Adrian Barber,juntando forças com Brian Hudson na bateria. Naqueles dias não tinham baixista. Pouco tempo após a formação, Brian deixou a banda e foi substituído por Johnny Hutchinson na bateria, que se fez acompanhar por Johnny Gustafson no baixo. Em 1961, Cass decidiu tentar a sua sorte em Londres, deixando os restantes três membros com o dilema de continuarem assim a trio, algo impensável na época, ou se convidavam outro guitarrista.  

Prevaleceu a ideia de ficarem a trio, até porque seriam a primeira e única banda só com três elementos. Daí obviamente o none: The Big Three. Esquecendo o estilo musical de cabaré que Cass tinha introduzido no grupo, logo se transformaram num electrizante grupo que só sabia tocar alto, e com um ritmo "rockin", muito duro, com ligeiro toque de Rythm and Blues, e que rapidamente se tornou no grupo favorito a actuar no Cavern Club. Brian Cass, deixou Liverpool, indo fixar-se em Londres, aonde na cena musical estavam a emergir muitos nomes que viriam a ser "monstros sagradas" da cultura musical pop britânica da década de sessenta. Aí formou uma banda a que deu o nome de "Casey Jones and the Engineers", tendo lançado um single chamado, "One Way Ticket" com um determinado Sr. Eric Clapton na guitarra.  
Seguindo as pégadas dos Beatles, os Big Three embarcaram na primeira de várias viagens até Hamburgo, aonde dividiam o palco do Star Clube, com outras bandas de Liverpool. Durante uma dessas viagens Adrian Barber decidiu não voltar a Liverpool, ficando a ocupar o cargo de gerente do Star Club. Adrian, um expert em tudo o que dizia respeito a som, projectou o sistema de sonoro do Star Club, e foram suas as gravações que deram origem aos primeiros registos ao vivo dos Silver Beatles, as famosas fitas, com as gravações dos Fab, no Star Club. Adrian projectou igualmente o sistema sonoro do Peppermint Lounge, em Nova York. Ao retornarem a Liverpool em 1962, a última peça do quebra-cabeça encaixou-se com a entrada de Brian Griffiths em substituição de Adrian. Griff fazia parte dos "Derry and The Seniors", que começaram em 1959 e que passaram a chamar-se Howie Casey And The Seniors. Griff era um guitarrista de raro talento, e foi um dos primeiros a tocar em palco, ao vivo,fazendo o trabalho da guitarra ritmo e da guitarra solo ao mesmo tempo. A chegada de Griff,coincidiu com a "explosão" da banda em termos de popularidade e rivalizando, mano a mano, em termos de numero de fãs com os Beatles. A Cavern era o seu local de origem e chegaram a ter tanto ou mais sucesso do que estes. O seu som, a sua energia em palco, nunca foi transferida com sucesso para o acetato e é aí que reside a principal razão que explica a sua incapacidade de alcançarem o sucesso que mereciam. Seria diferente hoje aonde a tecnologia do vídeo teria espalhado o seu som único por todos os cantos do planeta e por certo, estariam a ombrear com os The Who e Jimi Hendrix, já que o som que produziam, poderia situar-se entre a sonoridade destes dois icones. Griff para formar The Seniors, e Johnny Gustafson para substituir Billy Kinsley nos Merseybeats. Mais tarde, Johnny Gustafson inteegraria uma série de bandas, incluindo The Pirates, The Ian Gillan Band e ainda os Roxy Music.


Foram substituídos na banda por dois músicos dos Faron's Flamingos: 
Faron no baixo, e Paddy Chambers na guitarra. Em Maio de 1964 Faron saiu e Paulo Pilnik tomou conta do baixo. Johnny Hutchinson era o único membro original do grupo que permaneceu da formação que havia incendiado as actuações na Cavern no inicio dos anos 60. Isso, combinado com a escolha da Decca como selo de gravação, atirou o grupo para as ultimas páginas da Merseybeat de Bill Harris, afastando qualquer hipótse de notoriedade, fora do circulo dos seus indefectíveis fãs, nos quais eu me incluo. Mas que tontos foram os executivos da indústria fonográfica, neste caso os "olheiros" da Decca. Conseguiram errar na escolha por duas vezes consecutivas, na história do Merseybeat. Primeiro trocaram os Beatles, pelos Tremoloes, depois, pura e simplesmente não souberam ver o potencial desta banda. O seu line-up, então revolucionária, deixando de fora a guitarra ritmo, que era quase obrigatória, significou que os idiotas na Decca, tinham as vistas, os ouvidos e até, se calhar os olhos curtos. 

Mas Cest la Vie, o boom Merseybeat chegou ao fim, deixando de fora os Big Three. Brian Griffiths vive no Canadá há 30 anos e dá aulas de música. Johnny Hutch é um constructor em Liverpool, Johnny Gus,vive em Whitstable. Adrian Barber vive no Havaí, Brian Hudson é professor na Austrália e Cass vive na Alemanha. Faron,vive em Liverpool, e recentemente teve alguns problemas sérios de saúde. Paddy Chambers morreu em 2000. Em 1973 a banda reuniu-se novamente com Gus no baixo, Griff na guitarra com o baterista Nigel Olsson, que tocava com Elton John. 

Gravaram um álbum sob os auspícios do ex-empresário dos Beatles, a Apple e MD Tony Bramwell chamado "Resurrection", que contou com muitos dos temas tocados originalmente na Cavern. 

E, finalmente, um par de citações de Griff, que resume bastante, a história dos Big Three. "Eles (Decca) não conseguiam compreender a noção de que muitas das bandas de Liverpool não queriam soar como os "British rock ‘n’ rollers" dos anos 50.. Mais, nós estávamos a tocar temas de R and B de cantores desconhecidos para a maioria das pessoas em Inglaterra. Éra-mos um trio que tocava música mais agressiva, e isso não foi aceite, não foi bem visto no estúdio. Pouco tempo depois, bandas como "The Who" foram autorizados a gravar o estilo com a postura que nós tinhamos. 

Algumas das músicas que gostavamos de tocar ao vivo tais com Some Other Guy (que a Decca não nos deixou gravar), Tricky Dicky, Ain’t That Just Like Me, Rockin Robin, Fortune Teller, Ya Ya, I know, What'd I Say, A Little Bit Of Soap, e Angel Baby", foram pouco tempo depois gravadas por outras bandas. Fomos nós quem primeiro as aprendeu, e depois as tocou ao vivo. "Quem é que se importava se uma banda estava a tocar uma de suas músicas? 

Nós ajudamos os Beatles,ensinando-lhes a letra de "Some other Guy" que mais tarde eles viriam a tocar na primeira aparição na Granada TV, penso que no programa,Scene at 6:30". Lembro-me que eles nos tinham ajudado, com o tema "Mr. Moonlight "ao mesmo tempo. Havia uma banda chamada The Dennisons que nos perguntam se nós nos importava-mos que eles tocassem o "nosso material", porque eles gostavam muito, do que nós "compunha-mos". The Hollies gostavam da nossa banda e eu acho que eles nos ouviram tocar o "Ain’t that just like me" e mais tarde gravaram esse tema. 

Fontes;Liverpool Beat 2009

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