quinta-feira, 14 de maio de 2009

Anjos e Deónios - O Trailer do filme


Estreia-se hoje a adaptação ao cinema de mais um livro de Dan Brown, que faz pairar uma ameaça terrível sobre a Santa Sé, e Roma. O filme exige ao espectador uma dose de fé sobre-humana.Se dependesse de William Donihue, o presidente da organização laica Liga Católica Americana, Dan Brown, o autor de Anjos e Demónios, e Ron Howard, que filmou o livro, tal como já havia feito a O Código Da Vinci, já estavam a cozinhar em fogo brando.Há dois meses que Donohue anda a liderar uma feroz campanha contra Anjos e Demónios, tendo inclusivamente escrito um panfleto chamado Anjos e Demónios: Mais Demoníaco do que Angélico.O seu comportamento contrasta radicalmente com o da Santa Sé e o da hierarquia católica, que acolheram esta nova aventura do professor de Simbologia Robert Langdon com serenidade e moderação (ver caixa), e deixaram os leigos mais enxofráveis a espingardar sozinhos contra o filme.Aliás, se William Donohue fosse ver Anjos e Demónios, rapidamente repararia que o filme não põe em causa a Igreja Católica enquanto instituição, embora lhe reprove os abusos de poder e os excessos de secretismo. No final de Anjos e Demónios, até há uma troca de galhardetes entre o académico ateu interpretado por Tom Hanks (de volta ao papel de Robert Langdon) e o velho cardeal insider do Vaticano, personificado por Armin Mueller-Stahl.Ron Howard até disse numa entrevista que a fita "trata a Igreja com respeito - até com alguma reverência - pelas suas tradições e crenças". Estamos a milhões de quilómetros de distância do génio blasfemo de um Luis Buñuel.O mesmo é dizer que em livros como O Código Da Vinci ou Anjos e Demónios, e nas suas adaptações ao cinema, a representação conspiratório-sensacionalista que fazem da Igreja e dos seus bastidores, não passa de um mero cabide para pendurar o entretenimento, de um "gancho" narrativo para capturar o leitor e o telespectador.E neste capítulo, Anjos e Demónios é mais do mesmo de O Código Da Vinci, aplicando uma receita semelhante, com ligeiras alterações nas porções dos ingredientes.Apesar de ter sido escrito antes de O Código Da Vinci, os argumentistas Akiva Goldsman e David Koepp "mexeram" em Anjos e Demónios para que pareça ser uma continuação daquele, quando se trata da primeira e não da segunda aventura de Robert Langdon.O académico de Harvard volta a ter de dar corda aos sapatos e a puxar pelos galões de mestre decifrador de enigmas ocultos em obras de arte, para evitar que o Vaticano e parte de Roma sejam destruídos por antimatéria roubada ao CERN, que quatro cardeais papáveis sejam assassinados, e que o Papa errado seja eleito, fazendo um rali paper pelas igrejas e obras de arte renascentistas romanas.E é caso para dizer, que para acreditar no que Howard e Brown lhe querem fazer engolir, e suspender a proverbial descrença, é preciso que o espectador tenha uma fé sobre-humana, maior do que a de quem vai a pé a Fátima.No seu simplismo de juntar por pontinhos, Anjos e Demónios é um filme de uma inverosimilhança descarada e de uma previsibilidade bocejante, onde Tom Hanks tem menos que fazer do que o cura de uma daquelas aldeias remotas com meia dúzia de velhotes.Perante Anjos e Demónios, até o ateu fica com vontade de dizer: Deus nos ajude contra filmes tão vistosamente maus.
por Eurico de Barros, no DN

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