segunda-feira, 18 de maio de 2009

Johnny Halliday, de volta ao grande écran

Verdadeiro herói nacional, Johnny Hallyday apresentou-se ontem em Cannes como protagonista de 'Vengeance', de Johnnie To: um filme de acção para relançar a sua carreira cinematográfica.
Quando falamos de Mick Jagger como um dos dinossauros do rock, convém relativizarmos as coisas e sair do espaço anglo-saxónico. Quanto mais não seja porque o francês Johnny Hallyday faz também parte do clube honorário de rockers com mais de 65 anos (aliás, ambos nasceram em 1943).
Bastaria tal condição lendária para a sua presença em Cannes ser um acontecimento espectacular, capaz de suscitar a histeria dos espectadores que se amontoam à entrada do Palácio dos Festivais nas sessões de gala . Afinal de contas, mesmo nunca tendo sido uma vedeta de cinema, Hallyday é um ícone vivo do imaginário francês. Como a Torre Eiffel: não precisa de se explicar, faz parte da paisagem.Hallyday veio à Côte d'Azur para acompanhar a apresentação, a concurso, de Vengeance, um thriller de muitos tiros e cenários reduzidos a pó, com assinatura de um especialista do género: Johnnie To, símbolo do "cinema de acção" de Hong Kong.
Hallyday interpreta um homem frio e implacável que desembarca em Hong Kong para encontrar o bando que assassinou a sua filha e toda a família dela. Na imprensa francesa, este é um papel celebrado como a apoteose de uma carreira em que o cinema, em boa verdade, foi sempre uma segunda opção.
Por exemplo, na capa da revista do Le Monde, o rosto duro de Hallyday surge com o titulo: "O papel da sua vida."
O apelo mitológico de Hallyday passa pela manutenção de um estatuto em que a palavra "reforma" não existe.
Neste momento, decorre a sua digressão Tour 66. Até Novembro, dará mais de 30 concertos.
Cabelo louro e lendários olhos verdes- -claros, Hallyday apresentou-se à imprensa em pose muito cool, de elegância discretamente revivalista: casaco azul-marinho, T-shirt preta de riscas claras e uma cruz prateada ao peito. Dir-se-ia o desenho de uma figura pudicamente heróica: não é possível definir uma fronteira entre o rocker e o homem privado, tudo nele testemunha uma história vivida em comunhão com a música e o cinema, mesmo se os filmes nem sempre ajudaram muito.Os seus momentos fortes de cinema são, realmente, muito raros (Jean-Luc Godard filmou-o como um herói magoado, nostálgico da sua própria dimensão divina, num filme magnífico de 1984, Detective). Aliás, Hallyday é o primeiro a reconhecer tais limitações. E para que se perceba que o assunto é sério, não hesita em convocar uma comparação radical:
"A carreira de Elvis no cinema é parecida com o meu começo. Só me propunham porcarias. Elvis era um rocker nos EUA, tal como eu era em França" (da entrevista do Le Monde).
Há só um pequeno pormenor menos agradável: Vengeance é um desastre e vai ficar, por certo, na galeria dos piores filmes do festival. Que isso não nos impeça, no entanto, de saudar o regresso de Monsieur Hallyday.
João Lopes,no DN



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