quinta-feira, 2 de abril de 2009

25 Anos Sem Marvin - Principe da Soul Music

No dia de ontem, 1º de Abril, completaram-se 25 anos desde o desaparecimento do príncipe da soul music, Marvin Gaye.
Das baladas dolorosas às melodias ensolaradas, a soul music é um vasto terreno com origem na música gospel que foi ganhando popularidade, ao ser essencialmente postos no mercado, na forma de singles, muito mais do que em álbuns completos. Porém, com o sucesso de alguns artistas e das suas gravadoras, casos de Otis Redding e Isaac Hayes, na Stax, em Memphis, ou Stevie Wonder e Marvin Gaye, na Motown, em Detroit, o género produziu discos que se tornaram verdadeiros clássicos.
A obra desses astros pavimentou o caminho para a música negra moderna e influenciou o pop produzido nas décadas seguintes.Prince, Outkast e até Gnarls Barkley são alguns exemplos. No rap, o soul encontra eco nos trabalhos das cantoras Erykah Badu e Lauryn Hill – isso sem falar na extensa gama de bases sampladas por inúmeros grupos.
Recentemente,uma série de novos artistas ressuscitou o género com todo o mericimento.
Depois do aparecimento de Amy Winehouse e do seu “Back to black”, ganharam também enorme destaque, a banda Eli “Paperboy” Reed and The True Loves, com “Roll with you”, e ainda o compositor, produtor e arranjador Raphael Saadiq, que lançou no ano passado o disco de inéditas “The way I see it”.
A lista publicada em baixo, com 15 álbuns essenciais para se entender o soul, é uma introdução ao género e propõe obras indispensáveis na discoteca básica do ouvinte. As fontes aonde fomos beber a informação, passam pelo,G1,com a excelente selecção feita por Lígia Nogueira, contou com as informações do guia “Soul and R&B”, de Peter Shapiro, e com o prestimoso auxilio do jornalista Filipe Luna, promotor da festa dedicada ao Soul, Talco Bells.

Ray Charles
"Modern sounds in country and western music" 1 e 2 - 1962

Ray Charles pode ser considerado o responsável por dar forma ao soul como o género musical, que viria a ser consagrado nos anos 60. Foi ele quem levou a sonoridade da igreja para a música, popularizando o esquema “call and response”,nas suas canções. É dele também uma das faixas fundamentais do soul: “What'd I say”, de 1959, traz a receita original do estilo. Na série “Modern sounds in country and western music”, Ray Charles, explora outras sonoridades, mantendo a "soul" que o imortalizou. Os álbums reúnem clássicos como “You don’t know me” e “I can’t stop loving you”.


The Jackson 5
"Diana Ross presents The Jackson 5" - 1969

A banda dos irmãos Jackson, foi o primeiro grupo na história da musica americana, a ter os seus primeiros quatro singles no topo das listas americanas: "I want you back", "ABC", "The love you save" e "I'll be there". Jackson e seus irmãos mais velhos – Jackie, Tito, Jermaine e Marlon, tornaram-se na grande sensação da gravadora Motown ao lançar o seu álbum de estreia, apadrinhado pela estrela Diana Ross. Nele, o grupo interpreta canções de Stevie Wonder (“My cherie amour”), Smokey Robinson (“Who’s lovin’ you”), The Corporations (“Nobody”), entre outros. Traçando um caminho que foi além do soul, o grupo incorporou elementos de doo-wop e bubblegum ao seu repertório, com refrões cantaroláveis e melodias fáceis.

Aretha Franklin
"I never loved a man the way I loved you" - 1967

A cantora, compositora e pianista não poderia ser cognominada, por outra alcunha, que não a de “lQueen of the soul music”. As suas raízes gospel datam da época em que começou a cantar, ao lado das irmãs, na igreja de seu pai, o reverendo C.L. Franklin, em Detroit nos anos 50. Na verdade, as suas primeiras gravações foram como cantora gospel aos 14 anos. Lançou singles pela Columbia, mas foi o álbum “I never loved a man the way I loved you”, já na Atlantic, que revelou toda a paixão e a intensidade que fazem de sua voz algo de único. A interpretação de “Respect”, de Otis Redding, por si só já valeria o disco, mas ele tem outras pérolas como “A change is gonna come”, de Sam Cooke, nome importante na história do soul.

Isaac Hayes
"Hot buttered soul" - 1969

Com os Bar-Kays como banda de apoio, Isaac Hayes ousou lançar, em 1969, um disco com apenas quatro faixas e muitos minutos de duração. Nesta sua obra-prima, Isaac, alterna monólogos sobre o amor ferido e instrumentações inspiradas. Aqui, ele expande o formato da soul music com arranjos orquestrais e metais poderosos, tudo temperado com guitarras cheias de malícia - o complemento perfeito para o seu vozeirão. Hayes, morto em 2008, influenciaria outros artistas: a base de "Ike’s Rap III", do disco “Black Moses” (outro clássico do cantor, lançado em 1971), aparece em músicas dos ingleses Tricky e Portishead.


Bill Withers
"Still Bill" – 1972
O cantor e compositor Bill Withers pode não se ter tornado num nome tão conhecido quanto outros artistas relacionados com a soul music, mas seu terceiro álbum de estúdio é considerado o resultado perfeito da combinação de elementos contemporâneos da década de 70. “Still Bill” junta o soul macio vindo da Filadélfia com o sabor blueseiro do sul – tudo envolto pelo funk de Bobby Womack. Por trás de uma atmosfera morna e de fácil acesso, revelam-se camadas profundas de arranjos e letras densas. Um dos destaques do repertório é “Lean on me”. A canção divide espaço com a ciumenta “Who is he (and what is he to you)?” e ainda “Use me”, em que o autor admite alegremente ser usado pelo objecto da sua afeição.

Otis Redding
"Otis Blue: Otis Redding sings soul" - 1966

Um dos mais influentes cantores de soul dos anos 60 teve uma curta carreira cujo auge se deu no terceiro álbum. “Otis Redding sings soul” foi lançado um ano antes de sua morte, aos 26 anos de idade. A sua obra foi suficiente para que Redding ganhasse o respeito de bandas como os Rolling Stones, que gravaram duas canções suas: “That's how strong my love is" e "Pain in my heart”. Em retribuição, o cantor lançou neste álbum uma elogiada versão de “(I can’t get no) Satisfaction”. Entre outros covers clássicos estão “A change is gonna come” (Sam Cooke) e “My girl” (composição de Smokey Robinson que se tornou sucesso na voz dos Temptations).

Sly & the Family Stone
"Stand!" – 1969

Foi a partir de tendências díspares do final dos anos 60 que a banda californiana criou uma mistura única de soul, rock, funk e R&B que influenciaria as gerações seguintes. Além de ser um grupo multiracial, formado por homens e mulheres de diferentes raças, o Sly & the Family Stone foi um dos pioneiros a tocar em assuntos políticos nas suas letras, fazendo com que isso se tornasse uma tradição não só entre os grupos de soul, mas também de funk e principalmente no rap. Ao lado de James Brown, o grupo levou o funk para o mainstream. Essa efervescência traduz-se no álbum “Stand!”, com as suas melodias coloridas, e guitarras psicodélicas de consciência social.

Donny Hathaway
"Everything is everything" – 1970

Se não tivesse morrido tão jovem, Donny Hathaway teria sido provavelmente um dos grandes nomes da música negra. A voz macia – presente em canções como “The ghetto” – contrasta com as circunstâncias trágicas de sua morte – um aparente suicídio, aos 33 anos. Mas o seu legado musical é cheio de alma. Além de ter trabalhado nos bastidores como produtor, arranjador e músico de apoio a artistas como Aretha Franklin, Roberta Flack e Curtis Mayfield, o seu primeiro álbum a solo, feito à base de lindos arranjos numa atmosfera gospel, não se parecia com nada que já tinha sido feito até 1970.


The Impressions
"The Impressions" - 1963

Muito além de ser a banda de apoio de Curtis Mayfield, o grupo vocal ajudou a dar forma ao soul de Chicago definido por ele. As suas canções eram doces e animadas, e mantiveram a alma, graças à tradição gospel. O seu primeiro álbum, “The Impressions”, foi uma das melhores estreias de soul dos anos 60. Quase todas as canções do repertório haviam sido escritas por Mayfield, incluindo “Gypsy woman”, composta quando ele tinha 14 anos. “It’s all right”, considerada uma das melhores, ganhou a interpretação harmônica sublime dos integrantes, aliada aos metais cheio de swing e à guitarra inconfundível de Mayfield.


Curtis Mayfield
"Superfly" - 1972

Se Curtis Mayfield já vinha fazendo um trabalho sublime à frente dos Impressions, um dos melhores grupos vocais de soul dos anos 60, a sua contribuição para a música negra na década seguinte não foi menos importante. Como artista solo, ele foi um dos primeiros a escrever temas sobre o orgulho afro americano, além de ter sido um excelente guitarrista – suas composições têm um sotaque latino único. Sua obra-prima é “Superfly”, banda sonora do filme com o mesmo nome. Nele, Mayfield descreve, com um senso de realidade único, a luta pela sobrevivência nos guetos, a presença de drogas e a morte antes do tempo.


Stevie Wonder
"Songs in the key of life" – 1976

Dono de um apetite voraz por diversos géneros musicais, Stevie Wonder, ajudou a expandir as barreiras da música negra ao misturar funk, rock, jazz, reggae e elementos africanos nas suas composições. O uso de sintetizadores, nos anos 70, mudou a face do R&B tradicional. Esse imenso leque de interesses ajudou a torná-lo famoso internacionalmente, assim como Ray Charles. Astro da Motown, ele obteve vários hits ainda na adolescência, mas foi com o LP duplo “Songs in the key of life” que ele realizou a sua obra mais ambiciosa. Amor, relacionamentos, questões sociais e espirituais aparecem acompanhados por uma vasta gama de arranjos, numa performance que é considerada a melhor de Wonder.

Al Green
"I'm still in love with you" – 1972

Al Green foi o primeiro grande cantor de soul dos anos 70. Além de ter incorporado elementos da música gospel à sua obra, pontuada por gemidos selvagens e lamentos, ele é um dos poucos artistas daquela época que ainda mantêm o vigor, a exemplo do álbum “Lay it down”, um dos melhores de 2008. No seu disco de 1972, Green não desperdiça uma só faixa: de “For the good times”, canção de Kris Kristofferson com influência country, à lenta “Oh pretty woman”, de Roy Orbison – passando, é claro, por todas as suas composições próprias - “I’m still in love with you” descortina o reverendo no auge da inspiração.


Marvin Gaye
"What’s going on" – 1971

Muito além de ser a obra-prima de Marvin Gaye, “What’s going on” é considerado um dos discos mais importantes da soul music. O álbum revela a voz ímpar de um artista agora livre da imagem de símbolo sexual do R&B. Se antes ele se sentia encarcerado pela máquina de fazer hits da Motown, agora Gaye pode expressar sinceramente o que o preocupa por meio da música. O tema central da obra é o questionamento sobre o que teria acontecido com o “sonho americano” do passado. Concebido a partir do ponto de vista de um veterano da guerra do Vietnã, o disco versa sobre a pobreza, crianças abandonadas, desemprego, a brutalidade da polícia e o uso de drogas.

James Brown
"Live at the Apollo" - 1963

Dono de muitos apelidos, de padrinho do soul a Mr. Dynamite, nenhum outro artista do género teve a energia de palco de James Brown. Justamente por isso o disco que melhor o representa é “Live at the Apollo”, uma série estonteante gravada ao vivo no famoso teatro de Nova York. Ao longo dos três álbuns, o músico demonstra, hit após hit – “I'll go crazy”, “Try me”, “Think”, “Please please please”, “I don't mind”, “Night train”, só para citar alguns – toda a sua capacidade musical. A reacção incendiada da plateia não deixa dúvida disso.



Amy Winehouse
"Back to black" - 2006
Se existe uma responsável por trazer a soul music para os tempos actuais, esta é a cantora Amy Winehouse. Unindo composições autorais muito menos inocentes do que as do tempo da Motown com o swing irresistível da banda Dap Kings, a inglesa despontou como uma das artistas mais instigantes dos últimos anos ao lançar seu segundo álbum, “Back to black”. As letras sinceras e autobiográficas ganharam o acabamento do produtor Mark Ronson, que actualizou o gênero sem deixar que ele perdesse a alma. Pena que Winehouse tenha ganho mais destaque na mídia pelos quiproquós que protagoniza - quem sabe ela retorne à forma em seu próximo trabalho.

1 comentário:

Anónimo disse...

uma pagina que reedita sonhos,faz através da mente viajar no tempo,matar a saudade,revivendo emoções que revigoram a alma e de valer ter vivido. obrigado por esta oportunidade e não deixe esta chama morrer.
ruy de oliveira costa
ruydeoliveiracosta@yahoo.com.br