terça-feira, 21 de abril de 2009

A Batina, vende, música, no Brasil

A avaliar pelos dados da Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD) relativos às vendas de música no Brasil durante o ano de 2008, quem quer ganhar muito dinheiro com os discos tem que ter batina. Se em Portugal a moda do Padre Marcelo Rossi já lá vai, no seu país natal o religioso continua a vender que nem pãezinhos quentes, tendo o primeiro volume do seu último registo ao vivo em Interlagos, Paz Sim, Violência Não ficado em primeiro lugar da tabela de DVDs mais vendidos e segundo lugar na lista dos CDs.
Neste último tipo de suporte, o álbum ao vivo do padre do movimento Renovação Carismática foi apenas ultrapassado por Vida, o disco de outro padre, o Padre Fábio de Mello. Para além do domínio avassalador da padralhada nos Tops dos discos mais vendidos durante 2008 no Brasil, o estudo da ABPD a que eu tive acesso por intermédio do Herdeiro do Caos revela ainda que o mercado discográfico brasileiro cresceu 6,5 por cento: de 337 milhões de reais em 2007 para 360 milhões em 2008 (de 117 milhões de euros para 125 milhões de euros).
Segundo a ABPD, este foi o primeiro ano em que se registou uma subida depois de três anos em descida continuada. O sector digital (Internet mais toques e músicas para telemóveis também cresceu 79,1 por cento, de 24,3 milhões de reais em 2007 para 43,5 milhões de reais em 2008 (de 8,4 milhões de euros para 15 milhões de euros).
Esta subida parece muito elevada mas se virmos bem não é assim tanto. De facto, em termos comparativos com os dados de 2007 que eu referi aqui, o que se verifica é que o ritmo de crescimento das vendas de música online e móvel está a diminuir: em 2007 o aumento tinha sido de 185 por cento. Daí que o aumento da quota de mercado do digital roubada aos CDs e DVDs tenha sido também inferior ao verificado nos anos anteriores: em 2006 dois por cento, em 2007 oito por cento e em 2008 12 por cento.
O resto do mercado é ocupado pelos CDs (61%) e DVDs (27%). Dentro do digital, os formatos móveis representam 78 por cento (76% em 2007) e os downloads online 22 por cento (24% em 2007). O que isto quer dizer é que os brasileiros continuam a preferir maioritariamente os toques e ringtones aos ficheiros de música - frequentemente acorrentados com DRM - que as lojas de música online comercializam.
Apesar da abundância de artistas comercialóides nos Tops dos mais vendidos, um dos sinais de saúde do mercado brasileiro que podemos encontrar nos dados da ABPD é que quase três quartos (74,5%) dos discos vendidos pertencem a artistas nacionais. Duvido muito que essa percentagem seja a mesma por terras portuguesas…

By Miguel Caetano,in remixtures(foto de Sérgio Savaman Savarese segundo licença CC-BY 2.0)

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