quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

17 anos depois de sua morte, mais uma pérola do infindável espólio de Frank Zappa!

Frank Zappa, multitalentoso controverso e um dos mais inventivos artistas e compositores do rock de todos os tempos, com uma obra gigantesca e plural, permanece ainda praticamente desconhecido para o grande público. Uma figura icónica, a qual soube misturar como ninguém o extremo do pop, em especial o doo wop e o rock & roll do final dos anos 50, com elementos eruditos de compositores como Stravinsky, Karlheinz Stockhausen e Edgard Varése, sendo que essa sofisticação autoral está aliada a uma virtuosidade no manejo da sua guitarra, bem como o seu conhecimento de técnicas de estúdio.

Com sarcasmo, e um humor politicamente incorrecto (muitas vezes surreal e incompreensível), Zappa era um imprevisível "workaholic"; gravava vários álbuns por ano e costumava gravar vários de seus shows para depois remixar de forma inusitada. As suas opiniões causavam polémicas e não poupavam governos, assuntos sexuais e minorias; era uma metralhadora criativa, que trabalhava com os cinco sentidos. Talvez o artista mais complexo e completo de toda a história do rock.

Americano, nascido em Baltimore em 21 de Dezembro de 1940, (local onde já é homenageado com uma estátua e o “dia oficial de Frank Zappa”). Mudou-se para a Califórnia em Dezembro de 1951, quando o seu pai conseguiu um emprego de professor na Escola Naval em Monterey. Desde cedo, interessa-se pela música, particularmente atraído pelo R & B, juntando-se a uma banda como baterista, em 1955. Ao mesmo tempo, tornou-se um fã da música erudita de vanguarda. Após sua formatura, Zappa estudou música em vários colégios locais e passou a tocar guitarra.

Casou-se com Kathryn J. Sherman, em 28 de Dezembro de 1960, mas acabou divorciando-se em 1964. Nesta altura, tocou em várias bandas e trabalhou fazendo as bandas sonoras de filmes de baixo orçamento. Por causa de uma dessas tarefas, foi trabalhar no lendário estúdio de Paul Buff, em Cucamonga; a união de Zappa e Paul foi profícua, porém, em Agosto de 1964, Zappa comprou o estúdio a Buff e o rebatizou-o de “Studio Z”.

Em Março de 1965, Zappa foi preso por um policia disfarçado em cliente, que encomendou uma cassete pornográfica. Condenado, passou dez dias na cadeia; uma experiência que ele achou inesquecível. Depois de completar a sua sentença, fechou o estúdio, e mudou-se para Los Angeles aonde se juntou a uma banda local chamada “The Soul Giants”, que contava com o seu amigo, o cantor Ray Collins, juntamente com o baixista Roy Estrada e o baterista Jimmy Carl Black. Em pouco tempo, ele convenceu o grupo não só a tocar as suas composições, ao invés dos covers que tocavam, mas também a mudarem o nome para “The Mothers”.

Em Los Angeles, os “The Mothers” conseguiram que o empresário, Herb Cohen, contratasse o grupo para tocar em lugares populares, como o “Whisky a Go-Go”, onde foram vistos por Tom Wilson, que logo convidou a banda a assinar um contrato com a Verve Records, subsidiária da MGM, em 1966.

A banda começou, então, a chamar-se "The Mothers of Invention”. O contrato propunha fazer cinco álbuns em dois anos; entraram imediatamente no estúdio para gravar o primeiro desses álbuns, “Freak Out!”.

Nessa fase, Elliot Ingber junta-se ao grupo na guitarra, tornando-o assim, um quinteto. O excesso de material produzido resultou num facto histórico: o lançamento de um LP duplo, como disco de estréia. “Freak Out!” foi lançado em Junho de 1966 e apesar de não ter feito um sucesso comercial imediato, tornou-e num culto e fez com que Zappa se destaca-se como um artista de vanguarda.

Em Setembro de 1967, Frank casa com Adelaide Gail Zappa Sloatman; união que gerou os quatro filhos do casal: Moon Unit Zappa, nascida em 28 de Setembro de 1967; Dweezil, em 5 de Setembro de 1969; Ahmet, nascido em 15 de maio de 1974 e Diva, que nasceu em Agosto de 1979.

Em Novembro de 1966, os “Mothers of Invention” voltaram ao estúdio para gravar o seu segundo álbum: "Absolutely Free”; a banda sofreu modificações: adicionou sopros e tornou-se num grupo com nove músicos.

Em 1967, Zappa começou a gravar com uma orquestra o seu primeiro álbum solo: “Lumpy Gravy”, e em Agosto, o grupo gravou o seu terceiro álbum: "We're Only in it for the Money”, uma paródia aos hippies e a "Sgt. Pepper's" dos Beatles; em seguida, vem o divertido "Cruising With Ruben and The Jets", no qual os Mothers revisitavam o estilo doo wop.

Na nova gravadora, Bizarre, lançam o quinto disco: o LP duplo “Uncle Meat” (uma suposta banda sonora de um filme que só pareceu em 1989 como vídeo caseiro). Zappa começou a trabalhar no seu segundo álbum solo, Hot Rats, no meio de 1969. Logo depois, irónico e controverso, anunciou que renunciava á sua banda, mas não abriria mão do nome do grupo. Sendo assim, embora os “Mothers of Invention” já não existissem como grupo, Zappa possuía horas de gravações, ao vivo e em estúdio, e usou esse material. Produziu um novo álbum, Burnt Weeny Sandwich, lançado em 1970; mais um disco elogiado e com vendas bastante razoáveis.

A convite do maestro Zubin Mehta, na época, da Filarmônica de Los Angeles, Zappa reformulou os “Mothers” para um show com orquestra, usando uma obra chamada “200 Motels”, da UCLA, de 15 de Maio de 1970. Adicionando os cantores Howard Kaylan e Mark Volman, o nucleo duro dos Turtles, a nova banda também trazia o teclista George Duke, o baterista Aynsley Dunbar, o guitarrista Jeff Simmons e o retornado, Ian Underwood.

Em 1971, durante um concerto em Londres, Zappa é empurrado para fora do palco por um fã furioso e sofre lesões graves. Enquanto recuperava do acidente, grava mais alguns álbuns e volta a mexer na sua banda, passando agora a ser o seu vocalista principal.

Grava, então, discos como o "Over-Nite Sensation", que foi um dos álbuns mais vendidos de sua discografia. No final da década, o músico já gravava pelas suas próprias editoras, gerando um culto considerável à sua volta, quer pelo seu sentido de humor, quer pela qualidade da sua música complexa.

Na década de 80, ganha os direitos sobre seus álbuns antigos e relança tudo no seu próprio selo. Escreve ainda uma autobiografia e embarca numa tour mundial em 1988. No entanto, pouco depois disso, põe fim às suas apresentações regulares ao vivo, exceptuando alguns concertos pontuais (como um que ficou famoso, em 1991, na Checoslováquia, onde tocou a convite do Presidente checo, Vaclav Havel).

Em Julho de 1991, em outra jogada inédita de marketing, reuniu uma colecção de oito álbuns piratas que tinham aparecido ao longo dos anos e ofereceu aos fãs, produzindo uma box chamado “Beat the Boots”.

Zappa tinha marcado uma apresentação em New York para um grupo de ex-alunos, com a sua banda chamada "Zappa's Universe", em 7 de Novembro de 1991, porém, não pôde comparecer, devido ao seu estado de saúde. Os seus filhos explicaram, publicamente pela primeira vez, que ele estava com um cancro na próstata.

No entanto, ainda conseguiu voar para a Alemanha em 13 de Julho de 1992, para trabalhar com o “Ensemble Modern” num projecto denominado “Yellow Shark” e em Outubro, lançou “Playground Psychotics”, um álbum de material de arquivo inédito do período de 1970-1971.

O “Yellow Shark” foi lançado em Novembro de 1993.

Zappa morreu aos 52 anos, em 4 de Dezembro desse ano.

Depois da sua morte, Gail Zappa vendeu o catálogo à gravadora “Rykodisc”. Mas devido à paixão e dedicação de Zappa à música, havia ainda muito material arquivado, de estúdio e gravações ao vivo, que a sua viúva foi capaz de reunir em álbuns póstumos. O primeiro deles foi o ambicioso “Civilization Phaze III”, no qual Zappa esteva a trabalhar até á sua morte, lançado em Dezembro de 1994 e os outros álbuns, contendo os concertos ou outros materiais, também apareceram, juntamente com versões expandidas dos álbuns anteriormente lançados como “Freak Out!”.

Parece que este baú ainda está longe de ser fechado e agora, próximo a data que Zappa faria 70 anos, acaba de ser lançado o cd triplo “Frank Zappa Hammersmith Odeon”, gravado ao vivo em 1978, na noite de Halloween, a data comemorativa que, segundo a sua família, era a que ele mais gostava.

Frank Zappa - Hammersmith Odeon, 1978


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