quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

O preço do amor livre,1969.Altamont

Altamont é um descampado, numa estrada no norte da Califórnia perto de Livermore.
Foi lá que se realizou, em 6 de Dezembro de 1969, há 41 anos, o evento promovido pelos Rolling Stones, Altamont Speedway Free Festival - The Killer Concert, como passou a ser conhecido - e entre os grupos que actuariam e que faziam parte do cartaz, estvam os Grateful Dead, Santana, Jefferson Airplane, The Flying Burrito Brothers e os Crosby, Still, Nash and Young.
Seria uma espécie de “Woodstock do Oeste”.

Porém, houve problemas logo no início. Originalmente programado para acontecer no Golden Gate Park, em San Francisco, a ideia foi descartada, porque não foi concedida a licença necessária para a realização do espectáculo. Tentaram depois, negociar uma área, pertencente á Sears, que também não resultou, porque o proprietário exigia direitos sobre as filmagens, o que foi negado pelos organizadores, e portanto, não chegaram a um acordo. Os promotores, perderam demasiado tempo com estas negociações, e quando se decidiram por Altamont, estavam apenas a dois dias da data marcada.

A 4 de Dezembro, anúncios começaram a circular por toda a mídia, divulgando o festival. Um dos pontos considerado inadequado foi o preço dos bilhetes, entre os 7 e os 8 dólares, ao invés dos habituais 4 ou 5 dólares.

Para um público aproximado de 300.000 pessoas, as infra-estruturas, vieram a revelar-se precárias, pois não haviam W.Cs. nem postos médicos suficientes, e o espaço ficou muito aquém do necessário. O palco tinha apenas 1,21 m de altura, e o maior erro, foi contratar os Hell’s Angels para fazer a segurança do festival.

A história diz que a ideia de contratar os Hells Angels para fazerem a segurança, foi dada aos Rolling Stones pelos membros do Grateful Dead. Os Angels, ja tinham feito a segurança de shows do Grateful Dead sem que houvesse notícia de qualquer tipo de violência. O "road manager "dos Stones, Sam Cutler, disse que o único acordo era que "os Angels garantiriam que ninguém mexesse nos geradores". Sweet William, membro dos Hell's Angels, lembra-se da conversa que teve com Cutler antes do show:

"Nós não policiamos os assistentes. Não somos uma força de segurança. Nós vamos aos shows para nos divertir, e sobre ajudar as pessoas - vocês sabem como é, damos umas informações básicas e pouco mais, é isso o que nós podemos fazer."
Quando Cutler perguntou como é que queriam ser pagos, William respondeu:
"Nós gostamos de cerveja".
500 dólares em cerveja, foi o pagamento.

Ken Kesey convidou os Angels para fazerem alguns testes afim de se detectar se eram consumidores de ácidos, ou outro tipo de drogas. Nada foi detectado. Mas á medida que o dia foi passando, os membros do Hell's Angels iam ficando mais agitados e violentos. Embrutecidos com álcool, armados com tacos de bilhar , começaram a agredir os espectadores mais excitados, ecausando sérios ferimentos. Era assim que eles controlavam a multidão.

Durante a actuação dos Jefferson Airplane, os Hell’s Angels, espancaram um espectador com tacos de bilhar. Marty Balin, dos Jefferson Airplaine, ficou inanimado, sem sentidos, após ter sido violentamente espancado pelos "seguranças", quando saltou para o meio da multidão ,para tentar parar os Hell’s Angels de bater num dos espectadores, com os seus tacos. Consta, segundo o Guardian, que ele foi o único músico a intervir fisicamente.

Os Stones chegaram de helicóptero ao meio da tarde, e Mick Jagger foi agredido verbal e veementemente por um espectador, que lhe gritava na cara, “I hate you, I hate you”.

A área do palco parecia um hospital, com muitas pessoas a receberem tratamentos de ferimentos ligeiros e algumas inconscientes.

Mas o clímax ainda não tinha acontecido. Os Stones estavam no palco e tocavam “Sympathy for the Devil”. A confusão instalada entre os assistentes, nas primeiras filas,fez com que parassem de tocar por um momento.

Foi quando um jovem negro, Meredith Hunter (1951-1969), provocado por alguns Hell’s Angels, sacou uma pequena pistola e agitou-a no ar. Foi esfaqueado repetidas vezes no pescoço e nos ombros por Alan David Passaro, sendo espancado até a morte, enquanto os Stones tocavam “Under my Thumb”, alheios ao que se estava a passar mesmo na sua frente.

Quando perceberam, a música foi interrompida e Mick implorou para que parassem a luta, mas não conseguiu os seus intentos. O assassino, alegou que agiu em auto-defesa, foi absolvido. Mas em 1985 o seu corpo foi encontrado a boiar no Reservatório Anderson, com 10.000 dólares no bolso.

Eamonn MacCabe, fotógrafo do Guardian, disse :

“Era um lugar estranho e sinistro. Eu cheguei cedo, e era muito claustrofóbico. Fui com a intenção de filmar os Stones na minha pequena Super 8, mas demorei horas para abrir caminho até a frente do palco. Eu queria era ver os Crosby, Still, Nash &Young e tudo parecia calmo. Foi então, que durante o show dos Jefferson Airplane, vi um jovem ser atacado pelos Hell’s Angels. Todos tentamos fugir dali. Mas não havia espaço físico para isso”. (…) ”Lembro-me de um sentimento de escuridão, de perigo presente. (…) Mick (vestido com uma capa e um pentagrama bordado na sua camisa) movimentava-se no seu palco satânico. Mas quando a violência emergiu á sua volta, notou-se que ficou diminuido e vulnerável”.

Depois disso, os Dead recusaram-se a tocar, por causa da violência instalada, e foram-se embora, de helicóptero.

Os Stones desembarcaram minutos depois, num terminal do Aeroporto de Los Angeles, chocados. Stanley Booth escreveu :

“Mick sentou-se num banco de madeira, desnorteado e amedrontado, sem capacidade para compreender o que havia acontecido – quem eram os Hell’s Angels ou porque eles estavam matando pessoas no seu show de paz e amor… devia ter chamado a policia’, disse Mick”.

Country Joe McDonald declarou:
“Woodstock e Altamont poderia ser duas grandes experiencias sociais do final dos anos 60. Mas realmente, não foram. Altamont foi um grande erro desde o principio por razões claras : pésima organização, péssimo local para a realização do evento, cobiça, arrogância, e estupidez. Woodstock funcionou porque as pessoas não se sentiram usadas. Woodstock foi progressista, na direção da sabedoria, de união das raças. Foi um triunfo da tecnologia. Um modelo para que um festival seja bem sucedido”.

Não há comparação possivel entre Woodstock e Altamont. Do sonho ao pesadelo mediaram apenas 4 meses.

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