Não deve ser fácil ser Francis Ford Coppola. Quando se chega aos 40 anos de idade tendo realizado filmes como, The Godfather, The Conversation , Apocalypse Now , entre muitos outros êxitos de boilheteira, o que fazer depois? Coppola passou os últimos 30 anos tentando viver com esse peso.Não foram anos fáceis. O realizador, teve alguns fracassos, One from the Heart, The Cotton Club, fez filmes medianos por encomenda, The Godfather Part III, Dracula, e abandonou o cinema em 1997, depois de The Rainmaker. Parecia cansado de Hollywood e foi cuidar de seus vinhos.
Há três anos, Coppola ensaiou o seu retorno, com Youth Without Youth, mas a recepção foi péssima. Pelo menos o filme marcou a volta de Coppola a um cinema independente e pessoal. Parecia um recomeço.
Agora chegou Tetro, outro filme barato escrito, realizado e dirigido, pelo próprio Coppola. É o seu primeiro roteiro original desde The Conversation, de 1974.
A história começa quando o adolescente Bennie (Alden Ahrenreich) chega a Buenos Aires á procura do irmão, Angelo (Vincent Gallo), que abandonou a família anos atrás. Depois de fracassar como escritor, Angelo mudou o nome para Tetro, trabalha como iluminador de teatro e vive com a namorada, Miranda (Maribel Verdú).
Bennie vai descobrindo, pouco a pouco, as peças do enigma que é Tetro, e encontra um manuscrito deste, escrito em código, que narra a história da família, que Tetro largou para fugir do pai, Carlo (Klaus Maria Brandauer), um famoso regente de orquestra, homem violento e arrogante.
“Esta família só tem lugar para um génio”, diz o pai, quando Tetro lhe conta o seu sonho de ser escritor.
Para subir na vida, Carlo, o pai, traiu e abandonou o irmão, um músico, bem mais talentoso, do que ele - a disputa dos irmãos parece inspirada na própria saga dos Coppola: o pai de Francis, Carmine, que é músico e compôs a maioria das músicas de seus filmes, é irmão de Anton Coppola, um compositor celebrado e autor da ópera “Sacco e Vanzetti”.
O início de “Tetro” é promissor. Rodado a preto e branco, o filme tem imagens lindas e um clima misterioso e envolvente. Mas o interesse desaparece quando Coppola começa a florear a história com melodrama. Tem qualidades de filme de principiante: uma ambição enorme e uma vontade até juvenil de dizer muito. Mas, curiosamente, também traz alguns problemas típicos de cineastas novatos, como um certo exagero estilístico que acaba por tirar a força da história.
O presente é mostrado em preto e branco, mas os “flashbacks” de Tetro são em tecnicolor. Várias sequências são encenadas como uma peça de teatro. E o filme, transforma-se, numa opereta dramática.As grandes surpresas que a história parecia reservar para o final acabam por não surgir. O fim é previsível.
Decepção total. Mas, pensando bem, acho que “Tetro” pode vir a ser um filme importante nesta retoma da carreira de Coppola. Pela primeira vez em muitos anos, ele arriscou.
André Barcinski, 42, é crítico da Folha. Vencedor do prêmio do Júri do Festival de Sundance em 2001 pelo documentário "Maldito", é autor de "Barulho", vencedor do prêmio Jabuti em 1992, e "Maldito - A Vida e o Cinema de José Mojica Marins" (2001).
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