O tremoço pertence à família Fabaceae e à espécie Lupinus. O seu nome teve origem na palavra árabe al-turmus. Na vizinha Espanha é conhecido por altramuz, tramúz, entremozo e chocho.
As primeiras referências a esta planta surgem no Egipto há cerca de 3.000 anos.
O tremoço é utilizado na alimentação humana e na dos animais, no
enriquecimento dos solos, na indústria farmacêutica e na fitoremediação
Sempre
pensámos que os tremoços eram péssimos para a saúde devido aos
resquícios na memória de uma lenda repetidamente ouvida nos nossos
tempos de criança em que teriam sido amaldiçoados pela Nossa Senhora. Fugia
a Sagrada Família no seu burrico quando, ao passarem por um campo de
tremoceiros já maduros, estes chocalharam ao serem pisados e empurrados
pelas patas do animal, denunciando o local de fuga aos seus
perseguidores. A santa não lhes perdoou a fraqueza e lançou uma maldição
que consistia em nunca matarem a fome a quem os comesse, o que se
tornou num bem para as cervejarias e tascas que sabedoras desse castigo
continuam a servir pires com tremoços que não matam a fome a ninguém e
bem salgadinhos ainda têm a virtude de provocar mais sede e assim
aumentarem o consumo das bebidas.
Algumas pessoas não sabem que os
tremoços que comemos, foram primeiramente cozidos e depois cobertos de
água mudada com frequência por diversos dias até perderem o seu amargo
original. Se não houver este procedimento, são completamente intragáveis
e altamente tóxicos. Esse amargor é devido à presença de vários
alcalóides como a anagirina (usada como cardiotónica e teratogénica), a
esparteína (usado como ocitócico e antiarrítmico) a lupanina,
(influenciando os centros respiratórios e vasomotores), a luteona e a
wighteona. A intoxicação identifica-se por náuseas, vómitos, tonturas,
dores abdominais, mucosas secas, hipotensão, retenção urinária,
taquicardia.
Esta toxicidade desaparece após a fervura e o demolhar
por vários dias, tornando o tremoço doce e um alimento de eleição
beneficiando as pessoas e animais que se alimentem dele.
O tremoço é
um excelente adubo em verde quando enterrado nas terras porque tem a
faculdade de fixar o nitrogénio do ar, absolutamente necessário para o
crescimento de novas plantas o que o torna também responsável pelo
aparecimento de novos ecossistemas. As suas raízes conseguem
descompactar e reduzir a erosão dos solos, ajudando à infiltração de
água. Óptimo para melhorar a estrutura física dos solos. Resistente às
geadas, gosta de Invernos húmidos e Verões secos.
O tremoço é uma
leguminosa tal como o feijão, a fava, o chícharo, o grão de bico, a
ervilha, a lentilha, as giestas, os tojos, as olaias, etc. Tem o dobro
das proteínas do que a maioria de outras leguminosas. É rico em ferro,
fósforo, vitamina E, vitaminas do complexo B, biotina e ácido
pantoténico.
Estudos feitos na União Europeia, comprovam a sua acção
no controlo dos níveis de açúcar no sangue, na redução do apetite, na
diminuição da quantidade de colesterol no sangue, nos efeitos sobre a
obstipação intestinal e por último ajudando a evitar o aumento da
obesidade. Costumam também ser referidas as suas propriedades
emolientes, diuréticas e cicatrizantes, o combate a parasitas
intestinais e também o seu estímulo na renovação das células favorecendo
a regeneração da pele.
Em França existe um produto comercializado
para o fortalecimento capilar utilizando peptídeos, vitaminas e
oligoelementos retirados ao tremoceiro. Há uma série de tratamentos
caseiros que aconselham a ingestão de um ou mais tremoços amargos com a
água de demolhar (ambos tóxicos) todas as manhãs em jejum para baixar o
colesterol, os valores glicémicos ou as dores artríticas, mas nem nos
arriscamos a divulgar aqui por ignorarmos o seu impacto nos organismos
de cada um.
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