terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Nada melhor do que um pires de tremoços, para acompanhar umas bejecas.

O tremoço pertence à família Fabaceae e à espécie Lupinus. O seu nome teve origem na palavra árabe al-turmus. Na vizinha Espanha é conhecido por altramuz, tramúz, entremozo e chocho.
As primeiras referências a esta planta surgem no Egipto há cerca de 3.000 anos. O tremoço é utilizado na alimentação humana e na dos animais, no enriquecimento dos solos, na indústria farmacêutica e na fitoremediação

Sempre pensámos que os tremoços eram péssimos para a saúde devido aos resquícios na memória de uma lenda repetidamente ouvida nos nossos tempos de criança em que teriam sido amaldiçoados pela Nossa Senhora. Fugia a Sagrada Família no seu burrico quando, ao passarem por um campo de tremoceiros já maduros, estes chocalharam ao serem pisados e empurrados pelas patas do animal, denunciando o local de fuga aos seus perseguidores. A santa não lhes perdoou a fraqueza e lançou uma maldição que consistia em nunca matarem a fome a quem os comesse, o que se tornou num bem para as cervejarias e tascas que sabedoras desse castigo continuam a servir pires com tremoços que não matam a fome a ninguém e bem salgadinhos ainda têm a virtude de provocar mais sede e assim aumentarem o consumo das bebidas.

Algumas pessoas não sabem que os tremoços que comemos, foram primeiramente cozidos e depois cobertos de água mudada com frequência por diversos dias até perderem o seu amargo original. Se não houver este procedimento, são completamente intragáveis e altamente tóxicos. Esse amargor é devido à presença de vários alcalóides como a anagirina (usada como cardiotónica e teratogénica), a esparteína (usado como ocitócico e antiarrítmico) a lupanina, (influenciando os centros respiratórios e vasomotores), a luteona e a wighteona. A intoxicação identifica-se por náuseas, vómitos, tonturas, dores abdominais, mucosas secas, hipotensão, retenção urinária, taquicardia.

Esta toxicidade desaparece após a fervura e o demolhar por vários dias, tornando o tremoço doce e um alimento de eleição beneficiando as pessoas e animais que se alimentem dele.

O tremoço é um excelente adubo em verde quando enterrado nas terras porque tem a faculdade de fixar o nitrogénio do ar, absolutamente necessário para o crescimento de novas plantas o que o torna também responsável pelo aparecimento de novos ecossistemas. As suas raízes conseguem descompactar e reduzir a erosão dos solos, ajudando à infiltração de água. Óptimo para melhorar a estrutura física dos solos. Resistente às geadas, gosta de Invernos húmidos e Verões secos.


O tremoço é uma leguminosa tal como o feijão, a fava, o chícharo, o grão de bico, a ervilha, a lentilha, as giestas, os tojos, as olaias, etc. Tem o dobro das proteínas do que a maioria de outras leguminosas. É rico em ferro, fósforo, vitamina E, vitaminas do complexo B, biotina e ácido pantoténico.

Estudos feitos na União Europeia, comprovam a sua acção no controlo dos níveis de açúcar no sangue, na redução do apetite, na diminuição da quantidade de colesterol no sangue, nos efeitos sobre a obstipação intestinal e por último ajudando a evitar o aumento da obesidade. Costumam também ser referidas as suas propriedades emolientes, diuréticas e cicatrizantes, o combate a parasitas intestinais e também o seu estímulo na renovação das células favorecendo a regeneração da pele.

Em França existe um produto comercializado para o fortalecimento capilar utilizando peptídeos, vitaminas e oligoelementos retirados ao tremoceiro. Há uma série de tratamentos caseiros que aconselham a ingestão de um ou mais tremoços amargos com a água de demolhar (ambos tóxicos) todas as manhãs em jejum para baixar o colesterol, os valores glicémicos ou as dores artríticas, mas nem nos arriscamos a divulgar aqui por ignorarmos o seu impacto nos organismos de cada um.

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