sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

One Flew Over The Cucko's Nest - (Voando sobre um Ninho de Cucos)

Famoso por conquistar os 5 principais prémios do Oscar 1975 (filme, direcção, actor, actriz e roteiro), One Flew Over The Cucko's Nest é um retrato irreverente e poderoso sobre o homem versus a engrenagem. É o manifesto de Michael Douglas, produtor, ao lado de Saul Zaentz, contra o fracasso da peça teatral baseada no mesmo livro, que levou a Warner Bros. a desconfiar do sucesso de seu projecto (quem adquiriu os direitos de adaptação de Ken Kesey foi o pai do actor, Kirk Douglas). O resultado foi impressionante: com o apoio de um elenco fabuloso (encabeçado por Jack Nicholson e Louise Fletcher), "Voando sob um ninho de cucos" marcou época e impôs-se como um dos melhores trabalhos já realizados sobre a rebeldia e o inconformismo.

Quando Randle P. McMurphy, um marginal, que acaba de ser preso por estupro, se finge de louco, consegue ser transferido para a ala de um hospital psiquiátrico, nenhum dos internos espera, especialmente a enfermeira do local, Mildred Ratched, ter que lidar com um doente tão irreverente e contestatário – um homem capaz de tudo para sepultar a inércia dos companheiros de ala e, principalmente, a autoridade, até então incontestável, da enfermeira Ratched.

Um roteiro como este, que se pode considerar inpensável, só faria sucesso mediante um grupo de actores e director realmente preparados para o transformar em realidade. No que tange as actuações, Voando sobre um Ninho de Cucos, é espantoso. Não existiu, e provavelmente não existirá, outro personagem, tão desconcertante, e deliciosamente insuportável como Jack Nicholson. A sua presença física e psicológica é tão marcante que acaba transformando McMurphy (alguém que deveria despertar ira) num personagem interessante e carismático. 

Por outro lado, há uma monstruosa enfermeira Ratched (esta vivida por uma não menos fabulosa Louise Fletcher), que parece refestelar-se com a dor e o incômodo de seus pacientes, escondida numa máscara de seriedade e auto-controle. Assistindo ao embate entre os dois personagens, um grupo de homens mentalmente perturbados (vividos por atores ótimos como Brad Douriff, Danny DeVitto e Christopher Lloyd).

A direção de Milos Forman, apesar de correcta e eficiente, sofre pela simplicidade. Não que isto comprometa o resultado, mas chega a ser incompreensível como os trabalhos de Sidney Lumet (por Um Dia de Cão), Steven Spielberg (por Tubarão) e Stanley Kubrick (por Barry Lyndon) tenham sido considerados inferiores pelo Oscar quando, na verdade, são muito mais minuciosos e rebuscados que o de Forman. Comparações à parte, a direcção de One Flew Over The Cucko's Nest, deu o resultado que todos esperavam – e acabou por ser premiada.

Outra curiosidade é que os fãs da obra homónima de Ken Kesey (inclusive o próprio escritor) são excessivamente críticos com o filme. A começar pelo facto de a produção não ser contada sob o ponto de vista do indígena Chefe Bromden (Will Sampson), um dos internos. Para quem não conhece a obra de Kesey, por exemplo, o desfecho da película pode causar profunda estranheza. Mas este detalhe não chega a ser algo essencial ou mesmo comprometedor, já que os roteiristas Bo Goldman e Lawrence Hauben conseguiram costurar algum tipo de explicação à atitude que o indígena tem no final do filme – uma espécie de grito contra a intolerância do sitema e à “quase” vitória da enfermeira Ratched sobre seus companheiros.

Quase todo filme que recebe estima em excesso acaba por sofrer diversos tipos de “acusação” por parte do público mais céptico. Ninguém consegue agradar a Gregos e a Troianos.

Sem comentários: