quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Nina Simone, a biografia da diva rebelde.


Eunice Waymon estava destinada a transformar-se na primeira concertista negra de piano dos Estados Unidos, mas foi rejeitada no conservatório. Daquela decepção nasceu Nina Simone, uma das grandes divas do jazz, retratada com paixão por David Brun-Lambert na biografia da diva do Jazz.

O livro conta a turbulenta existência da intérprete de "My baby just cares for me", desde o início como menina prodígio numa pequena cidade da Carolina do Norte, até á sua morte no sul da França em 2003.

"Morrerei aos 70 anos, porque depois só há dor", tinha dito uma mulher que conheceu os extremos da glória e da miséria, da felicidade e da dor, que esteve submetida aos vaivéns da fama e marcada por uma personalidade cheia de arestas que o seu biógrafo não escondeu.

Dura, combativa e caprichosa, Simone sempre suspeitou que a côr de sua pele tenha fechado as portas do conservatório musical da Filadélfia, cidade para onde tinha viajado desde o sul, graças ao dinheiro arrecadado pela sua comunidade, e na qual a sua mãe ocupava um lugar de destaque como reverenda Baptista.

Depois do fracasso, sobreviveu em Nova York com trabalhos precários, até que decidiu tentar vida nova em Atlantic City.

Conta Brun-Lambert que "num bar húmido e com o chão coberto de serragem para secar o álcool derramado" foi onde Eunice se transformou, uma noite em Nina Simone.

Nina por causa de um apelido pelo qual era chamada por um namorado latino, "Niña", e Simone como homenagem a Simone Signoret, a legendária actriz francesa.
A jovem era pianista, mas o proprietário do bar obrigou-a a cantar para manter o emprego. A filha da reverenda interpretava todas as noites um repertório que a sua mãe sem duvida, teria condenado.

Acompanhando-se ao piano foi modulando uma das vozes mais pessoais do século XX, com a qual nos anos 60 e 70 imortalizou temas como "Aint got no - I got life" ou "I wish I know how it would feel to be free", e gravou clássicos como "Here comes the sun", "Just like a woman" e "Suzanne".

Nina Simone, pôs a sua voz e as suas composições ao serviço da igualdade dos negros, como quando gravou em 1963 "Mississipi goddam",  para denunciar a violência racista após saber que um jovem ciclista negro tinha morrido após ter sido espancado por um grupo de brancos.

Era capaz de se comprometer com a justiça social até pôr em perigo a sua carreira e a sua própria vida, mas ao mesmo tempo, era tão avarenta que pagava aos seus músicos um salário miserável.

Tudo isto, e muito mais, é contado na sua biografia, que reconstrói a busca vital de uma artista que ansiava uma serenidade que nunca obteve e investiga as chaves da complicada personalidade de uma intérprete que colecionou decepções amorosas e lutou com o fisco de seu país e as empresas fonográficas de meio mundo.

Nina Simone, conheceu a fama, mas também o esquecimento, que acabou no final dos anos 80 graças a um anúncio da Chanel Nº 5 que incluía sua versão de "My baby just cares for me".
Nina Simone considerava o tema, uma das canções com a menor importância da sua carreira, mas o tema foi colocado nos primeiros postos das listas europeias, o que permitiu á sua intérprete retornar aos palcos na recta final de sua carreira.

A cantora Nina Simone (Foto: Michel Gange/AFP)
A "diva rebelde", desapareceu deste mundo aos 70 anos, ao morrer enquanto dormia em Carry-le-Rouet, próximo  de Marselha, França.

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