domingo, 15 de janeiro de 2012

The Good and Old, Jack Daniel's

 
Não sou chegado a modismos, ainda mais no tocante a bebidas alcóolicas. As poucas preferências que mantenho na área são obra da experimentação e depuração ao longo dos anos. Portanto, longe de mim dar uma de "especialista" ou "entendido" (ôpa, ôpa...!) em algum assunto. Parto sempre do velho princípio de que é preferível saber um pouco sobre muito do que muito sobre pouco. Na pior das hipóteses, o papo fica mais interessante.

É o caso do bom e velho Jack Daniels. Quando foi moda há alguns anos atrás, alguns especialistas em scotch wiskhy torceram o nariz e botaram a boca no trombone. Bobagem, apenas preconceito gerado pela ignorância ou má vontade com o uísque americano. Mas gritaram com uma certa razão, por causa da confusão montada por esses falsos apreciadores.

A rigor, o Jack Daniel´s não é um bourbon como é regularmente conhecido. Esta nomenclatura aplica-se somente aos uísques produzidos no estado americano do Kentucky. Fabricado na minúscula cidade de Lynchburg, no Tennessee, desde 1866 pelo destilador que lhe deu o nome, transformou-se ao longo dos anos num dos uísques mais vendidos do mundo. A sua famosa garrafa quadrada com o rótulo preto é um dos mais conhecidos ícones da cultura americana até hoje.

Fabricado com uma mistura de milho, centeio, malte de cevada e água isenta de ferro, tampouco é um rye ou canadian whisky. Na classificação dos destilados é enquadrado como tennessee whisky, pois as grandes diferenças de temperatura entre inverno e verão do Tennessee, aliado ao seu elaborado e cuidadoso processo de fabricação conferem ao Jack Daniels seu sabor e coloração amadeirada incomparáveis.

Há alguns anos atrás tive a oportunidade de visitar a fábrica num tour guiado e verificar o seu processo de elaboração: após a mistura de seus ingredientes, o uísque é suavizado num processo chamado de charcoal mellowing, isto é, destilado lentamente em gigantescos recipientes, passando através de uma camada de três metros de carvão de bordo.

Este processo leva em média dez dias, proporcionando ao uísque durante essa destilação, a incorporação da essência do carvão, a fim de refinar a bebida. Daí é armazenado em barris de carvalho para que "respire", ou seja amadurecido enquanto o excesso de álcool seja volatilizado por evaporação, podendo causar perdas de até 30% do seu volume original ao fim do processo.

O Jack Daniel´s é "amadurecido" em barris de carvalho novos e utilizado somente uma vez para este fim, e não "envelhecido" como no processo tradicional de fabricação dos uísques. Somente a experimentação é que vai determinar o momento em que o uísque adquire o sabor, cor e qualidade que se espera de um Jack Daniel´s. Todo esse cuidado já garantiu várias medalhas de ouro ao redor do mundo, garantindo à marca de Lynchburg o reconhecimento como uma dos melhores uísques já fabricados.

Importante, o Jack Daniel´s deve ser servido em copo pequeno e bebido à maneira cowboy, isto é, um rápido shot (de virada). Mas alguns tontinhos desavisados inventaram de bebê-lo on the rocks ou - sacrilégio - adicionando um pouco de água, hábitos herdados dos (maus) bebedores de scotch wiskhy.

No meu caso, gosto do Jack Daniel´s puro. Às vezes, faço uma concessão num Manhattan para fazer companhia a um charuto Bolívar Royal Corona de boa procedência. Como música de fundo, Ballads, do John Coltrane Quartet. A companhia é por vossa conta...E o paraíso não deve estar muito longe disso.

By: Mestre Joca

Sem comentários: