terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Pink Floyd / Syd Barrett. Os pioneiros do psicodelismo ?!

 Tibet, circo, música hindu, religião, Bach, mensagens subliminares, amor, técnicas de gravação, medicina e farmacêutica, fitas invertidas, Dylan, música infantil, cravos, Inglaterra vitoriana, Alleister Crowlley, vaudeville, vocais superpostos, televisão, Gandhi, Motown, jazz, Elvis, orquestras, dinheiro, cordas, música erudita, Stockenhausen, nostalgia, esta a paisagem total criada pelos Beatles que daria inicio á psicodelia do final dos anos 60.

Um elemento era fundamental para a psicodelia em ambos os lados do Atlântico (e para o resto do mundo): o LSD. Sintetizado por Albert Hoffman no final dos anos 50, o ácido lisérgico 25 foi a chave para toda a geração do flower power perceber a nova dimensão que o mundo estava a ganhar, o formato das coisas que estavam para acontecer. Era um portal para uma nova consciência que revelava nuances da realidade imperceptíveis, para os quadrados, os bota de elástico. Mais do que uma droga hedonista, que apenas faz com que o usuário se sinta bem, o LSD tinha um caráter de revelação, de iniciação mística e espiritual, que fez com que toda uma geração (gente que hoje anda pela casa dos 50  e recrimina os seus filhos por usar coisas bem mais leves) entrasse na mesma sintonia e se observasse, ao mesmo tempo, no mesmo espelho.

Mas se os Beatles tinham a responsabilidade de serem os líderes desta geração, disfarçando as suas mensagens em títulos que soavam como piadas internas, sendo "Lucy in the Sky with Diamonds" (LSD) o caso mais clássico, outros grupos não estavam nem um pouco preocupados em ser subtis. O mais evidente de todos era, os Pink Floyd, cujas apresentações ao vivo eram perfeitas para se "viajar no ácido". Tomados pelo espírito inventivo e experimentalista que o ácido proporcionava,  levitavam o rock para uma realidade desconhecida, andando no lado escuro do sonho que os Beatles desenharam.

O grupo foi criado em 1965 no curso de arquitetura da Escola Politécnica da Regent Street, em Londres. Eram apenas quatro estudantes excêntricos. O guitarrista Syd Barrett, o baixista Roger Waters, o teclista Rick Wright e o baterista Nick Mason, que resolveram começar como outra banda qualquer, a tocar opop em voga na época, mas que por influência do ácido, passaram a experimentar sons e atitudes, que os levavam a viajar por dimensões musicais, desconhecidas nesse tempo. O 2front man", era Syd Barrett, responsável pelos limites explorados pelo grupo. Barrett era uma versão rock de uma mistura de Salvador Dali com Buda, liderando o grupo e os seus primeiros fãs com a placidez de um líder religioso, mas com o espírito inventivo e de inovação que move a arte desde o começo dos tempos. Introspectivo fora do palco, Syd entregava-se por inteiro quando mergulhava na música.


O grupo passou por várias encarnações, usando nomes como, Meggadeaths, Sigma 6, Abdabs (que contava com a futura esposa de Wright, Juliette Gale, na formação e se apresentava de forma convencional, como Architectural Abdabs , e não-convencional, como Screaming Abdabs, por vezes na mesma noite, Leonard’s Lodgers e T-Set, em cada uma delas lapidando o som que mais tarde seria o som dos Pink Floyd. Este nome inclusive, mostra o nível de liderança que Barrett exercia sobre seus outros companheiros, pois foi tirado de uma visão que o guitarrista teve durante uma viagem de ácido. Pink Floyd, resulta da fusão dos primeiros nomes dos bluesmen favoritos de Syd, Pink Anderson e Floyd Council. Na época ninguém contestou o baptismo premonitório.

E como Pink Floyd, o grupo saiu do circuito universitário, freqüentando casas nocturnas que em pouco tempo se tornariam referenciais da cultura londrina. Vivendo em plena era da Swinging London, Londres assistia ao nascimento da sua psicodelia à medida que as cores apareciam e o volume dos sons aumentava, como se a própria cidade tivesse tomado LSD.

Os mods tornavam-se cada vez mais coloridos e os rockers cada vez mais barulhentos e essa combinação de estilo com ruído caía como uma luva nas apresentações dos Pink Floyd. Em casas de espectáculo como o Marquee, a Roundhouse e o UFO, tocavam rocks primitivos, como "Louie Louie", em versões caóticas, além de apresentar as canções do vocalista e guitarrista – jóias pop distorcidas em clássicos lisérgicos. Ocasionalmente comportavam-se como uma banda tradicional, experimentando em estúdio e no palco os limites que poderiam ser encontrados entre refrões, introduções, solos. Outras vezes deixavam simplesmente o instinto liderar, originando jam sessions intermináveis, onde barulho e silêncio se encontravam com instrumentos tocados de forma não convencional, efeitos de som e de luz, projecção de slides, seqüências de notas heterodoxas e a repetição usada ao extremo.

 Gravaram o seu primeiro single, de forma independente, com Joe Boyd,o futuro George Martin do folk inglês atrás da mesa de mistura. O 45 Rpm,  "Arnold Layne", sai em 1967, dando inicio e corpo ao Rock Psicadélico, que viria a ser a marca registada dos Pink Floyd. Joe Boyd mais tarde seria responsável pelos melhores discos da Incredible String Band, dos Fairpoirt Convention, Sandy Denny, Richard Thompson e Nick Drake – além dos primeiros discos dos R.E.M. Os temas do vinil, Arnold Layne/Candy and a Current Bun, já mostrava a disposição para ir contra a corrente.

No lado A, Syd Barrett cantava sobre o personagem-título, Arnold Layne, um travesti cujo principal passatempo era roubar roupas femininas. Roger Waters, contava: 
"Tanto minha mãe quanto a de Syd tinham estudantes como inquilinos, porque havia uma escola de raparigas acima, na estrada, então havia constantemente grandes varais de sutiãs e calcinhas, e 'Arnold', ou quem quer que ele fosse, fugia com algumas peças desses estendais de roupa. 

O lado B, "Candy and a Currant Bun", teve que ter o seu título mudado pois o original, "Let’s Roll Another One" (Vamos Enrolar Mais Um), daria problemas com a autoridade. Nos dois temas, o experimentalismo sonoro, já estava em voga, com efeitos sonoros, cadências estranhas, o estranho cruzamento do som da guitarra Danelectro de Syd, e dos teclados de Rick sobre o "cozinhado" anfetamínico de Waters e Mason. Os vocais de Syd, contrapunham-se com as melodias, quase infantis, das duas canções. O single teve óptimo desempenho nas listas de vendas, atingindo o 20º posto em Inglaterra. 

O seguinte, "See Emily Play", parente inglesa do single dos Doors, Scarecrow, lançado nos U.S.A. na mesma época, seguia o rumo do primeiro, mas a regência já não era de Boyd, mas de Norman Smith, engenheiro de som da EMI que tinha trabalhado em pelo menos quatro discos dos Beatles. Os Pink Floyd, foram levados para a mesma gravadora do grupo de Liverpool após o seu primeiro contrato com o empresário Peter Jenner, que passeava por Londres procurando uma banda que pudesse mudar a sua vida. Encontrou os Floyd num show no Marquee Club e resolveu transformá-los nos seus Beatles. Logo o grupo estava a tocar no concerto de lançamento do diário da revolução sonora londrina , o International Times, também conhecido com It , em Dezembro de 1966.

O nome do grupo começava a tornar-se conhecido, e fariam a sua primeira tournê pela Europa no inverno de 1967. Voltaram da Holanda no dia 27 de Abril daquele ano, ao Alexandra Palace, ainda a tempo de se apresentarem como a principal atração do minifestival "14 Hour Technicolor Dream", ao lado de artistas como Yoko Ono, os Pretty Things,  Graham Bond,  Alexis Korner, e os Crazy World Of Arthur Brown,  (aquele grupo que ficou famoso por o vocalista atear fogo ao próprio corpo durante o seu único hit,  "Fire") e os Soft Machine, entre muitos outros. Ficou claro que o grupo era o principal nome da nova cena londrina. 

A consagração aconteceu no mês seguinte, no show Games For May, cujo título tinha sido tirado de See Emily Play, no Queen Elizabeth Hall. O evento multimídia colocava os Floyd no centro das atenções, entre música eletrónica, shows de luzes, projeções de imagens, incenso e a estréia do Azimuth Co-Ordinator, o impressionante sistema de som e efeitos sonoros do grupo.

Estava na hora de entrar no estúdio para gravar o seu primeiro álbum. Assim nasceu o famigerado, "The Piper at the Gates of Dawn", cujo título havia sido retirado do livro infantil "The Wind in the Willows". 

Gravado no estúdio 1 do complexo da EMI (que mais tarde viria a ser conhecido como Abbey Road). O disco foi concebido enquanto os Beatles terminavam o seu megaprojeto "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band" no estúdio ao lado, o numero 2. A vibração psicodélica estava no ar e muitos ainda cogitam a possibilidade de um disco ter influenciado o outro, devido aos encontro esporádicos entre Barrett e John Lennon nos corredores da gravadora, saindo dos estúdios para fumar um cigarro ou tomar uma chávena de chá. Capitaneados pelo mesmo Norman Smith de See Emily Play (que depois levaria os seus conhecimentos sonoros lisérgicos adquiridos com os Floyd para as gravações do melhor disco dos Pretty Things, "S.F. Sorrow" ).

"The Piper at the Gates of Dawn" é o disco mais pop e mais psicodélico simultaneamente que a história do rock já viu. Lançado no dia 5 de Agosto de 1967,  foi juntamente com os seus contemporâneos, como o primeiro disco dos Doors, o primeiro de Frank Zappa, o primeiro do Velvet Underground, Smiley Smile, dos Beach Boys, ofuscado pelo lançamento de Sgt. Pepper’s, dos Beatles, que é inevitavelmente o disco mais importante deste período. Mas o disco de estréia dos Pink Floyd explora o limite entre o pop e a lisergia de uma forma que os Beatles nem sequer, consideravam. 

Depois do lançamento do disco, Barrett começou a dar sinais que a quantidade de ácido que tomava não estava a fazer nada de bom à sua cabeça e teve de ser afastado do grupo, sendo substituído por David Gilmour já no segundo álbum, "A Saucerful of Secrets".

O legado de Syd Barrett está totalmente concentrado no primeiro disco dos Pink Floyd, que viria a ser a principal banda do rock progressivo, levando o conceito dos Beatles em Abbey Road (de 1969) às últimas conseqüências. Mesmo na sua errática carreira a solo, em que preferia esmurrar a sua guitarra a explorar novos horizontes sónicos, Barrett não conseguiu atingir o mesmo vigor e brilho do auge da psicodelia londrina. Nem ele, nem ninguém.

Fonte: Alexandre Matias, e Wikipédia.

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