quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Apocalypse Now - Obrigatório vêr, ou revêr.

Apocalypse Now transpira a mania de grandeza em tudo, com uma equipe de produção magnífica e criativa, dando vida a todo aquele mundo de pesadelos e sofrimento. É soberbo, fantástico e monstruoso.

Coppola realmente dominou Hollywood na década de 70, onde além de realizar obras primas como os dois primeiros capítulos de O Padrinho e The Conversation, em 1974, com Gene Hackman, elevou ainda mais o seu status como gênio no que fez, apesar de enfrentar dificuldades extremamente desafiadoras para dar vida à Apocalypse Now. O filme é magnífico em tudo, e a sua beleza ultrapassa o tempo, e o seu contexto, alucinante, atinge profundamente quem viu este filme.

Tratando-se de um filme de Coppola, o enredo é complexo e deliciosamente fascinante de se seguir  conquistando o público pela eficiência da sua construção e o desenvolvimento sem pressas, dos seus personagens, munidos de características individuais fantásticas e atraentes. O filme, quase não saiu do papel, devido a inúmeras dificuldades e detalhes que envolveram toda a grande produção do mesmo. O próprio Coppola quase sucumbiu, durante as filmagens desta sua obra de arte.

Baseado no romance "Heart of Darkness", de Joseph Conrad, o filme começa sem títulos e muito menos os créditos normais mostrados no inicio de qualquer película. Somos logo alertados pelo tema de abertura, para o que vamos vêr . "The End", dos Doors, insinua-se suave e dramaticamente, deixando no ar a sensação de que algo dramático se avizinha. O enredo é desenvolvido lentamente,
explorando ao máximo as suas personagens centrais, as suas angústias, medos, e desejos. Tudo é construído e conduzido com todo o cuidado, meticulosamente dirigido pelo genial cineasta por trás das câmeras. A abertura é belíssima, exuberante e faz-nos revolver nas cadeiras, ansiosos pela imagem seguinte.

A atuação de Robert Duvall é sem dúvida umas das melhores do filme, tanto é que o mesmo foi indicado para um Óscar, na categoria  de “Melhor Actor Secundário”. Velho conhecido de Coppola, a intimidade de ambos no ambiente de trabalho revela-se de extrema importância para os resultados finais desejados. Louco por se evidenciar, o seu personagem, Kilgore esbanja personalidade, mostrando uma enorme e bem conseguida excentricidade. Os seus diálogos são magníficos e a forma como o actor dá vida ao seu personagem impressiona pela honestidade, sempre intercalando a violência devastadora da guerra, ali mesmo ao lado com momentos descontraídos, onde o assunto da conversa, gira em torno de pranchas, ondas, surfe. Desconcertante.

Que banda sonora soberba a deste filme. É raro quando uma produção se completa de tal forma que se torna fascinante acreditar que tudo é perfeito na sua concepção. O ataque dos helicópteros a uma aldeia ao som de "The Ride of the Valkyries", de Wagner é arrasador, tamanha é a sua grandeza. Talvez por isso mesmo, tenha ganho o Oscar na categoria de  “Melhor Som”,

Os personagens secundários também ganham espaço para se desenvolverem dentro da trama, mesmo que seja curto para muitos.O facto é que os companheiros do protagonista Willard (Martin Sheen), emcubidos de levar o capitão rio acima, Chef (Frederic Forrest), Chief (Albert Hall), Lance (Sam Bottoms) e Clean (Larry Fishburne) não são desprovidos de personalidade,como acontece muitas vezes, na maior parte dos  filmes aonde não sobra tempo necessário para explorar os personagens secundários, muito pelo contrário, em Apocalypse Now, cada um possui uma peculariedade única, personalidades fortes e interessantes.

Martin Sheen entrou no projecto com o barco já a navegar, após ser chamado para substituir outro actor que já estava integrado no elenco, havia já algumas semanas, e depois de estrelas como, Steve McQueen, Al Pacino , terem recusado o papel, por motivos pessoais. Sheen, assentou com uma luva no papel do Capitão Willard, responsável por cumprir um missão de extrema dificuldade e complexidade, envolvendo o Coronel Kurtz (Marlon Brando). A forma como vai desenvolvendo o
seu personagem ao longo do filme é de tirar o fôlego, tamanho é o seu aprofundamento sufocante e irresistivel aos mistérios que cercam Kurtz.

As sequências da ponte, dos helicópteros, dos confrontos pelo rio acima, tudo está tão bem filmado por Coppola que realmente transporta o telespectador para dentro do filme. Vencedor do Oscar na categoria “Melhor Fotografia”, o filme contém uma das mais belas sequências de todos os tempos. A beleza que se forma na tela é deslumbrante, poética e magnífica. Poucas vezes na história cinematográfica de Hollywood, se captou tão bem imagens como estas. Dramáticas, sensíveis, emocionantes, líricas, aterrorizantes, toda a concepção e estrutura de Apocalypse Now foi orquestrada com tamanha magnitude que é complicado explicar em simples palavras.

Marlon Brando, o maior actor de todos os tempos, um homem que se tornou em lenda ainda em vida, aquele que dispensa comentários, aquele que carrega fama, polémica e talento de sobra, também está presente em Apocalypse Now. O seu personagem Coronel Kurtz é o mais complexo de todo o filme. Não seria possível explicar a sua personalidade com palavras. Não seria o suficiente para compreender a fundo as suas ideias. Apesar de Sheen e Duvall em grande estilo, é Brando quem rouba todas as atenções, como se isso fosse alguma novidade, numa carreira repleta de lendários personagens, fortes e polémicos.No entanto, Jack Nicholson, Robert Redford, e James Caan  tinham sido sondados para representar o personagem do persegudo Coronel Kurtz.

“O Horror...O Horror..” Estas simples palavras tornaram-se ícones pelo facto de simplificarem todo o pesadelo que cerca o universo de Apocalypse Now. O terror da guerra e dos homens. A sua personagem é a grande responsável por obrigar o público a reflectir sobre os limites humanos, sobre o ser irracional, as atitudes impensadas, personalidade complexa, de até onde vai a capacidade do ser humano em lidar com outras pessoas e o seu meio. Kurtz provoca não apenas reflexão em Willard, como também provoca a mesma sensação nos telespectadores.

Teria o Coronel Kurtz enlouquecido pela guerra ou ter se ia tornado num ser que superou os limites humanos, estando acima da compreensão dos limites da sua raça? Ao conhecer o horror da guerra, familiariza-se e envolve-se com o mesmo, tendo Kurtz atingido um estado mental que estaria aquem da compreensão dos demais? Willard, ao prosseguir ma sua viagem sem volta ao encontro de Kurtz, o que procurava realmente encontrar? A busca por respostas que possam explicar as razões da
loucura de uma guerra, entre integrantes da mesma raça é procurada insensantemente por Willard?

O final de Apocalypse Now é chocante, eletrizante e angustiante. As sequências do ritual envolvendo o sacrifício do búfalo, intercalado com Kurtz e Willard, são arrebatadoras e magníficas. Originalmente o final de Apocalypse Now exploraria outro desfecho. Os créditos subiriam na tela com a grande destruição da aldeia de Kurtz, com vários ângulos e efeitos surreiais tomando conta da projecção, numa sequência de cores e visuais impactantes. E, voilá...Willard transformar-se ia no novo Kurtz.

Porém Coppola acreditava que esta era a mensagem errada a passar ao público. O final deveria mostrar Willard vencendo Kurtz , atirando a sua arma ao chão, e indo embora com o jovem Lance. O gesto de Willard seria repetido pelos integrantes da aldeia, num simbolismo que indicaria o fim da guerra. As versões que continham o final repletos de explosões bélicas, com os créditos finais, foram retirados do mercado por Coppola, após perceber o equívovo.

Apocalipse Now é muito mais que um filme de guerra, é um marco cinematográfico, devido á sua enorme capacidade de provocar reflexão pelo seu contexto complexo e muito bem construido. Uma verdadeira obra prima, que valeu todos os esforços de Coppola para fazer chegar o filme ás salas de cinema de todo o mundo. 

1 comentário:

Anónimo disse...

Grande filme, mas sobre a mesma temática, prefiro-lhe Deer Hunter.

Sem esquecer, claro, The Thin Red Line, acerca da guerra do Pacífico

Arturo Bandini