quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Mike Rourke, volta aos ringues

Dia 9 de Abril próximo, Mickey Rourke voltará a vestir as calças justas e fluorescentes, de Randy "The Ram", e, na vida real, entrará num ringue de verdade para disputar uma luta-livre pela federação mundial.
De que serve um Oscar, um Bafta, um Leão ou um Globo quando o que se sonhou a vida toda foi mesmo um cinturão de ouro?
Lembrado por muitos como o galã de "Nove semanas e meia", longa dos anos 80 em que protagonizava cenas picantes de sexo com Kim Bassinger, Rourke, agora com 56 anos, passou quase uma década longe dos holofotes, lutando para se reerguer depois de uma série de escolhas infelizes - entre elas, o facto de ter abandonado a carreira de actor no início da década de 90 para tentar uma carreira profissional no boxe.
Com fama de indisciplinado no set, Rourke foi rejeitado ou desistiu de uma série de papéis que lhe teriam dado destaque, incluindo o de Eliot Ness, em "Os intocáveis", o de Axel Foley,que foi entregue a Eddie Murphy,no Beverly Hills Cop (1984), e o de Butch, em "Pulp fiction",personagem entregue a John Travolta.
"Trabalhar com Mickey é um pesadelo. Ele é muito perigoso no set porque nunca se sabe o que ele vai fazer", chegou a declarar Alan Parker, que escolheu Mike para trabalhar com Robert De Niro em "Angel Heart", em 1987.
Com o dobro do tamanho e o rosto praticamente irreconhecível graças às diversas plásticas a que teve de se submeter por causa do boxe, o actor contou com a ajuda dos poucos amigos que lhe restavam em Hollywood para se manter no activo nos últimos anos. O também "bad boy" Robert Rodriguez, por exemplo,deu-lhe - e ao seu inseparável cachorro Chihuahua - uma ponta em "Era uma vez no México", como o vilão Billy. Mais tarde, convocou Rourke para o papel de Marv na adaptação cult da banda desenhada "Sin city". Mesmo tendo um grande destaque,muitos demoraram a reconhecer Rourke no papel do detective noir e brutamontes que quer vingar o assassinato de sua amante no filme.
Inicialmente oferecido a Nicolas Cage,no entanto,o papel de Randy "The Ram" Robinson no "The Restler", não poderia ter caido em melhores mãos do que as de Rourke. Por coincidências que extrapolam as do ringue, Mike Rourke tem uma actuação tão honesta e comovente, que as marcas e golpes sofridos pelo lutador no ecran confundem-se com as do actor fora dele.
"Eu li o roteiro e havia tanto do personagem em mim, de como vivi nos últimos 15 anos, que pensei,"isto é muito parecido!", declarou o actor numa entrevista recente à revista "Entertainment weekly".
Exibido pela primeira vez em Setembro do ano passado no Festival de Veneza - de onde saiu com o Leão de Ouro -, o filme conta a história de um profissional de luta-livre consagrado na década de 80 mas que, passados 20 anos, começa a dar sinais de decadência.
Depois da sequência, mostrando recortes de jornais, das glórias passadas do "The Ram",o lutador, ao som de "Bang your head",tema heavy-metal da banda "Quiet Riot", a câmara avança no tempo e focaliza um sujeito cansado, tossindo no vestiário de um ginásio caído, e sem dinheiro para pagar o aluguer da caravana aonde mora. Os longos cabelos loiros agora têm de ser tingidos,e os músculos, estão inchados devido ás injecções constantes de anabolizantes.
Mesmo que ainda grande como um touro - ou um carneiro, tradução exacta para "The Ram" - e idolatrado pelas gerações mais jovens de lutadores, Randy vai se sentindo cada vez mais deslocado. Após uma luta sangrenta pela "Combat Zone Wrestling", liga profissional de lutadores,americana, conhecida pelos combates ultraviolentos que envolvem golpes com vidro, arame farpado e diversos objectos cortantes, "Ram" sofre uma paragem cardíaca e é obrigado a deixar os ringues e começar a trabalhar,vendendo congelados num supermercado,para pagar as contas.Abandonado até pelo garoto,seu vizinho na caravana ao lado - o miudo, prefere agora,jogar o moderno "Call of duty 4", em vez do velho jogo de luta-livre que disputava com Randy numa Nintendo 8-bits.
A única amiga, de Randy, é uma stripper (Marisa Tomei,também nomeada nos Oscares) que, apesar de demonstrar certo interesse amoroso, procura evitá-lo para que este não se envolva com os seus clientes.
"Sou só um pedaço de carne velho e rebentado.Estou sozinho", desabafa a certa altura à filha (Evan Rachel Wood), que também o rejeita depois de anos,"The Ram" se ter comportado como um pai ausente.
Ao jeito de um Rocky Balboa sem a "patriotice" norte-americana, Randy,submete-se a toda a espécie de humilhações para tentar construir uma vida nova longe da lona.
A câmara de Aronofsky, no entanto, que o acompanha por cima dos ombros largos de lutador em boa parte do filme, como que andando pelos corredores de uma arena, não nos deixa esquecer nunca qual é o verdadeiro lugar do personagem. Do mesmo modo que Randy, aliás,Rourke ainda hesita em escolher o seu "papel",na vida real, como se a série recente de prémios e homenagens dados á sua interpretação em "O lutador" não bastasse, o teimoso actor ainda insiste em dar mais uma hipótse à luta.

1 comentário:

PAULO RIBEIRO disse...

Concordo, se dizer mais alguma coisa, estarei sendo redundante.