quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Milk

Quando poderia muito bem tentar agradar aos críticos com um filme para lá de convencional, Gus Van Sant, presenteou-nos com um trabalho poderoso, dramaticamente, e mais do que actual, com a cinebiografia Milk.
Sean Penn interpreta brilhantemente Harvey Milk, que foi o primeiro político, da Califórnia, a "sair do armário", a assumir-se homossexual.
O que chama a atenção, é como esta história foi levada para os ecrãs, uma vez que foge ao estilo tradicional de outras biografias e não tenta investigar os primeiros anos de Milk. Consequentemente, aqui não há justificativas patéticas sobre o porquê de Harvey ser gay - ele é assim, não é necessária muita conversa, para explicar esse facto. Desta forma, abre espaço apenas para o que parece ser o tema central aqui: discussões políticas sobre os direitos dos homossexuais e outras minorias. O que pode ser considerado como um erro por alguns, mas de maior mérito, para outros.
O argumento de Dustin Lance Black, premiado pela Academia, é brilhante nesse sentido, e por isso mesmo o melhor entre todos, que foram ao julgamento dos membros da Academia. Além de todo o trabalho de pesquisa, é notável como ele alcança uma sensibilidade impressionante sem nunca parecer piegas.
Numa determinada sequência, quando vemos um jovem com cadeira-de-rodas a telefonar para Milk e a contar o seu problema com os pais, percebemos como o filme alcança a perfeição naquilo que é a sua proposta principal, ou seja, os direitos iguais para todos dentro da legislação. É um momento muito tocante e que parece ser a síntese da proposta dos envolvidos na consecução do filme,de que Harvey começou do zero e conseguiu mobilizar uma enorme quantidade de pessoas para essa luta muito válida. Tecnicamente, tudo parece contribuir para esse resultado especial, desde a perfeita reconstituição de época até á banda sonora,adequada da autoria de Danny Elfman.
O que merece, igualmente destaque, é a montagem de Elliot Graham. Antes de tudo Milk é um filme muito documental, e a tentativa de trazer imagens reais de forma que essas sejam integradas à trama foi mais do que acertada. O desfecho de Harvey já é anunciado logo ao início, mas ainda assim é incrível como o enredo consegue impressionar,e boa parte disso deve-se ao trabalho do editor.
O casting também é perfeito e todas as escolhas para o elenco foram mais do que adequadas.
Emile Hirsch e James Franco tem muita liberdade para compor sua caracterização e, especialmente o segundo, apresentam uma performance reveladora.
Já Josh Brolin surpreende completamente como Dan White, um dos políticos que não aprovava a maneira como Harvey conduzia as coisas. É uma actuação contida, mas que encanta por isso mesmo.
Claro que o destaque vai para Sean Penn, que novamente cria um tipo muito particular e que em momento algum pareceu uma pura e simples “imitação”.
Resumindo, Milk é um filme que funciona muito mais pela totalidade dos factores do que por alguns aspectos em particular.
E, claro, Milk defende sua “causa” acima de tudo, porém termina favorecendo muito mais a defesa da maioria, do que determinado grupo em particular.

Sem comentários: