domingo, 1 de fevereiro de 2009

Cream - A História - The End, Part I


Enquanto crítica especializada e fãs se curvavam diante do som intenso e majestoso do álbum Disraeli Gears, que subia tranquilamente nas listas de vendas daquele Novembro de 1967, ninguém poderia imaginar que, dentro dos Cream, a tensão havia voltado e estabelecera-se como ordem natural das coisas.
Desde a época de Bruce e Baker na Graham Bond Organisation que o clima não andava tão tenso. A disputa de egos,para dar autógrafos, para dar entrevistas, para resolver os assuntos particulares da banda, como divulgação, sessões de gravação etc.,parecia ter chegado a um ponto de não retorno.
O engraçado é que a primeira grande discórdia dentro do Cream tenha começado, realmente, não entre Bruce e Baker, o que seria mais previsível dado o notório passado de disputas dos dois, mas justamente entre Bruce e Clapton. Desde o mês de Junho, aquando do lançamento do single, “Strange Brew”, Bruce estava desgostoso com Clapton e com o produtor Robert Stigwood, pois descobrira, acidentalmente, ouvindo o disco, depois de pronto, que numa linha de baixo sua com alguns erros tinha sido a utilizada na mixagem – ou seja, apesar de ser um clássico do rock, até hoje reverenciado e copiado por inúmeros artistas, “Strange Brew”, na verdade, não continha a parte de baixo gravada como a ideal por Bruce. Lembremo-nos que aqueles eram os anos 60, e quase nenhum pop star daquela época passou incólume pela experiência das drogas alucinogénas – assim como inúmeros outros não só da swingin’ London como da América e de vários outros cantos do planeta, Bruce e seus colegas dos Cream, envoltos pelo halo da fama e pelas novas oportunidades , estavam experimentando uma novidade após outra, excitados pelo clima de novidade e lisergia que Haight-Ashbury e o Verão do Amor de San Francisco haviam espargido pelo mundo.
Foi assim que, envolto em suas roupas multicoloridas e com enormes óculos escuros para cobrir as olheiras de incessantes noitadas e compromissos do grupo, um indignado Jack Bruce chegou ao escritório de Robert Stigwood, numa manhã de Junho de 1967, querendo satisfações sobre o que ,"diabos havia acontecido na mixagem de “Strange Brew” ,para que a sua linha de baixo, considerada a correcta, desaparecer da versão final da música. Inicialmente, um atónito Stigwood alegou que os custos com o estúdio eram caros, e estavam excedendo o budget da banda – daí, na correria para terminarem a mixagem de “Strange Brew”, no meio da confusão de fitas no estúdio, o take corretco de baixo tinha sido apagado. Explicações foram dadas, gestos e sorrisos amarelos foram trocados, e os assessores de Stigwood procuraram, em vão, mostrar a Bruce registrs escritos do dia da gravação, tentando amainar aquele polvoroso imbróglio. Já visivelmente alterado após uma não muito deleitável viagem de LSD, Bruce chegava às raias da paranóia.
Havia lido comentários de Clapton (que não estava presente nesta ruidosa reunião) na imprensa escrita, louvando “Strange Brew” e os seus méritos como um marco na carreira dos Cream. Clapton era o vocalista da canção, e tinha absoluto destaque no novo hit, que havia sido composta por ele, Felix Pappalardi e sua esposa, Gail Collins.
Pappalardi era o novo produtor da banda, e nas sessões de gravação, a ultima palavra era sempre sua. Todas as evidências apontavam para uma conspiração entre Clapton e Pappalardi para afastar Bruce da banda! No final das contas, todas as histórias contadas a Bruce não conseguiram apagar o rancor do baixista que, irado, nunca mais esqueceu, que uma fita contendo a linha de baixo correcta de, “Strange Brew” havia, misteriosamente, desaparecido durante as sessões de mixtura.
A partir daí, Bruce, que fora sempre cordial e atencioso, começou a distanciar-se mais dos outros dois elementos da banda. Obviamente,decepcionado, começou a observar a administração e o modo como as coisas eram organizadas nos Cream com uma maior visão crítica.
Durante os concertos, a disputa de egos entre ele e Clapton começou a exacerbar-se, sobretudo, nos momentos de improvisação – exactamente aqueles que se tornariam a marca registada dos Cream.
Ciente da campanha que empresários e mídia silenciosamente faziam para promover a imagem de Clapton nos Cream, Bruce passou a fazer-se notado, nos espectáculos, elevando o volume do seu baixo até um limite ensurdecedor,especialmente durante as "extended jams" da banda ,em temas como “Sunshine of your Love” e “Spoonful”, que atingiam quase meia hora de improvisos. Clapton, em contrapartida, começou a ficar “mordido”, e pagava a um "roadie" só para, que este, aumentasse, o volue da sua guitarra durante os seus solos.
É claro que esta estratégia, dava pró torto, originando que Clapton e Bruce saíam do palco, sempre a discutir, invocando cada um as suas razões,culpando-se,um ao outro, pela performance chata e apagada, quando, na verdade, tudo o que queriam era discutir sobre o volume insurdecedor que ambos produziam. Nos bastidores, managers e amigos chegados notavam que o clima era de neurose, e que algo de muito errado estava a acontecer.
Para piorar as coisas, alguns factores externos,influenciavam, ainda mais negativamente, o relacionamento entre os membros da banda. Não eram só as drogas e os problemas de ordem musical a serem apontados como causadores dos conflitos que se seguiriam. As mulheres, também, – sem querer ser machista - desempenharam um papel importante para que o castelo de cartas ruísse. Groupies e admiradoras, afoitas por alguns momentos de glória, aproximavam-se de Baker e Clapton a todo o momento, repletas de incenso, patchouli e ofertas de substâncias miraculosas, regadas a sexo. Era a viagem ao paraíso que, invariavelmente, se transformava numa descida ao inferno.
Baker,era constantemente confrontado, pelas diferentes namoradas que arranjava aqui e ali, sobre o seu papel de “o grande baterista”, dos Cream e, já emocionalmente instável quando,encharcado de LSD ,e outras drogas mais pesadas, que ele próprio introduzira no grupo, era instigado a lutar por mais destaque dentro da banda. Certa vez, após passar uma noitada com algumas “amigas” americanas, Baker chegou aos estúdios de gravação, aonde decorriam as gravações do disco seguinte,o Wheels of Fire, e, enquanto não destruiu metade de seu kit de bateria, não sossegou.
Bruce ficava desanimado por ver tempo e dinheiro perdidos ali, naquelas preciosas horas atiradas fora, tentando produzir algo, e, deixando o baixo num canto, saía, para tomar um chá, clarear as ideias, e dar tempo, até que as coisas ficassem calmas novamente.
A atitude de Clapton era do mais absoluto desânimo,apesar de, ser visto como o “deus da guitarra” e líder dos Cream, ele também lutava com os seus fantasmas, com visões doentias das fãs, o buraco para ele, era bem mais fundo. Absorto em infindáveis pensamentos, Clapton experimentava as suas primeiras crises depressivas, originadas por um problema que ele ainda não havia conhecido muito bem: a dor da paixão.
Ainda em 1964, enquanto membro dos Yardbirds, Clapton conheceu o guitarrista dos Beatles, George Harrison, durante uma série de shows que ambas as bandas haviam sido contratadas para fazer no final do ano, no Hammersmith Odeon. Ficaram amigos, e ao longo dos anos, com a escalada de Clapton rumo à fama e a sua ascensão no grupo de John Mayall e nos Cream, a correspondência de ambos aumentou, e ele passou a encontrar-se mais amiúde com Harrison em festas e visitas, nascendo daí uma grande amizade, baseada numa afinidade de assuntos e gostos que os dois possuíam. O problema, a partir de então, talvez fosse justamente esta afinidade, que se estendeu ao ramo afectivo.
Em 1965, Clapton conheceria, num encontro na casa de George Harrison, a noiva deste, a modelo inglesa Patty Boyd, que dali a alguns meses, seria a Sra. Harrison.
Como em todas as histórias de grandes amores, Clapton não reconheceu imediatamente, mas estava ali a mulher que o faria perder a cabeça e passar oito longos anos de sua vida enfrentando problemas com drogas e bebidas, tentando curar a paixão por Patty da forma mais inadequada.Nesta fase, não esqueçamos, ele compôs,por e para ela, um dos maiores clássicos do rock, Layla, em 1970, uma das mais belas declarações de dor-de-cotovelo da história da música pop.
Apenas com o passar do tempo, de 1966 em diante, e com o fracasso de vários relacionamentos amorosos, é que Clapton começou a perceber que havia alguma coisa de errado com o seu pobre coração. Começou a notar, também, que ficava profundamente irritado ao ver as fotos da festa do casamento de Harrison e Boyd nos jornais, ocorrido naquele ano. Consciente do mal que estava atravessando, passou a distanciar-se de Harrison, não respondendo mais aos seus convites. Assim, Clapton procurou concentrar-se nos assuntos dos Cream, tentando,com novos romances, que invariavelmente falhavam,reorganizar a sua vida. Falhavam os relacionamentos, porque ele idealizava, encontrar uma mulher que fosse exactamente como Patty Boyd,o que nunca acontecia. Daí que, o LSD, cocaína e demais congéneres começaram a fazer parte do quotidiano dos Cream, trazidos por namoradas, empresários, amigos e demais figuras da esfera de contactos do grupo,.
Clapton embarcou na onda, procurando, mais uma vez, um paliativo para a dor que estava a sofer,mas que não sabia explicar. Tudo isso foi levando o guitarrista a um estado de consciência bastante alterado, em diversas situações ,e obviamente, a velha magia dos Cream, em estúdios de gravação e palcos rodeados de multidões, começou a falhar, devido ao delicado estado emocional em que se encontrava Clapton.
Estamos no início de 1968 agora, e esta era a situação limítrofe a que os Cream haviam chegado, no ano novo, após um 1967 cheio de êxitos comerciais e artísticos. A tensão que se havia instalado dentro do grupo era difícil de ser ultrapassada, devido aos factos anteriormente explicados.Era muita tensão, eram muitos os problemas, eram muitas as drogas.
Tínhamos um Jack Bruce extremamente magoado com a sua falta de poder decisório dentro da banda, e desconfiado de tudo e de todos; um Ginger Baker egocêntrico e exagerado, cheio de drogas constantemente, determinado a tomar todo o espaço que pudesse, com medo de ser relegado a um segundo plano por sua condição de baterista, e enfim, um Eric Clapton nervoso e inseguro, apático e abatido pela sua paixão não resolvida, também a afundar-se nas drogas.
Entretanto, ou talvez pressentindo mesmo a tempestade que se aproximava, promotores de espectáculo e empresários apressavam-se em tirar o maior partido que pudessem das lucrativas apresentações da banda, e marcaram uma série de datas,o que, dada a conjuntura por que passavam, poderia só percipitar tudo.
Já no final de 1967, haviam se desdobrado numa série de shows nos EUA, que foram até o final de Dezembro. Agora, em Janeiro de 1968, enquanto tentavam gravar alguma coisa para o seu próximo álbum, os Cream, recebiam de seus empresários, estupefactos, a notícia de que havia sido marcada para eles uma mega-tournée pelos EUA, de costa a costa, com início em 23 de Fevereiro, e que se estenderia, provavelmente, até Junho!
As reacções variaram de uma pseudo felicidade, por voltarem a tocar na América, ao sentimento de estafa e esgotamento nervoso, assim que pensaram que seriam cinco meses vivendo juntos, lado a lado...
Clapton, anos depois, é quem melhor definiria a situação delicada pela qual a banda estava a passar naqueles dias:
“Foi uma experiência terrível que vivenciamos, dia após dia, naquela época. Já estávamo acostumados a sair e a relacionar-nos apenas com os amigos que fazíamos nas inúmeras cidades em que chegávamos, e entre nós, nada mais havia a dizer. Não estávamos mais a conviver como um verdadeiro grupo. Havia muitos conflitos.”
Ao mesmo tempo que se concentravam para preparar novo material e conseguirem dar o melhor de si nos novos gigs que se aproximavam, mal imaginavam os membros do Cream que, fora de toda a paranóia a que estavam submetidos no seu ambiente de convívio, do lado de fora, já eram vistos com uma reverência admirável, e só presente em bandas que tinham muito mais tempo de estrada do que eles.
Chegava 1968, o ano das grandes revoluções e protestos – definitivamente, o ano que marcou, de forma política cultural, todo o espírito contestatário da década de sessenta, com o Maio de 68 e as suas barricadas estudantis em França,as manifestações anti-ditadura no Brasil,a Primavera de Praga,e os inúmeros protestos,nos EUA,contra o envolvimento dos USA na Guerra do Vietname.
Curiosamente, no meio de toda a balbúrdia que se instaurava, os próprios soldados americanos dispostos a matar ou morrer viviam, do outro lado do mundo, num ambiente típico de guerra, com muitas drogas, saudade das suas familias e namoradas, e o som do rock ,que chegava alto e poderoso através das rádios americanas instaladas nas bases militares. É interessante como a lembrança de centenas de veteranos daquele hospicio a céu aberto, cuja insanidade foi retratada com brilhantismo por Francis Ford Coppola , em "Apocalypse Now", remete a “Break on Through”, dos Doors, ou o “Magical Mistery Tour”, dos Beatles (cuja imagem de uma caravana pronta para “te levar daqui hoje”, para muitos soldados, era ou a imagem dos comboios de salvação nos campos de batalha, ou dos esquadrões de desbravamento de território prontos a carregarem milhares de recrutas para a morte...),uma música tão intensa e emblemática desta época, em que as imagens de psicodelia e sonho se dividem entre as mentes da juventude que pregava a paz e se enfeitava com flores,e a juventude que embarcava para a morte e pegava em armas.
Ainda em Janeiro de 1968, as palavras de amor desesperado contidas em “Sunshine of Your Love”, e que reflectiam o sentir dos soldados americanos, diante das incertezas de conseguirem, um dia, regressar vivos à América para rever as suas namoradas, faziam desta música a mais tocada nas estações de rádio militares norte-americanas instaladas em território vietnamita.
Clapton, mergulhado na sua crise romântica, nem imaginava que sua guitarra embalava, também, as crises de vários outros atormentados jovens em luta, obdecedo ás ordens dos seus governantes ,e que talvez nunca mais pudessem ver o rosto dos seus entes queridos. Também do outro lado do Atlântico, nos EUA, a ovação aos Cream, era geral, e o nível de adoração que eles haviam atingido, beirava a histeria dos tempos idos da beatlemania, fazendo com que George Harrison , congratulasse o seu colega de instrumento pelos novos êxitos.
Diversas publicações, como New Musical Express, Disc & Music Echo, Beat Instrumental e Melody Maker, repetidamente deitavam desmedidos elogios às performances ao vivo do grupo, e elevavam o seu último LP, Disraeli Gears, à condição de “criação da mais pura energia musical, directo do topo” (nas palavras de um crítico da Melody Maker).
Havia, no entanto, uma publicação que, desde o início da carreira do Cream, nunca se relacionou muito bem com a banda, a "Rolling Stone". Já na época do primeiro LP, Fresh Cream, haviam catalogado o álbum de “presunçoso e sem inspiração”. Agora, para Disraeli Gears, apesar de toda a aclamação geral, escreviam: “Infelizmente, o álbum não se sustém em conjunto, prejudicado por material bem pobre”. Nunca ficaram bem claros os motivos pelos quais os críticos desta publicação remavam contra a maré, mas todos sabemos que, assim como em qualquer outro ambiente profissional, a imprensa musical move-se através de um certo jogo de interesses , convites, não concedidos nos shows certos, e nos momentos certos, por promotores e managers dos Cream, a certos jornalistas, podem muito bem ter determinado a linha editorial, "do bota abaixo os Cream," da redação e editores da Rolling Stone.
De qualquer forma, veremos, mais á frente, que este desgosto da Rolling Stone em relação aos Cream iria culminar com um acontecimento de dimensões bastante consideráveis.
A tournée que se seguiria, conforme as previsões, não melhoraria nada as relações internas do grupo, mas serviria para que dessem ao público americano o que ele mais queria: muito rock pesado. Sonoramente, a banda estava melhor do que nunca – ainda que, em algumas noites, devido a certos exageros nas substâncias químicas por parte dos músicos, eles se perdessem totalmente em meio aos solos e improvisações, e quebrassem a barreira dos quarenta minutos em certas músicas! A plateia dos anos sessenta, no entanto, e sobretudo a plateia dos Cream, estava acostumada a estes virtuosismos – a maioria deles, a bem da verdade, desnecessários – e tinham "estaleca" para aguentar o exagero.
Entre as idas e vindas do grupo entre shows e sessões de gravação agendadas (para preparar o próximo álbum, que deveria se chamar Wheels of Fire), o clima agressivo entre Bruce e Baker só ficava cada vez mais acirrado.As velhas brigas e disputas voltavam à tona, o que só prejudicava os Cream, já que a sua secção rítmica, por ideias musicais divergentes, não se entendia. Clapton, entorpecido pelos óbvios motivos já citados, sentia-se meio perdido e, se antigamente, pelo menos, ele era um ponto conciliador entre Bruce e Baker, agora nada mais parecia fazer sentido.

Wheels of Fire, no entanto, exigia a devida atenção por parte de todos os envolvidos – afinal, era uma superprodução para os padrões da época! Produzido como um verdadeiro tour de force dos Cream, havia sido planeado para ser um álbum duplo (inspirado no tão comentado White Álbum dos Beatles), era a mais cara produção realizada pelo grupo, usaria o novo sistema de 16 pistas, e envolveu um sem número de instrumentos e músicos convidados (além do próprio amigo e produtor Pappalardi) que lembrava o Sgt. Pepper’s dos Beatles: cello, diversos tipos de órgão, glockenspiel, harpas, sinos de diferentes tons, viola, seção de metais, o que mais apareceu,tudo para dar um clima de experiência sonora, idealizado por Clapton, Baker e Bruce para o disco, e gerar a sensação de uma verdadeira sinfonia hard rock nos ouvintes. E é isso exactamente o que eles conseguiram em faixas como a épica “Those Were the Days”, pontuada por sinos angelicais, e a belíssima e cheia de soul “Desolated Cities of the Heart”, que conta com um intermezzo de violinos que dá à música um clima todo especial.
Apesar de toda a concentração e até união, na procura de novos sons, volta e meia ,as discussões recomeçavam, e muito da energia necessária para concluir o disco, perdia-se. Semblantes aborrecidos, crispados por um motivo qualquer, e a tensão neurótica, tomava conta do estúdio mais uma vez. Soluções para o marasmo foram, então, procuradas a fim de que o álbum pudesse ser concluído.
Primeiro, houve o indispensável incentivo de Felix Pappalardi, que desempenhou quase que o papel de quarto membro do grupo naqueles dias (inclusive, muitas vezes, tocando vários instrumentos e compondo activamente com a banda, para trazer novas idéias musicais que os animassem).
Segundo: resolveram voltar a tocar alguns blues, como nos velhos tempos, tentando reacender aquela velha chama das primeiras jams.
Talvez, por isso, grande parte do material de Wheels of Fire , seja predominatemente blues, como Disraeli Gears não era.
Prova disso são “Sittin’ on the Top of the World”, de Howlin’ Wolf, revivida pelo grupo em uma versão repleta de solos de Clapton, “Born Under a Bad Sign”, de Albert King, e “Crossroads”, um velho standard de Robert Johnson, que nunca saíra da cabeça de Clapton, e para o qual estavam treinando constantemente agora, para os shows da tournée americana – acabaria entrando no novo álbum, inclusive, não como uma versão de estúdio, que nunca foi devidamente produzida, mas sim, como um take gravado num show da banda em Fillmore West.
Também havia “Politician”, uma vigorosa composição nova e cheia de ironia, por cortesia de um Jack Bruce revoltado com os parlamentares britânicos: bebia directamente na fonte do blues, conduzida por uma imponente linha de baixo que impressionava o ouvinte na primeira audição.
Em Maio, dois importantes acontecimentos marcam os Cream. O primeiro seria a sua última aparição tocando juntos, como grupo, em um show de TV.
Em virtude do grande sucesso alcançado por “Sunshine of Your Love”, são convidados para tocar a música ao vivo, no prestigiado programa pop Smothers Brothers TV Show. O acordo, entretanto, era para que tocassem duas canções, e, não querendo voltar ao passado e apresentar outro hit qualquer, resolvem tocar algo novo, em um set bem acústico e calmo.

Clapton no violão, Bruce no baixo e Baker com um par de congas,tentando, como na época de Wrapping Paper, mostrar ao público um outro lado do grupo, mais melódico.
Assim, directo do material que estava preparado para Wheels of Fire, trazem “Anyone for Tennis”, uma bucólica e folky composição de Clapton da qual ele posteriormente, se iria cansar, passando a detestá-la - apesar de ser uma contribuição sua para a banda sonora do filme que um amigo seu estava a filmar," The Savage Seven", um violento drama sobre um gangue de "motoqueiros" e sos eus conflitos existenciais, estrelando o lendário guitarrista Duane Eddy, num dos papéis principais.
Apesar de ser uma canção menor na carreira do grupo, assim que foi lançado em single, após a actuação no Smothers Brothers, em Maio de 1968, subiu assustadoramente nas paradas, indicando como a popularidade dos Cream estava em altoanaqueles dias .
“Anyone...” não tinha nada do estilo da banda. Entretanto, como levava a sua assinatura, vendeu como água, como todos os outros singles.
O segundo acontecimento seria fatídico para o destino do grupo, acabando por destruir todas as estruturas internas, que já estavam bastante abaladas.
A seguir,terminar,num próximo post.

Fontes
Denio Alves
A História do Rock (Edições Som Três, 1982)
Eric Clapton – Por Ele Mesmo (Ed. Martin Claret, 1992)
John Platt, Disraeli Gears (Schirmer Books, 1998)
Chris Welch, Strange Brew (Castle Communications, 1994)
Brian Hogg & Robert Whitaker, In Gear (UFO Books, 1992)

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