sexta-feira, 6 de março de 2009

Stars - Simply Red

"Use Your Illusion", do Guns n' Roses, "On Every Street", do Dire Straits, "Achtung Baby", do U2, "Dangerous", de Michael Jackson? Eram apenas alguns dos álbuns que chegaram às lojas de discos entre Setembro e Novembro de 1991. Além deles, no dia 30 de Setembro daquele mesmo ano, foi lançado "Stars", dos Simply Red."Stars" não só vendeu mais do que todos esses álbuns citados quando foi lançado, como deixou todos os outros para trás nas listas de vendas, britânica de álbums.
"Stars", além de ter gerado cinco singles, permaneceu doze semanas no topo da lista de álbuns. Em 2000, a revista Q elegeu o disco como o 80º melhor de todos os tempos. Ainda é pouco ?! Pois fiquem sabendo que até hoje, "Stars" já vendeu mais de dez milhões de cópias, sendo que, somente na sua primeira semana, 150 mil pessoas compraram o álbum na Grã-Bretanha. "Stars" foi o álbum que mais vendeu na Inglaterra entre 1991 e 1992 e um dos cinco mais vendidos naquele país, em todos os tempos.
Na verdade, "Stars" foi um divisor de águas na carreira dos Simply Red, tanto comercialmente, quanto musicalmente. Contando com a produção de Stewart Levine, os Simply Red mudaram a sua sonoridade, focando mais no pop, em detrimento do soul e do rhythm and blues que imperaram nos anteriores "Picture Book" (1985), "Men And Women" (1987) e "A New Flame" (1989).
Para tanto, Mick Hucknal fez mudanças drásticas na banda (até mesmo porque, como todos sabemos, Mick Hucknall é o Simply Red, e não se fala mais nisso). Para começar, o baterista Chris Joyce, que tocava no grupo desde o seu início, foi "corrido". Em seu lugar, Hucknall convidou o baterista Gota Yashiki (especializado em bateria eletrônica) que, ao lado do baixista Shaun Ward foram os músicos responsáveis pelo novo redireccionamento dos Simply Red. O guitarrista brasileiro Heitor T.P., que fazia parte da banda de Ivan Lins, e que Levine tinha conhecido durante a gravação de um álbum do músico brasieiro, foi também chamado para integrar os Simply Red. Os velhos guerreiros, Ian Khirkham (saxofone), Tim Kellet e Fritz McIntyre (ambos nos teclados) completaram o novo Simply Red.

A primeira providência a ser tomada por Mick Hucknall foi não gravar músicas de outros artistas em "Stars". Com excepção de duas canções escritas com McIntyre, todas as faixas do álbum são de autoria de Mick Hucknall. "Todas as músicas de 'Stars' foram compostas, enquanto eu ouvia walkman com um violão nas mãos", explicou o cantor no documentário da série "Classic Albums", da BBC, dedicado ao disco.
Dessa forma, se alguma faixa de "Stars" viesse a fazer sucesso (e cinco fizeram bastante sucesso), ela teria sido escrita por Mick Hucknall. Logo, nada de "Money's Too Tight To Mention" ou "If You Don't Know Me By Now", duas canções que fizeram enorme sucesso, eram as unicas que não haviam sido compostas por Hucknall. "Estou feliz em não ter feito nenhum cover, porque estão todos a fazer isso. Basicamente eu escrevi todas essas canções para provar alguma coisa... Principalmente para mim mesmo, mas também para as pessoas que me criticavam por gravar muitos covers", disse Hucknall no encarte da edição comemorativa expandida de "Stars", lançada no ano passado.
Quando o Simply Red entrou num estúdio em Paris, a Guerra do Golfo estava no auge, chegando até mesmo à capital francesa, que sofreu, com os atentados ocorridos em bancos e embaixadas iraquianas e iranianas. "O estúdio era como um bunker. Estávamos atolados na guerra e naquele ambiente", disse Hucknall no documentário "Classic Albums". Como não havia clima para continuar as gravações - um dia, a rua onde ficava localizado o estúdio chegou a ser interditada - os Simply Red mudaram-se de malas e bagagens, para a aprazível cidade de Veneza, em Itália. "Lá estava tudo calmo, e eu senti que o disco seria um sucesso", afirmou o produtor Stewart Levine, no mesmo documentário.
A gravação do álbum "Stars" teve algumas situações curiosas. Quando os Simply Red finalmente chegaram a Veneza, as canções já estavam praticamente formatadas. Na faixa "Stars", o segundo single do álbum, Hucknall, quis cantar num tom mais baixo. Stewart Levine não gostou. Mas, no final, ficou tudo certo quando Hucknall, durante o refrão soltou os seus famosos agudos. Aliás, o tal refrão ("I wanna fall from the stars / Straight into your arms"), apesar de muita gente pensar que signifique algo cósmico, não retrata nada mais do que a relação de Mick Hucknall com a fama. Segundo o compositor, ao mesmo tempo que a fama tinha as suas vantagens, ela impedia-o de ser uma pessoa comum "bebendo em qualquer pub de Manchester".
Outra faixa que fez muito sucesso, foi "For Your Babies". A balada foi escrita por Hucknall em homenagem ao seu amigo (e então empresário) Elliot Rasman, que tinha dois filhos. A balada, até hoje, faz parte de todos os shows dos Simply Red.
Além de pop, r&b, funk e soul, Mick Hucknall quis arriscar um género musical diferente em "Stars". Fã de reggae, o cantor queria gravar algo mais puxado nesse estilo musical. E não decepcionou com a faixa "Model", que conta a vida das modelos sob a óptica de Mick Hucknall, que, aliás, namorou várias delas.


"Stars" fez muito sucesso sobretudo com "For Your Babies", mas hits em potencial não faltavam no álbum. A faixa de abertura, "Something Got Me Started" (primeiro single do disco) apresentava um Simply Red mais pop e dançante do que nunca. "Thrill Me", que alcançou a 33ª colocação nas listas do Reino Unido, ia pelo mesmo caminho, com destaque para os belos solos de saxofone de Ian Kirkham.
A politizada e irônica "Wonderland" (que fecha o álbum) e "Your Mirror" são outras duas faixas de "Stars" que merecem registo. A segunda, em especial, apesar da temática cliché, no estilo "para salvar o mundo, começa por ti próprio", conta com uma das melhores letras (senão a melhor) da carreira de Mick Hucknall.
Como se constatou posteriormente, e já aqui foi escrito, "Stars" foi um divisor de águas para os Simply Red. Com o álbum, a banda de Mick Hucknall transformou-se num dos grandes nomes do pop do Reino Unido. Mas, como toda a mudança mais drástica acaba tendo consequências, o facto de"Stars" não ter covers,acabou talvez por isso decepcionando nos Estados Unidos, país que - vejam só! - os Simply Red já tinham alcançado o topo da lista da Billboard com "If You Don't Know Me By Now". Ou seja, enquanto os ingleses ficaram satisfeitos com o facto de os Simply Red terem lançado um disco de originais, os norte-americanos sentiram falta da boa e velha cover. Resultado: "Stars" não passou do 76º posto da parada da Billboard.
O mais curioso é que, no início de carreira, quando a new wave dava as cartas no Reino Unido, os Simply Red tinham muitas dificuldades em se fazer entender com a sua mistura única de jazz, funk, soul, blues, reggae e baladas inspiradas no soul norte-americano dos anos 70. Como é que uma banda do norte de Inglaterra podia fazer aquele som? Os Simply Red acabaram sendo alvo de preconceitos na sua terra natal, enquanto faziam sucesso num país estrangeiro. E, com o lançamento de "Stars", aconteceu exactamente o contrário: a banda era rejeitada nos Estados Unidos e reconhecida de vez pelos britânicos. Vamos lá entender isto...
Após o lançamento de "Stars", os Simply Red embarcaram numa imensa tourné mundial, com 123 shows assistidos por mais de 1,5 milhão de espectadores. Antes, ainda em 1992, os Simply Red ganharam o Brit Awards de melhor grupo britânico, e Mick Hucknall (descrito pela revista Mojo como "o mais consistente e substancial "soul man" branco britânico"), o Ivor Novello de compositor do ano.

Faixas:
1) Something Got Me Started
2) Stars
3) Thrill Me
4) Your Mirror
5) She's Got It Bad
6) For Your Babies
7) Model
8) How Could I Fall
9) Freedom
10) Wonderland


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