terça-feira, 10 de março de 2009

U2 - No Line On The Horizon

Alguns meses antes do lançamento de "No Line On The Horizon", Daniel Lanois, um dos produtores do álbum (os outros foram, como de costume, Brian Eno e Steve Lilly White), disse a seguinte frase: "O presidente da companhia [Bono] está a cantar melhor do que nunca, e as faixas são inovadoras. Eu nunca pensei que as coisas iriam por esse caminho. Bem, eu acredito que o rock n' roll foi reinventado novamente."
Bom,presunção e água benta,cada um tem a que quer,não é Lanois?
Vamos directo ao que interessa, então. "No Line On The Horizon" é um bom disco de rock, maravilhosamente produzido, cheio de músicas e letras muito bem conseguidas. Mas é só. E isso é muito pouco para a banda que detém o título da "maior do mundo". Na verdade, absolutamente nada foi reinventado. O álbum não, chega aos "calcanhares",digamos assim, do fenomenal "Achtung Baby", lançado em 1991, e que inovou a sonoridade do U2.
O primeiro single de "No Line On The Horizon", "Get On Your Boots", é o maior sopro de originalidade que pode ser ouvido no álbum inteiro. Abusando de percussão, teclados e sintetizadores, nessa canção, de facto, os U2 soam diferente e renovados em relação aos seus últimos trabalhos. Mas a novidade (que, segundo Lanois, reinventaria o rock n' roll) ficou por aí.
Tirando "Get On Your Boots", "No Line On The Horizon" pode ser dividido em dois grupos. O primeiro é composto de canções de rock no melhor estilo U2 que - sim! - são muito boas. Mas, que me perdoem os fãs, nada que possa ser chamado de inovador. Já o segundo grupo agrega faixas apenas medianas, completamente aquém do que a banda irlandesa já tinha mostrado em "All That You Can't Leave Behind" (2000) e "How To Dismantle An Atomic Bomb" (2004), apenas para ficar nos dois trabalhos mais recentes do grupo.
Comecemos com o primeiro grupo. E nele estão logo as duas primeiras canções de "No Line On The Horizon". A faixa-título, tirando "Get On Your Boots", talvez seja a melhor do disco. Com uma guitarra que chega a emular "The Fly", o primeiro single de "Achtung Baby", a canção lembra bastante a sonoridade do disco de 1991. A faixa seguinte, "Magnificent", outra ótima canção, dá a impressão de que "No Line On The Horizon" realmente seria um grande álbum. A faixa conta com o rock típico do U2 emoldurado pela guitarra de The Edge, o baixo preciso de Adam Clayton e a bateria correta de Larry Mullen Jr., acrescido de uma batida um pouco dançante. Diferente, engraçada. Mas nada de tão original assim.
"I'll Go Crazy If I Don't Go Crazy Tonight", que contou com a co-produção de Will.I.Am, é outra que pode ser encaixada no conjunto das grandes faixas de "No Line On The Horizon". No entanto, a participação do ex-integrante dos Black Eyed Peas, que poderia trazer algo de novo ( bom ou mau) para o som da banda, é incompreensível, eis que de entre todas as faixas do álbum, essa é a que mais se parece com as músicas gravadas em "How To Dismantle An Atomic Bomb", intercalando momentos lentos e mais rápidos, do mesmo estilo de "Miracle Drug".
Outra faixa que merece destaque de "No Line On The Horizon" é "FEZ - Being Born". A faixa, praticamente instrumental tem uma sonoridade épica e cheia de efeitos interessantes. O seu título faz uma referência à cidade marroquina de Fez, onde parte do álbum foi gravado. Finalizando o lado bom do álbum entra "Breathe", mais uma canção no melhor estilo dos dois discos anteriores, mesmo a geito, para ser berrada pelos fãs que esgotarão os estádios de futebol ao redor do mundo durante a nova tournée da banda.
A segunda parte do álbum tem uma curiosidade. Musicalmente, as canções que fazem parte desse grupo são as mais diferenciadas - inovadoras???...Huuummm.
Entretanto, parece que os U2 se perderam um pouco. Para sintetizar: soou extremamente pretensioso. "Moment Of Surrender", com os seus mais de sete minutos de duração, tem um estilo, digamos, "espacial" na sua sonoridade. Até que é interessante, diferente... Mas nada que seja digno de tanta promoção. Ou seja, dificilmente será lembrada daqui a uns dez anos. A quarta canção do álbum, "Unknown Caller", tirando a guitarra de The Edge - mais especificamente o belo solo final -, é uma das canções mais chatas jamais gravadas pelos U2. O excesso de teclados e de "oh oh oh" na letra deixam a faixa completamente perdida no "No Line On The Horizon".
A letra de "Stand Up Comedy", certamente, é a melhor do álbum. Destilando ironia, Bono não poupou ninguém. Nem a ele mesmo: "Stand up to rock stars / Napolean is in high heels / Josephine, be careful / Of small men with big ideas". A guitarra de The Edge também brilha na canção (lembrando mais uma vez "Achtung Baby"), mas o resultado final, surpreendentemente, não é tão excitante assim.
"White As Snow" e "Cedar Of Lebanon" estão lá nas ultimas do CD. A segunda também possui uma boa letra, que fala de correspondentes de guerra ("Yesterday I spent asleep / Woke up in my clothes in a dirty heap / Spent the night trying to make a deadline / Squeezing complicated lives into a simple headline"). Já a primeira é completamente dispensável. Ambas são minimalistas demais. Nenhum problema nisso, pelo contrário. Mas a impressão que fica, é a de que os U2 tinha uma necessidade de soar sério ou adulto no encerramento do disco. Depois de tantos anos de carreira, deveriam saber que não precisam disso.

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